A Colecionadora de Canetas
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Cristiane de Campos Salbego
É
impressionante como a vida nos reserva algumas surpresas, às vezes agradáveis, outras nem tanto. E essa é a história de uma garota muito especial. Ela tinha uma verdadeira fixação por ca-
netas, de todas as cores, tamanhos e marcas, de sublinhar, stabilos, de escrever, para pintar ou apenas para colecionar mais uma e mais outra e ... Enfim, ia além de uma fixação, pois representava para ela a própria condição de sentir-se viva e participante do universo. De repente, uma pandemia mundial assolou o mundo e a menina se viu acuada, totalmente impedida de expor seus sentimentos mais sinceros e puros graças àquela enorme coleção de canetas, era quase uma centena (e seu desejo oculto era ultrapassar em muito esse próprio recorde). E, pasmem, sua ida a algum lugar era primeiro à papelaria para comprar ou apenas observar mais um modelo novo de esferográfica ou similar. E retomando o resquício pandêmico, a frustração de não poder ter /obter/utilizar seu recurso mais precioso, fez com que perdesse para ela o sentido de muitos propósitos: o de ler, de escrever, de estudar, de fazer amigos, de se desenvolver como ser social, pensante e ativo. A natureza pregou muitas peças na humanidade, mas a última, certamente, foi a mais avassaladora do ponto de vista humano e científico. Não só a colecionadora de canetas se frustrou, como a humanidade colecionadora de supérfluos e outros tantos pormenores se viu diante de um desafio imenso: encarar a morte e a doença e a própria estima.