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IX – Anexos

IX – Anexos

1. Sinopse/Histórico do enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz

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Leopoldinense para o carnaval de 2004, conforme o apresentado no Livro Abre-

Alas daquele ano, disponível para consulta no Centro de Memória do Carnaval –

LIESA:

BREAZAIL

Receita para fazer um bom vermelho

Pique a madeira e coloque-a num caldeirão de água bem quente. Para cada libra de brasil, acrescente uma onça de feno-grego e meia onça de goma-arábica. Ferva durante três horas e deixe repousar por três dias. Retire do caldeirão, com cubos, a quantidade de tinta necessária para tingir. Prepare este líquido em outro caldeirão, no qual acrescentará o alume. Coloque a seda, que foi deixada num banho de alume durante uma noite, no segundo caldeirão, e passe-a por oito banhos quentes. Caso deseje um outro tom, numa tina de água fresca, dissolva um pouco de água-forte. Assim a cor carmesim se transformará em vermelhofogo, denominado scarlatin. Uma reação química hoje, uma mágica ontem. Os magos alquimistas, precursores dos químicos da era moderna, muito contribuíram para estas descobertas. Dedicavam-se sobretudo à busca de transmutar outras substâncias em ouro e prata. Se não encontraram estas fórmulas para os metais, descobriram outras, de valor, talvez, até maior

O poder simbólico do vermelho

Desde o primórdio das civilizações, o vermelho do sangue e do fogo adquiriu o duplo significado de vida e destruição. Ao vermelho foram atribuídos vários poderes: provoca a fertilidade, afasta os maus espíritos, assegura a vitória no combate. As virtudes do vermelho não se limitavam aos impulsos bélicos, era algo muito mais místico e profundo. Os indivíduos que se vestiam de vermelho ou púrpura elevavam-se material e espiritualmente acima dos outros.

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O vermelho é tão dominante na China que à cor brilhante dá-se o nome de vermelho chinês. As sedas e os algodões tintos de vermelho vestiam os soldados e os mandarins. Pela sua raridade era caro.

Breazail

Breves pinceladas sobre corantes e tinturas da Antiguidade são fundamentais para podermos entender e valorizar a grande aceitação da madeira tintorial brasil asiático e mais tarde do brasil no Novo Mundo.

Os fenícios, grandes navegadores, comercializavam os tecidos tintos de vermelho -o próprio nome fenício, vindo de grego, significa púrpura. Eram os detentores do segredo da fabricação desta mística e suntuosa cor. O dióxido de estanho era um produto indispensável no processo secreto da fabricação da púrpura. Obtinham esse inestimável corante mineral de cor avermelhada com os celtas, povo mineiro que o extraía de minas espalhadas desde a Irlanda até a Ibéria. Os celtas chamavam o estanho de breazail, ou vermelhão.

Existem muitas teorias, mas acredita-se que o termo brasil tenha origem celta

O brasil asiático e o brasil do Novo Mundo

O brasil asiático (Caesalpina sappan) vegetal tinturial, era vendido em toda a Europa (desde o século XIII), originário do longínquo oriente. O preço do sappan era mais baixo que de materiais silvestres ou animais. Por ser de fácil aplicação e grande rendimento, tornou-se muito popular. Colombo, ao chegar à América, escreveu aos reis que esta região possuía madeira tintorial em grande quantidade. Mais tarde descobriu-se que era uma variedade diferente da asiática e foi chamada de Caesalpina echinata, o nome científico para o pau-brasil. Quando foi informado de que a única riqueza aparentemente disponível na terra recém descoberta por Cabral era o pau-e-tinta, D. Manuel tratou de declarar a árvore monopólio da Coroa, optando, em seguida, por arrendar sua exploração para a iniciativa privada. Primeiro ciclo extrativista, primeira matéria-prima de exportação, primeiro produto contrabandeado, o pioneirismo do pau-brasil não para por aí. O chamado lenho

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tintural se transformaria no primeiro monopólio estatal, primeira privatização, primeiro produto tributado e objeto do primeiro cartel nos trópicos, e também se tornaria a primeira espécie ameaçada de extinção.

