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Metrôs, espinha dorsal da mobilidade móvel e das cidades sustentáveis
ELEONORA PAZOS*
FOTO: UITP
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Oque se denomina hoje de “comunidade móvel” ou “mobile community” consiste no deslocamento de pessoas vinculadas por interesses ou objetivos compartilhados que interagem, independente da sua localização, usando a tecnologia da informação com o acesso remoto às diferentes infraestruturas existentes. Este é o novo cidadão dos espaços urbanos, conectado e também preocupado com a sustentabilidade da sua cidade. O metrô é a resposta para a mobilidade deste novo perfil de cidadão.
Originalmente projetados para combater o congestionamento nas metrópoles os sistemas de metrô conquistaram o apoio dos políticos, da comunidade empresarial e dos usuários que deles se utilizam, por demonstrarem sua notável capacidade de ajudar a acomodar o crescimento dos centros urbanos promovendo o desenvolvimento econômico e melhorando a qualidade de vida da população. Os sistemas metroferroviários são investimentos eficazes a longo prazo para tornar as cidades sustentáveis, resilientes e inteligentes.
A mobilidade coletiva é fornecida por vários modos de transporte, desde o transporte ferroviário tradicional, veículos rodoviários de todos os modelos e tamanhos, os chamados “sistemas não convencionais” (teleféricos, people mover…) até a mobilidade compartilhada mais personalizada, como táxis, compartilhamento de carros etc., cada um com seus próprios recursos operacionais e níveis de desempenho.
O UITP reconhece que todos os tipos de ações coletivas e compartilhadas de transporte têm um papel a desempenhar nas cidades e nas regiões em combinação com modos ativos como o ciclismo e o caminhar. Somente a integração bem projetada e perfeita de todos os modos complementares adequados ao local e aos seus requisitos oferecerão aos cidadãos opções de qualidade para a escolha de transporte público ou de transporte compartilhado no lugar do transporte individual.
O DESENVOLVIMENTO DOS METRÔS NO MUNDO
Os primeiros sistemas ferroviários urbanos com alta capacidade tipo metrô, ou seja, com via exclusiva, totalmente protegidos contra interferências de terceiros, remontam a 1863 em Londres. Os metrôs se desenvolveram principalmente no mundo ocidental, na União Soviética, em partes da Ásia e da América do Sul na segunda metade do século 20. Desde o novo milênio até 2018, o desenvolvimento dos metrôs no mundo tem sido exponencial, com 79 novas cidades o adotando, principalmente na Ásia, mas também na África e no Oriente Médio, refletindo as tendências globais de urbanização e desenvolvimento econômico.
Com as previsões da demanda global por mobilidade urbana dobradas em 2050, o potencial de desenvolvimento de metrôs é considerável. De 2019 a 2024, a infraestrutura metropolitana global deverá crescer 40%, com mais 25 cidades abrindo sua primeira linha (Doha, Sydney, Macau, Quito, Riyad, Hanói, Thessaloniki etc.) e outras 60 novas linhas inaugurando linhas em redes existentes.

Em 2017, os metrôs transportaram aproximadamente 53 bilhões de passageiros em 178 cidades. Considerando uma ocupação média de 1,3 passageiros por automóvel, os metrôs removem assim o equivalente a 133 milhões de carros das ruas da cidade todos os dias.
Somente com essa medida, a importância econômica e social das redes de metrô torna-se evidente.
Isto se reforça em grandes metrópoles, como São Paulo. Na lista das 30 cidades da América Latina mais competitivas, do ranking da America Economies, São Paulo fica na terceira posição, ficando atrás de Santiago do Chile e Cidade do México. Mas quando se observa um dos dados mais de perto, o investimento em transporte público, verificamos que São Paulo está em primeiro lugar liderando o ranking de investimentos. E o Metrô de São Paulo, o sistema mais eficiente da região, é o resultado destes investimentos.
MEU METRÔ: UM HERÓI DIÁRIO!
