INFINITAMENTE MULHER vol.11

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Organização Casa do Poeta Brasileiro de Santiago em parceria com Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Santiago e Secretaria Municipal de Saúde de Santiago

Infinitamente Mulher vol. 11 1ª EDIÇÃO

SANTIAGO-RS CASA DO POETA BRASILEIRA DE SANTIAGO 2022


Copyright © 2022 Todos os direitos reservados.

Editoração Casa do Poeta Brasileiro de Santiago Revisão de linguagem Fátima Friedriczewski Diagramação Lucas Rodrigues dos Santos Imagem de capa: obra “Não vi, mas me contaram sobre as abelhas”, 1973, de Romanita Disconzi Impressão Ponto Cópia - Santiago/RS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Infinitamente Mulher Vol 11./ Org.; Casa do Poeta de Santiago, Secretaria Municipal de Educação e Cultura e Secretaria da Saúde. Santiago - RS. 2022. 218 p. ISBN: 978-85-64886-49-0 1. Poesia 2. Contos 3. Crônicas 4. Mulheres Textos. CDD 804 Elaborado pela Bibliotecária Eliziane Lopes CRB 10/2330


Apresentação

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rgulhosamente apresento o Livro Infinitamente Mulher. A 11ª edição traz poemas, contos e artigos de 113 mulheres. A antologia é organizada pela Casa do Poeta de Santiago em parceria

com a Secretaria de Educação e Cultura e Secretaria de Saúde. Neste livro nos deparamos com textos de mulheres que colocam seus anseios, suas dúvidas e algumas certezas na sua escrita. Contam suas vivências e acima de tudo fazem Arte, em um momento que ela é tão necessária. Encontramos textos que falam de beleza, de tristezas, de esperanças, de dores, de VIDA. Reúnem-se histórias de existências, de momentos, de amigos, de caminhadas e de amor. Há sabor e cheiro. Há som, há silêncio, há grito por respeito, por paz, por sustentabilidade. Encontramos também quem fala de saudade, de alegria, de lembranças, de liberdade, e das pequenas grandiosidades do dia a dia. O livro se apresenta como um importante lugar de fala das mulheres santiaguenses. A continuidade nas publicações do Infinitamente Mulher multiplica a produção de escritoras, trazendo à luz reflexões sobre o ponto de vista feminino, reforçando assim a identidade de Santiago como a Terra dos Poetas. Desejo a todos um belo encontro com as intensidades presentes nesta 11° edição do INFINITAMENTE MULHER. Nara Maia



SUMÁRIO Sobre as autoras da imagem da capa e apresentação........... 10 Abigail Favero Pinto.............................................................................13 Adriana Tier............................................................................................ 14 Aldorete Martins.................................................................................. 17 Alessandra Betin Machado.............................................................. 18 Amanda Gloger Turmina.................................................................. 19 Amberi Finamor Ferreira.................................................................22 Ana Gleicimar Rodrigues dos Santos...........................................23 Ana Paula Milani.................................................................................. 25 Ana Paula Sampaio Duarte Lima..................................................28 Anelise Xavier Miguel........................................................................30 Angela Maria Genro............................................................................32 Angelita Xavier.....................................................................................38 Antonia Nery Vanti (Vyrena)..........................................................39 Arlete Cossentino................................................................................. 41 Arlete Gudolle Lopes...........................................................................42 Camila Canterle Jornada (Mila Journée).....................................45 Camilla Cruz...........................................................................................47 Capsina.....................................................................................................50 Carla Rodrigues..................................................................................... 52 Clarice Xavier........................................................................................ 55 Clay Fonseca...........................................................................................56 Caroline Kucera dos Reis.................................................................. 57 Catharina Antochevis Pereira ........................................................59


Cintia do Carmo................................................................................... 60 Cinthia Moreira Machado................................................................62 Cisnara Pires Amaral..........................................................................63 Cristine Xavier Miguel Guerim......................................................68 Cristiane de Campos Salbego..........................................................70 Daniela Arce...........................................................................................72 Darlene Cristina Colaço Chaves..................................................... 73 Darlene Honório Medeiros(Darla Medeiros)............................74 Débora Melo...........................................................................................79 Deise Pinto Marchezan...................................................................... 81 Dirce Rejane Pimenta Facin............................................................82 Edith Nunes Silveira...........................................................................84 Eduarda Bittencourt...........................................................................86 Eleandra Bonatto.................................................................................88 Eliane Aparecida Dorneles Lopes Bessa.................................... 90 Elisandra Minozzo............................................................................... 91 Elisangela dos Santos Amaral........................................................93 Elisete Heydet Cattelan......................................................................95 Enadir Obregon Vielmo.....................................................................97 Erilaine Perez....................................................................................... 101 Fabiani Nunes Turchetti.................................................................103 Fátima Friedriczewski......................................................................105 Fernanda Chaves do Nascimento................................................107 Geanine Bolzan Cogo........................................................................108 Gisele Marchi Pinto Dornelles...................................................... 110


Ilma S. Bernardi................................................................................... 111 Indiara Fátima da Silva....................................................................112 Isabel Cristina da Rosa .....................................................................113 Isabela Oliveira Carlosso................................................................ 114 Jane Tusi................................................................................................. 116 Juanita Terezinha Canabarro dos Santos.................................117 Júlia Bem Tolfo.....................................................................................118 Júlia Cordeiro das Chagas............................................................... 119 Juliana Aline Zucolotto....................................................................120 Juliana Borges.......................................................................................121 Kaylane Fernandes............................................................................122 Karoline Oliveira de Souza Herbichi.........................................124 Laís Nunes da Silva............................................................................126 Larissa Poltosi Camargo Madril Lançanova...........................127 Leiza Maria Goulart Xavier........................................................... 133 Letícia Flores Solner de Oliveira.................................................. 134 Lidiane Locateli Barbosa................................................................. 135 Lígia Rosso............................................................................................ 137 Lilian Balbueno................................................................................... 139 Lilian Ferraz Zanella Paz.................................................................140 Lohana Valentini................................................................................142 Luana Diello.........................................................................................144 Luciana Strunkis................................................................................150 Lucimara Quadros............................................................................. 152 Luiza Cattelan Resmini.................................................................... 153


Luiza Zolin Tier................................................................................... 154 Mara Flores Pereira........................................................................... 155 Marcele Favero Almeida................................................................. 156 Marelisa Obregon Vielmo Bianchini......................................... 157 Marisa de Fátima Ourique Lopes................................................ 158 Mariza Machado Sagin....................................................................160 Marlene Brandão............................................................................... 161 Natháli Fratta de Almeida..............................................................162 Neiva Dorneles.................................................................................... 163 Oara de Fatima dos Santos Dorneles......................................... 165 Olivaine Brum.....................................................................................166 Priscila Reolon.....................................................................................167 Queise Corsini Jaques.......................................................................169 Rafaela Correa Almeida..................................................................170 Raquel Da Silva Machado................................................................171 Renata Lemos da Silva.....................................................................172 Rita de Cássia Nunes Paludett......................................................174 Rosa Eli Viero Sarturi....................................................................... 175 Rosa Pacheco........................................................................................ 177 Rosemari Bragato...............................................................................179 Rozelaine Aparecida Martins........................................................ 185 Rúbia Santi Pozzatto.........................................................................186 Sandra Maira dos Santos da Luz.................................................188 Silvana da Rosa................................................................................... 191 Silvana Fiorenza Moraes................................................................ 193


Simone Meirelles do Nascimento............................................... 195 Sirlei Gatiboni.....................................................................................198 Sofia Ribeiro.........................................................................................199 Sofia Viero Sorgetzt...........................................................................201 Sônia Odete Reis Leitemperger................................................... 203 Tânia Vieira......................................................................................... 205 Thayná da Silva Oliveira................................................................ 206 Thaís Cortes Sagrilo.........................................................................209 Vanessa Moletta Pazza......................................................................211 Verena Poltosi Albiere...................................................................... 215 Victória Nunes Ramos.....................................................................216 Virginia Braga dal Carobos............................................................217


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Sobre as autoras da imagem da capa e apresentação.

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omanita Disconzi é formada em Pintura pelo Instituto de Artes da UFRGS em 1960. Na segunda metade da década de 60 dedicou-se também à gravura, com ênfase em serigrafia. Sua

primeira individual foi na Galeria Leopoldina, em 1967. Residiu nos EUA, onde recebeu o título de Master in Fine Arts, pela School of the Art Institute of Chicago e iniciou pesquisa sobre linguagem televisiva, transportando-a para a pintura. Participou da Bienal de São Paulo em 1973. No final dos anos 70 integrou o grupo Nervo Óptico, do qual faziam parte Ana Alegria, Carlos Pasquetti, Clóvis Dariano, Elton Manganelli, Mara Álvares, Carlos Asp, Carlos Athanázio, Telmo Lanes, Jesus Escobar e Vera Chaves Barcellos. Passou a compor o corpo docente do Instituto de Artes da UFRGS em 1977. A partir de 1979 trabalha também com vídeo e performance. Realizou doutorado na Escola de Comunicação e Artes da USP, 1991. Foi diretora do MARGS em 1995, onde está representada com peças gráficas, totens e sólidos geométricos. Nesse mesmo ano participou da coletiva-homenagem ao cinema gaúcho, Espaço I, Usina do Gasômetro, Porto Alegre. Em 2008 realizou a mostra A Natureza e a Sombra Sintética – Vídeos & Fractals, uma individual com o resultado de suas pesquisas de vídeo-arte, no Paço Municipal de Porto Alegre, com a qual foi indicada para o prêmio Açorianos de Artes Plásticas na categoria arte-tecnologia.


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ara Lucia Maia é formada em Artes Cênicas Desenho e Plástica pela UFSM, pós-graduada em Arquitetura e Cenografia na UniRitter, trabalha na área cultural a desde 1989. Atuou em

diversas áreas da produção e direção e Iluminação. Produtora executiva da Cida Cultural desde 2001 em projetos como Lâmpada Mágica Sonoras, Energias e Oficinas da Paz além de produção de shows e eventos, último trabalho: Diálogos Contemporâneo, edição Porto Alegre. Diretora de espetáculos musicais e encenações como Nativitaten, Natal Campeiro e Árvore Cantante no Natal Luz de Gramado; Ópera do Vinho em Bento Gonçalves; Natal no Morro em Arvorezinha; e Natal Encantado da Quarta Colônia. Manipuladora de teatro de bonecos do grupo Pregando Peça.


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Passagem Abigail Favero Pinto

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ra um grande laço, Delicadamente bordado, Com nuances do inseparável.

Inimaginável final de tarde, Céu raiado de cinza, Sol languidamente pálido. Aproximação do crepúsculo. Sensação estranha e forte, Presságio de um ritual. Imperceptível deslizar do diamante, Com carícia de ruptura, Sobre um coração inquieto. No Cerimonial de Passagem, Magnitude do Mistério. Professora e produtora rural


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A cidade e as pinturas Adriana Tier

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entada na varanda, a mulher idosa contempla tudo ao redor. A cada coisa que vê, as vistas param, as pálpebras abrem-se por segundos inteiros e ela registra em sua mente cada centímetro

de paisagem. Imagina-se diante de uma tela a pintar todas as cores e, por outros longos segundos, as pálpebras fecham-se, a respiração torna-se lenta e ela parece meditar enquanto, na verdade, mistura matizes que formam outros diferentes e que se justificam na verossimilhança do que se vê fora da tela e o que está sendo fotografado pela ponta do pincel. Ela assim faz a cada manhã para, logo tendo concluído meticuloso trabalho, comparar o resultado da tela pintada no dia anterior com a atual. Eis que vê que o que ontem era botão, hoje é rosa fúlvida, de pétalas em raios de sol reluzentes, cujo toque é puro cetim; e a relva, ontem seca, hoje tem umidade de chuva e o verde retrocede um tom, o que consegue reproduzir misturando as tonalidades exatas; da mesma forma, a laranjeira que ontem trazia apenas flores, hoje exibe pequenos frutos de um verde forte, a se distinguir das folhas dos galhos pelas suas formas perfeitamente redondas. A essas comparações ela se dedica por horas a fio e, entre o olhar, misturar cores, pintar os traços mentais, depois ver e rever tudo, um bom pedaço de dia passa, tal qual o vento que, por vezes calmo, por vezes agitado, deixa refluir o perfume dos jasmins em flor. Nessa atividade contemplativa em que cada ponto do caminho é lindamente desenhado no seu mundo interno, ela quase não


é interrompida, exceto para receber de mãos afáveis água, frutas, alimento, pílulas, que ela aceita. Tão logo o transeunte a deixa só, ela retorna a seus pensamentos que desenham e pintam um mundo que apenas a ela se mostra. Durante a tarde, ela recebe visitas, pessoas estranhas que lhe falam de assuntos mais estranhos ainda e pelos quais ela não demonstra interesse, embora fique compassiva diante da tristeza dos semblantes quando estes percebem que tais relatos não lhe trazem luz de consciência. Apenas uma visita é aguardada com relativa disposição e, mesmo que a ninguém seja visível, de fato há uma fagulha de reconhecimento no seu olhar. O jovem aproxima-se num caminhar calmo de quem estuda os passos. Senta-se perto dela em espera. Então, como quem desperta de um sono profundo, ela diz: — Conte-me sobre a cidade de Amália! Esta que dizem estar aqui, mas não vejo e não sinto. A tudo vejo, desde as pequenas joaninhas que andam sobre as folhas até as nuvens que deslizam nos céus, mas Amália há de ser invisível a meus olhos; deve estar diluída no todo, dispersa num estado gasoso que a torna inalcançável para mim. Fale-me da cidade de Amália, essa que só tu vês e sente. A esse pedido infinito André responde: — A cidade de Amália é bondosa, sua terra é fértil e seus frutos hoje sustentam o pasto verdejante e os jardins de seu palácio. Ela tem flores de todas as cores e espécies que desabrocham uma para cada estação. Das pedras do caminho Amália construiu pontes que ligam o lado de lá com o lado de cá. Por essas pontes todos passam em segurança e cuidam uns dos outros numa rede de afetos e amor.

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Na cidade de Amália, para cada incerteza, dúvida, desejo, medo, há de ter uma resposta ou o anúncio de uma resposta, ou um pensamento que introduz o anúncio da resposta, até seguir indefinidamente e chegar de novo e de novo na própria pergunta em si, até desfazê-la, reordená-la, tal qual uma cidade que cai e se refaz e se reconstrói através dos tempos a fim de sempre se reconhecer em seus jardins, antes de se perder mais uma vez. A esse relato Amália escuta, os olhos fechados, a boca em linha de sorriso e, ao fim, responde: — Acho que já estive nessa cidade. André, também sorrindo, concorda. Tomam o chá da tarde. Antes de sair, André percorre o corredor interno da casa de repouso, passando pelos quadros aos quais dedica o tempo de quem sabe ver o que há para ser visto. Após contemplar a última pintura, volta o corpo a fim de ver a mãe na varanda em sua cadeira de rodas. Ele acena e, por alguns segundos, imagina que ela também possa imaginar que lhe acena de volta — a fração de tempo que mora no encontro dos olhares; a fração de segundos em que ambos se encontram em Amália.

Nota da autora: conto autoral inspirado no estilo de escrita de Italo Calvino, autor da obra “As cidades invisíveis”. Exercício de escrita desenvolvido por ocasião da participação no Laboratório de Leitura desenvolvido pela escritora Cíntia Moscovich, ao qual a autora participou. Formada em Medicina pela UFSM e mãe do Heitor. A maternidade, suas transformações e, mais recentemente, a pandemia, reacenderam um antigo desejo de escrever e contar histórias. O conto que apresento faz parte deste processo.


Momento reflexão Aldorete Martins

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m novo dia vejo nascer ouvindo o cantar da passarada. Que privilégio! O vento sopra uma brisa mansa e suave.

E o sol se achega como quem abraça com saudades e afeto. Agradeço! A graça de viver um novo dia! Tenho somado os bons momentos que me trazem energias ne-

cessárias para superar as perdas, decepções e angústias. O fardo que levamos pela caminhada da vida se torna pesado, se não tivermos esperança por novas possibilidades, pois a realidade que estamos vivendo mostra o clamor de um povo sofrido. A gritaria é unânime por um mundo saudável e são tantos os fatos acontecidos que estão matando, queimando, destruindo, provocando judiarias e assim desencadeando um desequilíbrio entre a vida e as perspectivas de viver um novo dia. É uma realidade que nos impossibilita de adormecemos na tranquilidade e desfrutarmos do sossego. Faço uma reflexão de registros que não se apagam repentinamente... No silêncio da minha alma escuto a voz do meu coração, dobro meus joelhos me colocando em oração, pedindo coragem e determinação para continuar a somar energias do bem, seguindo o exemplo do Sol que abraça afetuosamente.

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Para quem vou me tornar

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Alessandra Betin Machado

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ndo meio sem tempo Esqueci de escrever

Mas hoje lembrei do futuro E chegou a doer Nunca tive tanta incerteza As dúvidas me assustam O medo me afoga As rezas me curam Mas a verdade é apenas uma O amanhã nunca chegará É sempre o hoje, e o agora E quem vou me tornar? Penso nisso toda hora Quero ser a liberdade A mulher dos meus sonhos Vai se tornar realidade E eu juro por esse poema Que chegarei onde eu quiser Sabe quem vou me tornar? Uma grandiosa mulher.


Esperança no viés negativo da atualidade Amanda Gloger Turmina

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á faz dois anos que praticamente tudo está voltado para a negatividade. Vem vírus, vai vírus, vem vacina, vai vacina, e as coisas e as pessoas se dividem mais e mais... Aqui falo como alguém que está

tentando sobreviver às dificuldades desde que isso começou. E não existe uma frase de impacto boa o suficiente que supere os acontecimentos que levam diariamente a essa negatividade; fora a capacidade humana de “se dar conta” de que ainda existem esperanças.

E isso varia para cada um. Para mim, a esperança está no conhecimento. Eu sou daquelas pessoas que gosta de aprender e não tem uma opinião sem ter antes alguma base. Por muito tempo o meu pensamento foi voltado às coisas que me chamavam atenção, eu estudava, anotava, e saía propagando para quem quisesse saber (algum filósofo ou filósofa disse que conhecimento bom é conhecimento compartilhado, algo do tipo, e isso eu concordo plenamente). Entretanto, até a minha vida adulta, eu deixava de fazer algo muito simples: PERCEBER. Ou seja...dar-me conta das coisas. É aí que mora a diferença entre a teoria e a prática: sabe-se que nenhuma funciona sozinha, e é preciso dosar cada uma de acordo com cada situação. E dentro de uma sociedade de infinitas diversidades, a teoria funciona muito pouco. É necessário olhar para o outro e

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entender o contexto do que ele fala, o sentimento que ele tem; e nisso estão os pontos de vista, as formas de expressão e dentre muitas coisas, a compatibilidade de pensamentos. Eu não sei exatamente o que eu quero dizer com isso, mas eu sei que está cada vez mais difícil conviver em uma sociedade com tantas pessoas de tantos extremos tão diferentes. Eu sei que a pandemia edificou ainda mais essas diferenças. Eu sei que pensar assim (pensar demais) faz com que eu não me encaixe mais em qualquer grupo de pessoas (eu particularmente nunca me encaixei facilmente em nenhum) e eu sei que isso não me faz melhor ou pior, mas sim, diferente, como todos. Então, vou trazer um dos meus versos perdidos, daqueles que me despertaram um pouco da tal esperança que vem a calhar de vez em quando, para que de alguma forma eu me expresse mais claramente, sem muitas palavras. Inicialmente eu pensei em publicar apenas ele, mas nessas de pensar e pensar eu acabei escrevendo todo esse texto, ademais sinto a necessidade de ser melhor compreendida e para isso que servem as palavras - e a paciência das pessoas para compreendê-las-. A poesia foi feita há mais de dois anos, enquanto eu passava por um problema que hoje não me importa mais, mas se ele tocar alguma pessoa já vai valer muito a pena. Porque apesar das dificuldades que a humanidade vem tendo, eu espero que todos possam se permitir ter esperança sempre, e seguir tentando.


“Se permita errar Se permita recomeçar Se permita resistir Se permita melhorar Mas não se permita Persistir No erro Sobre tudo Se permita tentar” Graduanda do último semestre de Administração de Empresas na URI Câmpus de Santiago.

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A vida Amberi Finamor Ferreira

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vida é rio que vai... Que corre, Não para

Se esvai... A vida, esse rio Às vezes profundo Ou raso Turvo e revolto Ou plácido e calmo A vida tem pressa Não para Não espera Não volta atrás Mergulhe bem fundo! O hoje, amanhã é passado Não volta jamais. Servidora do Poder Judiciário aposentada, reside em Santiago e gosto de colocar meus sentimentos no papel.


Mulheres da minha vida Ana Gleicimar Rodrigues dos Santos

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oram tantas Cada uma deixando um aprendizado Umas ainda convivo,

Outras, já não estão ao meu lado Todas especiais Fazendo a vida mais bela. Como sinto saudades Da minha mãe, Manoela. Mulheres são flores Orquídeas, rosas e camélias Doces lembranças tenho De minha avó, Amélia Cada uma com seu dom Fazendo a vida mais bonita Minha força diária Você, minha filha Anita Amigas especiais Outras, apenas conhecidas De qualquer maneira Fazem parte da minha vida

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Deixando seu legado Pois sabe bem o que quer Sou, e somos todas Infinitamente mulher. Nasceu e mora em Santiago. Ama a vida. Aprender e evoluir sempre.


O homem que não merecia ter as mãos Ana Paula Milani

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eja bem-vindo, meu amor, a um mundo de verdades. As minhas verdades. Ou as verdades que a maioria das mulheres que já acordaram teriam a dizer. Como sempre, meu querido,

sem gramatiquices, porque sei muito bem quando não é hora pra isso. As verdades, meu anjo, são ditas no calor das ironias e dos coloquialismos. Ah! E também são ditas depois de umas taças de vinho num início de noite de chuva. Pois a verdade é que eu sei que aquele soco numa porta de vidro é um soco que tu erraste da cara dela. E ela não teve coragem de contar a ninguém, porque sabia que, se abrisse a boca, na próxima vez, tu socarias pra acertar. Eu também sei que tu usas do discursinho de atrair a mulher independente para uma noite de sexo fácil, mediante o argumento imbecil de que a mulher independente tem a obrigação da liberdade sexual irrestrita e deve satisfazer tuas vontades, mas eu também sei que homens do teu calibre não mereceriam sequer ter as duas mãos para se satisfazerem sozinhos, que dirá a honraria de usar essas duas mãos imundas para tocar numa mulher. (Já dizia Drummond: “Minha mão está suja / Preciso cortá-la / Não adianta lavar”) Eu também sei que te escondes das mulheres independentes porque tens medo de não suportar a vontade de entrar em contato com elas (hoje em dia, se chama bloquear). Porque gostarias de ter o nosso apreço. Gostarias de ter o nosso desejo. Eu sei disso. E te entendo. Somos insuportá-

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veis. Mas nós não procuramos e não damos atenção a homens como tu. Nós destruímos homenzinhos, isso sim. Como Dr. King Schultz liquidou Calvin Candie. Como Django incendiou Candyland. Tu não aguentas nos ver pegando fogo, pagando as nossas contas, tendo mais condições financeiras e intelectuais do que qualquer como tu. Ó, meu caro, não pagamos por nossas casas pra tu achares que podes te oferecer para frequentá-las. Justo tu, mais um desses que não mereciam ter as duas mãos! Eu esperei de ti muito mais, mas só o que tinhas a oferecer era um mundo de falsidades que, infelizmente, ainda atraem aquelas que não acordaram ainda. Não finjas ser um homúnculo que admira as mulheres que se bastam, porque eu sei que tu não lê mulheres, não ouve mulheres, mas assiste a mulheres. Porque pensa que elas só servem para serem vistas e avaliadas. Não leu Clarice. Não ouviu Marília nem Gal. Mas assiste à Anitta, para poder medir o corpo dela de cima a baixo e achincalhá-la dizendo que ela não passa de um pedaço de carne. Mas a Anitta, meu amorzinho, compra até tua alma e cospe na tua cara se quiser, enquanto tu dizes que ela não tem cérebro. Sei que o rapazinho acha que eu também não tenho cérebro. Ele acha que mulher nenhuma tem, ele, ora quem? Ele! O homem que não merecia ter as mãos! O homem que valoriza tanto as pompas, os títulos e as condecorações. Títulos não têm validade nenhuma na mesa do bar, na cama ou no caixão. Nesses lugares somos desnudos, então não existe lugar para a soberba das posses ou de conhecimentos que não interessam a ninguém além de ti. A vida não é um recital de decorebas, ela é, sim, um palco


perfeito para um espetáculo de vivências genuínas. Pois meu caro, não pense que as pessoas não podem ser frágeis. Nós podemos, e tu também pode. Existe um arco-íris de opções, de oportunidades de renovação. Tu escolhes se quer ser Johnny Walker, Johnny Deep ou Johnny Cash. E nós escolhemos se queremos ser Glória Maria, Glória Groove ou a Glória que “roubou” aquele embuste do Olímpico de Jesus da estrela Macabéa de Clarice.

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Seguimos Ana Paula Sampaio Duarte Lima 2021 vi e vivi tanta tristeza, Sangrou meu coração quando me despedi de seres que passaram por mim e foram tão especiais Esse mesmo coração quase saiu do peito de tanta dor e saudade por deixar guardado em uma caixa fria pessoas que amei a vida toda Saudade se fez tão perto e tão distante... Em cada notícia que escutava, era um tombo que me acompanhava. Passei por tantos vales sombrios que até o medo abandonei. 2021 Vi e vivi tanta alegria, Conheci pessoas que jamais imaginei, Fui em lugares que nem em sonho tinha visto. Agradeci tanto ao grande pai por me dar o prazer de meus olhos passearem na sua obra tão linda e perfeita. Acordei e adormeci sentido o cheiro da minha casa. Tudo tão rápido e tão demorado... Dias e noites que não tinham fim. Tristeza, dor, alegria, alívio, medo e compaixão... Alegrias e incertezas. Satisfação e frustração. Portas abertas e janelas fechadas, Janelas abertas e portas fechadas.


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Mas estou aqui... Depois de ver e sentir tanta coisa, mistos de emoções que ainda não sei de onde saiu forças para suportar e enfrentar... Depois de ver a luz apagada, juntei forças... Lentamente levantei e consegui acender uma pequena faísca, E foi esse pingo de luz que me reergueu e me trouxe aqui novamente. Obrigada Grande Pai Celestial. Espero que em 2022 estejamos mais fortes, maduros, plenos, satisfeitos e gratos. Obrigada por mais uma chance...


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Momentos... Anelise Xavier Miguel

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elicidade? Igual a momentos. Momentos felizes agradecer e aproveitar cada momento. Dificuldade? Igual a momentos.

Momentos difíceis agradecer e tirar o melhor, o positivo, sem-

pre tem o lado positivo e de aprendizado. Pois, quando menos esperamos o melhor bate a nossa porta. E precisamos estar preparados para nossa colheita. Pode demorar, podemos achar que os dias passarão e tudo permanecerá no mesmo lugar. Mas não, nenhum dia é igual ao outro. De repente, sem percebermos um giro de 180° nos leva a outra direção. E aos 45 minutos do segundo tempo tudo muda. E novamente momentos de felicidade invadem nossas vidas. Os sentimentos se misturam: medo do novo, insegurança e felicidade. Porém, nesta mistura a felicidade prevalece. Felicidade essa que nos dá força e garra para fazermos o melhor sempre e vencermos o misto de sentimentos que nos invadiu sem permissão. Então, percebemos que estamos no lugar que sempre deveríamos estar.