A primeira feitoria e forte em Cabo Frio

Américo Vespúcio é um personagem complexo e contraditório. Vespúcio forjou em torno de si um mar revolto de celeuma e controvérsia. De suas quatro supostas viagens ao Novo Mundo, duas o trouxeram ao Brasil. Após a primeira, ele teria informado ao rei que a única riqueza explorável naquele novo território era "uma infinidade de árvores de pau-brasil." Na segunda, teria se tornado o responsável pela fundação da primeira feitoria portuguesa na América. Vespúcio concluiu que a terra visitada era pobre em perspectivas econômicas e as oportunidades comerciais se limitavam ao pau-brasil. Seu relatório parece ter selado o destino do Brasil por quase meio século. O primeiro entreposto para o comércio do paubrasil foi construído em Cabo Frio.

“Chegamos a um porto em que decidimos erguer um castelo (fortaleza e feitoria), o que logo fizemos, e deixamos ali 24 cristãos que estavam conosco, recolhidos da perdida nau do comandante. Construído o castelo, carregando nossas naus de pau-brasil, ali permanecemos cinco meses. Concluídas essas atividades, concordamos em voltar. ”

A Utopia

A narrativa das viagens de Américo Vespúcio, através de cartas, fez muito sucesso. O enredo revelou-se insinuante, floreado como um romance. Não foi Vespúcio que batizou o Novo Mundo, foi seu texto. Sucesso estrondoso numa Europa basicamente iletrada, "Mundus Novus" teve 25 edições em mais de seis línguas, em menos de dois anos. Teriam sido cerca de 20.000 exemplares vendidos. Um verdadeiro best-seller. Um dos leitores que se encantou com a narrativa foi Thomas More, filósofo inglês. Foi baseado neste pequeno trecho da narrativa de Vespúcio que escreveu seu livro mais importante - A Utopia. Um desses 24 marinheiros que ficaram em Cabo Frio se torna o

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personagem chamado Rafael Hitlodeu, narrador de uma história que se tornaria um marco da filosofia. Ao invés de morrerem nesta feitoria, saíram da lá e logo adiante encontraram um país inigualável chamado Utopia, habitado por pessoas singulares no seu modo de vida: os utopianos. Vivem em perfeita harmonia, nada lhes falta, há comida em abundância, mas não comem exageradamente. Todos trabalham, mas também se divertem. Não dão valor ao que outros povos normalmente prezam muito. Para mostrar seu desprezo, o ouro e a prata não são usados como adornos. As jóias são para as crianças se enfeitarem e brincarem, os adultos não se interessam por elas. Neste país imaginário, os trajes são simples e elegantes, os tecidos são naturais e claros, sem tingimentos. Em Utopia, o pau-brasil com certeza ainda existe, dando sombra e oferecendo um raro espetáculo com suas belas flores amarelas. Nossa esperança é transformar nosso chão numa utopia, a Mata Atlântica preservada e abundante em pau-brasil...

Rosa Magalhães – carnavalesca

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2. Samba de enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz

Leopoldinense para o carnaval de 2004, conforme o apresentado no Livro Abre-

Alas daquele ano, disponível para consulta no Centro de Memória do Carnaval –

LIESA:

Vermelho é vida É sangue, é coração Coloriu a história

De paixão, de vitória.... De vibração Pintou o manto dos reis

E o encanto chinês

O poder e a religião Das minas o celta extraía

O corante breazail

Porém era o fenício quem fazia A tinta que o mundo seduziu

Da Ásia a madeira

Deu o tom pra Europa inteira Mas o Brasil do bom

Só em terra brasileira

Viagem ao Novo Mundo Deu a Vespúcio a primazia De erguer em Cabo Frio Fortaleza e feitoria

Depois partiu com nosso pau-brasil Deixando aos marinheiros poesia Visão do infinito, lugar mais bonito Era o chão da Utopia Quem dera a paz e a harmonia Ver meu país cantar feliz Na sombra de um pau-brasil Um samba da Imperatriz

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Hoje eu quero ver Caldeirão ferver nessa magia O Brasil deu a cor

Pra tingir de amor nossa folia

Compositores: Jeferson, Veneza, Carlos de Olaria, Me Leva e Guga Intérprete: Ronaldo Ilê

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