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Larissa Poltosi Camargo Madril Lançanova
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As Multifacetas das Mulheres ao Longo do Tempo: Conquistas e Desafios
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Larissa Poltosi Camargo Madril Lançanova
Quando falamos em inclusão, na maioria das vezes, esquecemos as questões de gênero, sobretudo do feminino que é um tema de extensos e belos poemas. A mulher, aquela que recebe um dia no ano para ser lembrada e que é nomeada como ser frágil, deve ser amada, cuidada, auxiliada. Frágil? Será? É somente a isso que devemos nos referir? Um resumo de adjetivos? As mulheres, especialmente as brasileiras, que vivem em um país subdesenvolvido, com inúmeras desigualdades entre as classes sociais, onde a fome e a miséria ainda são tristes realidades, merecem mais valorização e respeito, pois desde os primórdios da Terra, as mesmas ocuparam-se de variadas funções, como cuidar da casa, auxiliar a família e o marido nas atividades de trabalho, ser mãe, entre outras tarefas. No século XX, muitas modificações no cenário feminino começaram a acontecer, foram adquiridas conquistas essenciais e as tarefas das mulheres, agora, já eram mais diversificadas e melhores, mas a luta feminina ainda tinha um longo e árduo caminho pela frente. No século XXI, após todas as mudanças, notamos o cenário feminino ainda carente em muitas situações, mais ainda nos últimos dois anos em meio à pandemia da Covid – 19, em que inúmeras mulheres passaram a ter uma jornada maior, exercendo, na maioria das vezes, trabalho remoto ao mesmo tempo em que cuidava da
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casa e dos filhos. Também, muitas delas estavam em profissões da linha de frente no combate ao coronavírus, maioria entre os trabalhadores da saúde, sem falar naquelas que fazem ciência em prol da vida. Com isso tudo, a mulher continua lutando por seus espaços, é multifacetada, cada vez mais inserida na sociedade, mas, infelizmente, ainda discriminada.
No início do século XX, as mulheres tinham seus deveres impostos por uma sociedade conservadora. Donas de casa, com pouco ou quase nenhum conhecimento intelectual, sem frequentar os bancos escolares e acadêmicos, tinham que casar-se, ter filhos, servir ao marido e não tinham permissão para trabalhar fora de casa. Casar-se virgem era fundamental, pois, se assim não fosse, poderia até ser devolvida à sua família após o matrimônio. O homem exercia sua condição de patriarca, responsável pela família exercendo uma forma de comando, que, inúmeras vezes, condizia com a manutenção de outros relacionamentos, os quais, em sua maioria, eram desconhecidos da sua família social. Esses casos extraconjugais eram considerados dentro da normalidade na época e, ainda hoje, continuam a acontecer.
As décadas foram avançando e as conquistas das mulheres também. Para entender melhor tudo isso, remetemos ao ano de 1827, em que, por meio de uma lei, as mulheres brasileiras foram autorizadas a frequentar a escola. Em 1852, um jornal foi editado pela primeira vez, por mulheres. Em 1932, a mulher tinha adquirido o direito de votar e, em 1934, tivemos a primeira mulher eleita deputada, Carlota Pereira de Queiroz. Em 1879, conseguiram o direito de frequentar o ensino superior, apenas autorizadas por seus pais ou maridos e as
129 que seguissem esse caminho eram muito criticadas na sociedade. Em 1921, ocorreu a criação do primeiro partido político feminino. Em 1960, foi iniciada, a utilização da pílula anticoncepcional, trazendo a possibilidade de um planejamento familiar. O movimento feminista também surgiu na década de 1960. Em 1962, com a criação do Estatuto da Mulher Casada, as mulheres casadas poderiam trabalhar sem a autorização do marido. Em 1974, mulheres poderiam portar cartão de crédito. Mais tarde, em 1977, houve a criação da lei do divórcio. Em 1979, foi obtido o direito a jogar futebol. Em 1988, aconteceu o primeiro encontro de mulheres negras e a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, que passa a reconhecer as mulheres com direitos e deveres igualitários aos homens. Em 1985, foi criada a primeira delegacia da mulher.
Apesar de todas as conquistas citadas, a luta da mulher nunca cessou, porque essas leis ainda precisavam chegar a todas as mulheres, de todas as classes sociais, de todas as etnias e de todas as crenças.