No entanto, para chegar até aqui foi preciso seguir o percurso da vida e caminhar até esse momento, ruindo-se e se reconstruindo sempre. Pois a vida é? Igual a momentos. Felicidade é? Igual a momentos. E precisamos estar preparados para cada momento. Seja ele qual for. Portanto, sejamos sempre, todos os dias o nosso melhor. Santiaguense, formada em Letras-Português, professora, 38 anos, e que ama a terrinha que nasceu. Sonhadora e guerreira. Lema: “Arrependa-se do que fez e não do que deixou de fazer”, “Agradeça todos os momentos, mesmo os difíceis, pois sempre há alguém em um momento pior que o seu, além disso sempre podemos tirar um aprendizado de cada momento.”. Corra atrás dos seus sonhos e realize-os. Essa sou eu.

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Pelo Lado de Dentro Angela Maria Genro

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pandemia de Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2 ou Novo Coronavírus, iniciada no final de 2019, vem produzindo repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológi-

ca em escala mundial, mas também repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e históricos sem precedentes na história recente das epidemias. Cada ser humano vivente está sentindo a sua influência em suas vidas e comigo não seria diferente. Uma das coisas que mais gosto de fazer (senão a que mais gosto) é viajar. Conhecer novos lugares, interagir com outras pessoas, fazer novas amizades, descobrir novos costumes, tudo é, para mim, altamente enriquecedor e prazeroso. Desde os meus 18 anos me acostumei a, de vez em quando, fazer as malas e partir para o mundo. Os meus pais adoravam viajar e me passaram o gosto. Não sei dizer o número certo de lugares que já visitei. De acampamento em barracas, estadia em casa de parentes e amigos a hotéis de diversas estrelas, com certeza foram muitos. Sozinha ou acompanhada, no verão ou no inverno, em férias ou por trabalho, de norte a sul, pegar a estrada me encanta. Quando perguntavam para a minha mãe se ela não ficava apreensiva quando eu viajava, ela respondia: “- Eu entrego nas mãos de Deus. A única preocupação que eu tenho é que ela se esqueça de voltar para casa.” (rsrsrsrs) Sim, ela tinha razão. Uma coisa que eu sempre tive problemas em controlar foi a duração das viagens. Elas tanto podem durar uma semana quanto um mês.


33 E, se surgir alguma novidade que me agrade, não tenho nenhum problema em mudar a programação no meio do caminho também. Uma coisa que nunca tive é essa de “que saudade da minha cama”, “que saudade da comida da mãe”, “que falta do meu travesseiro”,... Quando estou em um lugar, estou por inteiro. Eu respeito e aprecio tudo o que me ofereçam. As coisas que estou usando no momento é que são “as minhas coisas”. Tanto faz se durmo no chão ou em cama, se como comida gaúcha ou piauiense, se são coisas humildes ou luxuosas. Eu valorizo cada centímetro de chão que visito e o meu bairrismo carrego no meu chimarrão. Uma das mudanças que o tempo me impôs foi com relação à bagagem. Quando jovem, eu carregava “a casa nas costas”. Eram mochilas, sacolas, malas,... Sempre tive aquela sensação de que tinha que levar um look para casa ocasião, que eu deveria estar sempre preparada para qualquer situação que se apresentasse. E o meu pai sempre me dizia: “- A gente deve colocar na mala somente aquilo que for capaz de carregar”. Pois é... Com o passar dos anos a bagagem diminuiu um pouco e sinto que ela vai diminuir mais ainda. Infelizmente, as minhas hérnias de disco aumentaram e me fazem companhia na estrada da vida. Mas, como eu dizia, a pandemia afetou a todos e a mim. Como integrante de grupo de risco, fiz isolamento voluntário por anos (Anos! Que horror!) E, agora, em dezembro de 2021, já com as três doses de vacina, eu e meu marido resolvemos pegar a estrada e ir encontrar pessoas que nos são caras. Parecia um sonho. As minhas asas finalmente estavam livres.


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Carro carregado... partimos. Que maravilha! Ar condicionado ligado, músicas rodando e nós cantando alto. Com todo aquele gás de quem sai de férias (ou de uma prisão?). Logo no início, os olhos buscam por paisagens já conhecidas. E as lembranças vão tomando conta. Vila Betânia. Aqui, a minha mãe gostava das festas de igreja. Ah! Ela achava linda a procissão pelo Dia do Motorista. Várias vezes fizemos caminhadas de casa até a Vila. Quilômetros de conversas e risadas. Onde ela estará agora? Vila Cerca de Pedras. Aqui, o meu pai tinha vários amigos, vínhamos visitá-los nos finais de semana e voltávamos com o carro carregado de abóbora, moranga, mandioca, milho, frutas, salame, queijo, vinho,...(rsrsrsrs) Os italianos sabem como comer bem mesmo. E aquelas conversas gritadas? Os tapas nas costas? Amizade. Onde ele estará agora? Buriti. Ah! Aqui morava uma família parente da esposa do irmão da mãe. Que pessoas simpáticas e carinhosas! Volta e meia vínhamos visitá-los e passávamos o dia com eles. Eu lembro da alegria deles ao nos mostrarem a lavoura, a horta, as folhagens, os produtos fabricados por eles mesmos,... A casa era simples, mas ofereciam um luxo de recepção às visitas. Onde eles estarão agora? Jaguari. Impossível passar pela Cidade das Belezas Naturais sem se encantar com suas paisagens. Impossível também não se lembrar das tantas pessoas conhecidas e situações vivenciadas. O Carnaval, quando vínhamos juntos com a Escola Acadêmicos do Samba. O folclore português, quando vínhamos ter práticas e teoria com um conhecido grupo de danças famoso na região. A praia de rio, quando reuníamos parentes e amigos no veraneio. Onde eles estarão agora?


Mata. A Cidade da Pedra que já foi Madeira “faz parte, junto com a cidade de São Pedro do Sul, dos Sítios Paleobotânicos do Arenito Mata, criados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos. De Idade Triássica, estas exposições de “florestas petrificadas” estão entre os mais importantes registros do planeta, tendo se formado a mais de 200 milhões de anos.” Chique, né? Mais ainda, por ser a cidade que acolhe(u) a família de meu querido primo Odacir, o qual sempre dedicou um carinho e cuidados especiais aos meus pais. Onde eles estarão agora? A cidade Coração do Rio Grande, Santa Maria, tem um papel fundamental na minha vida: foi no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, que num certo 10 de janeiro, eu aportei ao plano terrestre. É muito difícil colocar em poucas linhas tudo o que vivenciei neste lugar, mas me vem à lembrança a família, amigos, Rua Riachuelo, Escola Manoel Ribas, ADESG, procissão da Medianeira, UFSM, Theatro Treze de Maio, Catedral Metropolitana Imaculada Conceição,... A maioria das pessoas pensa que sou santiaguense, o que me daria grande prazer, já que vivo há mais de 50 anos em Santiago e dedico o meu tempo livre à cultura desta cidade, tendo minha Trajetória Cultural premiada , no segmento Teatro, pelo Instituto Trocando Idéias de Tecnologia Social Integrada, em julho de 2021. Onde estarão todos agora? Os pensamentos vão andando pela estrada, embalados pelos hits dos anos70, 80 e 90. Sim, a juventude permanece nas cantorias e trejeitos dançantes dentro do carro. Sem esquecer-se das imitações de propagandas de TV e rádio, vozes de personagens de histórias infantis e apresentadores de programas de auditório. (rsrsrsrs)

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Enfim, chegamos à Capital dos Gaúchos. A simples visão da Ponte Móvel me dá um “não sei o que” de nostalgia. Centenas de sentimentos misturados. De repente, me vem à cabeça “deu prá ti, baixo astral”. Quem não? A primeira parada foi para visitar, obedecendo a todos os protocolos sanitários, o tio Paulo, irmão da vó materna do meu marido. E lá, sentados em sofás macios e aconchegantes (daqueles que nos abraçam quando sentamos) ou ao redor de uma linda mesa bem posta, vieram mais recordações, conversas e risadas. Onde eles estarão agora? Numa manhã ensolarada, levantamos e partimos rumo a Balneário Camboriú. A ideia era passar a festa natalina na residência do meu sogro. Desde um pouco antes do início da pandemia, não os víamos pessoalmente. As conversas eram por celular e por videochamadas, várias vezes durante o dia. Mas, nada como estar com a pessoa, ver como está vivendo, compartilhar suas rotinas diárias... e verificar o aumento de suas dificuldades. Meu Deus! Como o isolamento causado por essa pandemia fez mal para o condicionamento físico e mental de muitas pessoas, principalmente dos idosos. Sem condições de saírem à rua e ter vida social normal, muitos envelheceram uns 5 anos ou mais. E, na maioria dos casos, não há nada a fazer para mitigar os efeitos, principalmente quando os idosos moram sozinhos. Problema de difícil solução. Na noite de Natal, entre pais, irmãos e noras, a ceia foi leve e os brindes com desejos de saúde, saúde, muita saúde,...e paz. Onde eles estarão agora? No dia do aniversário de Jesus, levantamos cedo e fomos fazer outra importante visita. Ele estava ali bem perto. Caminhando uma quadra e dobrando apenas uma esquina, a gente se depara com


aquele vizinho majestoso: o Mar. Para mim, essa visita é a mais bela e estonteante. Eu fecho os olhos e deixo os meus sentidos aflorarem: o barulho das ondas, o grito das gaivotas, o cheiro da maresia, o frescor do vento, o calor da areia, a salinidade da água,... De repente, tudo em mim vira gratidão a Deus e os meus olhos se enchem de lágrimas de felicidade. Estamos vivos. E onde eles estarão agora? Nesse momento de mansuetude na orla, vejo que todos estão PELO LADO DE DENTRO de mim, no coração. E estarão sempre comigo... aonde eu for.

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Amor!

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Angelita Xavier

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antos sabores e dissabores esse tal amor nos transmite. Mas, como viver sem amar? Se é esse sentimento que move o mundo.

Trazes contigo todo amargo e toda alegria de momentos ines-

quecíveis. Momentos e vivências que nos trazem os piores e melhores momentos de nossa existência. Coração pulsando, adrenalina à mil... Sorriso solto e leve. Sorriso sem sentido. Aura refletindo todas as cores mais brilhantes que você nem por um instante conseguiria imaginar. Corpo tremendo inteiro a cada sensação. Quando te vejo... Paraliso! Um turbilhão de sentimentos, pensamentos e sensações percorrem meu corpo inteiro. Só me resta uma coisa: Correr para teus braços. E enfim me entregar plenamente ao que a vida nos oferece. VIVER! Nasceu na cidade de Santiago na década de 70, onde viveu a maior parte da vida, vida cheia de acontecimentos e histórias para contar. E hoje continua a construir sua história na cidade de Canoas.


Minha caminhada Antonia Nery Vanti (Vyrena)

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nfrentei estradas pedregosas, Andei por jardins floridos. Sofria, mas logo tudo mudava.

Os caminhos que, num dia me fizeram sofrer, No outro, eram benignos para meu viver. Vi nuvens negras a meu redor, Também vi o sol que brilhava, tornando tudo melhor. Vi o mundo se transformando, os costumes mudando. Nada, foi sempre igual. Já andei muitas léguas nesse meu caminhar. Muitas lágrimas rolaram por minha face, Ao ver a miséria nas ruas, a dor nos rostos, Precocemente envelhecidos. Mas sempre tive fé, esperança de melhores tempos. Essa esperança, essa fé hão de acompanhar-me até o fim de meus dias.

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Quem sabe, antes de fechar para sempre os olhos, Verei espalhadas pelo mundo a fartura, a bonança , A felicidade, a honestidade, a alegria. Aí sim, tudo que passei, teria valido pena. Partiria daqui, com um sorriso de felicidade, Iluminando-me a face...

Possui três livros solos, Participou de diversas Antologias. É membro da Academia De Artes Literárias E Culturais Do Rio Grande Do Sul (Alers). Tem mais de cem poesias publicadas no Jornal Zero Hora.


Florais Amorosidades Arlete Cossentino Ela percebeu nele elos de delicadas amorosidades Sentiam-se Ele recebeu dela preciosos cuidados Curtiam-se Ela acompanhava-o em crescimento... e ele a ela Modificam-se Ele enraizou, rebrotou e floriu... ela também Comemoraram-se Ela, ca – ri – nho – sa – men – te, colheu a Brancura – Jasmineira em meio às Verdes Folhas Ritualizaram-se Eles, Juntos na firmeza da Terra, à pureza da Água, à leveza do Ar e o calor do Fogo (...) E – le – va – dos (...) Trans – mu – ta – ram – se! Salve, Novo Ciclo de Boas Energias!

Licenciada em Letras. Esp. em Literatura. Vice-presidente da Academia Santiaguense de Letras.

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Apenas o mar... Arlete Gudolle Lopes

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la nunca tinha visto o mar. Aprendeu a apreciá-lo através de cartões-postais desgastados não só pelo manuseio. O tempo de escondê-los na gaveta da memória descoloriu as imagens de

tanto ansiar por vê-lo ao vivo. Um dia, quem sabe nem tão distante, seria honrada com essa suave alegria. Esperava. O pensamento tem o poder de eliminar as fronteiras da distância e do dinheiro. Tudo pode. Redesenhar tudo o que lhe desagradava, estava sendo uma paciente e dolorosa lição de vida. Não descansaria até os olhos pousarem nas águas marinhas. Não lhe importaria o jeito ou a cor. Límpidas, barrentas ou verde e nem azul. O mar. Não o desejava nem uma flor, inconcebível se lhe parecesse igual a uma borboleta. Lembrou-se de uma frase retirada de um conto de Clarice Lispector: Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. Tal qual a personagem, a menina que tanto sonhava ler As Reinações de Narizinho, livro de Monteiro Lobato, pressentia que, para ela, a felicidade tendia a ser sempre clandestina. Sem que o percebesse, havia nela uma tendência masoquista de querer ser infeliz, de desejar o impalpável ou o que só lhe parecia sonho. O corpo miúdo, ceifado pela asma, transformara-a medrosa à parte da robusta memória, que a alimentava, compelia-a a jamais desistir da vida ou de sonhar. O coração foi sendo minado, pacienciosamente, pelo esforço de respirar. Ia desfrutando das coisas e do mundo em conta-gotas como se viver fosse apenas um privilégio não


seu, mas dos outros. Como a chama de uma vela assoprada pelo vento, tudo poderia terminar. Tentava encontrar forças suficientes para sobreviver. Cada pôr de sol, auroras que via surgirem, gotas de chuva ou míseras réstias de sol lhe eram talismãs ou loterias. O dia seguinte deixou de ser futuro para se transmutar em milagre e espera. A felicidade lhe surgiu na voz de uma tia. Não a mais amada, daí o espanto. Às vezes, as mãos se estendem em braços inesperados. Eis um dos doces regalos da vida, pensou, mas não disse nada. Não articulou um ruído sequer de agradecimento. Não sorriu. Muito menos chorou. A emoção havia lhe ressecado as palavras. Não sabia o que dizer. Imaginava se essa inesperada generosidade poderia ter algum significado, se escondia um pressentimento ou uma fatal anunciação. Seus olhos, cheios de um mar que nunca viu, poderiam descolorir as imagens que formatou com tamanho cuidado e por incontáveis vezes. Deu-se conta de que a realidade tem duplo poder: o de sabotar o imaginado, ou o de emprestar ainda maior beleza e melhores contornos ao nunca visto. De tanto esperar, estava se sentindo quase feliz. Foi tomada de felicidade efêmera, repentina, que lhe emplumava o peito e favorecia-a com jeito bem melhor de respirar. Não ofegava. Respirava com cautela no início. Depois, de forma sequencial como nunca houvera respirado. Do nada, intuiu que o modo de respiração desenfreada poderia não ser dela. Então, fez o inimaginável. Retirou, da mochila, um estojinho de plástico. Abriu-o. Pegou dele a escova descabelada pelo longo manuseio. Passou, com extremado capricho, a pasta. Abriu a boca. Sorriu para um azul sem fim que se esparramava diante dela. Escovou os dentes. Enfim, estava no mar. Quem sabe, naquela imensidão,

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finalmente, pescaria um coração novo para lhe bater no peito, cheio de vida. Lembrou-se da canção de Dorival Caymmi, que a mãe entoava para ela dormir. Começou a cantar: É doce morrer no mar/ Nas ondas verdes do mar. Emudeceu a cantiga. Estava emocionada. A tia continuou: Saveiro partiu de noite foi/ Madrugada não voltou/ O marinheiro bonito/ Sereia levou... De repente, não queria mais ser ela, nem o marinheiro e muito menos a sereia. Queria ser o próprio mar.

Possui artigos publicados em Zero Hora e vários jornais do Brasil, é autora de “O inquietante perfume de cravos” e “Fugaz Eternidade”. Foi patrona da 17ª Feira do Livro de Santiago. Pertence à Academia Santiaguense de Letras.


Algumas inspirações... Camila Canterle Jornada (Mila Journée)

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minha inspiração não tem relação em escrever sobre flores, mas eu acho tão bonito quando alguém consegue isso. O que me traz inspiração é tipo uma faísca ininterrupta, é um vento

galopante que joga as pétalas de um lado ao outro, é um dia banhado pelo sol que seduz polinizadores. A minha inspiração... Ah!!! Ela mesma... Ao mesmo tempo que ama, apaixona, odeia e morde, eu beijo, afago, lasco e como... Como se fosse um doce! É lábio e boca, glicose, fita e fronha... Afronho e selo, um beijo inundado de puro amor e sem-vergonhice. O lábio já treme e arrepia, o toque me disforma, transborda, unta. Ah, todos possuem intenções, entende? Mas o Sol, ahhh quem dera, o Sol assim tão quentinho que faz o meu peito se encher de graça. Mas a minha desgraça consta na lista das minhas tramoias do bem, todas mal sucedidas. Quando eu via, já eram duas e mal eu sabia das graças. O que me conforma na ausência de inspiração é a reserva que tenho do amor, não sei se tenho de sobra, o que sei é que ele veio ao mundo antes de mim e por isso não ouso amar assim, do nada. Mas sei que do nada, o amor pode não sobrar. Mas que Sol, que céu de boca azul, que encostas aromáticas, que deserto que me Saara, que tudo nesse mundo pudesse ser a abundância das nossas inspirações pelas coisas que nos fazem bem e nos tragam presença, o olho no olho, o boca a boca, o feedback...

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Às vezes, o meu peito se fecha dentro de uma bolha doída de pura tristeza. Por outra, a natureza me contempla nas bolhas de sabão e eu não morro amanhã. Eu mordo hoje com leves atassalhadas nos cantos de uma boca mansa. E caso ela venha a se retorcer, já nem sei mais o que dizer, acho que o bom mesmo é calar a boca. Mas a tua voz quando vez por outra some, visita o meu quarto na calada da noite e os teus lábios quando desertados alimentam minha sede para que eu não morra de amor na boca da noite. Ah, inspirações no tempo, no café que me expressa, nas pessoas que se perpetuaram em livros e outras que ficaram apenas no prefácio, mas todas delas, de forma e ou de outra, inspiraram e partiram. A maioria se transformou em saudade, e outras no sentir falta. Cair no esquecimento seria pesado demais para escrever. Mas uma das minhas maiores inspirações mesmo é o café: Meu consolo diário, meu bom dia, meu dorme tarde, meu cheiro de felicidade, meu beijo de sabor intenso, meu amor extra forte, meu maior sossego, um café bem passado, minha fruta sabor morango, minha língua no grão, sem filtro, em fervuras, em poros, em sorvos, na boca, no bule, no gole. Bióloga, escritora, Dj e Produtora Musical.


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Padrão A Camilla Cruz

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ão tinha certeza se realmente funcionaria. Muitas das minhas patroas diziam que sim. Por isso, era impossível duvidar, elas eram as provas vivas de que tudo funcionava. Por

quanto tempo vou conseguir aguentar ter olheiras, olhar caído, braços flácidos, peitos e bunda pequenos demais, lábios finos demais, rugas na testa, pés de galinha nos olhos, bochechas grandes demais, olhos pequenos demais, barriga gorda demais e cheia de estrias, consequências de uma gravidez? É engraçado como, no ano passado, me diziam que eu estava muito magra. Lógico, só tomava chá o dia inteiro. Tomava alguns remedinhos também. Estava difícil levantar da cama depois de ver a última foto que Lana Meireles postou: linda, com um biquini (biquinizinho de tamanho e biquinizão de preço) branco de grife, se bronzeando em um iate na Itália, comemorando seu aniversário de quarenta anos com a barriga chapada após de ter duas filhas gêmeas no mês passado. O treinador dela está de parabéns. Eu só queria ter o saldo no banco igual ao dela. Nem precisava ter tantos seguidores e patrocinadores. Pensando bem, seria bom ter uma assistente pessoal atenciosa para me ajudar a organizar minhas turnês mundiais, novelas e comerciais. Ou melhor, minhas faxinas, como no mundo real. Não vou mentir dizendo que nunca fiz nada. É tão normal se deixar modificar e ainda pagar por isso. Mas, ao mesmo tempo, não posso dizer que fiquei satisfeita, porque meu nariz ainda está torto e grande. Preciso deixá-lo perfeito com a ajuda de alguns mil reais. Muitos, para ser sincera. Para que meu nariz não fique ainda maior.


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Tenho bons ângulos e bons filtros nos aplicativos, mas preciso de fotos mais reais. Na verdade, preciso de um bom cirurgião, porque o último que fui estragou meu nariz. Precisa haver uma forma de conseguir dinheiro rápido para ser como tenho que ser. Não me sinto eu mesma. Não me sinto a verdadeira Roberta. Sei que sou muito mais bonita. Só precisava de dinheiro e procedimentos estéticos em clínicas caras. Não posso reclamar da minha pele, bronzeada e hidratada, porque vou na esteticista toda semana, não importa se o aluguel já venceu. Três turnos semanais nunca serão suficientes para tudo que eu preciso fazer anestesiada. No meu momento de paz absoluta. Se eu morresse, morreria feliz com a cirurgia concluída. Uma vez fiquei entre a vida e a morte, entubada e frágil, durante uma lipoaspiração. Recuperei-me logo, foi só uma hemorragia. Nada muito grave. Chegou a hora de levantar e encarar esse espelho do banheiro, tão detalhista e revelador, que me pressiona a fazer tantas coisas com o meu corpo. É impressionante! Minha maquiagem cara está quase acabando. Como consertar tantos cravos, espinhas e poros abertos? Mal posso esperar para chegar o dia de ir à clínica estética para fazer uma visitinha. Falando nisso, também preciso ir ao cabeleireiro, tingir esses cabelos brancos que surgem quando a gente completa trinta e cinco anos e vive atendendo pessoas ricas por telefone no trabalho. Além de limpar todas as suas sujeiras diariamente, é óbvio. Será mesmo que sou uma empregada? Não posso ser doméstica. Nem empregada doméstica. Posso até ser funcionária, mas me parece muito amplo para as minhas funções tão específicas.


Mas, empregada doméstica, não aceito ser. Sou empregada só porque tenho emprego. Poderia dizer que meu trabalho é ser assistente de domicílios. É uma nomeação que parece funcionar melhor do que as anteriores. Até inclui o trabalho de secretária e de babá. Animal-fêmea-domesticada, posso afirmar que não sou. Olhando assim, dá para ter certeza que a segunda rinoplastia não funcionou. Tem alguma coisa errada com esse meu nariz. Vou ser obrigada a levar uma foto da Lana Meireles para mostrar meu modelo de nariz perfeito. Se esse médico novo que minhas amigas me indicaram, o Doutor Leão, quiser ser um cirurgião plástico como o dela, vai estudar para me deixar com o rosto igualzinho, com um padrão A facial. Meu nariz está inacreditável. O pior vai ser a recuperação. Não vou poder ficar afastada do trabalho por muitos dias. O importante mesmo é ter o nariz reto e perfeito, além de parar de gastar com ele, gastando com outras coisas que é preciso consertar, é claro. Soube desse conceito, o padrão A, quando a Patrícia, minha patroa, me contou que, no canal de televisão que ela assiste todos os dias, tem um cirurgião que faz um reality show de realização de procedimentos estéticos que mostra como chegar ao padrão A de beleza facial. Esse nível estético só se alcança quando se atende a todas as medidas do rosto perfeito, propostas pela pesquisa desse médico famoso de Hollywood. Estou decidida a trabalhar, no mínimo, sessenta horas semanais para conseguir chegar ao padrão A facial ainda este ano. Pensando bem, só vai ser possível no ano que vem. Vejo isso mais tarde. Já estou atrasada para pegar o metrô.

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A Casa Capsaicina

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casa precisa de uma pintura, está saudosa de afável visita mas, mesmo branca e desbotada,

ela consegue se fazer bonita. Olhando a casa da rua, cedo da manhã, pelas verdes folhas de um sol coado; entremeado com vermelhas flores do alto e majestoso flamboyant. Morada de cardeais de crista flamejante, de borboletas com asas multicores, alegria... pássaros com trinados extravagantes se unem anunciando o raiar do dia. A casa tem cheiro bom, peculiar e nada escapa ao seu olhar do teto às paredes, ao chão. vê o corpo, a alma, o coração; sente o abraço, vive a paixão, a carícia dos beijos, depois a oração sempre quieta, sem recriminação, é nossa cúmplice, guarda segredos...


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A casa tem ruídos cotidianos, é íntima de nossas fantasias. Ela nos revigora: é água ou vinho; desperta compaixão às vezes fugidia entre a severidade e o aconchego. Ela é nosso refúgio, nosso ninho, pois dentro dela se desaprende o medo, longe dela é saudade, perto é acolhida. Ela faz parte de nossa vida...

Professora Elizabeth Pimenta, fez Curso Normal no Colégio Medianeira, Curso Superior de Educação Física e Especialização em Ciências da Educação.


