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Rúbia Santi Pozzatto

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Solitude

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Rúbia Santi Pozzatto

Ouvia-se o gotejar da chuva lá fora, ela virou para o lado e, ali na sua cama, não havia ninguém além de si. Sorriu fechando os olhos, e agradeceu por aquele dia ser exatamente o que ela precisava; manhã de sábado chuvosa era tudo que ela queria. Nas redes sociais, fotos de casais sorridentes, famílias alegres comemoravam o aniversário de alguém. Ela sorriu pois houve um tempo que aquilo doía. Agora não mais. Nunca quis lugar que não fosse seu, e por um tempo doeu perceber que insistiu em estar em um que não era o dela. Sentia falta da família, de ter uma companhia mas compreendia a grandiosidade, importância e - porque não dizer- beleza daquele momento sozinha. Fez um chá, abriu a janela para observar a chuva que calmamente deixava entrar seu frescor pela casa; observou que a fumaça que emergia da xícara de chá combinava com a chuva. Em algum lugar uma criança gritou, carros passavam raramente deixando o ambiente quase à mercê da água tocando o chão. Enquanto escorregava na poltrona pensou: “A vida canta para quem sabe ouvir. E isso, seria solidão ou liberdade?” questionou-se. Já não era a primeira opção, pois havia aprendido escrever sua história, com o papel e caneta que tivesse. Sorriu ao constatar que a vida era generosa com ela. Terminou sua leitura da semana, enviou algumas mensagens, preparou algo para comer. Aquele sábado estava diferente, sentia-se acolhida, confortável, feliz e grata na sua respeitável solitude.

187Um pássaro cantou, uma mensagem que chegou a fez sorrir e ela entendeu que tudo tem seu tempo. Não era o fim do caminho, nem “o felizes” para sempre, tampouco a última estrada. Era a construção da história que seguia depois dos ajustes, o alicerce espiritual que ela vinha fortalecendo e o resultado dessa busca começava aparecer.

Nem todos compreendiam, mas aquele era o seu caminho. Aquela sensação de pertencimento, ali e naquele instante, ela não saberia explicar. O fato de dormir tranquila, se alimentar bem, respirar e balançar a poeira pra seguir em frente; sorrir de verdade, chorar quando sentisse a necessidade; coisas que só o autoconhecimento permitira.

Os que aprendem com a dor, tem os dias de chuva como a saudade do que passou e a alegria do que se vive agora. Sabem que as noites de tempestades antecedem dias nublados ou de sol, mas é certo que se tem mais visibilidade; depois que passa, pode-se ver estragos, o que se organiza e o que precisa ser colocado no lixo.

“A tempestade bagunçou o aparentemente arrumado, o tempo que passou não fez a limpeza em meu lugar, mas me ensinou a respeitar meu tempo, e eu organizei o que precisava e quis” lembrou.

Às vezes ela muda a posição dos móveis, faz aquela faxina frequentemente, joga fora o que não serve mais e volta (isso com a casa, isso com os sentimentos) porque tudo é mutável, inclusive nós.

Nascida em Santiago, graduada em Ciências Biológicas pela URI e especialista na mesma instituição, Servidora Pública Municipal da nossa cidade. Escreve desde a adolescência mas somente nos últimos anos tem publicado os textos.

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