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A arquitetura das estações do Metrô de São Paulo
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omplexos estudos de planejamento, envolvendo aspectos históricos, sociais, físicos, geológicos, ambientais, tecnológicos e econômicos precedem a definição do traçado para a inserção de sistemas de transporte de alta capacidade em solo urbano. A partir destes estudos, realizados em escala macro, iniciam-se as investigações pontuais aprofundadas para subsidiar o processo de projeto para a implantação de estações de metrô. Os estudos realizados na década de 1960 para construção da primeira linha de metrô no Brasil, a Norte Sul – atual Linha 1-Azul – do Metrô de São Paulo, foram contratados pelo consórcio HMD - Hochtief/ Montreal/ Deconsult e gerenciados pela empresa Promon Engenharia, que designou o arquiteto Marcello Fragelli para o estabelecimento das diretrizes de concepção dos espaços de estações, a partir das quais se moldou o processo que, ainda hoje, orienta o exercício de projeto das instalações metroviárias ( figura 1). No início, a arquitetura das estações
FABIANA NONOGAKI*, MARIA OLIVIA MARTIN**
refletia, essencialmente, sua funcionalidade de transporte, com um conjunto de espaços de transição que conduziam os usuários do acesso até o embarque e, em sentido inverso, às saídas. Aos poucos, novas funcionalidades foram incorporadas aos ambientes que passaram a agregar maior qualidade, considerando as necessidades de empregados e a adição de atividades que convidam a um tempo maior de permanência dos usuários nas estações, tais como a oferta de serviços, cultura, lazer e compras. Nesse contexto, a solução do projeto arquitetônico de uma estação é resultado de um processo estabelecido entre as condicionantes físicas impostas pela área de intervenção, o método construtivo adotado, o programa de necessidades e premissas, os requisitos técnicos e os fatores político-sociais intervenientes. Este artigo pretende apresentar a metodologia projetual da arquitetura de estações, ancorada em uma sequência de fatos históricos ocorridos ao longo dos 51 anos da Companhia do Metrô, bem como os aspectos relevantes que influenciaram as decisões por novas diretrizes de concepção adotadas nos projetos. O método const r ut i vo adotado era pr edominantemente subterrâneo conhecido como trincheira ou VCA - Vala a Céu Aberto, utilizado nos túneis de vias e estações, caracterizado por grandes aberturas com paredes laterais de contenção por escoras ou talude, utilizando o rebaixamento do nível de água e a construção de paredes, pilares centrais e lajes com posterior aterro até o nível Figura 1 - Perspectiva da Estação Armênia - Linha Norte Sul (1-Azul); da superfície. Livro Azul - Volume 2 com estudos do consórcio a HMD; Tal intervenFoto início da construção do Metrô pelo Prefeito Faria LIma
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ção se caracterizava pela destruição da área de implantação durante o período de obra, com profundas interferências e impactos no ambiente e infraestrutura (trajetos de ônibus, adutoras e troncos coletores), impondo desvios de tráfego já que o traçado seguia as faixas ocupadas pelas vias públicas. Foi a primeira obra de porte realizada no subsolo em meio urbano no país. As dificuldades técnicas e a resistência da população foram superadas pela conjuntura política e intenso trabalho de relacionamento com a comunidade (figura 2).
Figura 2 - Método trincheira ou VCA - vala a céu aberto para construção do trecho sul, torres de ventilação da Estação Liberdade
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