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O Diário de uma Dicotômica Carla Rodrigues Capítulo I Uma esquina para liberdade

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ábado é meu dia favorito, tanto quanto o domingo, o que retrata um pouco do meu pensar e sentir. A mente realmente é um oceano de profundezas e sutilezas, mergulhar em si é desafiador,

é como encontrar corais lindos, navios naufragados há 100 anos e corroídos pelo tempo, mas também em meio a beleza o medo pode pairar frente ao desconhecido, sem saber ao certo quais criaturas encontrar ou ainda se é possível ir ainda mais fundo... Neste instante, fico a observar meu quadro favorito, situado no meu quarto bem acima da minha mesa de estudos, de formato retangular, suas cores são sóbrias em tons camel. Tento obter o máximo dele, para uns é apenas uma esquina monótona, para mim é um lugar com vários sentidos, um ponto de partida talvez ou apenas uma fotografia em qualidade profissional. No entanto, a imagem diz muito sobre mim e a minha maneira de ver as coisas, nela há dois prédios, um deles amarelo imponente em arquitetura que não sei decifrar, suspeito que seja em outro país, e outro a esquerda apenas uma parte dele é possível contemplar um tanto comprimido pela alameda. Percebo que a rua espaçosa corta o concreto eminente e fico a observar as sacadas, em quase todas as aberturas há rostos e corpos esculpidos verdadeira perfeição, mas não como


querubins. Não há pessoas na rua e o céu não está azul, denunciando um dia de nebulosidade. Apesar de contemplar cada detalhe minúsculo por longo período, chama-me a atenção repentinamente outros fatores, tal como em um leve susto, logo me percebo em um desvio dicotômico dentro da minha própria percepção. Mas como assim um desvio dicotômico? O que de fato seria isso? O fato que não há dois prédios, mas vários, nas ruas laterais, aos fundos e até nas diagonais. Assim é meu modo de perceber a vida, foram 35 anos a observar apenas uma ou duas opções, seja nos relacionamentos, no trabalho e por vezes até nas refeições. O famoso “oito ou oitenta”, “preto ou branco”, “sim ou não”, “ vai ou fica “ ... Nesse perigo copioso da minha própria mente arquitetava as minhas defesas e salvações onde não existia nem por um instante “o talvez” ou o “quem sabe”... - Há opções !!!- alguém disse. Apesar da visão e sentido único, cada instante transborda o ímpeto para uma solução desesperada e a proteção do sei lá o que .... Se perceber já é um bom começo, uma voz tranquila pontua em meio aos pensamentos, assim um pequeno alívio me conforta pois há muito a se fazer e transformar em um modo ideal, saudável e funcional para os meus dias. O cotidiano dicotômico é quase capital na guerra mental para decidir, alguma coisa acaba por fixar a regra primordial armada para uso do perigo imaginário, que vai de uma simples escolha como um café ou cappuccino até o “não quero mais “ defensivo. Para fugir da dor a dicotomia traz a força que faltava para o salto no precipício mental. Perceber a ansiedade da fuga como única solução é tão desgastante como correr 30 km. Porém após algumas “ grandes descobertas” no

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meu íntimo percebo que é possível bem viver e sobreviver a mim mesma e minhas próprias armadilhas, sim!!! Então consigo me auto reverter, é como ver um quadro de ponta cabeça, é analisar a obra com o que há por trás dela e descobrir o infinito de possibilidades, é o alívio depois de “ nadar e não morrer na praia” que acaba por transpor verdadeira calma para minha alma sofrida e manipulada. Não há mais “ oito ou oitenta”, há zeros, setes, cincos e milhares de possibilidades na minha nova aventura de viver, o sabor do inesperado ou do improvável já não transpõe calafrios pois me permito notar as minhas alternativas psíquicas e inacreditáveis, antes impossíveis aos meus sentidos.

Escrito por Carla Rodrigues em 29 de janeiro de 2022. Aspirante a escritora e ilustradora nas horas vagas. Atualmente praticando nadismo e confucionismo. Adepta ao cultivo da gratidão como emoção preventiva.


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Saudade Clarice Xavier

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em cheiro e tem gostinho... Tem cheirinho do campo verdinho e tem gostinho de banana nanica.

Onde nas férias ao seu encontro eu corria, ele estava sempre na

janela à minha espera. Eu ainda posso escutar o som do seu tamanquinho de madeira batendo nas tábuas do chão da casa. Lembro do ovo quentinho que todas as manhãs preparava. Nas suas pernas me balançava e contava histórias. Ainda lembro as palavras... vou te dar um quebra costelas com mil beijos... dizia meu avô sentado no seu banquinho de madeira. Esse cheiro e esse gostinho só existem na saudade que sinto de ti.


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O Som da Velha Acordeona Clay Fonseca

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erá que vou chorar quando, teu som ouvir Velha acordeona reformada Me disseram que teu fole estava furado

E algumas teclas quebradas Á que saudades do teu som, velha acordeona Que faz me lembrar da minha infância Foi com o teu som que aprendi a dançar Ouvindo meu pai tocar Não esqueci nem um gesto Que dançava com teu som Xote, valsa e vaneira E ainda tinha o vaneirão Que dançava batendo Com o pezinho no chão Hoje é só lembranças velha acordeona Que chamo de recordações Guardo num cofre bem fechado o teu som Na hora da saudade e solidão É que eu vou buscar No fundo do meu coração.

Claides Fonseca da Silva, 72 anos, casada, aposentada e artesã.


No fim do arco-íris Caroline Kucera dos Reis

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um mundo de paz Onde tudo tinha se resolvido Tinha acontecido

Uma revolução Tudo que era ruim foi-se embora Até mesmo os condenados pediam perdão Antigos rivais se abraçavam e conversavam Cão e gato, se aproximavam e se cheiravam Foi quando eu olhei para o céu Vinha descendo um homem Sobre escadas de nuvem A ternura o envolvia Não sabia se chorava ou sorria O mundo inteiro parou para olhar Aquele homem simples que vinha nos ajudar Todos se emocionaram e se ajoelhavam Estava chegando Um homem de cabelos compridos Nele havia um brilho Ele vinha sorrindo Dizia que estávamos partindo Ele sorriu quando me viu Os olhos dele mostravam a bondade

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Serenidade Só de olhar para ele, sentíamos a humanidade Ele vinha falando de outro mundo De outro lugar, que era bonito e profundo A voz dele transmitia paz Todos sorriram quando o viram Ele abraçava as crianças Beijava os animais Os idosos e os demais Todos se encantaram quando o olharam Ele falava que lá não tinha doenças Lá todos tinham as mesmas crenças Lá existia cura para tudo Existia cura para o mundo Ele convidou todos para irem junto Pro fim do arco-íris Pediu para darem-se as mãos Para pedirem perdão e se chamarem de irmãos E caminharem rumo a esse lugar Lá todos entendem o significado de amar Ele disse. Todos os seres vivos marcharam atrás desse homem Todos se deram aos mãos e se foram Abandonando a maldade terrena Seguindo para essa vida plena De paz, amor e compaixão


Cogitação Catharina Antochevis Pereira

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omo esperar se não faço nada? Como buscar se estou parada? Como viver assim anestesiada?

Como sentir a sorte esperada? Como fazer nova empreitada? Como saber a hora da saída? Como ser constante na partida? Como enfrentar rota planejada? Como começar passo a passo a caminhada? Como prosseguir

avante a jornada? Como andar e andar a caminhada? Como ser paciente na chegada? Como entender que importa é a vida? Como? É só seguir intuição sentida. Como? Indo com determinação: ou tudo, ou nada!

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Construir e reformar Cintia do Carmo

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casa própria, empreendimentos, para muitos, ou a grande maioria, ainda é um feito, uma realização de vida, um sonho conquistado, por vezes um pouco distante, por vezes acessí-

veis. Porém, conquistas são conquistas, por menores ou grandiosas que sejam. Inicialmente, qualquer projeto de construção, ou de elaboração de algo, necessita de uma ideia, de um pensamento, de um start, que te move, que te desperta a fazer algo, sair da tua zona de conforto e criar, planejar... Após esse primeiro start, onde a chave vira e se dá o ponto de partida, logo de início o planejar, como será feito, de que forma será e que será necessário para tal empreendimento, pós todas as definições realizadas, obtém-se o processo de iniciar, fazer, executar, agir ... e então é questão de tempo e esforço, para se alcançar os resultados esperados, pois, tudo é muito bem pensado, que tipo de material será usado, iluminação, cor das paredes, decoração de interior, plantas. Uma infinidade de detalhes é pensada com muito carinho, e sem diminuir a importância de cada um deles, pois representa algo que ficará para o resto da vida, ou pelo menos, por um longo período de tempo, até que outras novidades se tornem mais atrativas E é justamente isso, podemos passar por um período, de reforma e ou construção, onde cada minucioso detalhe é pensado com todo amor e carinho, e somos incapazes de olhar pra dentro de nós mes-


mos e ceder este tempo de reforma que nosso corpo, mente, pensamentos está precisando. Que possamos ter mais empatia com nós mesmos, compreender que nem tudo tem que ser perfeito o tempo todo, que há dias ruins e tudo bem. E que no fim, tudo passa, tudo é uma viagem, saiba aproveitar sua própria companhia, saiba desfrutar de sua trajetória. E de quem está ao seu lado, porque no fim, é só isso que importa. Construa, reconstrua, quantas vezes for necessário, e não se apegue ao custo deste investimento, o retorno é em você mesmo, e sempre será satisfatório e recompensador este processo de vida. E com esta visão, de que conquista, é conquista, independentemente do quão grande ela possa ser. Saiba celebrar e comemorar nas pequenas coisas, para que aprecie o valor das grandes, daquelas que transformam a vida. Saiba apreciar os pequenos momentos da vida, os almoços em família, o bate papo ao final da tarde, o café quentinho logo cedo, o cheirinho de chuva, o carinho do seu pet, a gentileza recebida, o bom dia da pessoa que aquece seu coração. Aprenda a curtir as pessoas que te cercam e que te rodeiam de amor, saibas te curtir e curtir tua trajetória. Ama-te.

Sonhadora se reconstruindo constantemente e apaixonada por fotos, lugares e histórias, que valoriza cada pessoa que passou pela sua vida, que faz dessas vivências um gatilho pra acreditar em um amanhã melhor.

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Foi Cinthia Moreira Machado

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oi Num tempo Página virada da nossa realidade

Acerejado na memória Do surgimento da linhagem Repousa A nossa tão esquecida VIDA Agregou Uma obscura alteração Luta Impiedosamente por seus ideais Planeja Uma atrás da outra. “Repenso, reajo, refaço, reorganizo, realizo, refaço,recomeço.”

Filha, mãe, mulher e professora


Reflexões sobre um produto em ascensão: o plástico Cisnara Pires Amaral

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xistem mulheres que escrevem romances, contos ou poesias. Há as que se importam com as questões ambientais e que compreendem a importância de um chamamento em relação a fau-

na, flora e os desequilíbrios que estamos enfrentando. Esse texto faz referência a preocupação excessiva com o plástico, produto que está em ascensão desde que se instalou a Pandemia do Covid-19, dessa forma esse texto convida a refletir sobre a relação do plástico e as consequências para o meio ambiente, estabelecendo a relação entre a ação antrópica, a responsabilidade compartilhada e os desequilíbrios ambientais. Para iniciar essa reflexão poderemos nos embasar em muitos autores que relatam o descaso com o meio ambiente, como Santos e colaboradores (2020) que relatam que o meio ambiente tem dado respostas indesejadas para aqueles desavisados e destruidores da natureza; para os atentos, tais respostas são efeitos de causas bem conhecidas. Dessa forma, como poderemos auxiliar a manutenção da homeostase do meio? Como poderíamos iniciar uma campanha em relação ao plástico, visto que se torna essencial para evitar a proliferação de um vírus mortal? Se levarmos em consideração a ótica da Pandemia, ficaremos de braços cruzados esperando que esse material, muitas vezes jogado

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na rua, se torne um fardo sem precedentes. Porém ainda podemos fazer nossa parte, contribuindo com o descarte correto ou exigindo mudanças em relação a leis que proíbam o canudinho de plástico em estabelecimentos comerciais. Mas o que seria um canudinho de plástico em relação a todos os outros produtos utilizados? Sim, um simples canudinho seria um bom começa e depois quem sabe a proibição de copos de plástico ou a substituição dos saquinhos plásticos por papel para colocar os talheres. E quem não lembra da foto nas redes sociais que viralizou com alguns pesquisadores removendo um canudinho da narina de uma tartaruga? Pois bem, a tartaruga não tem nada a ver comigo e muitos menos essa conversa chata sobre canudinhos ou plástico. Tem sim, tem a ver com o futuro de nossos filhos, com a biodiversidade, com o equilíbrio no ecossistema, sendo assim uma Cidade Educadora deve contribuir para a conscientização de seus munícipes, e educação se faz a partir de chamamentos, engajamentos ou reflexões. E para que essas ações se tornem realidade, poderemos contar com a promulgação de Leis Municipais, Estaduais ou Federais. Em relação à Lei Federal, está em tramitação o Projeto de Lei (PL) 10.355/ 2018 que discute a fabricação, comercialização de canudos descartáveis em todo o território nacional; além de discutir a utilização desse produto em plástico. E essa discussão se faz a passos lentos, pois enfrentamos o descaso em relação a essa PL, a demora em discutir tal Lei, a falta de vontade política ou a falta de discussões na mídia ou redes sociais sobre as consequências de sua utilização deixam a população à mer-


cê dos malefícios que o produto pode causar na cadeia alimentar. Além do que, em outros países, esse processo já iniciou no ano 2000. Então, por que não devemos discutir esse processo? Será que as pessoas têm conhecimento e consciência sobre os malefícios desses produtos para o meio ambiente? Essa questão estava sendo discutida em muitas cidades, e em 2019, o site “Cidades Inteligentes” realizou busca atualizada informando as cidades brasileiras que já realizaram ou estão com processos de tramitação em relação ao uso de canudinhos de plástico. Percebe-se que dos 27 Estados Brasileiros, 23 já iniciaram processos de discussão sobre a utilização de canudinhos plásticos e em 52 cidades brasileiras já foi sancionada a Lei de restrição em relação à utilização desse produto. E como essa questão será vista em nossa cidade? O que pensam as pessoas sobre esse feito? Em minha concepção essa demanda já é significativa, visto que, apesar de não existirem leis federais que incentivem esse processo, os Estados já compreenderam a importância da utilização de medidas mitigatórias em relação ao meio ambiente. Porém, não podemos deixar de notar que existem poucas cidades em cada estado que estão pensando nesse tipo de ação ambiental. Um estudo elaborado pela ONU em parceria com World Resoucers Institute (WRI) denominado “Limites Legais sobre plásticos e microplásticos de uso único: uma revisão global das leis e regulamentação nacional” argumenta que, a cada ano, 8 milhões de toneladas de plástico acabam nos oceanos, interferindo na vida marinha, pesca e turismo. Destaca a importância da criação de Legislações, pois essas leis podem incluir desde a produção até sua inserção no mercado,

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ocorrendo a proibição, regulamentação quanto ao fornecimento, distribuição, tributação e responsabilidade compartilhada. O “Atlas do Plástico: fatos e números sobre o mundo dos polímeros sintéticos”, pela Fundação Heinrich Böll deixa claro que, só no Brasil, são mais de 11 milhões de toneladas de plástico, o que coloca o país como 4º maior produtor de lixo plástico no mundo e salienta que a reciclagem é apenas a segunda forma mais eficiente de resolver o problema. A opção melhor e mais simples é não produzir, nem consumir tanto plástico. Entre 1950 e 2017, foram produzidas cerca de 9,2 bilhões de toneladas de plástico, representando uma média de 400 milhões de toneladas de plástico produzido ao ano, sendo que apenas 9% são recicladas. Os países que mais produzem lixo plástico são: em primeiro lugar, os Estados Unidos, com aproximadamente 70,782 milhões de toneladas ao ano; depois a China, com 54,740; em terceiro lugar a Índia, com 19,311 milhões. O quarto lugar, com 11,3 milhões de toneladas de plástico produzidas ao ano é do Brasil (ATLAS DO PLÁSTICO, 2020). Esse processo de conscientização é lento e gradual, e as discussões se fazem necessárias para que possamos identificar hábitos e atitudes, pois também somos responsáveis pela utilização do produto. A Pandemia traz à tona a utilização do produto sem precedentes, fica o convite à discussão, pois, certamente, esse será um dos problemas futuros a serem enfrentados pela população. E nesse momento nosso único objetivo, deverá ser o de restabelecer a homeostasia entre ser humano, meio ambiente e progresso.


Sair da zona de “conforto” não é tarefa fácil, temos que compreender a responsabilidade compartilhada, efetivar a Educação Ambiental nos diferentes segmentos da sociedade, reverter a cultura de destruição arreigada em nossa história. Mudar as concepções de “exploração” e “conquista”, reverter os valores da raça humana (AMARAL, 2020). Então fica o convite a essa reflexão, uma cidade educadora deve discutir pontos críticos, propor mudanças e contribuir para a formação de novas atitudes embasadas em conhecimento, construindo histórias relevantes, que nos ajudem a compreender melhor o mundo em que vivemos, desenvolvendo a cultura de participação e da criticidade, porque de falácias sobre Educação Ambiental já estamos cheios, precisamos de ATITUDE!

Mestre em Tecnologia Ambiental, com MBA em Gestão Ambiental, Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Ensino de Biotecnologia.

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Quando os ventos sopram Cristine Xavier Miguel Guerim

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á dias de vento norte arrasadores, quentes e pesados. Em outros dias o minuano sopra gelado e forte,

porém não menos arrasador. Assim é a vida com seus altos e baixos. E naquela manhã quente e ensolarada de verão não pude sentir o vento, nem mesmo uma brisa leve. E de repente era como se eu fosse mera expectadora de minha própria vida, como seu eu assistisse a tudo do lado de fora. E subitamente me dei conta que apenas pensamos estar no controle, mas a grande verdade é que não temos controle algum. Lembro da despedida, da mãozinha de Alice tocando suavemente a minha através das grades do portão e a sensação de finitude.


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Apesar das tempestades, da ventania, precisamos viver cada dia como se fosse o último, perdoar mais, agradecer e principalmente amar intensamente, pois é isso que vai permanecer. Professora Estadual de Língua Portuguesa e professora no Espaço do Saber


A Colecionadora de Canetas

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Cristiane de Campos Salbego

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impressionante como a vida nos reserva algumas surpresas, às vezes agradáveis, outras nem tanto. E essa é a história de uma garota muito especial. Ela tinha uma verdadeira fixação por ca-

netas, de todas as cores, tamanhos e marcas, de sublinhar, stabilos, de escrever, para pintar ou apenas para colecionar mais uma e mais outra e ... Enfim, ia além de uma fixação, pois representava para ela a própria condição de sentir-se viva e participante do universo. De repente, uma pandemia mundial assolou o mundo e a menina se viu acuada, totalmente impedida de expor seus sentimentos mais sinceros e puros graças àquela enorme coleção de canetas, era quase uma centena (e seu desejo oculto era ultrapassar em muito esse próprio recorde). E, pasmem, sua ida a algum lugar era primeiro à papelaria para comprar ou apenas observar mais um modelo novo de esferográfica ou similar. E retomando o resquício pandêmico, a frustração de não poder ter /obter/utilizar seu recurso mais precioso, fez com que perdesse para ela o sentido de muitos propósitos: o de ler, de escrever, de estudar, de fazer amigos, de se desenvolver como ser social, pensante e ativo. A natureza pregou muitas peças na humanidade, mas a última, certamente, foi a mais avassaladora do ponto de vista humano e científico. Não só a colecionadora de canetas se frustrou, como a humanidade colecionadora de supérfluos e outros tantos pormenores se viu diante de um desafio imenso: encarar a morte e a doença e a própria estima.


A nova forma de encarar a vida agora levou a colecionadora de canetas a reestruturar o que realmente lhe importava, o que significava para si e de que adiantaria a sua extensa e colorida coleção se não fosse a oportunidade de ir à escola, de estudar, de fazer novos amigos. E graças à comunidade científica mundial hoje é possível a vacinação dos jovens e crianças contra a famosa Covid 19, sim, famosa, porque fará e já faz parte da nossa história mundial e com certeza integrará as próximas edições dos livros didáticos e literários internacionalmente reproduzidos. E o mais importante, a colecionadora cresceu, não só fisicamente, mas psicológica e emotivamente, pois aprendeu a melhor lição: colecionar de verdade é valorizar o que temos e somos e somente a partir disso é possível colecionar e apreender a própria essência humana: somos eternos estudiosos e professores de nós mesmos. Já dizia o notório educador brasileiro e pedagogo, reconhecido mundialmente, Paulo Freire “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”. Por isso, a garota foi além de seus sonhos, conquistando aos poucos o próprio espaço no mundo, além do imaginário e aquém da intencionalidade de apenas ser, porque o que definitivamente a move é a alegria e a esperança de poder conquistar sempre mais, um passo de cada vez e comemorar cada nova vitória alcançada. Atualmente professora de escola pública em Santo Antônio das Missões, natural de Santiago, graduada em Letras (URI Santiago), especialista em Gestão Escolar Integrada e mestranda em Ensino Científico e Tecnológico URI Santo Ângelo.

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O Mar Daniela Arce

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omo as ondas do mar sinto a brisa leve me tocar minha face fica ruborizada

meu corpo estremecido em êxtase e a paz invade meu ser corrompendo o silêncio da dor ! A calmaria toma conta pensamentos aleatórios e reflexivos fazem a utopia emergir ! Meditar, escutar meu coração na parte mais importante nas emoções mais profundas e ternas e no espaço em que a vida torna a encontrar a felicidade ! O amor é o que precisamos assim ,fica como o balanço das ondas deixando a vida me levar ao caminho trilhado com fé , resiliência e esperança de um amanhã melhor!


O menino e os sonhos. Darlene Cristina Colaço Chaves

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vida é cheia de encantos, Os sonhos de um menino são tantos... Quando criança sonhou em ser cientista,

Mas com o passar do tempo quis ser artista... Não sei ao certo, Mas desejou ser mágico ou maestro... Talvez sonhasse com a arqueologia, a antropologia... Mas acreditou nos dinossauros, na paleontologia? Não sei ao certo, Ah! São tantos os sonhos que embalou, Mas há tempo para tudo isso, eu acho... A infância passa, o menino cresceu, Mas o sonho, esse não desapareceu... Ele alimenta a alma do menino sonhador, E isso, traz a paz ao coração do menino encantador.

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Hoje eu vou usar batom vermelho Darlene Honório Medeiros(Darla Medeiros)

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ire o seu machismo do caminho Que eu quero passar com o meu amor. “Porque não nasceu menino?”

Ora, faça o favor... Hoje eu vou usar batom vermelho. Meu amor é próprio, sim, senhor. E quando eu me olho no espelho, Já não me sinto inferior. Esse mesmo amor, Que ao mesmo tempo é singular, Às vezes é calor... Fogo em que se queimar. E quando me olho no espelho, Já não pergunto: “o que eu fiz de errado?”. Hoje eu vou usar batom vermelho, Mesmo que seja pecado. “Onde foi que eu errei?” Quem você tá pensando que é? Que liberdade eu te dei Para me julgar por ser mulher?


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Crucificada pelo tempo, Massacrada pela sociedade, Exilada de meus talentos, Usurpada de minha liberdade... Culpada por ser o feminino. Condenada por ser feminina. O pai queria um menino. Quando é que essa história termina? Apedrejada por amar, Por ser solteira, por estar só, Por se entregar... Minha cabeça chega a dar nó. Por sentir demais... Por não caber na tradição... Por não se encaixar nas convenções morais... Por ser mais o pleno amor e menos o padrão... Rejeitada desde o nascimento, Quando seu pai sonhava em ter um varão... Alguém me diz, “quando é que chega o momento Em que o preconceito vira redenção?”.


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Mas, levantou a bandeira: Preta, branca, colorida... Que amor é amor de toda maneira E nem tudo que dói é ferida. O preconceito ensina E a lição é pra vida: Que quem nasceu menina É corajosa, forte e aguerrida. Hoje eu vou usar batom vermelho E que Frida me abençoe... Que eu não seja Narciso diante do espelho, Mas, tenha a inspiração de Simone. E a mulher é um bicho delicado. É o que diz o ditado Que um homem escreveu. Mas, na verdade, a mulher é bem mais forte E não conta só com a sorte de saber bem o que quer. Tem tanta gente que compara ela com flor, Mas, mulher também é caule. Ela pode sustentar. A segurança de quem tem tanto amor Mas, tem que ter conhecimento para o seu valor provar.


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E se chorar é coisa só de mulher Quero ver quem é que sabe, quero ver quem é que quer... Ser delicado e ao mesmo tempo inteligente, Ser sensível, coerente e ainda ter que viver... Num mundo grande feito para quem é homem, Onde o doce é sensível e o choro é fraqueza. Do preconceito uma ideia que consome Onde só o que é visível se considera beleza. Quem quer a flor tem que lidar com espinho Com que ela se defende de tudo que é predador. Delicadeza é presente pra quem sabe Entender que aparência não é tudo, meu senhor. Saia da roda com a importante lição De entender que uma mulher é cabeça e coração, Inteligência, força e tudo de melhor Jogo de conhecimento é o que mostra o seu valor.


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Tire suas paisagens cinzentas do caminho Que eu quero passar com minha dor. Hoje eu vou usar batom vermelho Pra ofuscar teu machismo sem cor, Teu anti-feminismo nada velado Mal disfarçado de rancor... Hoje eu vou usar batom vermelho. Minha liberdade, minha luta, minha história Minhas conquistas e vitórias O meu próprio amor.

Professora de História, capoeira e violão, especialista em musicalização infantil, artesã e apaixonada por livros. Escreve poesias e textos desde a infância, tendo mantido blog com seus textos e de outros autores por alguns anos e publicado alguns textos em antologias.


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ObsidiANA Débora Melo

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ão tenha pressa pequena garota furacão, seu coração precisa relaxar

os dias são muitos, e você é grande demais para desistir. Lute como uma heroína! Não tenha medo de tropeçar. Esqueça o mundo, ele não pode lhe entender não pense em mais nada, você é única e sabe se defender. Apenas, me mantenha por perto, eu sempre vou lhe acompanhar segure na minha não, isso tudo vai passar, abra bem os seus olhos, há muito para conquistar; encontro minha história na sua, eu não acredito em coincidências tão Clara como a lua, em uma noite estrelada de verão, minha intuição diz que são eternas as conexões você é a minha mulher maravilha, tempestade em algumas situações. Traga logo seu sorriso, eu jamais vou deixar você se machucar,


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porque você precisa entender o seu valor poucos sabem da sua sabedoria, você esconde seu coração ele não quer mais chorar. Eu guardo sempre no bolso esquerdo, aquela pedra obsidiana que você me deu conto os dias de janeiro minha ansiedade rasgou o calendário, mas eu sei, é tudo no seu tempo, e não no meu. Eu confio na sua força, tenho tanta certeza da sua imensidão você jamais estará sozinha eu conheço a sua alma, ela sempre combinou com a minha.

Fotógrafa atemporal, técnica em biblioteconomia, estudante de moda, curte cinema e é mãe de gato; também gosta de morangos e porco-espinho. Atualmente reside em Porto Alegre.


Estamos te esperando Deise Pinto Marchezan

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into-te tão perto, mesmo estando longe. Amo-te mesmo não te conhecendo. Sei que estás te aproximando, não na velocidade que eu quero,

Mas no tempo que Deus escolheu para nosso encontro. Quero que saiba que será bem-vindo(a) Já faz parte da nossa família. Talvez chegue até os nossos braços, Com o olhar triste e o coração inquieto, Prometo-te, que cuidarei do teu coraçãozinho, Com palavras de amor e com todo afeto. Podes vir ao nosso encontro, não tenhas medo. Para nós, tu serás perfeito, mesmo se não for saudável aos olhos dos homens. Não podemos te tocar, mas podemos te sentir, Ainda não sabemos nada sobre ti Mas já te amamos Porque somos uma família, E estamos te esperando.

Filha do Pedro e da Cristina, casada, mãe da Maria Catarina (Inspiração do poema) Especialista em Inteligência Emocional e Analista comportamental.

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Tarecos do tempo antigo Dirce Rejane Pimenta Facin

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asso o olho nos tarecos, Lembro-me do tempo antigo. E tenho enorme orgulho,

De ter guardado comigo.