Os metrôs estão entre as infraestruturas mais críticas, complexas e valiosas para as cidades terem sucesso na competição global para atrair pessoas, talentos e negócios. Haja visto o caso da cidade de São Paulo que se encontra no ranking das cidades mais competitivas da América Latina.
Com seus trens grandes e pequenos intervalos, os metrôs oferecem capacidade de transporte superior a 60 000 passageiros por hora por direção (pphpd) e são ideais para os corredores de transporte mais usados. Metrôs são as artérias pulsantes de cidades movimentadas.
Sua construção e operação mobilizam uma vasta experiência, know-how e meios financeiros. No entanto, eles entregam alto valor econômico, social e ambiental por meio de um conjunto de externalidades positivas incomparáveis. Os benefícios são incomensuráveis e recorrentes, não ao longo de anos ou décadas, mas ao longo de gerações.
PÚBLICO DE VIAGEM
Para o público que viaja, os metrôs facilitam a vida cotidiana e maximizam as oportunidades de acesso a empregos, educação, saúde, cultura e entretenimento. Por exemplo: na reconhecida vida cultural da cidade de São Paulo, o metrô é peça fundamental para o êxito de ações como Virada Cultural, e outras atividades transportando mais de 800 000 passageiros. Sem o metrô isto seria possível?
Uma economia de tempo: as métricas são rápidas, com velocidade comercial variando tipicamente entre 30-45 km/h, mesmo em horas de pico quando os carros não conseguem dirigir acima de 15 a 20 km/h. Nas cidades congestionadas, a introdução de uma nova linha de metrô se traduz em centenas de horas pendulares salvas todos os anos, um dos impactos mais valorizados pelos usuários.
O Metrô de São Paulo nos últimos dez anos foi o sistema da América Latina que mais construiu e inaugurou novas linhas na região. Chegando ao recorde de mais de 2 bilhões de euros investidos em um único ano, e transportando mais de 1,1 bilhão de passageiros ao ano.
Para esses cidadãos, isso significava:
AUTORIDADES DA CIDADE
Para as autoridades da cidade, seus habitantes e tomadores de decisão, os metrôs atenuam os desafios do século 21 e são um investimento sólido de longo prazo. Na América Latina, não há dúvida que o governo do Estado de São Paulo, tem compreendido esta mensagem de maneira única em toda região. Apenas para citar um fato: a construção de três linhas ao mesmo tempo no ano de 2018.
Um solucionador de congestiona-
mentos: as viagens de metrô removem milhões de carros das ruas e estradas todos os dias e evitam perdas de tempo adicionais significativas que afetam as pessoas e a economia. Os indicadores ajudam a economizar bilhões de euros em perdas de congestionamento que afetam o PIB a cada ano.
Um forte facilitador do desenvolvimen-
to econômico: o bom e confiável serviço de metrô suporta economias eficientes. As 50 maiores áreas metropolitanas de PIB do mundo são todas suportadas por sistemas ferroviários urbanos – a maioria (76%) possui metrôs. As principais interrupções nos serviços de metrô são eventos raros, mas ocasionalmente oferecem uma evidência flagrante de que, sem o metrô, as cidades quase param.
Em estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicado no Journal of Environmental Management, foi analisado o impacto de contaminação na cidade de São Paulo nos dias de greve, e constatou-se um aumento de 75% a presença de partículas suspensas no ar, como o ozônio, monóxido de carbono, óxido de azoto e dióxido de enxofre, de acordo com a pesquisa. Já o número de mortes pode subir entre 8,9% e 14,2% para pessoas acima de 60 anos e com problemas cardiorrespiratórios.
Uma contribuição para a mitigação
das mudanças climáticas: o metrô pode se orgulhar hoje de um desempenho em eficiência energética que nenhum outro modo provavelmente alcançará. Os metrôs emitem 40 vezes menos CO2 por passageiro
que os carros e, na última década, muitos metrôs estão adquirindo energia renovável, a caminho de se tornarem verdadeiros emissores de carbono zero. As métricas são, portanto, um instrumento para ajudar a alcançar reduções de carbono acordadas no acordo climático de Paris. Além disso, os metrôs funcionam exclusivamente com eletricidade há mais de um século, não produzindo emissões de escape em áreas metropolitanas sensíveis. Isso, combinado com seu impacto na redução de viagens de carro, ajuda a melhorar a qualidade do ar e reduz as emissões nocivas responsáveis por doenças respiratórias, mortes prematuras e danos a edifícios e ao patrimônio da cidade.
