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O Rio Lohana Valentini
N
aquele fim de tarde eu apenas disse que ia caminhar no campo. E sai correndo, corri muito e com muita vontade de chegar rápido até o rio, na esperança de que tu estivesses lá, de
novo. E que não fugisse como da primeira vez, queria saber quem é aquele guri, talvez uma companhia no meio da vastidão dos pampas, alguém diferente pra conversar e principalmente, acho que tem poucos anos de diferença de mim. Quando fui chegando perto do rio, tu estavas lá, parado, fazendo parte da paisagem, como se tu pertencesses a ela, como se tu estivesses sempre ali, só eu que nunca tinha ido tão longe de casa. Aproximei-me bem devagar, com frio na barriga, uma mistura de nervosismo com ansiedade, torcendo pra que tu não saísses correndo, mas não, tu ficaste ali, parado e eu me aproximei até a margem do rio e estávamos nós dois, um de cada lado da margem, separados pelo rio. O rio nos dividia, tão próximos, mas parecia um abismo, afinal não era só um rio, era uma fronteira, do lado de cá o Uruguai, do lado de lá, o Rio Grande do Sul, nos separando. Como pode? É somente um rio, separando eu de ti, o Uruguai do Rio Grande, a nossa propriedade e a de vocês. O silêncio era mútuo dos dois lados, o vento passava livremente para ambos e nós ali, parados, um olhando para outro, escutando o assovio do vento, o barulho da correnteza do rio, porém o silêncio pesava sobre nós, assim como as palavras, que não tinham forças