Uns eu mesma juntei, Outros é herança de família, Uns eu ainda uso, Outros só para memórias, Cada um tem seu valor, Para contar uma história. Quando algum dos ferros esquenta, Seja lá para o que for, Matar a fome ou o homem, Que tarecos de valor. Na panela de ferro uma comida tem sabor, O ferro na mão do homem errado, Pode ser devastador. E o velho castiçal de louça, Com uma vela branca Para iluminar a santinha Que vinha na nossa casa


Para um terço rezado de joelhos Com uma enorme ladainha. Ainda está por aqui a velha faca Coqueiro, Com as iniciais de meu pai. Que por toda vida lhe acompanhou, E nunca esteve amostra Porque para homem de respeito, Sempre foi desse jeito. Um livreto de missal ainda escrito em latim, Que minha mãe sempre guardou, Não sei se sabia ler ou eram textos decorados, Mas eu sei, tenho certeza de ter que manter guardado. O baleiro de arrodiar, Que reviravam meus olhos, Nos bolichos da nossa rua Agora é tareco de luxo, Com lugar privilegiado Na casa desta xirua. São tantos tarecos guardados, Hoje parte de minha história, Outros só para memória. Apenas para memória. Professora, integrante da invernada Xirua CTG Rincão do Pica-Pau

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Anjo amado Edith Nunes Silveira

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mor infinito.... Anjo que ilumina meu acordar e o meu dormir Ar que me traz fôlego

Te amo desde o meu ventre Hoje tenho uma dor pela ausência Doce menina que tanto fez pelo outro Mulher guerreira que nunca esmoreceu Tudo que te foi ensinado Jamais deixar o outro perecer, aliviar a dor Sinto que perdi meu chão Mas sei que onde está, guarda e zela por mim Amiga dos amigos Filha amada e honrosa Irmã que defendeu sempre o mano amado Amigo inseparável Ser humano insubstituível Enfermeira como nenhuma outra Profissional sensacional Essa foi minha filha, que hoje mora no céu Camila amada da minha vida Hoje vivo porque sei que nos encontraremos Amor da minha vida


Luz no meio da escuridão de não ter mais tu aqui! Obrigada por ter feito parte de mim Por ter me ensinado o que é ser mãe Te amarei eternamente..... Meu texto foi escrito em homenagem a minha filha amada Camila Nunes Silveira Beque a qual foi morar com Deus no dia 20 de abril de 2021.

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Ouvindo Caymmi Eduarda Bittencourt

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onstantemente converso comigo, me pergunto o que vejo e penso do mundo,

o que me é presente só engloba o todo; em mim, assim, bem intrínseco, não há pergunta que responda o agora. Quero deixar de pensar e só fluir feito as águas fluviais que carregam os peixes fluviais e que tem seu próprio curso já pré destinado pelo compasso da natureza-vida. Quero ser natureza-vida em toda outra natureza-vida que meus dedos tocarem.


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Quero que em mim só toquem dedos que tenham olhos e alma e uma infinita bagagem de sentimento prestes a ser compartilhada. Pois pra mim, agora, só basta a partilha da vida fluvial.


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Temporal Eleandra Bonatto

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horava. Compulsivamente. O tipo de choro que não espera, não pede licença, apenas vem. Pegou-a de surpresa, como somente esta dor sabe pegar.

Seria coincidência que o barulho das gotas na vidraça abafasse

os seus soluços? Que as gotículas incessantes escondessem seu desamparo dos olhos do mundo? Qual dor machuca esta mulher, tão profunda e tão incontrolável que não a deixa sequer chegar até a solidão do seu quarto? Na enorme sala que se abre às suas costas, cheia de pessoas que não imaginam a sua luta, conversas pipocam, animadamente, e ninguém percebe seus ombros trêmulos e rosto pendido na vidraça. O mundo desaba, o céu chora também, vãs são as tentativas de parar seu pranto. Seus pensamentos tumultuados não oferecem consolo, não há somente uma dor, existe toda uma mescla de emoções transbordando dentro dela. O coração partido, a alma cansada, as vezes em que a vida não foi suave, as perdas e as partidas, tudo dói. Ninguém chega oferecendo conforto, não há paz, ou há. Aquela paz que virá depois do pranto e da chuva, quando a dor for somente uma lembrança de rímel borrado. Mas nesse momento ela queria um abraço, que alguém lhe dissesse, bem baixinho, que tudo vai ficar bem.


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Esse desejo não acontece, pessoas não costumam oferecer consolo, dores alheias constrangem e intimidam, pois lembram feridas que cada um traz consigo e alguns preferem fingir que essas mágoas não existem. Cai a tarde de mansinho, finda o temporal, ambos, o da mulher e o do tempo. Ela respira fundo, seca suas lágrimas, passa a mão nos cabelos, coloca seus óculos escuros e um sorriso no rosto e volta-se para a grande sala para enfrentar o mundo. Até a próxima tempestade. Licenciada em Letras, funcionária pública municipal, mãe da Ângela, escreve poesias, trovas e crônicas, é membro da UBT (União Brasileira de Trovadores). Ama sua família, seus amigos, seus pássaros, seus cães e seus livros.


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Bordando sonhos Eliane Aparecida Dorneles Lopes Bessa

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terapia de pegar uma agulha, linha e pérolas e transformar em lindos chinelos bordados A terapia de levar alegria às pessoas que usarão um calça-

do confortável, mas sofisticado A terapia de bordar que traz alegria pra alma, que faz um bem danado pro psicológico A terapia que não me deixa pensar em besteiras, pois estou sempre em evolução estudando novos modelos, novas tendências A terapia que levantou minha vida e fez eu aprender o verdadeiro significado da palavra gratidão A terapia que curou minha alma, que muito me ajudou a evoluir como ser humano. Hoje é um hobby terapia, mas muito importante pois alegra meus dias e alimenta meus sonhos Gratidão a Deus em primeiro lugar pelo dom de poder usar minhas mãos e fazer com ela a terapia bordando, do recomeço, da evolução, da persistência.

Artesã, merendeira, esposa, apaixonada pela vida e mamãe de lindos felinos @Carmella e @Apollo


Sobre as muitas vidas de uma vida Elisandra Minozzo

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uitas vidas numa só vida, disse certa vez, e de algum modo virou mantra, que ajuda a marcar o ritmo da caminhada; Lá se vão os anos, floreiras desabrocham e murcham,

derrubam sementes, que em dias úmidos se permitem germinar, de novo florescem, sempre flores, nunca as mesmas, sempre belas; Lomba a cima, lomba a baixo, por vezes reclama do sol quente, noutras se delicia com a brisa, segue andando, o caminho nunca é o mesmo, dependente do lado que se volta o olhar, para cima, para baixo, para os carros, para os jardins, para o céu, para os fios de eletricidade, para seus próprios pés. Respira! Alívio, hoje é dia de brisa, acho que é primavera; De tempos em tempos, o caminho fica desconfortável, nem se deu conta, é verão então? O grau dos óculos mudou, não se vê mais o que se via, não há mais floreiras, o chão está poeirento, o sol queima demais, e as brisas foram substituídas pelo abafado úmido que gruda na pele, repugnando, quase asco; E se o caminhante já não for o mesmo? É bom que refaça a rota, pensa depressa! É urgente, um novo caminho, semeia, rega sem cessar, é trabalho árduo, e olha só! Já está pronto, agora com muito mais árvores, tem mais sombra, então o chão é mais úmido, a grama cresce, as flores se mantém...

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Siga, siga, logo ali, será outono, e depois inverno, e o grau dos óculos vai mudar de novo, e no caminho, verá o que ainda não vira, porque já não é o mesmo, tem novos olhos, novos ouvidos, pode ser que use mais rosa agora, ou mais azul, ou verde-água, importa que traçou nova rota, refez a estrada e criou nova vida. Agora, apenas seja paciente com a brotação. Especialista em Psicologia e Desenvolvimento, especialista em Gestão Pública e Democracia em Administração Pública e Gerência de Cidades


As lembranças estão guardadas nas memórias do tempo Elisangela dos Santos Amaral

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s vezes saio a caminhar, pela cidade Vou seguindo a multidão

À procura de amizades

Mas eu me retraio olhando em cada rosto Cada um tem seu mistério Seu sofrer, sua ilusão... (Maria Bethânia)

Esses versos me levam a refletir sobre a nossa caminhada nesta vida, os altos e baixos, as idas e vindas das pessoas, o quanto precisamos ter alguém, embora muitas vezes não as temos. O que almejamos ser, e o que, realmente conseguimos ser. Diante de tantas perdas inesperadas, partidas repentinas de pessoas queridas, estamos todos a procurar alguma forma restaurar o senso vital de continuidade para nossa existência, e uma maneira de continuarmos é buscar de forma significativa um desenlace por vezes dúbio através do passado, presente e futuro. Até que o luto seja elaborado, o nosso comportamento está relacionado à nossa capacidade de viver de forma resiliente, o momento adverso, buscando força interior para seguir em frente. Cada um de nós é feito de abismos, até mesmo na paz temos muitos conflitos, desassossegos, e muitas vezes é no silêncio que encontramos o motivo de seguir a diante. Faltam-nos pedaços,

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mas estamos vivos. Por isso sejamos capazes de valorizar cada instante junto das pessoas, sejam elas: familiares, colegas de trabalho, escola, vizinhos, aquelas pessoas pontuais e eventuais, lugares, momentos, gentilezas, instantes de segundos, minutos, horas, dias ou uma vida inteira, saibamos olhar com alma cada situação vivida por nós, elas são nossas memórias, quando olhamos uma fotografia, ouvimos uma música, degustamos uma bebida/comida, visitamos mais uma vez um lugar, lá estão nossos queridos na lembrança, uma saudade vai surgir... mas... seguimos mais uma vez. Ainda, há tanto a viver, a contemplar. Hoje, diante do véu invisível que separa o humano do espiritual, diante da ausência de nossos familiares, dou vazão a saudade a qual faz parte dos meus dias, e , eu preciso acreditar na eternidade muito mais hoje do que já acreditei. Os anjos, eles existem, e fazem parte de nosso cotidiano, eles estão presente naquela pessoa que realmente deseja o nosso bem, que fez uma prece lembrando de nós e por nós, nos indica um livro, um filme, uma música, nos convida para um passeio, uma conversa, nos mima com um chocolate, um bolo, um cappuccino, uma saborosa refeição, uma flor, uma lembrança, um acenar de longe, um olá, nos envia uma mensagem, que nos abraça e sorri quando o encontro acontece. Por isso, procuro alimentar, as boas lembranças de tudo que eu vivi, vivo e viverei, pois no futuro são elas que vão me aquecer.


Infinitamente Mulher...

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Elisete Heydet Cattelan

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er mulher é algo sublime... Nos torna especial, A magia de gerar e conceber um ser semelhante advindo do nosso interior, Somos mais... pai, mãe

Conselheiras, ouvintes, choramos, rimos Somos inquietas, buscamos sempre mais Não temos certezas, mas vamos em frente Temos medos, restrições, Somos seguras, firmes Desprovidas de limites Sem limites, somos contradições E o que importa quem somos! Simplesmente somos Mulher poderosa, empoderada, buscamos igualdade Não queremos ser mais nem menos que ninguém Buscamos e conquistamos nosso espaço Menina, mulher...que através da janela grita e clama por liberdade Liberdade! Mas que liberdade? De manifestar-se, expor seu pensamento Sem ser julgada, criticada, por suas escolhas Queremos o mundo ideal, mas que mundo é esse que precisamos de uma legislação que nos ampare Avanço ou retrocesso


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Embora pareça que seja absurdo ter uma lei como essa, é necessário devido à ausência de conhecimento da sociedade brasileira Avanço sim, retrocesso também Menina, mulher...que se aproxima e se afasta devido suas inseguranças, obscuridade de sua alma Descubra-se e renasça para vida, mesmo sem saber o quer, saiba que és poderosa Menina, mulher...vai à luta e conquista seus objetivos, empodera-se sobe no salto , ou vai descalço Somos iguais por sermos mulheres, mas tão diferente no nosso íntimo, E tudo isso nos torna infinitamente mulheres!!!


Os Caminhos do Amor Enadir Obregon Vielmo

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o apagar das luzes das comemorações alusivas em publicações em todo Brasil do Bicentenário de nascimento de Anita Garibaldi (1835-1845), aquela que viria a ser uma das mais

famosas Brasileiras na História Universal. Dessa forma ressaltasse a guerreira farrapa uruguaia e italiana, a heroína de dois mundos. Sendo assim, escolho as páginas do “Infinitamente Mulher”, para deixar o meu tributo. Caso nós pudéssemos olhar para o coração um do outro e sentirmos os desafios únicos que cada um enfrenta, acredito que iríamos compreender mais suavemente, com maior cuidado e tolerância as tomadas de decisões. Anita tinha uma profunda fidelidade a si mesma, viveu à frente de seu tempo, dando referências e inspirações às mulheres. Pertenceu a uma época que figuras femininas não costumavam ter destaque na sociedade e na história. O nome da heroína é Ana Maria de Jesus Ribeiro (o apelido afetivo foi dado por Garibaldi). Nasceu em Laguna, o pai era o tropeiro Bento Gonçalves Ribeiro da Silva e a mãe dona Maria Antônia Antunes. Foi a terceira de 10 filhos (seis meninas e quatro meninos). Durante maior parte da infância residiu em uma casa rústica na localidade de Morrinhos ( hoje Bairro Anita Garibaldi em Tubarão). Após a morte do pai a família ficou sem recursos ou receitas que garantisse a sobrevivência, o que levou a mãe de Anita buscar trabalho em residências no centro de Laguna.

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Durante esse período a família foi visitada diversas vezes por Antonio da Silva Ribeiro, tio paterno de Anita, quando passava por Laguna como tropeiro. Ele era republicano e se declarava a favor de uma revolução como forma de conquistar mudanças. Devido às pregações críticas à monarquia foi perseguido. Seus ideais foram transmitidos à Anita, que gradualmente aderiu a eles ao longo de sua juventude. Após a morte do pai e o casamento da irmã mais velha, Anita precisou ajudar no sustento da família e por insistência materna, casou em 30 de agosto de 1835, dia em que completou 14 anos, com o sapateiro, monarquista Manuel Duarte de Aguiar, na Igreja Matriz de Laguna. O casamento descrito por Anita foi uma “farsa”, em carta enviada ao seu tio Antonio. Foi marcado pelo desinteresse no relacionamento de ambas as partes e não gerou filhos. Em poucos anos o monarquista alistou-se no Exército Imperial, abandonando a jovem esposa. O curso de sua vida mudou ao conhecer o Italiano Giuseppe Garibaldi que arriscou tudo em uma busca inédita e numa declaração: “TU DEVES SER MINHA! - Eu falava pouco o português e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético em minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor.” – Ela seria dela. Antes de tudo, seria de si mesma, do seu jeito, dos seus sonhos. Aos 18 anos, Anita se uniu aos farroupilhas sulistas que desejavam separar-se do Brasil e fundar uma República.


O tempo avançou (...) já era véspera de Natal, e recentemente reinstalada a República Catarinense. A paz é efêmera, mas muito valorizada pelo povo de Lages. A população se dirige à Igreja para assistir a Missa do Galo. Anita graças à generosidade de algumas mulheres, está com um vestido de musselina, sapatos de marroquim e com a cabeça coberta por uma mantilha sevilhana. Nesta noite, ela e Giuseppe viveram deliciosas horas de amor. E, certamente, ali foi plantada a semente do primeiro filho Menotti Garibaldi, que veio a se tornar um importante general do exército italiano. Assim iniciou-se a intrépida trajetória da heroína, que pegou em armas, combateu tropas, conduziu soldados em marcha, além de organizar um hospital para cuidar dos feridos em batalha. Hoje nomeia avenidas, ruas, escolas, em todo o país, já foi tema de Escola de Samba no Carnaval do Rio de Janeiro e sua história foi contada em filmes, livros e documentários. Nos dias atuais Anita pode ser considerada um símbolo do empoderamento feminino. Há exatamente 20 anos que fui agraciada com o troféu “Anita Garibaldi, em Bento Gonçalves pelo trabalho realizado como Presidente do Centro Cultural “Aureliano de Figueiredo Pinto”, no Programa Leonismo e Cultura e como Coordenadora dos Núcleos e Centros Culturais da Região das Missões-RS, Coordenadora do 1º Encontro sobre Patrimônio Histórico e Evolução Urbana dos Municípios das Missões, entre outros, com o seguinte teor: A Diretoria do Conselho do Instituto Cultural Giuseppe e Anita Garibaldi de Bento Gonçalves, dentro das comemorações dos 120 anos da morte do herói farroupilha, outorga o Troféu Anita Garibaldi (conforme Certificado) à ENADIR JOSEFINA OBREGON VIELMO, pelos relevantes serviços pres-

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tados à Cultura do Estado, enaltecendo o trabalho, dinamismo e o brilho na busca de melhores dias para a construção de uma sociedade mais justa, de progresso e bem-estar social para todos.” (O troféu confeccionado com bronze, mármore e acrílico, representa Anita com o filho no braço e o fuzil na mão). Estava emocionada, ao lado de um descendente de italiano, que três anos antes de me conhecer, olhando fotos das colegas de Internato de sua sobrinha, apontou: “Com esta moreninha eu me casava.” O Universo conspirou a nosso favor. Nestes 59 anos de união ele é presença, estímulo, apoio e compreensão. O momento também é dele. Ali junto aos “nossos amores”, Marelisa e Piter, celebramos com um brinde aos “Caminhos do Amor.” Realmente me senti uma guerreira da Cultura de Santiago e Região, levando o standart do Lions nos braços e os valores culturais no coração.


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Aparência X Essência

Erilaine Perez

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oda. Palavra que tem definido as ações das pessoas em muitos sentidos e não mais apenas em se tratando do que vestir e calçar. É algo que já vem desde a Revolução Industrial,

eu sei, e até parece chover no molhado escrever sobre isso. Todavia, tenho observado o ditar da moda crescer em outros campos da vida e, criticamente, quando se fala em aparência física feminina. Ora, as mulheres lutamos historicamente pela independência econômica e pelo direito de controlar a natalidade para que não fôssemos mais vistas e entendidas apenas como meras reprodutoras e donas de casa. Gabamo-nos por termos alcançado igualdade de condições (ainda não ideais) com os homens em postos de trabalho e em outros direitos tantos. Afirmamo-nos como cidadãs dignas de respeito e nos definimos como “fortes” e “empoderadas”. É verdade! Nós conseguimos e, seria hipocrisia dizer que tudo permanece igual ao passado. Não obstante, um movimento contraditório a esse dito “empoderamento” se alarga entre o público feminino, e toda essa “força” conquistada por nossas antepassadas cai por terra no momento em que as mulheres mostram – por palavras, gestos e ações – que não estão com essa bola toda, se o assunto é encarar com naturalidade o processo natural de “envelhecer”. Sim! As mulheres foram tomadas por uma “onda de rebanho” e passaram a desejar ser jovens para sempre! Será que exagero? Penso que “as manequins dessa nova onda” comprovam os absurdos que têm sido impostos aos corpos e rostos


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femininos em nome da conservação de um padrão execrável de “beleza” – verdadeira mutilação – padrão esse que revela o quanto as mulheres ainda estão “cativas” da aceitação masculina sobre o que deva ser um corpo, um rosto, uma idade considerada “atrativa” para o “desfrute” deles. Harmonização facial, seios empinados, glúteos proeminentes, lábios que apontam em bicos para o céu, sobrancelhas modelo circunflexo, maçãs do rosto protuberantes, cílios aos tufos: tudo em exibição nas redes, disfarçado de “felicidade”... E lá escorrem pelo ralo das clínicas de estética todas as particularidades daquela mulher que lutou tanto pelo direito de ser o que é, para tornar-se um protótipo, uma a mais dentre uma série de caras, peitos e bundas todas iguais. Quisera eu ter nascido em tempos outros. Em momento oportuno para a valorização de um “eu” que se destaca pelo pensamento, pela sensibilidade e até mesmo pela sabedoria que os anos concedem a um corpo que pode já não ser mais aquele que atrai pela juventude, mas pelo brilho do bom senso, pela discrição da atitude, pela dignidade do conteúdo que dá a forma ao melhor de nós: a essência. Professora de Literatura e Língua Portuguesa, especialista em Teoria da Literatura e Produção Textual, pós-graduanda em Literatura e Cultura e escritora


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Florescer

Fabiani Nunes Turchetti

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uando falamos em florescer o que vem à tua cabeça? A mim esta palavra me remete a outra palavra que está ligada a ela, apesar de não estar tão evidente, que é a palavra tempo.

Florescer faz parte de um processo, assim como cada flor tem o

seu tempo para desabrochar, nós precisamos abraçar os ciclos da vida com o coração e mente abertos. Aprender a florescer leva tempo... Não apresses o pôr do sol...ele tem o seu tempo para anunciar o anoitecer e fazer o céu brilhar na escuridão da noite. Não apresses o nascer do sol...ele tem o tempo certo para voltar a brilhar! Não apresses a chuva...ela tem o tempo certo para cair! Não apresses o outro...ele tem o tempo certo para florescer! Não apresses a ti mesmo... pois evoluir é semear em solos áridos, na certeza de que crescer leva tempo, florescer também. Florescer, mesmo que os ventos sejam fortes ou as águas abundantes. Florescer, ainda que as condições de calor e umidade nem sempre sejam favoráveis. Florescer, onde o coração desejar criar raízes, onde a tua alma se encantar, onde o silêncio faz pulsar o coração. Esse florescer nasce do anseio de desbravarmos o nosso mundo íntimo. É desbravar, sobretudo o nosso florescimento interior.


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Nesse processo podes escolher um lugar aconchegante ou o contato com a natureza, conecta-te com a energia do universo, mergulha fundo na tua alma e encontra o silêncio do universo, busca vivências e experiências que toquem a alma, conecte-te com pessoas de luz, pessoas que ofereçam carinho e acolhimento, pessoas que irradiam luz do cuidado. Cuidado conosco, com os outros, com a natureza, com a vida como ela é. Aprende a respeitar o teu tempo, acolha o teu processo, permite-te sentir cada etapa, com tuas dores e delícias, entre choros e gargalhadas, com perdas e ganhos, preza a tua liberdade, acredita, ficarás mais forte do nunca e te tornarás exatamente o que nasceu para ser, tu és um ser de luz. Sobretudo ama-te a te cuidar sem precisar de aprovação, amar-te...liberta-te...ilumina-te! Permite-te florescer onde Deus te plantar!


Um olhar de amor sobre nós

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Fátima Friedriczewski

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uem somos de fato? Somos aquilo que manifestamos em relação aos outros. Nascemos no palco da nossa família, com um enredo já pronto.

Nossas verdades são aquilo que nossa família pôs luz ou sombra.

Às vezes a família é o lugar que acolhe e edifica, outras vezes é o lugar que destrói e exclui. Então, em determinado momento, devemos decidir sobre o que fazer com o que fizeram conosco. Fazer-se de vítima nunca é o melhor caminho, pois essa atitude é de não reconhecimento da nossa força. Devemos seguir em frente com alegria pela nossa existência. Devemos reconhecer o nosso lado sombra e aceitá-lo, o que é muito diferente de atuar como sombra. Só que existe um instante infinitesimal entre uma coisa e outra. Aí temos que ter inteligência emocional suficiente para fazer a escolha certa e procurar ver e aprender o que há de positivo nesse lado. Temos que escolher tomar as rédeas de nossa vida em nossas mãos e seguir em frente. A partir do momento que assimilamos o nosso lado sombra e reconhecemos nossos erros e equívocos, vamos nos libertando de julgamentos. Podemos, então, olhar para nossas diferenças e nos conectar com nós mesmos. Passamos a ter mais empatia !


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Nossa vida passa a ser vivida com mais consciência e passamos a nos habitar. Equilibramos a dimensão da nossa essência, que é o que somos, com nossa dimensão social, que é a imagem com que nos apresentamos ao mundo. Em tudo isto, o mais importante é termos sempre um olhar de amor sobre nós!


Vida que segue!

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Fernanda Chaves do Nascimento

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olte as amarras... Desapegue do ponto final, Comece a usar mais vírgulas... Esqueça o se e o talvez, afinal que poder têm essas palavras? Nada acontece por acaso, e se o acaso aconteceu, já passou, ficou para trás. Largue as bagagens que só pesam, Pare de controlar o tempo... Foque no agora que é o seu melhor momento. Desligue a mente, apenas seja... Apenas sinta, A vida é bem mais que seguir uma lista. Sem pressa, sem medo, vá... Se arrisque. Tente, pode ser hoje ou talvez amanhã... Mas siga. Se não tiver uma bússola não esquente... Você pode até se perder, Mas uma hora se encontra. Eu sei nada é fácil, Nem tudo depende da gente... Mas não fique aí ensaiando, Vista o seu melhor sorriso e siga andando! Professora, natural de Santiago, cidade onde reside, é apaixonada por poemas/poesias!


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O que é Beleza? Geanine Bolzan Cogo

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um primeiro conceito da busca pelo dicionário, encontramos que ‘beleza’ é qualidade, propriedade, caráter ou virtude do que é belo; manifestação característica do belo. Mas afinal,

o que é belo? Aí vem o segundo conceito: caráter do ser ou da coisa que desperta sentimento de êxtase, admiração ou prazer através dos sentidos. Tranquilamente eu digo que me identifico mais com o segundo. Então vamos mais a fundo – o que te desperta esse sentimento de admiração? Por que é mais fácil admirarmos uma flor, uma paisagem, uma abelha, uma música, e não outra mulher? Pois eu te respondo: porque fomos criadas de forma que nos impõem a concorrência. Desde cedo está sendo ensinado às meninas um certo padrão de beleza. Está aí: nos outdoors, nas redes sociais, nas revistas, onde se estabelece quais corpos são aceitos. Alguém já se perguntou se um corpo gordo é bonito? Uma coisa que a sociedade precisa aprender é que ‘gorda’ não é xingamento, é característica, assim como magra, alta, etc. Não é preciso diminuir mulheres magras para elogiar gorda. Há espaço para todas nós neste mundo. Beleza não se mede, nem se pesa; se contempla. Então eu volto a te perguntar: o que te desperta tal admiração? Confesso que um sorriso sincero, uma boa conversa me interessam mais. Transpomos, então, a palavra ‘beleza’ para o abstrato. Pen-


109 semos nas meninas talentosas, quais são os seus talentos que admiramos? E nas mulheres protagonistas, o que delas nos desperta? Eu, particularmente, adoro conversar com outras mulheres, por isso nos reunimos em grupos, em coletivos, em associações, para falarmos das nossas dores e nossos amores. Assim, aprendi a ver beleza em todas elas. Não a beleza ditatorial que vende a mídia, mas a beleza no seu sentido mais real, a vida e vivência de cada uma; assim, somos chamadas a testemunhar ações de esperança, pois o que é considerado normal pela sociedade, é uma parcela muito pequena da população. Toda mulher sofre. Nosso maior valor social está atrelado a quanto mais bonita formos. É urgente falarmos disso. Mudar, se preciso, a forma de ver, de analisar. Estamos tão acostumadas a apenas julgar. Paulo Freire já dizia “vamos aprender a prosear com toda gente!” A fala de outras mulheres é um combustível para a vida. E o propósito deste livro, acredito que é isto. De nos inspirarmos nas escritas umas das outras. E isto é que é o belo! E isso tem muito a ver com liberdade – nada abala uma mulher que confia em si mesma. Portanto, admira a beleza das outras, sem questionar a tua!

40 anos, mãe solo de 3 filhos, formada em Letras/Português pela UNISINOS e Funcionária Pública Estadual.


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SOU Gisele Marchi Pinto Dornelles

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ssim... Intensa. Plena. Vendaval e calmaria. Alguém que inspira e desnorteia.

