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VI.2.2-Pirataria S/A
Imagem 114: Aguinaldo Timóteo fala ao telefone, no abre-alas da Imperatriz Leopoldinense, em 1984. Fonte: Transmissão televisiva da TV Globo.
VI. 2. 2 – Pirataria S/A
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O verde e o amarelo da bandeira brasileira cederam espaço ao preto, na penúltima alegoria do desfile gresilense de 2003. De nome Pirataria S/A, o carro exibia uma caveira decorada com sandálias, relógios, telefones celulares e peças de eletroeletrônicos. Sobre ônibus e vans de cores cítricas, componentes com fantasias inspiradas na estética punk representavam os piratas da contemporaneidade brasileira. O pavilhão nacional se misturava à bandeira pirata, numa evidente crítica política (imagem 115). Rosa Magalhães explica, em O inverso das origens, que a presença de Braguinha, no título do enredo, era algo inegociável (e novamente o teor autobiográfico se esparrama pelas páginas):
No enredo sobre pirataria, Braguinha se aliava bem com o tema por ter sido também um defensor do direito autoral no Brasil. Tive a honra e o prazer de participar com ele de um passeio a um castelo na Áustria por ocasião de um Congresso Mundial de Direitos Autorais, no qual ele representava uma sociedade de arrecadação de direitos autorais musicais e meu pai, uma de direitos autorais de montagens teatrais. Pois foi ao defensor dos direitos autorais que pedi emprestado o título para o enredo do carnaval de 2003, sobre a pirataria. (...) O termo pirataria, tão usado atualmente, tem também a conotação de plágio, cópia, de uso indevido de ideias. A luta moderna contra a pirataria não é só por causa dos produtos copiados, mas sobretudo por causa das ideias que geram estes produtos, dos 283
artistas que projetam, compõem, orquestram, escrevem, enfim, mobilizam seus talentos para obter o resultado impalpável que se chama criação artística.388

Imagem 115: Fantasias e carro alegórico do sexto setor do desfile de 2003 da Imperatriz Leopoldinense, sobre a pirataria. Produtos pirateados (inclusive vans e ônibus) se avolumavam na alegoria, onde também se via a bandeira nacional misturada à bandeira pirata. Foto: Wigder Frota. Acervo pessoal.
Ao abordar a delicada questão dos direitos autorais, parte do espectro dos direitos culturais (que, por sua vez, se veem albergados pelos direitos humanos), a artista transformava a Passarela do Samba em um poderoso espaço de reflexão crítica. Tocava em um assunto ainda pouquíssimo debatido no seio das escolas de samba (e mesmo nas escolas de Direito) – basta pensarmos que os autores dos enredos não recebem qualquer parcela financeira oriunda da transmissão televisiva dos desfiles e/ou da venda dos textos e das imagens da produção. A rigor, no mais das vezes sequer há um contrato, reinando a informalidade e os acordos “de boca”389 . Casos de plágio são, infelizmente, comuns. Roubos de enredos, idem. A memória carnavalesca é fraquinha por demais.
388 MAGALHÃES, Rosa; NEWLANDS, Maria Luiza. Obra citada, p. 178 – 180. 389 Maria Laura Cavalcanti discorre sobre isso ao falar da constante insegurança demonstrada por Renato Lage e Lílian Rabello, carnavalescos da Mocidade Independente, em 1992, com relação aos acordos financeiros. Nas palavras dela: “Fechar o contrato era um aspecto especialmente sofrido em sua (Renato 284