O Metrô de São Paulo, é mais uma vez exemplo de seu compromisso sustentável. Nas emissões de gases de efeito estufa por passageiro-km está bem abaixo da média mundial: essa média está em 50 g CO2 e por p.km, e metrô em 6 g CO2 e por p.km.
Um (re) criador do espaço: o espaço é um bem precioso em áreas metropolitanas densas. Com requisitos de espaço muito limitados, os metrôs são o sistema de transporte com maior eficiência de espaço. Além
REDUÇÃO DE TEMPO DE VIAGEM EM 50% ECONOMIA DE 220 HORAS POR ANO
Figura 2 – Fonte: UITP dados estimados sobre informações das 30 redes de metrô mais carregadas
disso, promove o desenvolvimento urbano (varejo, escritório, moradia), a densificação e a verticalização acima e ao redor das estações de metrô o que permite espaço, valor e conveniência adicionais, contribuindo significativamente para a alta qualidade do ambiente e da vida urbana.
O metrô é um integrador natural de
mobilidade: com digitalização e automação, novas oportunidades aparecem para mudanças radicais na mobilidade, facilitando a transição de um negócio de ativos para um negócio de serviços. É nesse ponto que os usuários finais não possuem seus “ativos de mobilidade”, mas escolhem convenientemente um portfólio de serviços no chamado “Mobilidade como serviço”, projetado com base nas opções de transporte mais sustentáveis. Como espinha dorsal do sistema de mobilidade nos corredores mais movimentados, os metrôs são a estrutura ideal em torno da qual outros modos podem ser organizados com eficiência. As estações de metrô são os principais hubs/nós para uma conectividade conveniente e cumprem perfeitamente o papel de líder de integração na política de transporte e uso da terra de um determinado território.
Em estudo recente da DiDi/99 este papel natural de integrador está comprovado, sendo a Estação Tucuruvi da Linha 1- Azul do Metrô São Paulo o maior gerador de viagens de táxi no sistema DiDi/99.
NEGÓCIOS E INVESTIDORES
Para empresas e investidores, os metrôs oferecem confiança a longo prazo, ganhos de acessibilidade e benefícios significativos de mercado.
Um facilitador do desenvolvimento
econômico: as cidades precisam de tamanho e densidade para alcançar todo o seu potencial e serem lugares interessantes que aproximam ambições, pessoas enérgicas e criativas para gerar crescimento e riqueza. Os metrôs apoiam a concentração de pessoas e ideias que estimulam a inovação e as economias urbanas e reduzem a praga do congestionamento do tráfego. Além dos benefícios de acessibilidade e conectividade, algumas pesquisas socioeconômicas na última década identificaram uma série de benefícios econômicos mais amplos, como o efeito de aglomeração que fornece justificativa adicional para altos requisitos de investimento.
O Metrô de São Paulo mais uma vez lidera a inovação na América Latina, estabelecendo modelo de negócios operacionais únicos. As linhas 5, 15 e 17 encontravam-se em processo de licitação para concessão em 2017. Em janeiro de 2018, o consórcio que venceu a outorga ofertou um ágio de 185% sobre o preço inicial, comprovando que investir em redes metroviárias é um negócio sólido e rentável a longo prazo.
O fator de localização aumenta a con-
fiança e impulsiona o valor da terra: os metrôs são uma infraestrutura permanente que sinaliza um forte compromisso dos tomadores de decisão com a mobilidade sustentável e a acessibilidade espacial para clientes, visitantes e funcionários. Eles oferecem aos investidores forte confiança e facilitam as decisões de oportunidades de investimento. Numerosos estudos também demonstram que empresas e imóveis nas proximidades de metrôs são universalmente vistos como um local premium. Portanto, o valor de mercado das terras e propriedades nas proximidades de áreas metropolitanas aumenta, pois, os atributos de acessibilidade e conectividade das áreas metropolitanas são muito valorizados pelos promotores imobiliários.