De complexa tenho tudo, mas é a simplicidade que me alimenta. Sou feita de luz!! Medos não me guiam. Fragmentos não me representam. Migalhas não me satisfazem. Mentiras não me convencem. Inconstância só me repele. Se é para amar, que seja de verdade. Se é entrega, que seja por inteiro. Se é para viver, que seja com coragem de ser feliz sendo quem se é.


MEU GRITO

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eu grito é brado de alerta preso no verso e imerso

nas profundezas da dor. Ecoa pelo mundo, acordando a humanidade adormecida no tempo, recostada no egoísmo, aconchegada no orgulho, presa nas correntes da incompreensão. Homens de pouca fé, de atitudes mesquinhas. Ouçam! Eu falo a verdade que Ele ensinou. Com Ele aprendi a receber e repartir, também distribuir. Venham! Aprendam comigo. Vamos juntos ensinar a humanidade a ser mais feliz.

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2020 Indiara Fátima da Silva

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m silêncio inquietante irrompe o mundo em meio a dúvidas e medos, há um sussurro, quase mudo; suspiro de vidas. Vidas tão vividas sem ser levadas a sério.

Vidas que se desenham sem rascunhos. Vidas previsíveis e as cheias de mistérios. Há vidas que são eternos momentos e os que não passam de

efêmeros instantes. Vidas insanas sagradas profanas, as etéreas e as mundanas. Ora, vidas exaltadas; Logo, vidas humilhadas. Vidas amadas guardadas, Expostas e escondidas. E o sussurro que assombra o mundo é de vidas perdidas!

Nascida em 1961 em Três Passos, Rio Grande do Sul. Santiaguense de coração. Funcionária pública aposentada. Mãe de dois filhos e avó. Tem como referência na escrita a professora Terezinha Tusi (da qual foi aluna na Escola Apolinário Porto Alegre).


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“Adeus”

Isabel Cristina da Rosa

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uisera eu nunca dizer adeus, mas quisera eu ter a chance de dar adeus. O adeus separa a gente,

adeus é dor no coração e na mente. Adeus é um fim, infelizmente . Nos ciclos da vida, o adeus está presente. Mas nada supera aquele adeus da morte, que chega traiçoeira, precocemente . A vida é tão impermanente que não sabemos quando vamos dizer adeus, mas quisera eu sempre ter a Deus, para não sofrer na hora do adeus. Viva, ame, abrace , agradeça, perdoe se faça presente, porque o adeus logo chega e a saudade fica plantada, latejando no coração da gente . Ps. In memorian ao meu irmão Antônio César da Rosa , o qual não tive tempo de dizer Adeus . Natural de Santiago, residindo no Rio de Janeiro. Coreógrafa, prof. de Dança , Guia de Turismo .


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Nas entrelinhas e entre as costelas Isabela Oliveira Carlosso

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esse teatro fajuto Por que a costela e não o barro? Que dívida essa?

Que livro que engana e machuca Que preço caro Que palavras sujas Por que não as queimas na mesma chama que foram queimadas liberdades e sonhos tuas protegidas Mentes muito grandes Sonhos muito puros Para quem carregava o peso fêmeo Por que não cala as bocas equivocadas e perece as mãos? Todas as malditas mãos Que ingrata raça Que rapidamente esquece suas origens Tal teatro incoerente e injusto em que pequenos corações com cortes profundos feridas enormes e o sangue manchado


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de antepassadas dores Não tem o privilégio de entender Este tal sonho chamado escolha De essa tal mentira contada De essa liberdade inventada Que ironia Pois presa nas pequenas cabeças Privilégios tão aclamados e justificados Não ocultam a dor da transparência do mundo Que não perdoa Que não explica Que palavra nenhuma concerta As que já foram escritas Mal lidas Convenientes aos que não querem entender, aos que nem tentam e que escavam as entrelinhas em busca das brechas na linha tênue entre o certo e o errado que ignoram o fato da enorme tendência de cada um estar de um lado A certeza mais viril da Terra É a força da posse da bagagem que carrega uma Mulher.

Estudante,16 anos, adora ler e escrever.


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Ciranda do tempo Jane Tusi

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empo fugaz e apressado Transportas os pensamentos Reviras os sentimentos

Em forma de recordação É o nobre guardião Que resguardas as lembranças Brincadeiras de criança Alojadas no coração Daquelas cantigas de roda Alegres, que eu cantava E o tempo rodopiava Girando com precisão Era fácil a amizade Na hora de cirandar Com palmas e a cantar Garantindo a diversão “Diga um verso bem bonito” Guardado lá na memória Que o tempo traz em história Pulsando com a emoção Não vejo nossas crianças Hoje, na roda a brincar Nem ouço o seu cantar Novo tempo...nova geração...


PAI

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Juanita Terezinha Canabarro dos Santos “In Memoriam” do meu Pai: Adauto Rodrigues Canabarro

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vida nos uniu E a morte nos separou Mas eu sempre lhe amei

E o senhor sempre me amou Tenho saudades dos tempos Quando em seu colo eu dormia Ouvindo lindas histórias Eu era feliz e sabia Depois quando fui crescendo A vida seguiu assim Eu aprendendo o que me ensinava E eu lhe vendo orgulhoso de mim Muito depressa o tempo passou A felicidade que morava com a gente Numa madrugada fria tudo acabou E num triste e doloroso repente Do seu sono não mais acordou Porque Deus de bondade infinita Para o céu lhe levou.


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Expressar Júlia Bem Tolfo

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oda forma de expressão é arte Arte que vem, Arte que vai.

A única coisa que eu quero É saber me expressar Saber expressar que te amo Saber expressar que te quero o tempo todo. Posso até estar parecendo exagerada Mas tudo que te digo São mais, muito mais que simples palavras mas sim o que eu realmente sinto.

Tem 13 anos, moradora de Santiago desde que nasceu.


Viva a Vida !!!

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Júlia Cordeiro das Chagas

iva sorria pule

dance

Faça o que tiver vontade Sem pensar na maldade Que o povo pensa e fala Estamos aqui de passagem E da vida não levamos nada Não levaremos bagagem Apenas ficará o que de bom foi feito alguém carregará nossas lembranças no peito.. seja humilde e tenha um coração bom saiba reconhecer seus erros e os corrija Na vida ninguém é perfeito ....... Seja muito feliz aproveite cada momento Não sabemos quando será o último abraço e beijo que vamos dar por isso saiba valorizar cada bom sentimento...

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Jardim sem flor Juliana Aline Zucolotto

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osas, Margaridas, Acácias Camélias, Hortências , Magnólias Petúnias, Melissas, Açucenas...

São tantas e em todas as estações, algumas ainda sem ao menos desabrochar, sem cumprir todo seu ciclo, que são ceifadas antes do tempo, deixando jardins sem cor, sem perfume. Vazios. São podadas, mutiladas, destruídas... A algumas ainda lhes restam o caule, espinhos e folhas murchas. A outras, nem isso. E elas, que eram flores na vida de alguém, passam a receber flores sob uma lápide gelada. **Em homenagem a todas as vítimas de violência doméstica.

40 anos, cidadã Santiaguense desde os 14 anos. Professora de formação, bancária há 9 anos, mãe do Pedro. Uma apaixonada por descobertas, natureza e histórias.


Das Memórias da Infância...

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Juliana Borges

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empre que puderes revisite tua infância As memórias que te construíram As músicas, os aromas, os amores

Que te fizeram humano E assim, despretensiosamente, delicia-te Em acordes, sentimentos e emoções que o tempo não apaga E que uma vez revividos Te fazem ainda mais vivo Nutrido pelas raízes, que um dia assim, despretenciosamente, Te fizeram florescer.

33 anos, mãe da Bianca e da Ana Júlia, professora de letras há 13 anos, rotaractiana, e rotariana, amante das artes e do trabalho voluntário. Apaixonada por educação, música, dança, capoeira e teatro. Acredita na beleza que há em cada um de nós como seres únicos e diversos nessa riqueza que chamamos universo.


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Guarde com você Kaylane Fernandes Tabita: No carro, voltando para o mundo real depois de um verão intenso, fico relembrando tudo o que vivi com ele nesse curto período de tempo. É o que dizem: “amor de verão nunca dura”, me falaram tanto essas palavras nas férias, mas minha cabeça e, principalmente, meu coração, não assimilaram essa informação. Olho para o reflexo no vidro do carro e noto que já não sou mais a mesma, minha pele está dourada e as minhas sardas estão mais evidentes, fazendo um contraste legal com a argola do meu nariz, meu cabelo já não é mais igual ao início do verão, agora parece que carrego as ondas do mar junto aos meus fios escuros, a maresia na minha alma e a dor do meu coração partido em milhares de pedaços. Acompanho com o olhar a estrada, é um curto período de viagem e, em todo momento, penso no meu único desejo: dizer para ele guardar meu cheiro doce misturado com o sal do mar. As lembranças começam a pipocar na minha mente… meu pé descalço pisando na areia, meu coração martelando a cada passo, e meus cabelos levantando voo na mesma velocidade que o meu pensamento, ele correndo atrás de mim, me abraçando por trás e sorrindo, mostrando para a praia aquele sorriso que é único. A melodia que saia do violão quando ele tocava minhas músicas favoritas foi o melhor som que já escutei, melhor que o barulho das ondas quebrando na beira da praia. Nunca vou me esquecer de como ele se empenhou para tocar Lagum para mim naquela tarde, apesar do seu forte ser Raimundos e Charlie Brown Jr.


123 Não nego que ele mexeu comigo em todos os sentidos que existem. Todas as festas que curtimos juntos terminaram em beijos com os pés no mar. Eu não preciso de você, mas eu quero você, então me pego pensando que, assim como sol briga com a chuva, meus sentimentos brigam com a razão. Mas, quem disse que você vai voltar? Ou melhor, quem disse que eu vou voltar? Theo: Sinto um vazio no peito. Sinto sua falta. Desde que Tabita voltou para sua casa não consigo fazer nada direito. Não consigo surfar, não consigo tocar violão e muito menos trabalhar, pois tudo me lembra ela. Os convites para ser DJ nas festas diminuíram, visto que a temporada está terminando, então tenho muito tempo livre e minha mente só consegue relembrar todos os momentos que estivemos juntos. Espero que ela esteja guardando nossa história no seu coração, mas acho difícil, afinal, tudo o que tivemos nesses meses foi intenso e não deixou de ser verdadeiro, mas acabou chegando ao fim de uma forma trágica. Acredito, também, que não era nossa intenção machucar um ao outro, não planejamos isso e aconteceu, da mesma forma que nós não planejamos nos aproximar rapidamente, mas aconteceu. As situações acontecem e não podemos controlar, apenas receber e lidar com as consequências. E a consequência de agora é: não saber se vamos nos ver novamente. Escritora e estudante de Produção Editorial na UFSM. Com o hábito de planejamento, usa seu período livre para leitura, pois cada virada de página é uma forma de mergulhar em uma nova história.


EU MEREÇO!

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Karoline Oliveira de Souza Herbichi

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éculo XXI, independência feminina Mulher forte, inteligente, o mundo ela domina Cuida da casa, da família e da carreira, ela simplesmente fascina

É tanta coisa para cuidar, que por vezes desanima. “Olha aquela blusinha!” Floresceu a dopamina Que sentimento é esse, que de repente a ela atina “Não consigo parar de pensar, preciso dessa comprinha!” Ela vai lá e compra a blusa, em várias parcelinhas. Compensação momentânea, mais uma dívida a aprisiona No cartão de crédito, o histórico sugestiona Ela está cansada, está exausta, a rotina a sujeita A viver procurando uma saída ao estresse que a vida ocasiona. Todo o salário se vai no básico e no que “merece” ela Vai ver, até o salário do futuro já gastou na blusinha, aquela Mas o sentimento de frustação da “independente” donzela A faz sair e achar que merece adquirir mais uma blusinha para ela. “Sou independente!” Ela afirma convicta “Ganho meu dinheiro, sozinha me sustento!” Mas as dívidas revelam, depende do trabalho a dita Que mal sabe como ficaria se um dia ficasse sem pagamento.


Sem reservas, sem planejamento, vive um futuro incerto

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A donzela, no fundo mesmo, aguarda o príncipe resgatá-la do deserto Como se o outro fosse responsável por fazê-la por completo E tirá-la dessa vida de consumismo perpétuo. “Eu mereço!” É sempre essa desculpa que ela tem Para viver na Corrida dos Ratos, trabalhando e gastando sempre além No fim das contas, ficando sem nenhum vintém Enriquecendo o sistema e ficando sempre dependente de alguém. Mulher, independência financeira é planejamento Gastar menos do que ganha, fazer um orçamento Guardar uma parte dos seus ganhos, esse é o grande mandamento Para se viver uma vida tranquila, um futuro sem tormento. A partir de agora, mulher, vamos fazer um pacto Receba seu pagamento e já fatie um pedaço Guarde pro seu “eu do futuro”, pros seus sonhos, pros seus desejos Veja a mágica acontecer, os hábitos desse ensejo. Eu mereço ter dinheiro! Esse será nosso lema Ter uma reserva, ter sonhos, e aquela blusinha, qual é o problema? Se não comprometer meu planejamento, a blusa pode estar no meu esquema Meu “eu do futuro” agradece, a princesa acordou do dilema E agora ela vai conquistar sua real independência financeira. Nascida em 1986. Servidora na Câmara de Vereadores de Santiago, Empreendedora, Bacharel em Administração, Especialista em Políticas Públicas, Pós-graduanda em Educação Financeira.


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MM=Mulher Maravilha Laís Nunes da Silva

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ulher que carrega seus filhos por nove meses em seu ventre, vê seu corpo mudar, sofre dores durante a gestação e até mesmo no parto. Aconchega, cuida e protege seu filho,

passa noites em claro cuidando quando está doente, tira da sua boca para que não lhe falte nada. Ensina a caminhar, a falar, ter empatia, educa mostrando o que é certo e errado. Corajosa ao colocar um filho no mundo de hoje, muitas incertezas, mas o amor fala mais alto, tantas coisas se perderam como os valores do respeito e educação, mas a mãe está lá ao lado do filho enfrentando tudo e todos, afinal mãe é uma mulher maravilha, referência de ser humano, é um anjo na terra guiando com muita inteligência e afeto aqueles que estão ao seu redor. 22 anos natural de Santiago RS


As Multifacetas das Mulheres ao Longo do Tempo: Conquistas e Desafios

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Larissa Poltosi Camargo Madril Lançanova

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uando falamos em inclusão, na maioria das vezes, esquecemos as questões de gênero, sobretudo do feminino que é um tema de extensos e belos poemas. A mulher, aquela que re-

cebe um dia no ano para ser lembrada e que é nomeada como ser frágil, deve ser amada, cuidada, auxiliada. Frágil? Será? É somente a isso que devemos nos referir? Um resumo de adjetivos? As mulheres, especialmente as brasileiras, que vivem em um país subdesenvolvido, com inúmeras desigualdades entre as classes sociais, onde a fome e a miséria ainda são tristes realidades, merecem mais valorização e respeito, pois desde os primórdios da Terra, as mesmas ocuparam-se de variadas funções, como cuidar da casa, auxiliar a família e o marido nas atividades de trabalho, ser mãe, entre outras tarefas. No século XX, muitas modificações no cenário feminino começaram a acontecer, foram adquiridas conquistas essenciais e as tarefas das mulheres, agora, já eram mais diversificadas e melhores, mas a luta feminina ainda tinha um longo e árduo caminho pela frente. No século XXI, após todas as mudanças, notamos o cenário feminino ainda carente em muitas situações, mais ainda nos últimos dois anos em meio à pandemia da Covid – 19, em que inúmeras mulheres passaram a ter uma jornada maior, exercendo, na maioria das vezes, trabalho remoto ao mesmo tempo em que cuidava da


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casa e dos filhos. Também, muitas delas estavam em profissões da linha de frente no combate ao coronavírus, maioria entre os trabalhadores da saúde, sem falar naquelas que fazem ciência em prol da vida. Com isso tudo, a mulher continua lutando por seus espaços, é multifacetada, cada vez mais inserida na sociedade, mas, infelizmente, ainda discriminada. No início do século XX, as mulheres tinham seus deveres impostos por uma sociedade conservadora. Donas de casa, com pouco ou quase nenhum conhecimento intelectual, sem frequentar os bancos escolares e acadêmicos, tinham que casar-se, ter filhos, servir ao marido e não tinham permissão para trabalhar fora de casa. Casar-se virgem era fundamental, pois, se assim não fosse, poderia até ser devolvida à sua família após o matrimônio. O homem exercia sua condição de patriarca, responsável pela família exercendo uma forma de comando, que, inúmeras vezes, condizia com a manutenção de outros relacionamentos, os quais, em sua maioria, eram desconhecidos da sua família social. Esses casos extraconjugais eram considerados dentro da normalidade na época e, ainda hoje, continuam a acontecer. As décadas foram avançando e as conquistas das mulheres também. Para entender melhor tudo isso, remetemos ao ano de 1827, em que, por meio de uma lei, as mulheres brasileiras foram autorizadas a frequentar a escola. Em 1852, um jornal foi editado pela primeira vez, por mulheres. Em 1932, a mulher tinha adquirido o direito de votar e, em 1934, tivemos a primeira mulher eleita deputada, Carlota Pereira de Queiroz. Em 1879, conseguiram o direito de frequentar o ensino superior, apenas autorizadas por seus pais ou maridos e as


129 que seguissem esse caminho eram muito criticadas na sociedade. Em 1921, ocorreu a criação do primeiro partido político feminino. Em 1960, foi iniciada, a utilização da pílula anticoncepcional, trazendo a possibilidade de um planejamento familiar. O movimento feminista também surgiu na década de 1960. Em 1962, com a criação do Estatuto da Mulher Casada, as mulheres casadas poderiam trabalhar sem a autorização do marido. Em 1974, mulheres poderiam portar cartão de crédito. Mais tarde, em 1977, houve a criação da lei do divórcio. Em 1979, foi obtido o direito a jogar futebol. Em 1988, aconteceu o primeiro encontro de mulheres negras e a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, que passa a reconhecer as mulheres com direitos e deveres igualitários aos homens. Em 1985, foi criada a primeira delegacia da mulher. Apesar de todas as conquistas citadas, a luta da mulher nunca cessou, porque essas leis ainda precisavam chegar a todas as mulheres, de todas as classes sociais, de todas as etnias e de todas as crenças. Com a chegada do século XXI, novas conquistas e desafios chegaram para o gênero feminino. No ano de 2006, com a elaboração e sanção da Lei Maria da Penha, aumentou o rigor nas punições de violência doméstica feminina no Brasil. Em 2002, a falta de virgindade deixou de ser motivo para anular casamento. Em 2014, uma mulher chegou à presidência da República no Brasil pela primeira vez na história do país. Em 2015, foi criada a lei do feminicídio. Em 2018, a importunação sexual se tornou crime e, em 2021, é criada a lei para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher.


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Hoje, além de se fazer cumprir todas essas leis, as mulheres continuam lutando por condições de trabalho e salários igualitários e permanecem com a luta contra a discriminação de gênero. No passado, essas discriminações faziam parte do dia a dia, porém, atualmente nosso conhecimento nos permite identificar as mesmas e tomar as devidas medidas para que não aconteçam. Apesar dos avanços, a violência doméstica se apresenta com altos índices, o feminicídio ocorre por parte de parceiros que, em sua maioria, não aceitam o fim de um relacionamento. Não esqueçamos ainda, do preconceito no trânsito, mesmo que em pequenas situações e também nos postos de trabalho e seleção de vagas de empregos. Mas não devemos falar apenas do que ainda terá que ser modificado, podemos e devemos apresentar o que já é realidade, situações que vieram a somar na vida da mulher, novas profissões, como, militares, policiais, caminhoneiras, taxistas, motoristas de aplicativos, pilotos de aeronaves, entre outras. Também, em sua vida pessoal, os êxitos trouxeram avanços, liberdade para decidir e administrar suas vidas, para estudar e trabalhar, votar, participar ativamente da política, concorrer a cargos públicos, casar ou não, ter filhos ou não, morar sozinha, ser independente, assumir o gênero com o qual se identifica e a sua correspondente orientação sexual. O século atual também nos mostrou o quanto essa mulher contemporânea é forte, multifacetada. Agora, na maioria das vezes, ela é estudante, profissional, dona de casa, mãe, chefe, vence desafios do dia a dia, realiza multitarefas ao mesmo tempo. Muitas delas são os esteios familiares, os quais sustentam a casa e os filhos. Muitas empresas as têm em cargos de liderança, elas estão em toda a parte,


131 são cientistas renomadas, são líderes religiosas, praticam trabalhos voluntários nas mais variadas habilidades. E o que esperar do futuro com relação a essa mulher que teve grandes e importantes conquistas ao longo do tempo, mas que, mesmo assim, batalha dia após dia para conquistar ainda mais e para não permitir retrocessos, para ser respeitada em todas as suas atribuições, para ser reconhecida como um ser com direitos e deveres dentro de uma sociedade com um modelo capitalista vigente, que nos mostra ao mesmo tempo a miséria dentro da fartura, nos classifica, nos faz consumir, nos faz gerar lucros, nos coloca como consumidor e mercadoria ao mesmo tempo, nos cobra o máximo de trabalho árduo, nos fala todo dia, em uma pandemia, que devemos voltar ao normal? Mas será que o normal é isso tudo? Será que não queremos e podemos fazer um novo normal, aquele da sustentabilidade, da igualdade, da equidade, da justiça social, do respeito? Queremos que se cumpra realmente o que está descrito na Constituição Brasileira, resultado de muito esforço, de lutas e cobranças de mulheres, porque em séculos anteriores já tínhamos mulheres a frente do seu tempo, fazendo a diferença em nosso mundo, nos países, nos estados, nos campos e nas cidades. Mulheres, o futuro é agora, lutemos pelas causas feministas, nós conseguimos, vocês conseguem, estejamos sempre juntas, não vamos deixar que aqueles conceitos do passado voltem a assombrar nossas vidas. O Brasil necessita fortalecer a igualdade de gênero, pois não existe crescimento e evolução de um país que não oportuniza a igualdade e equidade entre os gêneros e seu povo, o respeito, a inclusão da mulher em todas as áreas, como a política, o empreendedorismo,


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a ciência, a pesquisa e a economia para transformar a sociedade mais consciente, justa, inclusiva, democrática e acolhedora. Ser mulher, participar, planejar, estudar, evoluir, informar, integrar, construir, colaborar, empreender, ser mãe, ser esposa, ser filha, ser família, ser profissional, ser líder, ser respeitada, estar em todos os lugares e em todos os espaços. Lugar de mulher é onde ela quiser.

Licenciada em Ciências Biológicas, especialista em Ciências Ambientais, licencianda em Letras Inglês, Psicopedagoga Institucional e Clínica e Professora da Educação Básica da Rede Pública Municipal de São Gabriel/RS


O que falar do ano 2021...

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Leiza Maria Goulart Xavier

U

m ano para nos ensinar, mostrar que nosso bem mais precioso é quem amamos. Família e amigos...

E esperamos que o ano vindouro seja de muitas energias positi-

vas e realizações. No ano que passou tivemos momentos de altos e baixos, momentos que bate aquela saudade de pessoas queridas que perdemos para o covid19 e para outras doenças também. Mas às vezes a saudade adormece, já que essas pessoas queridas nos visitam em sonhos. É tão bom, esse acalento ao coração. Por isso a importância em ser humilde, respeitar cada ser humano, cada um do seu jeito. E não deixar que pessoas más interfiram em nossas vidas. Esse vírus veio para nos ensinar muitas coisas. Mostrar que todos somos iguais, independente de cor, raça, etnia, classe social e escolha sexual. Pois quando nascemos não trouxemos nada e não levaremos nada. Vamos amar! Vamos viver o hoje! A vida é um sopro! O ontem já foi e o amanhã pode não chegar! Santiaguense, aposentada, 69 anos, moro em Santiago há mais de 20 anos. Lutadora e guerreira, nunca desisti, criei minhas 6 filhas sozinhas com muito amor e dedicação.


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Minha cidade amada Letícia Flores Solner de Oliveira

S

antiago do meu coração Onde minha infância teve mais graça Quando as férias eram tão esperadas

Para andar de bicicleta e tirar fotos no calçadão Para caminhar na praça e comer sorvete no Cascão Santiago minha cidade amada, me mostrou o amor E hoje vivo feliz, e espero criar raiz, e os meus filhos aqui criar E que eles sintam em seus corações, quais foram as razões, pra

eu aqui morar.

Nascida em Porto Alegre, morando há 11 anos em Santiago, onde encontrou o amor, casada, ama ficar com a família, graduada em Letras e Pedagogia, realizando o sonho de ser professora. Ama crianças e o fato de poder ensiná-las.


Enunciado enigmático em E

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Lidiane Locateli Barbosa

E

nsaio esperado Essência expressiva Efemeridade enérgica

Efusiva, entusiasta Emotiva, envolvente Empolgante, eloquente Emocional, extasiante Enobrecedora e empobrecida Enojada Enjoada Estilizada Etilizada Embriagada Endoidecida Enlouquecida Esquecida Embrutecida Estigmatizada Estratificada Então... essas enaltecidas e excepcionais essências Erradas e errantes Epistemologicamente entendem-se Emanando esplendor


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Enfim... Embelezam-se, Energizam-se, Erguem-se, Empoderam-se... Enveredando (elas) Enigmáticas esperanças.

Formada em Direito e Letras, pela URI Câmpus de Santiago. Especialista em: Direito Civil, Gestão Pública Municipal, Educação Ambiental e Direito Militar. Assessora Jurídica no Exército Brasileiro e professora universitária na URI Câmpus de Santiago.


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Sobre a Impermanência

Lígia Rosso “Nada é fixo nem permanente. A única coisa permanente é a impermanência.” Monja Coen

E

ssa frase da Monja Coen me trouxe profundas reflexões neste período de autocuidado e recuperação. Sinto-me muito melhor a cada dia e em breve já estarei totalmente reestabelecida. Po-

rém, quando passamos por momentos assim, é importante silenciar e voltar-se para si mesmo em busca de algumas resoluções internas. Foi num desses momentos que abri um caderno antigo de anotações e me deparei com esta frase escrita em destaque. Realmente é essencial assimilarmos que nada é permanente, nada. Nós não somos daqui, nós estamos aqui. Entre os verbos SER e ESTAR há muitas diferenças. Podemos ser os instantes, mas eles passam, não há como retê-los. O tempo é como a água que flui, não podemos controlá-lo, apenas vivê-lo. Se quisermos controlar o tempo, ele escorrerá por entre os dedos ou nos dará um susto por meio de acontecimentos que nos mostrarão que ele não é dominável. Nós agimos, existimos no aqui e agora, mas na realidade não temos controle de nada. É uma escolha: ou fluímos com a vida da forma mais harmônica possível ou batemos de frente com o tempo e o espaço e nos machucamos, tal qual uma criança teimosa levando laçaços das ondas do mar.


