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Metrô de São Paulo e as universidades paulistas
JOSÉ ROBERTO CARDOSO*
Quando foi criada a Cia. do Metropolitano de São Paulo, junto com ela veio o grande desafio de implantar a primeira linha metroviária de grande capacidade da América Latina com acionamento através da eletrônica de potência.
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A engenharia nacional não tinha experiência nesta área, de modo que havia necessidade da formação de nova geração de engenheiros, pois até em Paris o acionamento, via eletrônica de potência, era novidade.
Não foi só a eletrônica de potência a novidade que aparecia junto com a nova empresa, mas também a tecnologia de construção de túneis, de estações, terceiro trilho e, sobretudo, de material rodante.
Plinio Assmann, seu primeiro presidente, lançou-se na tarefa de construir a grande equipe que daria como resultado final a companhia que se tornaria referência mundial de desempenho e eficiência.
Plinio sabia que a inteligência da equipe não é a soma das inteligências individuais, de modo que estabeleceu vínculos de cooperação com as universidades paulistas para que, juntas com o Metrô, produzissem as tecnologias necessárias para levar o projeto ao bom termo.
O entusiasmo oriundo dos resultados obtidos, fruto das diretrizes emanadas pela companhia, foi justificado, pois mudou o paradigma de que transporte público no Brasil era sinônimo de mal-uso, sujeira, manutenção precária e cuidado com o usuário.
Pesquisas sobre material rodante, via permanente, controle, sinalização e segurança começaram a fazer parte do portfólio de pesquisas das universidades paulistas.
Uma vez concluída, havia o desafio da operação. Operar com segurança linha com aquela capacidade de transporte, era algo que nunca havia sido feito no hemisfério sul. Mais uma vez a parceria com a universidade funcionou, gerando o mais audacioso Centro de Controle e Operações, jamais construído em nosso país.
A pós-graduação se beneficiou muito com esta parceria, pois levou a atração de talentos, que buscaram a academia para desenvolver dissertações e teses na área metro ferroviária, fato que não ocorria há décadas, devido à ausência de investimentos neste setor.
Todo este esforço deu visibilidade mundial à tecnologia nacional nesta área, de modo que não só a Academia, mas também o próprio Metrô foi acionado para transferir tecnologia e conhecimento para companhias metropolitanas nascentes no país e fora dele.
Várias spin-off surgiram, que colocaram o Brasil como um dos centros internacionais geradores de tecnologia metroviária. Várias empresas de consultoria, que realizaram projetos para o Metrô de São Paulo foram contratadas para projetos semelhantes em países europeus, latino americanos e América do Norte.
O sucesso do projeto pode ser medido não apenas pelos elevados índices de desempenho da companhia do Metrô, que se tornaram benchmarks em diversos organismos internacionais e passaram a ser adotados em todas as demais companhias de metropolitano do país e da América Latina, mas também pela aceitação da população.
Este século foi marcado pela inauguração da primeira linha automática do Metrô em 2010, pela inauguração do primeiro monotrilho em 2014, pelo novo formato de parceria público-privada e pela reestruturação da companhia.
Após gerar conhecimentos e recursos humanos qualificados para o nosso país, o Metrô de São Paulo dará o passo que as grandes empresas mundiais do setor deram no passado. A companhia concebeu unidade de negócio para dar consultoria e formar recursos humanos qualificados fora do país, coisa que já fazia no passado, mas que agora torna-se institucionalizada através desta formalização.
Será mais uma oportunidade para enriquecer a parceria universidade x empresa que mais frutos gerou para a tecnologia metroviária em nosso país. * José Roberto Cardoso é professor titular da Escola Politécnica da USP, Coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP, membro do Conselho Superior de Estudos Avançados da Fiesp e membro do Conselho Deliberativo do Instituto de Engenharia de São Paulo E-mail: jose.cardoso@poli.usp.br