Brasil, Brazil, Breazail: utopias antropofágicas de Rosa Magalhães

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II. 3. 2 – Cabo Frio, o cenário do clímax

26 de março de 2017, um domingo ensolarado em Paris. Descansava no Musée Rodin, depois de caminhar pelas redondezas. O jornalista Renan Rodrigues apresenta, no jornal O Globo, a notícia de que fui contratado, juntamente com Gabriel Haddad, para o desenvolvimento do desfile de 2018 do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Cubango, da Série A do carnaval carioca. A matéria, intitulada Cubango aposta em novos carnavalescos, também informava aos leitores que o “enredo” da agremiação niteroiense já estava definido: o bicentenário de Nova Friburgo, cidade da região serrana do estado do Rio de Janeiro. Nas palavras de Renan Rodrigues:

Na última quinta-feira, a escola anunciou que o enredo será o bicentenário do município de Nova Friburgo. Pelé (o então presidente da escola119) divulgou o tema após uma reunião com representantes da prefeitura. A sinopse, entretanto, ainda não foi divulgada. Segundo Bora, a pesquisa ainda está sendo desenvolvida e, por isso, não pode dar pistas sobre a narrativa que será adotada: -É possível desenvolver uma narrativa interessante, que saia do roteiro tão discutido no universo carnavalesco. É a primeira vez que desenvolveremos um enredo a partir de um tema previamente acertado pela diretoria da escola. Ainda não podemos revelar por quais caminhos seguiremos nessa viagem, mas certamente haverá surpresas.120

Fato é que ambos, Gabriel e eu, aceitamos, naquela ocasião, o desafio de desenvolver um enredo a partir de um tema patrocinado (ao menos havia a promessa de patrocínio) – os 200 anos da fundação de Nova Friburgo. E fato é que permanentemente, quando discutíamos, via internet (eu participava do intercâmbio em Nice e acompanhava o processo à distância), os rumos da narrativa, invocávamos as trilhas de Rosa Magalhães. De antemão, informamos à diretoria da escola que não nos interessava o desenvolvimento linear de um “enredo CEP”, a convencional sequência “índios-colonizadores-escravospontos turísticos-comidas típicas-comemoração da data festiva”, com poucas variações 119

Não se sabia, até então, que, depois de mais de uma década de eleições por aclamação, a escola passaria por um pleito presidencial com chapas concorrentes (situação, encabeçada por Olivier Pelé, e oposição, encabeçada por Rogério Belisário). A chapa de oposição, “Resgata Cubango”, sagrou-se vencedora, em 7 de maio de 2017, pondo fim ao período de 16 anos da administração Pelé – o presidente que nos havia contratado e que havia alinhavado a parceria com o município de Nova Friburgo. A mudança administrativa ocasionou a mudança do enredo: os carnavalescos, mantidos no posto, puderam apresentar uma “narrativa autoral”, livre do incerto patrocínio oferecido por empresários da cidade serrana. Optamos, então, por Arthur Bispo do Rosário. 120 RODRIGUES, Renan. Cubango aposta em novos carnavalescos. Gabriel Haddad e Leonardo Bora farão estreia na Sapucaí em 2018. Jornal O GLOBO: 26/03/2017. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/bairros/cubango-aposta-em-novos-carnavalescos-21112505. Acesso em 25/08/2017.

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VIII – Referências bibliográficas

18min
pages 324-336

VII – Conclusão – Utopias antropofágicas

48min
pages 293-323

IX – Anexos

6min
pages 337-342

VI.2.3 –A carne é fraca, é isso aí

6min
pages 285-288

VI.2.4 – Onisuáquisólamento

6min
pages 289-292

VI.2.1-Pirão de areia e sopa de vento

4min
pages 281-282

VI.2.2-Pirataria S/A

2min
pages 283-284

VI. 2 – O panelaço brasileiro

2min
pages 279-280

VI.1.7- O carnaval nosso de cada ano

16min
pages 269-278

VI.1.6 – A folia de cocar

3min
pages 267-268

VI.1.3 – No coração da floresta

2min
page 260

VI.1.5 – O medievo de lá pra cá

4min
pages 265-266

VI.1.1- O sertão que não é só lamento e a mítica Bahia

8min
pages 254-258

VI.1.2 – No balanço da expedição

1min
page 259

VI.1.4 – Pianópolis – Rua do Ouvidor

8min
pages 261-264

V.1.12- Tutti-multinacional

4min
pages 247-250

V.1.11 – Toda a América Pré-Colombiana foi saqueada em suas riquezas

1min
page 246

V.1.10 – Tambor africano, solo feiticeiro

5min
pages 243-245

V.1.9 – Nobreza holandesa

1min
page 242

V.1.8 – Fado tropical

1min
page 241

V.1.7 – Nesse feitiço tem castanhola

2min
pages 239-240

III. 3 – As distopias e o pop-nostalgia

24min
pages 169-181

V.1.4 – Folias geladas

5min
pages 235-237

V.1.3 – Vive la France

12min
pages 229-234

IV. 3 – O céu não é o limite

22min
pages 211-221

V.1.2 – Orientalismos

4min
pages 227-228

IV. 2 - Diários de navegação

31min
pages 187-210

V.1. 1 – Os mitos que enlaçam antigas tradições

2min
page 226

III. 2 – De luta, esperança, amor e paz

19min
pages 157-168

II. 4. 2 - Utopias e heterotopias: Michel Foucault, navegador

23min
pages 122-132

II. 3. 3 – Pau-Brasil

21min
pages 98-108

II. 4. 3 – O heterotópico Carnaval Carioca: invocando Mário de Andrade

22min
pages 133-144

II. 2. 3 – Breazail: metanarrativa metálica

16min
pages 74-80

I – Por mares nunca dantes navegados

1hr
pages 17-43

II. 3. 2 – Cabo Frio, o cenário do clímax

19min
pages 88-97

II. 2. 2 – Uma ilha chamada Brasil?

13min
pages 67-73
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