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Como bem disse a Monja Coen, somente a impermanência é real. Por isso, viver com plenitude o agora é o nosso maior desafio. Lembro quando eu era criança, que sensação maravilhosa estar ali, simplesmente vivendo aquela brincadeira. Não havia os ‘porquês’ do ontem e nem as angústias do futuro. Só existia pular amarelinha, vestir as bonecas, comer o bolo favorito, sorrir com o desenho na TV, enfim...E daí crescemos e nos desconectamos disso tudo, desaprendemos a felicidade do instante que logo ali será memória, pois não é permanente. Assim vamos crescendo alimentando medos e inseguranças: medo de perder o emprego, medo de perder o companheiro(a) e as pessoas que são especiais pra nós, medo de perder o status e bens materiais, medo, medo, medo. Se alguma ‘perda’ ocorre, choramos, lamentamos, questionamos. Vamos fundo na dor e esquecemos do fato da impermanência. Talvez, se formos trocando o foco da perda pela gratidão, as dores possam ser amenizadas. Agradecer pelo emprego naquele local, agradecer pelas pessoas que amamos e que nos amaram, agradecer pelo que tivemos e pelas coisas que usufruímos por determinado período. Talvez a chave gire em 180º se agradecermos mais pelo que se foi e se soubermos ter a sabedoria de encerrar ciclos, sejam quais forem, deixando as queixas de lado e partindo para uma atitude proativa de novos começos, sem arrependimentos pelo que se fez ou deixou de fazer. Estou aprendendo a olhar meus pés, pois eles me lembram que estou nesse instante, não atrás onde não posso mudar, e nem lá na frente, onde não tenho certeza se estarei. Não é fácil agir assim, mas, na atual conjuntura é muito necessário. Seguimos, com passos firmes no agora.


Patchwork da Existência

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Lilian Balbueno

A

vida é feita de retalhos. Pedaços de sensações, Sentimentos e emoções.

Fragmentos e recortes de interações. Choros e risos. Uma grande colcha de vivências. Não importa se é elegante, se é brega, colorida ou preta e branca. Importa que é única. Às vezes ela amassa, outras vezes espicha. Cada linha de costura utilizada para ligar os pedaços, não o fez

aleatoriamente. Não é pertinente se foi torto, reto, incólume ou imperfeito... O interessante é que no final nossa colcha sai inteira e nos enlaça... Com nosso jeito. Com nossa estampa. Como nenhuma outra faria.

Professora Municipal. Pedagoga, Psicopedagoga, especialista em Gestão Escolar História e Cultura Afro-brasileira.


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Deixem Paulo Freire em paz! Lilian Ferraz Zanella Paz

E

le foi um dos maiores educadores brasileiros, dedicando sua vida a alfabetizar adultos trabalhadores, escreveu diversas obras estudadas no mundo inteiro e hoje se vê enredado nesta nefasta

onda de dualismo político, digo, politiqueiro, do mais baixo nível que já vivenciei em meus quase quarenta anos de vida nesse país. Tais discussões que vimos principalmente na internet, entre pessoas que não leem livros nem outras pessoas, apenas leem suas crenças e são manipuladas por “líderes” que resolvem determinar na sua lei, baseada apenas em valores de seus próprios interesses, de quem “presta” e de quem não “presta”, se é a favor ou contra os mais variados temas e a “galera lacradora” deve seguir tudo o que o “mestre” mandar. Nesse contexto de manipulação, Paulo Freire está sendo apedrejado, se estivéssemos na Idade Média, seria queimado em praça pública como a grande bruxa que desvirtua as crianças brasileiras. Tudo isso, faz com que eu volte no tempo e lembre de quando comecei meus estudos, minhas leituras e de como eu sonhava que um dia a educação chegaria aos patamares sonhados por Paulo Freire e fico tão frustrada em perceber que ela está cada vez mais longe, que ela está cada vez mais andando na marcha ré, com nuances medievais, por vezes. Enquanto isso, lotam-se os presídios, fecham-se as escolas, lotam-se as redes sociais e fecham-se os sonhos de nossas crianças.


141 Espero de todo o coração que essa onda de ignorância passe, pois tudo passa e a gente possa voltar a sonhar... Deixem Paulo Freire em paz! Mas saibam que não tenho raiva de ninguém, pois aprendi com ele que: “Não tenho raiva de quem assim pensa. Lamento apenas sua posição: a de quem perdeu seu endereço na História.” (FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa, 19ª edição, p. 21, 1996). P. S.: ganhei esse livro de meus professores do curso Normal da I. E. E. Professor Isaías, em 2001, ainda o tenho, ainda o leio, nos dias de necessidade. Biografia: Lilian Ferraz Zanella Paz, natural de Santiago, moro atualmente em Nova Petrópolis, fui professora por 19 anos, hoje sou agente penitenciária, fiz o curso Normal, graduada em Letras, graduanda de Serviço Social e especialista em Psicopedagogia.


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O Rio Lohana Valentini

N

aquele fim de tarde eu apenas disse que ia caminhar no campo. E sai correndo, corri muito e com muita vontade de chegar rápido até o rio, na esperança de que tu estivesses lá, de

novo. E que não fugisse como da primeira vez, queria saber quem é aquele guri, talvez uma companhia no meio da vastidão dos pampas, alguém diferente pra conversar e principalmente, acho que tem poucos anos de diferença de mim. Quando fui chegando perto do rio, tu estavas lá, parado, fazendo parte da paisagem, como se tu pertencesses a ela, como se tu estivesses sempre ali, só eu que nunca tinha ido tão longe de casa. Aproximei-me bem devagar, com frio na barriga, uma mistura de nervosismo com ansiedade, torcendo pra que tu não saísses correndo, mas não, tu ficaste ali, parado e eu me aproximei até a margem do rio e estávamos nós dois, um de cada lado da margem, separados pelo rio. O rio nos dividia, tão próximos, mas parecia um abismo, afinal não era só um rio, era uma fronteira, do lado de cá o Uruguai, do lado de lá, o Rio Grande do Sul, nos separando. Como pode? É somente um rio, separando eu de ti, o Uruguai do Rio Grande, a nossa propriedade e a de vocês. O silêncio era mútuo dos dois lados, o vento passava livremente para ambos e nós ali, parados, um olhando para outro, escutando o assovio do vento, o barulho da correnteza do rio, porém o silêncio pesava sobre nós, assim como as palavras, que não tinham forças


143 pra sair. Teu olhar atravessou a fronteira, encontrou-se com o meu e me ruborizei de vergonha e desta vez quem fugiu fui eu. Fiquei nervosa o coração batia forte no peito, até lembrava a minha égua correndo no campo se misturando com meus passos rápidos fugindo. Fugindo sei lá do que, de ti, de mim, do teu olhar que ao encontrar-se com meu esquentara minhas bochechas, me sentindo uma tola e agora estou aqui, recuperando o fôlego, embaixo desse cinamomo e rindo sozinha, rindo de mim, rindo da situação. O sol já começa a pegar os tons vermelhos do fim de tarde, prenunciando a hora do chimarrão com meus pais, chimarrão esse que poderia ser contigo, se não fosse apenas um desconhecido do outro lado do rio. Fragmentos do livro “O Rio” de será lançado em breve


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Aberta Luana Diello

P

or anos o fato de ser filha de uma Maria e João Qualquer me fez ter vergonha do bairro que cresci. As desigualdades que enfrentei e o constante silêncio que, conversava com a vontade de ter

mais um pedacinho de pão, também direito dos meus irmãos, nunca passamos fome, mas muita vontade...e o João Qualquer? Eu amo a centelha divina que habita nele, mas hoje não quero lhes contar sobre homens, quero falar de nós, de ventre, força, ancestralidade, curas e toda aquela conversa franca que nós necessitamos, de mulher para mulher. Os anos se passaram e aqui agora, adulta, divorciada e mãe, lembro de algumas perguntas que não fiz por medo de desrespeitar aquela que se fez portal para que eu pudesse conhecer esse mundo, lembro de uma tarde que cheguei mais cedo da escola, tinha bolinho de chuva sobre a mesa e café fresquinho, mas ninguém estava na cozinha, ouvi um choro bem baixinho e fui até seu quarto, ela estava de joelhos. Coloquei o prato com bolinhos na cama e fiquei de joelhos ao lado dela, sem entender o que estava acontecendo, ela me abraçou e em um tom de alívio desesperador, fungando disse: - Obrigada Deus! - Não precisa chorar mãe, conta pra mim, ninguém vai saber, nem Deus. Ela riu, deslizou a mão no meu rosto 5 vezes e me fez uma proposta e quanto passava-me batom vermelho, brincávamos sempre


145 que eu era uma cigana que conhecia o mundo inteiro e pedia-me para que lhe contasse uma história de lugares por onde habitei, e no final de cada aventura, ela falava: - Tu és a porta aberta que nenhum homem pode fechar, espalha tuas histórias. Lembro que uma vez perguntei: - Mãe, quando eu crescer como faço para as pessoas acreditarem nas histórias que se passam na minha cabeça? - Ah meu anjinho, as pessoas sempre acreditam quando vem do coração, escuta e depois fala o que ele te diz. Era quase esquizofrênico entender como podia uma mulher me falar sobre seguir instintos e mesmo assim submeter-se a situações que...eu não tenho palavras para descrever o que ela aceitou. Por anos a julguei, condenei suas escolhas, juntei lenha, ascendi a fogueira na perspectiva de que ela gritasse, urrasse, fosse vista, mas imóvel, calada e serena ela ficava. Nunca brigamos, mas chegamos bem perto na vez em que todos os porquês vieram à tona, ela me ouviu, eu a fiz chorar e foi o dia mais horrível da minha vida. E lá naquela cozinha gigante, mesmo sem noções sobre psicologia, constelação familiar, ou ter o nome Maria Qualquer registrado em um pedaço de papel, ela me falou uma frase que me quebrou, e assim em pedaços me joguei nos seus braços que sempre estiveram abertos, mas hoje não mais quentinho. - Se tu realmente me amas, respeita minhas escolhas!


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Que atire a primeira rosa, quem nunca tentou mudar o destino de quem amamos porque achávamos que a pessoa não sabia escolher. Que amor é esse? Que prende, controla, sufoca, sobrecarrega. Que amor é esse? Que emudece, impaciente, obrigatório, de discurso e ações ensaiadas. Que amor é esse? Que julga a forma que o outro ama! Que amor é esse? Que mente, omite, engabela. Que tipo de amor tu sentes por ti? Ao não reagir, Maria Qualquer me ensinou lições valiosas e como, a maioria de nós precisei quebrar a cara e por muitas vezes cheguei no fundo do poço para relembrar o que no amor me foi ensinado. Demorei para entender sobre ser agradável, sutil, flexível, me amar e perdoar-me, libertando quem veio antes. Demorei, para entender que colocar o rosto no pó, durante uma prece não é sinal de humilhação e sim de banimentos, pois a terra aterra. Demorei para me jogar no abismo, isso me custou relacionamentos, amizades, empregos, uma rePUTAção que a própria palavra oculta em todas as vezes que segui meus instintos, meus sonhos, minhas vontades. Demorei para entender que o poder da poesia é mais potente do que imaginamos. E foi nessa ânsia de ser a protagonista da minha história que mudei o foco, teve vezes em que escrevi quase todos os dias, geralmente falando das mesmas coisas, hoje, aqui prefiro viver, sentir e quando dá tempo sincronizo com o teclado o som do meu batedouro. Demorei para entender que nossa brincadeira, foi uma preparação para que eu tivesse coragem de sonhar e usar vermelho! Que a


147 cozinha é um lugar mágico, que tudo que falo volta em bênçãos ou tristeza, a escolha é minha. E por fim, demorei para entender que, foi ela quem optou por exatamente tudo, e nessa aceitação submeteu-se à anulação de suas vontades para que pudesse me ensinar o que não tolerar, o que nunca fazer, o que nunca aceitar. Sacrifícios? Nós mulheres entendemos exatamente o que é isso. Para quem tu escreves? O que tu modificas? Do que eles lembrarão? Faço-me essa pergunta constantemente toda vez que vejo o cursor piscando aqui na tela, só quero que as pessoas tentem se amar quando lerem aquilo que escrevo, nem que seja por segundos. Eu sei, dá vontade de chorar às vezes, largar tudo e sumir, nos fizeram crer que para ter sucesso precisamos sacrificar o tempo com nossos filhos, nossos ciclos, nossa fé. E o que ganhamos com isso? Uma independência violenta, egoísta que toma nossa criatividade, nossa energia e vidas, e assim socamos nossas crianças em cursos, acumulamos livros, celulares, medalhas, caixas de Clonazepan e Sibutramina. Nenhuma conquista deve ser maior do que o teu amor, em ser mulher. Perdi 2 anos, 3 meses e 5 dias da vida do meu filho, perdi as primeiras palavras, os primeiros passos, os primeiros dias das mães, era necessário que eu trabalhasse e desde cedo aprendi ter o meu dinheiro, toda mãe deseja dar para seus pequenos aquilo que não teve, mas nem sempre eu conseguia, então percebi que até o que me foi dado, esse eu também não estava oferecendo. Culpa? Vergonha? Fracasso? Sim, eu senti. Pedi demissão, e logo após fui tachada de louca, agora eu te pergunto quantas vezes te


148 chamaram disso? Ah, pois é! E quantas vezes tu chamaste de louca, burra ou tonta outra mulher que estava exausta? Se eu colocasse uma caneta nas tuas mãos agora, que possivelmente está hidratada e com as unhas bem pintadas, afinal hoje uns dos atributos da eficiência é a fidelidade com a manicure, e tu tivesses que desenhar aonde fica a linha do sucesso e da escravidão, tu saberias? Não tenho nada contra quem pinta as unhas ou não, mas estou farta de ter que ouvir histórias das Marias Canceladas, pela crença no Orixá, de pedalar ou pedir carona pra ir trabalhar, da sobrancelha torta, a cutícula grossa, o cabelo sem corte, da marmita quase vazia e fria, estou farta de ver as manas zombando de outra mana que não usa coletor menstrual, e como se não bastasse o auge do constrangimento é ter que detalhar o motivo contínuo do anticoncepcional, e se a pílula falhar? Quem é que vai ter que dar conta? A falta de comunhão com nossa essência criou uma pseudoliberdade, onde para sermos endeusadas pelos outros, sacrificamos o divino que habita em nós. Essa angústia que às vezes te tira o sono, é intencional! A lua, estrelas, vento, rio, mar, matas, fogo, pedras, terra e ar te chamam, sentem tua falta. Desperta para o divino para que tu possas dormir em paz. Assustador é ficar enraizada no medo, eu sei, o vento assusta! Mas, o tempo de mudança é agora, então estufa o peito, te empresto um batom vermelho e por favor, conta ao mundo as maravilhas que existe aí na imensidão que tu és. Estejas aberta, sê a abertura,


149 tu és necessária, honre o amor, honre a luz que recebestes das tuas ancestrais. Ah mulher, tu és a porta aberta que nenhum homem pode fechar! Coloca em prática o que tens e faze um legado. Enquanto a mim, sigo por aí girando minha saia e possivelmente descalça, contado minhas histórias nesse mundão, queimando meus incensos, causando escândalo nos retrógrados com minha gargalhada. Se um dia conseguirmos nos encontrar, tenho certeza que em algum lugar no universo com uma voz antiga vais dizer: - Obrigada Deus!


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Sorrir Luciana Strunkis

S

orrir com os olhos Virou coisa para pessoas fortes, E é raro os que traduzem esse sorriso.

Só os corajosos Só os sinceros conseguem. Sorria com olhar de ternura, Com olhar de esperança. Por que sorrir com a máscara No momento da foto? E muitos perguntam... É da natureza humana Sorrir, dizer, sentir. Então sorria, Mesmo que não apareça E os olhos vão sorrir também. Da inocência de uma criança Transparece um sorriso puro, Que emanam descobertas. Do sorriso do ancião Transborda experiência, Que é cercado pelos sinais do tempo. Crianças, jovens e velhos Anseiam por dias


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De amor, sem dor. Dias melhores, vorazes Com pressa de viver. Sem medo, sem receio. Sorrir produz o amor Ao extremo. Seja aquele que transborda Com esse amor, Onde o mundo mais precisa.


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Definindo-me em cinco sentidos Lucimara Quadros

E

nxergo-me criança quieta, sonhando sonhos reais, Escuto-me em versos cruzados, Sinto-me em passos bem dados,

E me provo em frutas com aromas ancestrais. E quando sinto o cheiro da terra molhada, E piso numa pedra fria, Escuto uma alma cansada Que vê um mundo que não sacia. O olhar é demorado, a escuta é com o coração O cheirinho é da infância, firme é o aperto de mão. E assim provo da vida, sentindo o aroma das flores Tocando em minhas feridas, eu curo os meus temores. Sigo aprendendo pelo caminho, Cada dia um sonho embalado no que eu escolhi, Um cheiro, um gosto, uma escuta, um carinho. Um olhar demorado pra me lembrar do que eu nunca esqueci.

Santiaguense, morando na capital há quase 30 anos, terapeuta corporal, autora do hino do Asilo Padre Cacique, editora local do jornal Nosso Bem Estar POA. Poeta nos momentos de inspiração.


Borboletas

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Luiza Cattelan Resmini

B

orboletas nem sempre foram lindas Borboletas nem sempre foram belas e cheias de graça.

As borboletas são como nós, Elas amadurecem ao longo do tempo, mas nem todas amadurecem do jeito certo, algumas, seguem outros caminhos e viram mariposas. Ninguém nasce borboleta, a borboleta é um presente do tempo. 13 anos, estudante.


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Mulher Luiza Zolin Tier

I

nfinito é o amor que amadurece Nesta vida de flores e de espinhos Força e bondade em todos os caminhos Interna formosura que enaltece. Nobreza n’alma com fraternidade Inconformismo diante da maldade Ternura, luz, cuidado e muita paz Ante as contradições que o mundo traz. Mesmo diante de todas as malícias, Empodera, anima, fortalece, Não desiste, trabalha sem parar, Traz consigo a semente que dá vida, Em seu seio, esperança a transformar. Mulher é tudo isso e ainda mais: Um pedação de céu, de firmamento, Lâmpada a iluminar nossas famílias. Haverá outro ser com tais talentos? E será ela capaz de nos dar Resistência, confiança e muito alento.

Santiaguense, tem 72 anos, graduada em Letras e pós-graduada em Processo Educacional. Foi professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira por 38 anos. Hoje é aposentada das suas atividades profissionais e aprecia a leitura e a escrita.


Guerra fria

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Mara Flores Pereira

M

undo insurgente Poder testado... Aprofundada ganância

Monstros sorridentes Genocídios aprovados Quem salvará nossas crianças? Os governos aplaudem O povo bale Quais filhos entregaremos Ao holocausto, amoladas facas Gases inodoros ,convulsões infinitas Desterro, fome, sede ... Lágrimas se um dia existiram, secaram Impotente observador Existência infértil Redes sociais a mil E a sombra se aproxima Conceber, concretizar, Longa distância entre os verbos Apenas observar Ronronando em meio a rosnados Lamber minhas crias Esperando o tornado passar!


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Evidência Marcele Favero Almeida

E

ntão me vejo no labirinto das emoções Nos arquivos de minha história Tudo que se prende

Minha afável memória. Nessa insana dimensão De ruídos, rumores e medos Elevados anseios e sonhos São fixados em segredos. Por mais que a jornada incessante Seja longa ou distante Sigo assim em plena evidência Que a vida é apenas um instante.

Estuda recursos humanos, trabalha em um escritório de transportes. Adora escrever desde pequena e pensa que as palavras são agentes transformadores no universo de emoções de cada ser.


Criança

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Marelisa Obregon VielmoBianchini

B

rincadeira de criança Desenvoltura e alegria. Em seu mundo imaginário

Cria, transforma e fantasia. Pular, correr, esconder, Imaginar, cantar, dançar Infinidade de verbos Pra infância se manifestar. Aromas e sabores Singularidade Memórias marcantes Revelando amorosidade. Curiosidade nata Interesse ativo Entusiasmo contagiante Despertam seu potencial criativo. Simplicidade Desprendimento e liberdade Sonhos que florescem Expressando sua autenticidade.


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Vida que segue... Marisa de Fátima Ourique Lopes

Q

uando menos esperamos vem a vida e nos surpreende. Sim!!! Reviravoltas são necessárias para que saiamos da zona de conforto.

Sempre me considerei uma mulher determinada, guerreira e

que luta por tudo aquilo que acredita. Ao mesmo tempo em que não consigo ser ingrata com quem me estendeu a mão quando mais precisei. Confesso que tenho uma personalidade forte e que muitas vezes isso incomoda quem pensa diferente. Sempre fui muito receptiva às críticas, pois elas nos sacodem, nos impulsionam a quem sabe ir por outro caminho, que talvez nem tivéssemos percebido e por conta disso, nos acomodamos. Quando menos esperamos vem a vida e nos vira do avesso, nos coloca em prova, em xeque. Envergamos, fraquejamos, esmorecemos, mas não tombamos. A correria do dia a dia, a busca desenfreada pelo consumismo, pelo TER, nos deixa frios, amargos, sedentos pelo materialismo e esquecemos de nós mesmos. Vivemos em função do outro e do outro, sempre como prioridade. Mas, quando menos esperamos vem a vida, e nos mostra na carne que tudo é efêmero, tudo é insignificante diante do estar vivo, do respirar, do caminhar.


159 Quando menos esperamos um vírus imperceptível a olho nu vem e bagunça tudo, nos mostra que não somos nada diante da magnitude do SER. Quando menos esperamos a vida, tão linda, tão perfeita, tão mágica criada por Deus, tem um novo significado, um novo colorido, um novo olhar e começamos a vislumbrá-la com os olhos da alma, da nossa essência, a cada detalhe. Um simples desabrochar de uma flor, o nascer do sol, o entardecer, tornou-se um verdadeiro espetáculo. E, como nada é por acaso, vem a vida e nos molda, nos refaz e nos desafia mais uma vez. Desafio aceito! Quiçá não precisemos de mais um “puxãozinho de orelha” da maravilhosa, esplendorosa, vida que segue...


160

Encontros Mariza Machado Sagin

S

ão muitos encontros que a vida nos proporciona. Encontros combinados, e outros inexplicáveis e incríveis, outros nem tanto, mas quando acontece um encontro entre duas pessoas, é por-

que ao menos uma delas deverá sair de si e ir ao encontro da outra. Mas com toda certeza em todo o tipo de encontro seja amoroso ou amigável é preciso estar aberto para acolher e ser acolhido sem julgamentos prévios. Um verdadeiro amor ou até mesmo uma amizade verdadeira atravessa o tempo, supera a distância e não vê dificuldades. Por isso não podemos dar muita importância à dor, mas com todo coração valorizar sempre o amor, pois a maior força das pessoas não está no poder da mente que gera a inteligência. A maior força das pessoas está no amor pois é ele que nos faz vivos, pois a beleza do amor não existe para ser aclamado, a beleza do amor existe para ser sentida pois o amor se descobre com a prática de amar e não através de palavras. Poucos sabem, mas o amor é a fortaleza das pessoas que agem ao mesmo tempo com o amor e a razão.


161

Nosso poema

Marlene Brandão

P

edi ao céu para unir nossos caminhos Para juntinhos contemplar o sol se por Pedi ao vento que soprasse de mansinho

No nosso ninho de ternura e muito amor. A madrugada para nós fica pequena E a seriema faz acorde em sua voz Quando recito para ti nosso poema Nesse dilema que escrevi pensando em nós. Até a lua com ciúmes foi embora Naquela hora de desejo e emoção Quando meu corpo junto ao teu também queimava Sob as lavas expelidas de um vulcão. Pedi a chuva que caísse lentamente E junto a nós pudesse brindar Aquele instante que a enxurrada da vida Me fez despida no teu corpo naufragar. Que a mão divina nos conduza nessa estrada Desta jornada que te fez um vencedor Porque tu és hoje e sempre o meu amado E eu serei eternamente o teu amor.


162

Traço de saudade Natháli Fratta de Almeida

E

xpresso em cada traço Aquilo que eu mais preciso Um abraço

Um sorriso Sorriso de ponta a ponta Igual de faz de conta O aconchego do teu colinho Deitada no teu peito quentinho Faz um tempo que não te vejo A saudade só aumenta meu desejo Não é sofrência É carência Carência de um carinho De ouvir um “eu te amo” bem baixinho Do teu ombro amigo Ou de te ter aqui comigo 18 anos, nasceu no dia 10 de novembro de 2003. Poetisa desde os 12 anos, ensino médio completo desde 2020.


Menina e Mulher

E

u fui a menina sapeca e faceira, que andava na chuva

e brincava ao luar. Sem traumas, sem medos... E da vida, o enredo era sorrir e brincar. Quando o fim do brinquedo, só acontecia, muito depois do relógio chamar. Meu lema, pra sempre, é jamais esquecer os mágicos momentos, que a infância me traz. Lembranças, sorrisos. Castelos e paraísos. Sem fardos. Sem dores. E de poema em poema, trazer ao presente a realidade consciente, sem do sonho acordar!

163 Neiva Dorneles


164

E, se por ventura, despertar, será com versos na boca e melodia nos pés. Sentindo o aroma das flores e os doces sabores do pão e café. Sem jamais esquecer, que, agora, aquela menina, é uma bela mulher... Sapeca e faceira, mas que sabe o que quer.


Anjos sem Asas

165

Oara de Fatima dos Santos Dorneles

C

omo não amar um cãozinho? Que te dá tanto carinho Sem nada em troca pedir

Mas muitos humanos Eles impõem duros enganos Tem vida, amor, alma... Quando triste estás, te acalma te oferecendo total solidariedade E, na tua dor, te honra com fidelidade E tu homem sem consciência, Quanta maldade causas? A um animalzinho tão puro, Um anjo sem asas. Te dizes nobre, não és. Se matas, abandonas A este cãozinho que te ama E daria a vida para te salvar. Professora de História, vivendo intensamente cada momento da vida, que Deus me proporciona a cada amanhecer.


166

Emoções em Alto - relevo Olivaine Brum

B

usquei sentimentos, Emoções em superfícies gravadas Em loucuras, suspiros

De escritos em traços diferenciados... Pressuposto em arte, Afinidade em sentido doce amargo, Coberto ee artifícios. Faz-se expresso em pele picante Ardente história em vícios... Alegoria real em mim, Cosmos circundam o psique Exalado em flores de jardim... Escolhas em farol domínio Austera pranto em concessão, Habita aqui de fato, a definição... E fez-se em mim moradia... Alto - relevo em poesia!

51 anos, diarista, mãe de duas filhas, amante da caneta. No tempo livre ama escrever poemas e poesias, apaixonada pela vida, música e dança. Seu objetivo: futuramente escrever um livro.


167

Há momentos

Priscila Reolon

H

á momentos na vida em que tudo que nos move, nos fortalece. Há momentos em que sonhamos acordados desejando o impossível, e apenas aquela olhadinha para cima nos acalenta.

Há momentos que precisamos ser fortes e sonhar com aquilo

que queremos e poder seguir com mais força. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer. Na vida há momentos em que precisamos Ter felicidade bastante para fazê-la doce. Passar por dificuldades para nos fazermos fortes. Passar por tristezas para nos fazermos humanos. Há momentos em que a nossa esperança é o suficiente para nos fazer felizes. Pense um instante no que lhe motiva? Qual seu combustível diário? As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.


168

A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Seu sucesso depende dos momentos em que você não desistiu, seu progresso depende das lições aprendidas principalmente dos seus erros. Há momentos na vida e esses momentos precisam ser aproveitados sem medo de dar certo ou errado, pois eles passam muito rápido e você nunca saberá como ele será se perdê-lo. Então vá em frente, viva os momentos. Tem 33 anos, professora, tem dois filhos lindos, mora em Santiago desde pequena. Escrever sempre foi uma terapia.


