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Solitude Rúbia Santi Pozzatto
O
uvia-se o gotejar da chuva lá fora, ela virou para o lado e, ali na sua cama, não havia ninguém além de si. Sorriu fechando os olhos, e agradeceu por aquele dia ser exatamente o que ela
precisava; manhã de sábado chuvosa era tudo que ela queria. Nas redes sociais, fotos de casais sorridentes, famílias alegres comemoravam o aniversário de alguém. Ela sorriu pois houve um tempo que aquilo doía. Agora não mais. Nunca quis lugar que não fosse seu, e por um tempo doeu perceber que insistiu em estar em um que não era o dela. Sentia falta da família, de ter uma companhia mas compreendia a grandiosidade, importância e - porque não dizer- beleza daquele momento sozinha. Fez um chá, abriu a janela para observar a chuva que calmamente deixava entrar seu frescor pela casa; observou que a fumaça que emergia da xícara de chá combinava com a chuva. Em algum lugar uma criança gritou, carros passavam raramente deixando o ambiente quase à mercê da água tocando o chão. Enquanto escorregava na poltrona pensou: “A vida canta para quem sabe ouvir. E isso, seria solidão ou liberdade?” questionou-se. Já não era a primeira opção, pois havia aprendido escrever sua história, com o papel e caneta que tivesse. Sorriu ao constatar que a vida era generosa com ela. Terminou sua leitura da semana, enviou algumas mensagens, preparou algo para comer. Aquele sábado estava diferente, sentia-se acolhida, confortável, feliz e grata na sua respeitável solitude.