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V.1.11 – Toda a América Pré-Colombiana foi saqueada em suas riquezas

V. 1. 11 – Toda a América Pré-Colombiana foi saqueada em suas riquezas

Os territórios americanos, especialmente a América Pré-Colombiana, aparecem com bastante destaque em algumas narrativas da autora. É o caso de Não existe pecado abaixo do Equador, de 1992, que transportava o mito edênico para as florestas da América Central - Adão e Eva com pinturas corporais, a serpente com traços maias, a substituição da maçã pelo maracujá e dos anjos por papagaios (imagem 98). Em 1987, ao falar do sapoti, juntamente com Lícia Lacerda, a carnavalesca abusou dos grafismos astecas para expressar as origens mexicanas da fruta: serpentes emplumadas, calendários, totens e pirâmides transportaram para a Passarela do Samba um pouco de Chichén Itzá. O enredo de 2003 é o que trata da América Pré-Colombiana com maior vigor crítico. Diferentemente da narrativa de 1992, uma celebração dos 500 anos da viagem de Colombo, observa-se, em Nem todo pirata tem perna de pau, olho de vidro e cara de mau, uma leitura carnavalizada do processo de invasão, exploração e extermínio levado a cabo (não sem o uso da pólvora, não sem a égide da cruz) pelos colonizadores europeus. Uma sequência de cinco alas (que usavam placas de acetato ao invés de penas e plumas, o que gerava um conjunto intencionalmente “pelado”) expressava o imaginário trabalhado pela carnavalesca: Ídolo Asteca, Tesouro de Cuauhtémoc, Jóia Asteca, Ouro Inca e Ídolo de Atahualpa. A quarta alegoria do cortejo, cujo nome dá título a este fragmento de tese, condensava a linguagem explorada nos figurinos: ao redor de uma pirâmide decorada com placas douradas e filetes de espelhos, ídolos e bandeiras de astecas e incas compunham um cenário de riqueza – o “Eldorado” espoliado pelos invasores. Um crânio humano decorado com mosaicos subia e descia, em frente à pirâmide – na verdade, uma reprodução alegórica da caveira asteca exposta no Museu Britânico (exemplo claro da apropriação dos tesouros cerimoniais dos povos ameríndios americanos). Ao colocar em evidência a figura de Atahualpa, Sapa Inca condenado à morte depois de, forçadamente, entregar toneladas de tesouros a Francisco Pizarro, Rosa Magalhães lançava luzes sobre a “história dos vencidos”. O enredo de 2003, sem medo de errar, é um dos mais críticos da trajetória da artista.

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