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Lígia Rosso

Sobre a Impermanência

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Lígia Rosso

“Nada é fixo nem permanente. A única coisa permanente é a impermanência.” Monja Coen

Essa frase da Monja Coen me trouxe profundas reflexões neste período de autocuidado e recuperação. Sinto-me muito melhor a cada dia e em breve já estarei totalmente reestabelecida. Porém, quando passamos por momentos assim, é importante silenciar e voltar-se para si mesmo em busca de algumas resoluções internas. Foi num desses momentos que abri um caderno antigo de anotações e me deparei com esta frase escrita em destaque. Realmente é essencial assimilarmos que nada é permanente, nada. Nós não somos daqui, nós estamos aqui. Entre os verbos SER e ESTAR há muitas diferenças. Podemos ser os instantes, mas eles passam, não há como retê-los. O tempo é como a água que flui, não podemos controlá-lo, apenas vivê-lo. Se quisermos controlar o tempo, ele escorrerá por entre os dedos ou nos dará um susto por meio de acontecimentos que nos mostrarão que ele não é dominável. Nós agimos, existimos no aqui e agora, mas na realidade não temos controle de nada. É uma escolha: ou fluímos com a vida da forma mais harmônica possível ou batemos de frente com o tempo e o espaço e nos machucamos, tal qual uma criança teimosa levando laçaços das ondas do mar.

138 Como bem disse a Monja Coen, somente a impermanência é real. Por isso, viver com plenitude o agora é o nosso maior desafio.

Lembro quando eu era criança, que sensação maravilhosa estar ali, simplesmente vivendo aquela brincadeira. Não havia os ‘porquês’ do ontem e nem as angústias do futuro. Só existia pular amarelinha, vestir as bonecas, comer o bolo favorito, sorrir com o desenho na TV, enfim...E daí crescemos e nos desconectamos disso tudo, desaprendemos a felicidade do instante que logo ali será memória, pois não é permanente. Assim vamos crescendo alimentando medos e inseguranças: medo de perder o emprego, medo de perder o companheiro(a) e as pessoas que são especiais pra nós, medo de perder o status e bens materiais, medo, medo, medo. Se alguma ‘perda’ ocorre, choramos, lamentamos, questionamos. Vamos fundo na dor e esquecemos do fato da impermanência. Talvez, se formos trocando o foco da perda pela gratidão, as dores possam ser amenizadas. Agradecer pelo emprego naquele local, agradecer pelas pessoas que amamos e que nos amaram, agradecer pelo que tivemos e pelas coisas que usufruímos por determinado período. Talvez a chave gire em 180º se agradecermos mais pelo que se foi e se soubermos ter a sabedoria de encerrar ciclos, sejam quais forem, deixando as queixas de lado e partindo para uma atitude proativa de novos começos, sem arrependimentos pelo que se fez ou deixou de fazer. Estou aprendendo a olhar meus pés, pois eles me lembram que estou nesse instante, não atrás onde não posso mudar, e nem lá na frente, onde não tenho certeza se estarei. Não é fácil agir assim, mas, na atual conjuntura é muito necessário. Seguimos, com passos firmes no agora.

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