169

Ressurgir

Queise Corsini Jaques

Q

uando os dias parecem escurecer e os olhos cegar Quando de nada adianta gemer, a dor parece não doer Quando os sentidos não são mais sentidos, não fazem o me-

nor sentido Quando fatos contestam histórias, e as mesmas desaparecem na memória Quando de repente, não mais que num instante tudo parar... Gritar... Quem sabe seus olhos voltem a brilhar, ao olhar no espelho veja, novamente, sua alma Mesmo que ferida... Mesmo que cansada... Mesmo que apagada... Resgatará, acolherá, cuidará, vai se fazer sorrir Seu céu vai se abrir, seu eu vai florir E de esquecido, ressurgir Virá devagar... Ressabiado Receoso Calejado E esse tal de tempo, no seu tempo vai lembrar Que brilhar era seu dom E por fim retomará seu corpo e seu lugar. Cria orgulhosa de Santiago, cidade que habita o coração dessa mulher sonhadora de 34 anos ,mãe de dois filhos lindos Marco Antonio e Sofia.


170

Peste Rafaela Correa Almeida

N

ão posso evitar Esse olhar crítico E turvo a vigiar

Os pecados, os riscos. Não aguento a culpa: Ela me enfurece... Danço entre as lágrimas; A tontura me enlouquece. Estou doente E o sintoma me enfraquece: Totalmente descrente, Que mundo é esse? Seria coisa da minha mente Ou então um teste? É melhor não saber...

Rafaela Correa Almeida, nascida em 20/05/2003, é uma estudante que começou a escrever com treze anos e que, desde então, apela ao social e à busca da própria identidade em seus poemas. Instagram: @solidaopoetica


Conheça sua força, mulher!

171

Raquel Da Silva Machado

H

oje é um bom dia para recomeçar Para se olhar com mais carinho É um bom dia para se enxergar

E ver que você é suficiente. Cuide de seus cabelos, unhas e corpo Mas, por favor, não se esqueça Cuide da sua mente, Ela é que lhe leva aos dias claros Ela é que lhe deixa nos dias sombrios. Mulher, repare em si Nas suas curvas, no seu jeito Mulher, não se desgaste pensando no outro Pense em você. E quando suas forças findarem Encontre a coragem da mulher E voe.

Nasceu em 22/01/2000, no interior do RS. Desde cedo, já brincava com livros ao seu redor. Sempre amou ler e escrever. Por isso, escolheu cursar Letras, para que um dia pudesse escrever profissionalmente e com perfeição.


172

Uma Mulher Reconstruída Renata Lemos da Silva

U

ma mulher reconstruída é como um vaso nas mãos do oleiro que quando parece que tudo está perfeito, começa o processo da argila ser moldada novamente nas mãos do oleiro até se

transformar num lindo vaso. Assim somos nós mulheres reconstruídas com um propósito para viver nessa terra. Dentro do vaso, muitas coisas preciosas podem ser guardadas e isso mostra o grande tesouro que cada mulher tem dentro de si, com suas histórias, suas marcas e cicatrizes que servem para trazer crescimento para sua própria vida e a de tantas outras mulheres que estão nesse processo de reconstrução. Nesse processo de ser reconstruída por completo, você passa por dores, perdas, sofrimento, mas muitos ganhos, pois tudo que acontece com você serve para cooperar para o seu bem. Nenhuma mulher permanece pra sempre nesse lugar com suas dores se você se permite viver o processo da reconstrução. Uma mulher reconstruída é alguém que passou por todo processo e se tornou como uma linda borboleta que é livre, leve e solta e está pronta para viver uma vida de abundância pela qual foi criada para ser. Uma borboleta passa por todo o seu processo de transformação até ser livre para voar.


173 Quando se completa esse processo de reconstrução é que surgem as mulheres virtuosas que são como um tesouro encontrado, raras e preciosas que deixam uma marca e um legado por onde elas passam. Se você se permitir passar por processo da sua vida e ser toda reconstruída por aquele que lhe fez com um propósito único, você viverá plenamente tudo aquilo que foi sonhado para sua vida nesse tempo. Seja uma mulher reconstruída por inteiro. Solteira, 35 anos, graduada em Psicologia e pós em logoterapia e análise existencial.


174

Todo Dia é Dia... Rita de Cássia Nunes Paludett

D

e acordar pela manhã, acreditando que a vida é um presente do nosso Criador, E é aquilo que fizemos dela!

Que devemos aproveitar cada minuto vivido como se fosse o

último, Que vale a pena ser feliz, Que tudo é possível, Que um sorriso nos alegra e ilumina, Que um abraço, cria laços e que nos dá forças para superar qualquer dificuldade, e obstáculo que poderá vir a surgir em nossa vida, Que os amigos verdadeiros são flores em nosso Jardim, Que a família é nossa fortaleza, e nela encontramos amor, união e paz... É nosso suporte nos momentos mais difíceis... Que os filhos são nosso bem maior . E que viver é sensacional... É um eterno aprendizado! Gestora da EMEI Sol Criança, Graduada em Pedagogia pela ULBRA, Pós Graduada em Educação Infantil, Gestão Escolar: Orientação e Supervisão, atualmente cursa Educação Especial e Inclusiva. Prêmio Expresso Ilustrado 2019,2020 e 2021- Diretora EMEI.


Passagem

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Rosa Eli Viero Sarturi

N

ada que se pareça Com essa dor apertada Sem retorno, disfarçada

Que chega e faz um casulo Se proteje com escudo Ali fica, eternizada Queria passar um pente Abrandar, fazer que a mente Jamais lembrasse de novo Daqueles dias tristonhos Definhados pelo tempo Em luto com o firmamento Talvez se eu tivesse um dom Daqueles dons sonhados Naqueles tempos passados Que os sonhos eram trilhados Perseguidos e alcançados Pra realizar um presente Não passaria de um sonho Pois não existe retorno


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Nem tem caminho de volta No eterno, nem se toca Nem se vê, É tipo um anoitecer Fica o cheiro, a saudade As lembranças, pra eternidade Da vida que aqui vivemos Das histórias que fizemos Pras pessoas que amamos Nosso amor, aqui deixamos Formada em Administração de Empresas e Gestão de Pessoas, funcionária BB, aposentada. Gosta de fotografar, ler, escrever, desenvolver receitas SGSL.


Infinitamente mulher

177 Rosa Pacheco

H

á quem diga que ela é frágil cada um com sua opinião mas o que poucos conhecem

é seu poder de transformação. Pode ser calma como a brisa depende da situação pois, se caso for preciso transforma-se em furacão. Se tratada com respeito verá em seu rosto um sorriso e o lugar onde estiver terá a calma de um paraíso.

Porém, sempre é bom saber se caso for maltratada de gata mansa vira leoa com garras bem afiadas. Pode ser forte como rocha e gosta de ser amada sabe adaptar-se na vida estando só ou acompanhada.


178

É vento que sopra leve à noite é orvalho que cai é onda do mar revolto que sabe para onde vai. O mundo ela conquista pois sempre sabe o que quer tem o privilégio de gerar a vida é infinitamente MULHER.


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Nádia

Rosemari Bragato

N

a época em que o Brasil estava no auge da retomada da democracia, Nádia nascera no sul do Brasil, em uma pequena colônia de imigrantes poloneses. Fora uma criança linda, mas

muito rebelde, que não aceitava conselhos dos pais e não valorizava a cultura local, evitando as festas tradicionais, tão valorizadas pelos moradores do lugar, especialmente pelos idosos que nelas procuravam amenizar as saudades que sentiam dos familiares que haviam ficado na terra natal. Criada em ambiente onde o catolicismo era praticado com muita fé e que todos seguiam, sem questionamentos, as orientações dos sacerdotes, detestava ir à missa e, quase todos os domingos procurava uma desculpa para não acompanhar os pais e irmãos à igreja. Na família de agricultores humildes, as roupas que a mãe confeccionava passavam do irmão maior para o menor e as doações que chegavam de pessoas com melhores condições econômicas, eram muito bem-vindas. Na adolescência, muito crítica e ambiciosa, usando palavras irônicas, rejeitava todos os rapazes que, encantados com seus olhos azuis e seus longos cabelos loiros, se aproximaram dela e a pediam em namoro. - Namorar você? Vê se enxerga seu caipira pobretão.


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Para sua felicidade, seus dezoito anos chegaram e junto com ele veio a liberdade para correr atrás de seus sonhos. No dia posterior ao seu aniversário, ela arrumou uma pequena mochila e despediu-se da mãe: - Você vai nos deixar, mesmo? - Tu não sabia ou sabia e não acreditava que eu fosse embora? Eu já havia dito isso um milhão de vezes! - Vai para onde, minha filha? - perguntou a mãe tentando segurar as lágrimas. - Primeiro, para São Paulo, a mais linda capital do Brasil - disse, girando na ponta dos pés, em um rodopio... E depois, para outros lugares do mundo, quem sabe? - Mas dizem que São Paulo é uma cidade muito grande e perigosa... Tu vai se perder ... E não conhecemos ninguém lá: se a gente conhecesse alguém tu podia ficar na casa dele até arrumar emprego! - Não conhecemos ninguém? Isso é tudo que eu quero! Pretendo conviver com pessoas ricas, ambiciosas... - E sem dinheiro, vai viver de quê? - Não se preocupe comigo: já me candidatei a uma vaga de trabalho e vou direto para a empresa fazer uma entrevista. - Encontrou emprego? De que jeito? - Pelo anúncio do jornal. A mãe ficou pensativa e, percebendo que a filha estava mesmo decidida a ir embora, resolveu ajudá-la: - Eu tenho um pouco de dinheiro guardado, posso dar para ti, mas logo vai acabar... - Aceito o dinheiro com a condição de pagar tudo, com juros, quando eu ficar rica!


- Não precisa pagar: é obrigação dos pais ajudar os filhos...

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E Nádia partiu. Com ar de desprezo, pela janela do ônibus, ela olhava o pequeno povoado e, intimamente, jurava que jamais retornaria. Amor pelos pais? Nunca sentira! Saudades? De quê? Da vidinha medíocre? Dos almoços de domingo em que o prato principal era um frango ensopado ou um pernil de porco assado? Com certeza, ela não sentiria falta deles! Viagem longa, cansativa, ônibus lotado, cheiro de urina que exalava do sanitário que ficava no final do veículo... Se alguém tentasse conversar com ela, respondia o que era perguntado e fechava os olhos, fingindo dormir. “Não tenho paciência com gente bisbilhoteira”, foi o que pensou. Chegando a São Paulo, procurou uma pensão simples e no dia seguinte apresentou-se para entrevista do emprego a que havia se candidatado. Foi contratada como secretária, mas, na semana seguinte, devido ao seu sotaque de estrangeira, foi remanejada para o almoxarifado. Sua beleza exuberante acompanhada de uma altura acima da média, chamava muito a atenção dos demais funcionários da empresa e ela recebia propostas, recusando a todas: sua formação não permitia o tipo de relacionamento sugerido. No segundo mês de trabalho, começou a conversar mais com uma colega e Suzana, a nova amiga, resolveu apresentar-lhe a cidade. Inicialmente, foram ao shopping e Nádia ficou fascinada com o que via. Depois de olharem vitrines e de lancharem, foram ao cinema. Apesar de nunca ter ido a um, ela conseguiu disfarçar seu encantamento e a amiga não percebeu que, para ela, tudo era novo.


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E os passeios pelo shopping continuaram acontecendo até que um dia recebeu uma oferta: trabalhar como vendedora em uma das lojas de uma rede de roupas femininas. Muito feliz, percebeu que seu sonho estava começando a se realizar. Respondeu que gostaria muito, mas que precisava avisar ao seu atual patrão e também cumprir o aviso-prévio. E assim aconteceu: um mês depois, estava contratada. Sabendo que seu sotaque ainda era perceptível e motivo de sorrisos disfarçados, procurava falar pouco e, para compensar, sorria muito, o que agradava as clientes. No final do ano a loja sempre realizava um desfile e ela foi convidada, com dois meses de antecedência, a participar dele, como modelo. Nesse intervalo, teve aulas de etiqueta, postura, maquiagem, fez limpeza de pele e tratamento para retirar manchas, resquício da vida de pobreza que tivera há pouco tempo e da ausência de cuidados básicos, tão necessários para quem tem a pele muito clara. No final desse período, olhando-se no espelho, via outra pessoa e passou a sonhar mais alto ainda. Embriagada com a nova vida, esqueceu-se da única pessoa que a acolhera na empresa e, principalmente de seus familiares: nunca mais mandou-lhes notícias. Perseguindo seus objetivos e sabendo que falar uma língua estrangeira era fundamental para sua carreira, matriculou-se em um curso de inglês e, todo final de tarde, saindo da loja, seguia para sala de aula. O lado afetivo que nunca fora importante para ela continuava em último plano e, aos 19 anos, Nádia ainda era virgem. Quando colegas falavam de suas experiências sexuais, trocando confidências, constrangida, ela se afastava.


183 As características físicas de Nádia e seu sobrenome Akasak, indicador da origem que ela tanto desprezava, contribuíram muito para seu sucesso. As viagens pelo circuito da moda, Nova York, Milão e Paris, assim como Londres e Tokio eram constantes e à deslumbrante modelo foi atribuído encerrar os desfiles com chave de ouro. Apesar de ter condições econômicas, ela nunca foi conhecer a terra de seus antepassados. E a vida continuou sorrindo para a jovem elegante e sonhadora. Outras passarelas do mundo a acolheram e sua foto esteve na capa de muitas importantes revistas de moda. Mas essas não chegaram a sua pequena cidade natal e, consequentemente, seus pais nunca souberam de seu fabuloso sucesso. Saudosa e inconformada pela ausência da filha, sua mãe morreu chamando por ela. A fama, com exceções, costuma ser passageira porque o mercado deseja sangue novo e outras jovens ingressam no mercado da moda, fazendo com que as mais velhas percam seus postos. Como também se sabe, o dinheiro que chega fácil, vai embora com a mesma facilidade. Aos 35 anos Nádia estava sem trabalho e, consequentemente, sem dinheiro. Amigas? Nunca tivera. Filhos, também não. Amores? Nada significativo, apenas envolvimentos por interesse, de ambas as partes: dela, por novas oportunidades de trabalho, deles, por seu corpo bem cuidado e seu rosto lindo. Depois da queda profissional, visando algum cachê, começou a servir de acompanhante de executivos em festas e viagens. Para demonstrar animação que não sentia e conseguir suportar as companhias nem sempre agradáveis, começou a beber muitas doses de whisky e, posteriormente, a fazer


184

uso de cocaína que circulava gratuitamente nos ambientes que frequentava. Mas esses convites também começaram a diminuir, até que nunca mais foi chamada para eles. Se a gloriosa carreira havia acabado, o vício não, pelo contrário, estava cada vez mais exigente e ela precisava alimentá-lo. Para isso, começou a fazer entrega de drogas em festas da alta sociedade até que, em uma delas, após denúncia anônima, houve uma batida policial e ela foi uma das pessoas presas. Depois dessa, outras prisões aconteceram pelo mesmo motivo. Sem trabalho e sem residência, ser moradora de rua foi sua única alternativa. Arrastando seus pertences em um saco de lona, a ex-modelo que havia conhecido o doce sabor da fama, perambulava pela cidade grande que tanto a fascinara e pedir dinheiro para alimentar seu vício, passou a ser seu único objetivo. Do glamour das passarelas internacionais à rua; da rigidez de valores ao vício e à degradação; da beleza deslumbrante a farrapo humano; da ilusão para desilusão, em curto espaço de tempo.

Nascida em Santiago, RS e residente em Campo grande, MS. Professora e Psicóloga com mais de trinta anos de atuação em psicoterapia. Teve seu primeiro livro publicado em 2009 e, atualmente, tem 12 publicações destinadas a crianças, adolescentes e adultos, assim como participação em diversas Antologias. Casada, tem três filhos e cinco netos. Filiada a EBE/MS e membro da Academia Feminina de Letras e Artes (AFLAMS)


Amor Ágape

185

Rozelaine Aparecida Martins

E

xprimi meu coração, Torrei-o, transformei em cinzas, Velei lembranças,

Sepultei mágoas, sentimentos, eros! Sou um corpo etéreo, Pura fé, coragem, razão, ágape! Minh’ alma está por aí... “Campereando” esperança. O mundo gira, caí no abismo, egoísmo! Continuo aqui! Importando-me contigo! Amor cosmopolita! Ágape, luz pra essa Terra!


186

Solitude Rúbia Santi Pozzatto

O

uvia-se o gotejar da chuva lá fora, ela virou para o lado e, ali na sua cama, não havia ninguém além de si. Sorriu fechando os olhos, e agradeceu por aquele dia ser exatamente o que ela

precisava; manhã de sábado chuvosa era tudo que ela queria. Nas redes sociais, fotos de casais sorridentes, famílias alegres comemoravam o aniversário de alguém. Ela sorriu pois houve um tempo que aquilo doía. Agora não mais. Nunca quis lugar que não fosse seu, e por um tempo doeu perceber que insistiu em estar em um que não era o dela. Sentia falta da família, de ter uma companhia mas compreendia a grandiosidade, importância e - porque não dizer- beleza daquele momento sozinha. Fez um chá, abriu a janela para observar a chuva que calmamente deixava entrar seu frescor pela casa; observou que a fumaça que emergia da xícara de chá combinava com a chuva. Em algum lugar uma criança gritou, carros passavam raramente deixando o ambiente quase à mercê da água tocando o chão. Enquanto escorregava na poltrona pensou: “A vida canta para quem sabe ouvir. E isso, seria solidão ou liberdade?” questionou-se. Já não era a primeira opção, pois havia aprendido escrever sua história, com o papel e caneta que tivesse. Sorriu ao constatar que a vida era generosa com ela. Terminou sua leitura da semana, enviou algumas mensagens, preparou algo para comer. Aquele sábado estava diferente, sentia-se acolhida, confortável, feliz e grata na sua respeitável solitude.


Um pássaro cantou, uma mensagem que chegou a fez sorrir e187 ela entendeu que tudo tem seu tempo. Não era o fim do caminho, nem “o felizes” para sempre, tampouco a última estrada. Era a construção da história que seguia depois dos ajustes, o alicerce espiritual que ela vinha fortalecendo e o resultado dessa busca começava aparecer. Nem todos compreendiam, mas aquele era o seu caminho. Aquela sensação de pertencimento, ali e naquele instante, ela não saberia explicar. O fato de dormir tranquila, se alimentar bem, respirar e balançar a poeira pra seguir em frente; sorrir de verdade, chorar quando sentisse a necessidade; coisas que só o autoconhecimento permitira. Os que aprendem com a dor, tem os dias de chuva como a saudade do que passou e a alegria do que se vive agora. Sabem que as noites de tempestades antecedem dias nublados ou de sol, mas é certo que se tem mais visibilidade; depois que passa, pode-se ver estragos, o que se organiza e o que precisa ser colocado no lixo. “A tempestade bagunçou o aparentemente arrumado, o tempo que passou não fez a limpeza em meu lugar, mas me ensinou a respeitar meu tempo, e eu organizei o que precisava e quis” lembrou. Às vezes ela muda a posição dos móveis, faz aquela faxina frequentemente, joga fora o que não serve mais e volta (isso com a casa, isso com os sentimentos) porque tudo é mutável, inclusive nós.

Nascida em Santiago, graduada em Ciências Biológicas pela URI e especialista na mesma instituição, Servidora Pública Municipal da nossa cidade. Escreve desde a adolescência mas somente nos últimos anos tem publicado os textos.


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O grande amor da sua vida Sandra Maira dos Santos da Luz

M

uitas vezes ouvimos falar sobre o mal do século, a doença do século e temos uma tendência quase que inconsciente a ver somente o lado ruim das coisas.

Hoje perdida em meus pensamentos, comecei a pensar no bem

que quero trazer, nessas linhas que me propus a escrever. Gostaria de deixar pra você o Bem, aquele que desejo pra você, a prática do Bem-Me-Quero. Por muito tempo pensamos que estar bem era estarmos bem vestidos, bem financeiramente, sempre de bem com a vida, para que os outros nos quisessem bem. Mas aí, nos frustramos, porque isso simplesmente não acontece, procuramos respostas a todos aqueles porquês, isso tudo em vão. Queremos agradar o marido, a sogra, colegas, vizinhos, a família. Isso não acontece, porque é perda de tempo e de vida querer agradar todo mundo. Aliás, todo mundo é muita gente. E muita gente tem automaticamente muitas visões, vivências e expectativas diferentes, que provavelmente você nunca atingirá. Confesso que nunca consegui ser a esposa perfeita, a profissional perfeita, a mulher perfeita. De fato penso que pessoas perfeitas não existem. Até gosto muito das minhas imperfeições. Temos uma ideia vendida de que precisamos ser o modelo da família feliz, isso exige muito de nós. No fundo tentamos isso, crescemos, casamos, lutamos para que o nosso final feliz tenha um enredo também feliz.


189 Mas a história tem que trazer consigo também sua essência, seu brilho, seus hobbies, dar a você a liberdade de ser você, somar, amar, lutar, crescer. Vejo relações falidas, mantidas para a sociedade ver, para não expor a família aquela triste história de um final de casamento. Mas aí vem a pergunta: Melhor manter algo sem amor, vivendo uma infelicidade diária, uma vida de traições e mentiras, do que ter a hombridade de fugir disso e viver? Acredito que o amor nasce nos detalhes, aqueles pequenos, porém sempre lembrados. Acredito também que ele morre, aos pouquinhos, nos esquecimentos, na indiferença, na falta de diálogo e de entendimento. Fico triste quando ouço “Fulano só deu valor depois que perdeu”, porque acredito sim que seu par saiba exatamente o valor que você tem, mas você estava ali tão entregue a ele, que ele jamais imaginou que perderia. Aqui entra a importância do amor-próprio, do Bem-Me-Quero, do valor inigualável que você tem. Porque ao sair de uma relação onde você foi magoada, desvalorizada, você pode se entregar a uma Fake News romântica, cair numa armadilha sentimental, correndo o risco de se machucar novamente. Cultive em você a prática de se amar de verdade, sabedora de seus defeitos e deveras orgulhosa de suas qualidades. Vista sua roupa bonita, seu sorriso mais encantador e saia de casa querendo viver o melhor dia da sua vida. Tenha em mente o quanto você é maravilhosa, especial e que a pessoa que tem o poder de lhe proporcionar felicidade é você mesma.


190

Não aceite migalhas de amor, ser metade de alguém, você é inteira. A pessoa que decidir caminhar ao seu lado tem que vir pra somar, para ser seu par, para fazer seu olhar brilhar, jamais para ofuscar seu brilho. Se você já tem alguém que lhe traz tudo isso, abrace, beije, envolva, ame, demonstre. Não demonstrar, não falar, assemelha-se a não gostar. Seja um bobo apaixonado, veja o quão bom é o retorno que você terá. Se não tiver, fuja você! A vida é tão vasta de possibilidades, não se prenda ao que não lhe faz feliz. Viver requer aquele tantinho de loucura, de ânimo, de esperança. Podemos nos entregar aos dias difíceis, à tristeza, à ansiedade, aos medos ou à depressão. Podemos nos reerguer de cada queda, devagar, dando um passo de cada vez. Somos reféns das nossas escolhas. Que possamos fazer as melhores, mais altruístas. Lembre-se que ninguém ama quem não se ama. Pratique todo dia aquela dose de eu me amo, eu mereço o melhor da vida. Um belo dia, quando você menos esperar, alguém pode chegar pra caminhar ao seu lado. Até lá, saiba ser só, veja e sinta a beleza da sua própria companhia. Saiba ver e viver como Você pode ser o Grande Amor da Sua Vida! Santiaguense - 34 anos - Policial Militar


Em mim: ventos sopram

191

Silvana da Rosa

V

endavais sopram em mim Anunciando enxurradas de solidão A aridez sentida na garganta

Sopra em caminhos arenosos, lamacentos, pedregosos. Ventos fluidos abrem espaços, crateras, poços. Da garganta aos ovários rompem-se infinitos espaços, agora vazios, soprados pela transparência corpulenta de ventos selvagens,

arredios. Será que todos os homens ouvem os mesmos sopros? O vento assobia canções que não me permitem ninar. Violento sopro que inunda a alma, quer seja feminina ou masculina. O que o universo sente, as entranhas humanas refletem. Sinto, transpiro e ouço, esse que sopra com violência em mim. Não raro, trazendo consigo redemoinhos de sentimentos. Ventos pandêmicos. Há mais de um ano e meio, ventos sopram. Apagando vidas, como velas sopradas em meio à infinita escuridão de incertezas. Não há mais nada aí dentro. Lamento. Tudo foi varrido. Cobriram o infinito. Nada mais existe.


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Sensação de sei-não-o-quê. Dentro da carne há doloridos vazios que sangram oceanos de lágrimas. Lembranças de vidas apagadas com a presença de assobios devastadores. As chagas, aqui dentro, não são menores que do lado de fora. O que há lá fora? Aqui também existe. Espelhamento das chagas do mundo reflete em meu corpo. No corpo e na alma, ventos sopram, com frequência, anunciando a proximidade de tempestades. Ventos pandêmicos que avassalam corpos são vazios que sopram em mim.


193

O Tempo?

Silvana Fiorenza Moraes

N

a verdade, ele não existe Não passa de mera ilusão; Nós achando que podemos controlar tudo

Achando que temos ele sob nosso controle Criamos os segundos, as horas, os dias, meses, anos, Até demos nomes a tudo isso Achando que assim ele é nosso Como se fosse algo palpável, que podemos assim quando que-

remos, voltar, ou adiantar Temos todo tempo do mundo!! Será!? Quantas coisas deixamos para depois, Amanhã! Final de semana eu vou! Segunda começo a dieta! Ano que vem vai ser diferente!! Ano Novo!!! Que ilusão!! E sabe o que nos põe exatamente de cara com “ele” (o tempo)?? E sabe o que “ele” faz pra nos mostrar o quanto somos iludidos?? Ele nos adoece; Nos envelhece; Nos mata; Sim!


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Ele nos tira de cena como quem nunca esteve aqui Como se não fizesse diferença nenhuma estar e não estar mais E assim, quem fica, até que a saudade acalme no coração Começamos tudo outra vez O mesmo joguinho de amanhã, Depois, Ano que vem, As promessas se enchem em listas Guardamos mais uma vez os beijos Os abraços Os sorrisos As lágrimas E assim seguimos nossa vida Até que o tempo, Que deveria se chamar: “E Se” E Se tivéssemos dito E Se tivéssemos feito E Se...”


Um lugar para chamar de SEU

195

Simone Meirelles do Nascimento

L

ugar. Local. Posto. Posição. Espaço. Ponto. Onde. Qual. Território. Qual é o seu lugar no mundo? Onde você se sente mais confortável? Que posição você ocupa na vida das pessoas? Será que tem um território só seu? Sim. Temos um lugar só nosso e eu o chamo de “território psi”. Nele é possível ser quem se quer ser, pensar e sentir genuina-

mente, sem a preocupação de estar certo ou errado. Esse território psi é a nossa mente. Local onde moram nossos pensamentos. Onde criamos tudo, desde a nossa realidade até nossos sonhos. Só você sabe o que você pensa. Ninguém mais tem acesso, a não ser que você os expresse de alguma forma. Palavras. Gestos. Ações. Reações. Sem isso, o território psi é só SEU. A mente humana é fantástica e nem temos total conhecimento do que ela é capaz, isso significa que nosso território psi é um espaço de infinitas possibilidades.