O metrô traz também uma vantagem competitiva para atrair talentos. Entre as várias medidas disponíveis para os empregadores atraírem talentos, acessibilidade conveniente e viagens rápidas são fundamentais. Os locais de trabalho nas vizinhanças diretas das estações de metrô trazem vantagens tangíveis para obter e manter a força de trabalho, tornando-o um local fácil e gratificante para trabalhar sem o incômodo de tráfego e a procura de lugares de estacionamento.
O metrô é uma vitrine para a inovação:
mobilidade limpa, com baixo consumo de energia, totalmente automática e digital são o retrato dos metrôs modernos, com as tecnologias mais avançadas. Atualmente, os metrôs totalmente automatizados são o estado da arte, com mais de 1 000 km de linhas em serviço no mundo. Uma combinação de tecnologias e táticas de operação permite segurança e flexibilidade máximas, além de reduzir o consumo de energia e os custos operacionais. O metrô é a vitrine dos fabricantes de ferrovias e um testemunho de sua capacidade e excelência em inovação. Metrôs totalmente automatizados são o estado da arte e são os pioneiros da mobilidade digital de amanhã. O Metrô de São Paulo foi o primeiro metrô na América Latina a entrar na elite das operações automáticas.
Alguns pontos para manter um olho em ...
Além dos muitos benefícios, é preciso reconhecer que a implementação de sistemas de metrô é complexa e apresenta desafios, como segue. Alta intensidade de capital: além do investimento inicial em construção de projetos greenfield, mantendo seu valor e funcionalidade ao longo de todo o ciclo de vida, em um gerenciamento disciplinado e proativo de ativos. Um modelo econômico e comercial sólido e robusto precisa de consideração adequada para implantar todos os seus benefícios. Um processo de planejamento de longo prazo: em cidades maduras construídas, não é raro ver 10 a 20 anos decorridos entre o surgimento da primeira ideia e a abertura de uma linha. Esse longo período até a operação requer estabilidade política e esforços contínuos para gerar um alto nível de convergência e consenso entre as partes interessadas. E seguramente é esta atmosfera que o Metrô de São Paulo necessita para seguir crescendo.
CONCLUSÃO
Os metrôs têm muitos atributos positivos e podem reduzir a dependência de carros particulares. Seu desenvolvimento foi muito bem-sucedido nas últimas três décadas e continuará. É óbvio, no entanto, que é necessário um número mínimo de passageiros (acima de 15 000 a 20 000 pphpd) para garantir a relação custo-benefício.
Metrôs são bons para pessoas, negócios e sociedade. Eles oferecem benefícios técnicos, econômicos, políticos, sociais e ambientais. Eles ajudam a criar cidades habitáveis e inteligentes. A maioria das vantagens pode ser ampliada ainda mais com metrôs totalmente automatizados (GOA4).
Os metrôs só podem ser implementados com sucesso se estiverem integrados a outros modos de transporte público. Isso está além da responsabilidade dos operadores. As autoridades também estão envolvidas e é necessário criar uma boa parceria entre todas as partes interessadas. Isso inclui uma estratégia de desenvolvimento urbano clara e sólida.
Não há dúvidas que os sistemas de metrô precisam se preparar e para adotar a transformação digital: a digitalização pode trazer grandes ganhos de eficiência ao planejamento, projeto, construção, operação e manutenção do metrô, enquanto a Mobilidade como Serviço (MaaS) está transformando o cenário da mobilidade urbana. Essa dupla transformação também é uma oportunidade para reposicionar várias partes interessadas na cadeia de valor agregado e explorar de forma proativa parcerias ou desenvolver MaaS.
Estas iniciativas podem colocar um sistema de metrô como reforço ao seu papel de espinha dorsal da mobilidade urbana moderna, respondendo às necessidades da “comunidade móvel”.
* Eleonora Pazos – UITP Head of Latin America E-mail: eleonora.pazos@uitp.org