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Aberta Luana Diello
P
or anos o fato de ser filha de uma Maria e João Qualquer me fez ter vergonha do bairro que cresci. As desigualdades que enfrentei e o constante silêncio que, conversava com a vontade de ter
mais um pedacinho de pão, também direito dos meus irmãos, nunca passamos fome, mas muita vontade...e o João Qualquer? Eu amo a centelha divina que habita nele, mas hoje não quero lhes contar sobre homens, quero falar de nós, de ventre, força, ancestralidade, curas e toda aquela conversa franca que nós necessitamos, de mulher para mulher. Os anos se passaram e aqui agora, adulta, divorciada e mãe, lembro de algumas perguntas que não fiz por medo de desrespeitar aquela que se fez portal para que eu pudesse conhecer esse mundo, lembro de uma tarde que cheguei mais cedo da escola, tinha bolinho de chuva sobre a mesa e café fresquinho, mas ninguém estava na cozinha, ouvi um choro bem baixinho e fui até seu quarto, ela estava de joelhos. Coloquei o prato com bolinhos na cama e fiquei de joelhos ao lado dela, sem entender o que estava acontecendo, ela me abraçou e em um tom de alívio desesperador, fungando disse: - Obrigada Deus! - Não precisa chorar mãe, conta pra mim, ninguém vai saber, nem Deus. Ela riu, deslizou a mão no meu rosto 5 vezes e me fez uma proposta e quanto passava-me batom vermelho, brincávamos sempre