Com a chegada do século XXI, novas conquistas e desafios chegaram para o gênero feminino. No ano de 2006, com a elaboração e sanção da Lei Maria da Penha, aumentou o rigor nas punições de violência doméstica feminina no Brasil. Em 2002, a falta de virgindade deixou de ser motivo para anular casamento. Em 2014, uma mulher chegou à presidência da República no Brasil pela primeira vez na história do país. Em 2015, foi criada a lei do feminicídio. Em 2018, a importunação sexual se tornou crime e, em 2021, é criada a lei para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher.
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Hoje, além de se fazer cumprir todas essas leis, as mulheres continuam lutando por condições de trabalho e salários igualitários e permanecem com a luta contra a discriminação de gênero. No passado, essas discriminações faziam parte do dia a dia, porém, atualmente nosso conhecimento nos permite identificar as mesmas e tomar as devidas medidas para que não aconteçam. Apesar dos avanços, a violência doméstica se apresenta com altos índices, o feminicídio ocorre por parte de parceiros que, em sua maioria, não aceitam o fim de um relacionamento. Não esqueçamos ainda, do preconceito no trânsito, mesmo que em pequenas situações e também nos postos de trabalho e seleção de vagas de empregos.
Mas não devemos falar apenas do que ainda terá que ser modificado, podemos e devemos apresentar o que já é realidade, situações que vieram a somar na vida da mulher, novas profissões, como, militares, policiais, caminhoneiras, taxistas, motoristas de aplicativos, pilotos de aeronaves, entre outras. Também, em sua vida pessoal, os êxitos trouxeram avanços, liberdade para decidir e administrar suas vidas, para estudar e trabalhar, votar, participar ativamente da política, concorrer a cargos públicos, casar ou não, ter filhos ou não, morar sozinha, ser independente, assumir o gênero com o qual se identifica e a sua correspondente orientação sexual.
O século atual também nos mostrou o quanto essa mulher contemporânea é forte, multifacetada. Agora, na maioria das vezes, ela é estudante, profissional, dona de casa, mãe, chefe, vence desafios do dia a dia, realiza multitarefas ao mesmo tempo. Muitas delas são os esteios familiares, os quais sustentam a casa e os filhos. Muitas empresas as têm em cargos de liderança, elas estão em toda a parte,
131 são cientistas renomadas, são líderes religiosas, praticam trabalhos voluntários nas mais variadas habilidades.
E o que esperar do futuro com relação a essa mulher que teve grandes e importantes conquistas ao longo do tempo, mas que, mesmo assim, batalha dia após dia para conquistar ainda mais e para não permitir retrocessos, para ser respeitada em todas as suas atribuições, para ser reconhecida como um ser com direitos e deveres dentro de uma sociedade com um modelo capitalista vigente, que nos mostra ao mesmo tempo a miséria dentro da fartura, nos classifica, nos faz consumir, nos faz gerar lucros, nos coloca como consumidor e mercadoria ao mesmo tempo, nos cobra o máximo de trabalho árduo, nos fala todo dia, em uma pandemia, que devemos voltar ao normal? Mas será que o normal é isso tudo? Será que não queremos e podemos fazer um novo normal, aquele da sustentabilidade, da igualdade, da equidade, da justiça social, do respeito? Queremos que se cumpra realmente o que está descrito na Constituição Brasileira, resultado de muito esforço, de lutas e cobranças de mulheres, porque em séculos anteriores já tínhamos mulheres a frente do seu tempo, fazendo a diferença em nosso mundo, nos países, nos estados, nos campos e nas cidades.
Mulheres, o futuro é agora, lutemos pelas causas feministas, nós conseguimos, vocês conseguem, estejamos sempre juntas, não vamos deixar que aqueles conceitos do passado voltem a assombrar nossas vidas. O Brasil necessita fortalecer a igualdade de gênero, pois não existe crescimento e evolução de um país que não oportuniza a igualdade e equidade entre os gêneros e seu povo, o respeito, a inclusão da mulher em todas as áreas, como a política, o empreendedorismo,
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a ciência, a pesquisa e a economia para transformar a sociedade mais consciente, justa, inclusiva, democrática e acolhedora.
Ser mulher, participar, planejar, estudar, evoluir, informar, integrar, construir, colaborar, empreender, ser mãe, ser esposa, ser filha, ser família, ser profissional, ser líder, ser respeitada, estar em todos os lugares e em todos os espaços. Lugar de mulher é onde ela quiser.
Licenciada em Ciências Biológicas, especialista em Ciências Ambientais, licencianda em Letras Inglês, Psicopedagoga Institucional e Clínica e Professora da Educação Básica da
Rede Pública Municipal de São Gabriel/RS