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Imagine que sua mente é a maior biblioteca do mundo. Nela estão catalogadas, codificadas, guardadas todas as respostas para suas perguntas. Assim como os livros. Podem ser divididos por gêneros literários, antigos, novos, clássicos, inéditos. Seria fácil para você encontrar respostas? Isso dependerá de sua organização interna. Se ela for bem desenvolvida, até pode ser que seja fácil localizar o que precisa para responder aos seus questionamentos, mas e se não for? O caos. Sim, o caos é uma forma de começar a organização interna. Redirecionar. Arrumar. Reciclar. Liberar espaço. Jogar fora. Sua mente, seu território. Sua organização. Agora imagine que sua mente é o planeta Terra. Cada continente seria responsável pela organização de alguma estrutura do sistema mental. Guerra. Paz. Vida. Morte. Riqueza. Pobreza. Sim. Tudo isso faz parte do nosso território psi. Quantas vezes criamos guerras internas. Pensamentos de morte. Mesmo assim sobrevivemos. Sofrimentos e alegrias. Ajuste. Um lugar para chamar de seu. Seu território psi.


Sua mente é o lugar mais precioso que tem. Cuidar dela é es-

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sencial. Imagine que sua mente é uma fábrica. Capaz de produzir o que você desejar. Sim, Ela é. E nem sabemos o potencial dela e sua capacidade de produção. Explorar. Vencer medos. Ir além. Você pode criar o que quiser. No seu território psi. No seu lugar. Um lugar para chamar de SEU. Santiaguense, Psicóloga, Escritora Colunista, Docente de Pós-Graduação, Especialista em Psico-oncologia e Neuropsicopedagogia Educação Especial Inclusiva.


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Preferidos Sirlei Gatiboni

M

eus preferidos são os vira-latas, esses com tudo quanto é raça misturada, esses que nem sabem como é a árvore genealógica, esses que precisam dar nó em pingo d’água

para sobreviver, que vivem lutando em muitas frentes para ganhar o pão, “fazem biscate, vendem revistas, juntam baganas”. Gosto dos bregas, dos que usam addidas falsificado. Dos que usam os raybans de camelô. Gosto desses que fazem gambiarras, que desvestem um santo para vestir outro, que fazem dívida nova para pagar a antiga. Amo esses que trabalham de dia para comer de noite, e ainda dividem a boia da noite com o vizinho que não tem. Aliás, já fui a vizinha que não tinha e comigo já dividiram a boia. Gosto de quem usa perfume barato e tem cheiro de suor. Meus preferidos são expertos em sobrevivência extrema, e dão risada, e ouvem tudo quanto é música, e dançam e rebolam “e ainda consolam”, não podem ver alguém numa braba sem correr em socorro. Gosto desses vira-latas e seus cuscos vira-latas. Não desgosto dos «de pedigree», embora não os conheça bem, mas dizem que tem uns que até como a gente são.

Nascida em 07/07/1970, na cidade de São Luiz Gonzaga, santiaguense desde criança, sonhadora e idealista.


Um texto para mulheres que precisam superar

199

Sofia Ribeiro

O

fim de um relacionamento faz com que repensamos certas atitudes e decisões. Acredito que voltar atrás, não nos coloque como uma pessoa inferior. Mas sim, como alguém que

pretende refazer suas escolhas para seguir em frente. O sentimento que existia durante o tempo da relação não vai ser apagado do dia para a noite. As lembranças dos momentos permanecerão durante a caminhada da superação. Porque ninguém disse que seria fácil ou simples ou rápido. O que precisa ser levado em consideração é a vontade de cada mulher que se vê solteira, depois de anos em um relacionamento, saudável ou não, de levar a sério esse término e seguir com sua vida, enfrentando o medo e a saudade. Mulher, independente de como você se encontra hoje, se ainda chora ou se está feliz, se já começou a sair e encontrar atividades que gosta de fazer ou permanece em casa, se conseguiu se redescobrir ou prefere lembrar do que faziam juntos.... Peço que olhe para si. Olhe para a mulher que você é, para tudo que já suportou, para os medos que enfrentou e para as batalhas que venceu sozinha. Acredita mesmo que não consegue viver sem a pessoa que foi embora? Acredita mesmo que é incapaz de ser feliz de novo, sozinha ou acompanhada?


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Você pode ter sido pega de surpresa com o fim do relacionamento ou você esteve adiando esse fim por muito tempo. De qualquer forma, há sentimentos feridos e uma esperança de voltar, os bons momentos permanecem no pensamento e esquecemos o que motivou o término. Porque assim, a dor aumenta, o choro recomeça e a sensação de dependência se faz mais forte. Mas, não se preocupe, os dias vão passar e tudo isso ameniza. Você cria uma nova rotina, procura suas amigas, revê alguns conhecidos e a vida segue e você vai sair dessa superação ainda mais forte e amando quem importa: a si mesma. Mulher independente. Mora no interior de uma pequena cidade do Rio Grande do Sul. Aos 42 anos, está casada com um homem inteligente e companheiro e tem duas filhas: Alice e Sibila. Mas que já aprendeu a superar e se reencontrar.


Primeiro de abril

201

Sofia Viero Sorgetzt

P

arecia até deboche; uma tarde ensolarada que não podia ser aproveitada. Era o começo do isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19. Dulce andava chateada, de baixo astral,

sensação de coração partido, as cicatrizes emocionais que teimavam em seguir doendo... Mas eis que, já na madrugada, uma surpresa chegou a fazê-la rir: à tarde encomendara pão, queijo, água com gás e guaraná do mercadinho ao lado de casa. Precisava tomar um “refri” gelado porque, acompanhando os maus sentimentos, a azia era outro incômodo e o estoque das bebidas com gás estava zerado. O pão também havia acabado. Dulce telefonou e perguntou à dona do mercadinho o que havia de pão “novinho”: - Cacetinho, cervejinha, massinha…(sic) Hesitando um pouco, Dulce pediu três de cada. O entregador levou as compras em poucos minutos e ela correu para se servir do guaraná gelado. Enquanto tomava uns goles para aliviar o desconforto no estômago, tratou de preparar uma torrada de “cacetinho” com queijo. Os pães, cada qual em uma sacolinha, ainda estavam quentes e, ao ver que tinham vindo aparentemente de acordo com seu pedido, nem lhe passou pela cabeça observar os pormenores dos pães. Por volta de 1h da manhã do primeiro de abril, Dulce deparou-se com a piada pronta: pensou em comer um pão massinha, que, dependendo do lugar, também chamam de fofinho ou sovadinho, e,


202

pensando se tratar de um massinha “neutro”, ou seja, sem recheio, viu umas coisinhas estranhas no pão através da sacola: era massinha doce com creme de baunilha e farofinha! Curiosamente, isso já havia acontecido anos antes com Dulce em Santa Maria: convidada para tomar o café do fim da tarde na casa de uma amiga, passou numa padaria na avenida Nossa Senhora das Dores e seguiu levando “faceira” os pães massinhas supostamente neutros para dividir com a amiga. Já na hora do café, Dulce mordeu o pão, olhou para dentro dele e começou a rir da “surpresinha” com a qual havia se deparado. A amiga e seu “crush” já estavam com cara de desespero. A surpresa? O pãozinho era recheado com goiabada. A piadinha do massinha doce pareceu uma mensagem do mundo astral pra tentar aliviar o “amargor das dores dessa vida”, como cantou Maysa. Tomara! Era o que Dulce estava precisando. Preparou um cafezinho para acompanhar a doce surpresa e os devaneios daquela madrugada. O café à noite nunca tirou o sono de Dulce. Nesse sentido, o café não faz nem cócegas. Quisera que as “voadoras no peito”, os “tapas na cara” e os “socos no estômago” que a vida sempre lhe apresentou também não a atingissem tanto. Vida que segue. Jornalista, servidora pública, mãe e produtora de conteúdo “flopada” nas redes sociais. Sou @sofiasorgetzt em todas elas. Escreve por trabalho, por amor e por diversão.


Eterno Amor Sônia Odete Reis Leitemperger

A

noite cai lentamente Perdida na imensidão Traz lamentos de saudades

E soluços de paixão As feridas da alma Que não cicatriza Um amor do passado Que o tempo eterniza Um coração triste

A vida transformou-se

Que sofre calado

Num triste sofrer

Cai um pranto sentido

Que esse amor tão grande

Dos olhos molhados

Não deixa esquecer Amargura e tristeza Nesse desatino Que os passos da vida Cumpre o seu destino

203


204

Se eu pudesse te ver E sentir teu calor Murmurar bem baixinho Dorme meu amor Ia pedir que durma Sei que estás cansado Te prometo que um dia Estarei a teu lado Eu vou te encontrar

O dia em que tu fores

Seja onde tu for

Tão só sem ninguém

Porque ti amo de mais

Pelo teu caminho

E tu és meu amor

Eu sigo também Não teremos adeus E nem despedida Nosso amor é eterno É além desta vida

Prenda simples, que traz consigo o respeito pelas tradições do Rio Grande , honra o lenço que usa, cultiva o amor pelas poesias inspiradas na realidade e nas lembranças do pago. Representa a legítima mulher gaúcha e c onserva o amor pelo Rio Grande do Sul.


205

Tropeada

Tânia Vieira

O

uvi gritos hera, hera, toca, toca, pega lá. Daí sai pra olhar era uma tropa que passava, não era uma tropa estourada,

porque tropeiro tinha lá. Que saudades que me deu do meu pai e do meu avô, vendo uma

tropa passar, parece até que ouvi os gritos deles no ar, mas foi só uma saudade, pois onde eles estão continuam a tropear. Mulher do Campo.


206

Coronavirus Thayná da Silva Oliveira

V

ou falar para vocês De um assunto preocupante Sobre esse vírus invisível

Que traz problemas constantes Pois todo cuidado é pouco E o perigo é gigante Foi no mês dezembro De dois mil e dezenove O vírus surgiu na China Cujo o mal dói e comove Se espalhando pelo mundo Mesmo que alguém desaprove Rádios e telejornais Anunciavam o acontecido Muitos nem se preocupavam Desconheciam o inimigo Porém hoje entenderam Que esse vírus é um perigo


O mundo sentiu o medo Da constante contaminação Fique em casa, use máscara Lave muito bem as mãos Cada um faz o seu dever Evitando aglomeração Milhares de vidas perdidas Por esse vírus traiçoeiro Hospitais superlotados Pessoas em desespero Pois não há nem despedidas Nos momentos derradeiros Aos médicos e enfermeiros Temos grande gratidão Pois trabalham dia e noite Com muita dedicação Arriscando a própria vida Pra salvar a população Aos cientistas do mundo inteiro Peço a proteção divina Que em seus laboratórios Tenham muita disciplina Nesta luta incansável De produzir uma vacina

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208

Nessas épocas difíceis Só nos resta rezar Para Deus nos proteger E também o mundo curar Tenho esperança que em breve Tudo ao normal voltará Em tempos de pandemia Tudo é muito diferente Não posso ir à escola Nem visitar os meus parentes Preciso ficar em casa Para não ficar doente Abraçar os meus amigos Compartilhar o chimarrão Quando lembro disso tudo Me aperta o coração Aos costumes do meu pago Eu tenho grande paixão Aqui vou finalizando Para não me exceder Ainda me sinto criança Tenho muito a aprender Mas esse tal coronavírus Eu nunca vou esquecer

Tenho 15 anos, poetisa, artesã, é 1° prenda do CTG Rincão do Pica-Pau.


Perdão, não sei se mereço não

209

Thaís Cortes Sagrilo Espero um dia receber de vocês um perdão Por tê-los colocado nesse mundo de ilusão Onde a natureza sofre com a destruição E a sociedade em desunião Espero que me perdoem por eu ter pensado apenas em mim Quando eu quis trazer vocês em um mundo assim Não lembrei que eu teria fim E que vocês precisarão de mim Usei apenas o coração E guardei a minha razão Onde estava a minha percepção, Quando não lembrei da falta de pessoas para estender a mão? Vocês me ensinaram a olhar E com isso eu passei a pensar Que aqui não seria um bom lugar Para quem está disposto a amar Não pensei no preconceito Quando mal haviam nascido direito E já haviam pessoas batendo no peito


210

Que vocês não eram perfeitos Para eles perfeição está atrelada A todos viverem igual a uma manada Imersos em uma ilusão compartilhada Em uma vida preenchida de nada Espero que eu consiga compensar Oferecendo aqui um lugar Onde vocês passam cantar, dançar, brincar E principalmente voar Eu não sei o que será do mundo, enfim Mas no que depender de mim Farei tudo que puder, sim Para que esse mundo não seja em todo ruim Pensando bem, não mereço perdão Que mãe colocaria os filhos nesse mundo de exclusão, Cheio de incompreensão? Entretanto, saibam que o meu colo sempre terão. E que a nossa visão idealizada, pode até não dar em nada Mas onde houver uma pessoa sendo amada, E a natureza preservada Lá ela será compartilhada.

Poesia escrita para os meus filhos, dois meninos autistas.


Medo que o medo tem daqueles que driblam incertezas

211

Vanessa Moletta Pazza

S

ou uma serva fiel, uma perseguidora desesperada por faíscas de ideias, meu vício é viver anotando coisas. Nasci com a concentração necessária para desligar-me do mun-

do e escrever onde der e quando der. Esse é meu dom, distrair do que me parece inútil e focar no fluir do que meu pensamento desejar, não me torturo mais. Queria ter inspirações em uma confortável casa de campo, com o frio que faz aqui no Sul em uma tarde ensolarada de quarta-feira, diante do aquecer depois da geada, de forma planejada, premeditada, pontual. Mas a inspiração vem de onde ela quer vir e a plenitude resume-se em estar atenta para ela, ou distraída o suficiente do racional para ouvi-la. Vez ou outra estou como agora, sou persuadida por textos mentais, letrinhas que pulam como um poup-up e formam frases que me importunam até que sejam escritas. Nesse momento paro tudo para escrever antes que desapareçam, foco nisso enquanto meus colegas de trabalho discutem sobre as estimativas de plantio para essa safra. Ontem fui persuadida enquanto comia uma torrada e amanhã serei quando eu estiver na fila do banco olhando boletos. Já aconteceu na partida de bilhar, no carro e no barulho da cortadeira de grama do vizinho.


212

Esse é o controle de não ter controle de nada e não estar no controle dá muito medo. Medo de permitir fluir, sabendo que é preciso soltar o texto que se move, sem saber pra onde a história vai. Nesses devaneios, vez ou outra, me pego pensando sobre os medos que tenho. Medo do julgamento, medo das críticas, medo da exposição, medo de aparecer, o medo de ser vulnerável. Já ouvi dizer que o medo existe para nos proteger, mas meu medo é acreditar que ele está me protegendo de mim, o medo que o meu medo tem de ser eu, de encontrar e viver minha individualidade e verdade. Será que o medo nada mais é do que um fator condicionante que nos limita e vem acompanhado de uma ideia vendida de algo ou alguém que virá nos salvar? Certa vez comprei uma ideia perigosa, o medo de ficar sozinha e envelhecer, eu quero envelhecer porque a alternativa seria morrer jovem. Embora eu não confesse, também tenho medo de morrer, porque gosto muito da oportunidade de estar viva sabendo que existem milhões de almas a espera do que estou desfrutando hoje, para melhorar, servindo um propósito maior, que não é meu, porque aqui sou pequena, sou apenas um instrumento, uma porta-voz da espiritualidade e de toda essa grandiosidade que sabemos e entendemos tão pouco a respeito. Só sei que, temporariamente, me utilizo de um corpo físico para algo maior que nesse exato momento não me recordo, porque se recordasse perderia totalmente o sentido à evolução.


213 Voltando ao medo de envelhecer sozinha e considerando que envelhecer é um desejo que tenho, fazer isso só poderia ser uma escolha e focada nesse medo absurdo entrei em muitos relacionamentos íntimos com seres tão inseguros e amedrontados quanto eu. As frustrações vieram seguidas do medo de viver exatamente isso, os fracassos amorosos. Ironia ou não, um medo que nem era meu, que me impuseram, fez com que me perdesse de mim mesma e esquecesse a minha essência de ser livre. Quantas outras mulheres assim como eu, presas e paralisadas pelo medo, seguem vivendo uma morte em vida? Quantas deixam de enviar seus textos, publicar seus escritos, ou fazer algo que desejam por insegurança em driblar incertezas? O medo que tenho da morte não está apenas embasado em sair dessa experiência, mas em abandonar lá sem ter concluído o que vim fazer, ou sem de fato conseguir compreender o que é viver. Nascer, crescer e morrer como um invisível, sem acrescentar nada, sem deixar nada nesse lugar – uma de minhas utopias é crer que vou deixar esse mundo um lugar melhor depois que eu passar por ele – eu quero ser fator de soma na vida do maior número de pessoas que eu encontrar, seja através da fala ou da escrita, eu quero aprender com cada um e eu quero que possamos trocar nossas vivências, para que juntas possamos ser gratas porque tudo que fizemos foi por amor. Espero que essa reflexão tenha tocado gentilmente o teu coração e que assim eu me eternize em ti, porque ninguém passa por nós de forma vã, eu quero ficar no coração de cada um através de positivas


214

partilhas, quero ser lembrada como a mulher sonhadora que sou e quem sabe o que escrevo possa te influenciar e outras para que encontrem a sua verdade e imbuídas dos mais elevados sentimentos, espalhem luz, iluminando cada ambiente que frequentam. Dizem que o medo tem pavor das mulheres corajosas e que coragem não é a ausência do medo, mas nossa capacidade de realizar apesar dele. Esse texto é um convite para que possamos nos reconciliar com nós mesmas, desafiando a coragem suficiente para seres tu, já que essa vida é curta demais para que algo possa te impedir ou parar. Qual o tamanho da coragem que tens hoje? Que o medo de reconhecer tua potência não te impeça de viver uma existência verdadeiramente extraordinária. Se leste até aqui, parte dos medos mencionados já não existem mais, não estou envelhecendo só, nem morrerei sem somar, porque hoje fui parte de ti através dessas palavras. Desejo que possamos sonhar e executar na mesma proporção. Tu és grande!

Meu nome é Vanessa Moletta Pazza, nasci em Santiago-RS no dia 07 de fevereiro de 1994, sou uma perseguidora desesperada por faíscas de ideia, uma serva fiel das palavras, que vez ou outra permite distrair-se para soltar devaneios que se movem. Minha esperança é eternizar momentos de troca através dos cacos que escrevo, fractais de cada dor que capturei pelo caminho.


GRATIDÃO a memória do coração

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Verena Poltosi Albiere

T

alvez ser grato signifique reconhecer o que temos, através daquilo que somos. A gratidão nos faz reconhecer tudo o que já conquistamos e nos motiva a ir em busca dos nossos objetivos.

Ela nos mostra que, riqueza é ter uma família e bons amigos, abundância é ter alimento na mesa e prioridade é o momento que se vive hoje. A gratidão dá sentido ao que já vivemos, traz paz para o hoje e cria uma visão para o futuro. Gratidão pelas pessoas que cruzam nosso caminho e decidem compartilhá-lo conosco. Mesmo que muitas vezes, ele seja longo, árduo e sinuoso. Gratidão pelos momentos, bons e ruins aceitando o nosso caminho, percorrendo-o com fé e esperança. Na certeza de que, no tempo certo tudo ficará bem e no seu devido lugar. GRATIDÃO! Aquariana, alma leve e coração livre.


216

A máquina que nunca desliga Victória Nunes Ramos

E

xiste uma máquina que nunca desliga. Se ela desliga, um emaranhado de sistemas para de funcionar. Por natureza, tem horas que ela é muito solicitada. Precisa trabalhar, precisa ser rá-

pida, não pode falhar. Existem outras que fica ali, suspensa. Nesse período ela recupera algumas funções, mas está ali. Acontece que, em alguns momentos, a máquina permanece em plena atividade o tempo todo, até mesmo quando não é solicitada. Ela dá um bug. Você suspende, e ela não suspende. Ela trabalha sem parar, mesmo você repetindo que ela já cumpriu o seu dever do dia. Uma máquina que nunca suspende passa a falhar. Os defeitos começam pequenos, os travamentos passam a atrasar o trabalho e ela já não funciona como antes. Uma máquina projetada para não falhar, agora falha. E aí... Só formatando. O nome da máquina é cérebro... E a formatação se chama férias!

Tem 22 anos, Engenheira Civil pela Universidade Federal de Santa Maria


Esses Tempos

217

Virginia Braga dal Carobo

Q

uando olhamos para dentro de nós mesmos vemos esperanças que trafegam, silêncios que gritam enquanto vivemos. Esses tempos nunca são fáceis e não os são. Sobrevivemos

as agruras que expostos estamos, no entanto talvez não tenhamos aprendido quase nada. Amigos, parentes e amores partiram numa pandemia dizimadora. Mesmo que ela ainda esteja entre nós, minimizamos os cuidados e percebemos que a maioria se aglutina em eventos e espaços como se a vida não estivesse exposta a este vale tudo. Há uma pressa em viver mesmo que se exponham a um risco de minimizar este tempo. A vida exige cautela. Os sonhos postergados vivem e ganham a dimensão das esperas. Impera o movimento do cuidar-se e do cuidar do outro. O imediato chama pela sensatez., sempre há a possibilidade de ser: Ser melhor, ser mais bonita, mais feliz e tudo que nos leva a busca de uma felicidade, de uma plenitude. Como ser pleno nestes tempos? Onde o equilíbrio é o desafio constante. Há necessidade em descobrir pequenas felicidades, aquelas que nos visitam sob a forma de amizades, sóis que nos iluminam, flores que nos trazem aromas, canto dos pássaros e manhãs que se desenham na magia dos sentidos. Redescobrir-se é a palavra de ordem. Descobrir que a vida cintila no detalhe e é pelo detalhe que vivos estamos. A máscara é um entalhe que esconde parte do rosto, mas é um detalhe no universo


218

de conservar-se vivo. Receber o antídoto para o mal que nos assola se faz canção e melodia que entoam prognósticos de vida. Vivamos a esperança de dias de largos sorrisos em que os desafios em descortinar esses tempos nos sejam oportunidades de aprendizado, sobretudo que possamos externar a fé que move montanhas no ideal de ser e fazer-se mais humano e, por isso, mais confiáveis enquanto esses tempos assim nos exigirem.


"Neste livro nos deparamos com mulheres que colocam seus anseios, suas dúvidas e algumas certezas. Contam suas vivências e acima de tudo fazem Arte, em um momento que ela é tão necessária."


Articles inside

Vanessa Moletta Pazza

4min
pages 212-215

Victória Nunes Ramos

1min
page 217

Virginia Braga dal Carobos

1min
pages 218-220

Thaís Cortes Sagrilo

1min
pages 210-211

Thayná da Silva Oliveira

1min
pages 207-209

Sofia Ribeiro

1min
pages 200-201

Sônia Odete Reis Leitemperger

1min
pages 204-205

Silvana Fiorenza Moraes

1min
pages 194-195

Sofia Viero Sorgetzt

2min
pages 202-203

Sirlei Gatiboni

1min
page 199

Rúbia Santi Pozzatto

2min
pages 187-188

Sandra Maira dos Santos da Luz

3min
pages 189-191

Rozelaine Aparecida Martins

1min
page 186

Rosemari Bragato

7min
pages 180-185

Rosa Eli Viero Sarturi

1min
pages 176-177

Rosa Pacheco

1min
pages 178-179

Renata Lemos da Silva

1min
pages 173-174

Rita de Cássia Nunes Paludett

1min
page 175

Rafaela Correa Almeida

1min
page 171

Priscila Reolon

1min
pages 168-169

Raquel Da Silva Machado

1min
page 172

Olivaine Brum

1min
page 167

Neiva Dorneles

1min
pages 164-165

Marlene Brandão

1min
page 162

Oara de Fatima dos Santos Dorneles

1min
page 166

Natháli Fratta de Almeida

1min
page 163

Marisa de Fátima Ourique Lopes

1min
pages 159-160

Marcele Favero Almeida

1min
page 157

Mariza Machado Sagin

1min
page 161

Mara Flores Pereira

1min
page 156

Luana Diello

6min
pages 145-150

Luiza Zolin Tier

1min
page 155

Lucimara Quadros

1min
page 153

Luciana Strunkis

1min
pages 151-152

Lohana Valentini

2min
pages 143-144

Lilian Ferraz Zanella Paz

1min
pages 141-142

Lilian Balbueno

1min
page 140

Karoline Oliveira de Souza Herbichi

2min
pages 125-126

Lígia Rosso

2min
pages 138-139

Leiza Maria Goulart Xavier

1min
page 134

Letícia Flores Solner de Oliveira

1min
page 135

Larissa Poltosi Camargo Madril Lançanova

7min
pages 128-133

Juliana Borges

1min
page 122

Juliana Aline Zucolotto

1min
page 121

Kaylane Fernandes

2min
pages 123-124

Júlia Cordeiro das Chagas

1min
page 120

Isabel Cristina da Rosa

1min
page 114

Jane Tusi

1min
page 117

Júlia Bem Tolfo

1min
page 119

Ilma S. Bernardi

1min
page 112

Gisele Marchi Pinto Dornelles

1min
page 111

Indiara Fátima da Silva

1min
page 113

Isabela Oliveira Carlosso

1min
pages 115-116

Geanine Bolzan Cogo

2min
pages 109-110

Fernanda Chaves do Nascimento

1min
page 108

Erilaine Perez

2min
pages 102-103

Fátima Friedriczewski

1min
pages 106-107

Fabiani Nunes Turchetti

1min
pages 104-105

Elisete Heydet Cattelan

1min
pages 96-97

Enadir Obregon Vielmo

4min
pages 98-101

Elisangela dos Santos Amaral

2min
pages 94-95

Elisandra Minozzo

1min
pages 92-93

Eleandra Bonatto

1min
pages 89-90

Eliane Aparecida Dorneles Lopes Bessa

1min
page 91

Edith Nunes Silveira

1min
pages 85-86

Eduarda Bittencourt

1min
pages 87-88

Deise Pinto Marchezan

1min
page 82

Dirce Rejane Pimenta Facin

1min
pages 83-84

Débora Melo

1min
pages 80-81

Daniela Arce

1min
page 73

Cristine Xavier Miguel Guerim

1min
pages 69-70

Darlene Honório Medeiros(Darla Medeiros

3min
pages 75-79

Cristiane de Campos Salbego

2min
pages 71-72

Darlene Cristina Colaço Chaves

1min
page 74

Cintia do Carmo

2min
pages 61-62

Cisnara Pires Amaral

5min
pages 64-68

Catharina Antochevis Pereira

1min
page 60

Caroline Kucera dos Reis

1min
pages 58-59

Clarice Xavier

1min
page 56

Carla Rodrigues

3min
pages 53-55

Camilla Cruz

4min
pages 48-50

Capsina

1min
pages 51-52

Arlete Gudolle Lopes

3min
pages 43-45

Arlete Cossentino

1min
page 42

Camila Canterle Jornada (Mila Journée

2min
pages 46-47

Antonia Nery Vanti (Vyrena

1min
pages 40-41

Angelita Xavier

1min
page 39

Ana Paula Milani

3min
pages 26-28

Alessandra Betin Machado

1min
page 19

Aldorete Martins

1min
page 18

Angela Maria Genro

7min
pages 33-38

Ana Paula Sampaio Duarte Lima

1min
pages 29-30

Amanda Gloger Turmina

2min
pages 20-22

Sobre as autoras da imagem da capa e apresentação

1min
pages 11-13
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