Brasil, Brazil, Breazail: utopias antropofágicas de Rosa Magalhães

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Também em 1992 e em 2007 observam-se referências a diferentes Espanhas – algo já falado no trabalho. Em 1992, nobres de Castela bailavam com roupas de época, predominando o verde e o branco – as cores-base da Imperatriz, juntamente com o ouro. Em 2007, um setor foi dedicado ao papel desempenhado pelos bascos na história do comércio do bacalhau. Cinco alas e um carro alegórico traduziram o medievo espanhol e a nobreza basca, não faltando cozinheiros, músicos e bufões. Na sexta alegoria daquele cortejo, o banquete pantagruélico de que falam Krelling e Osinski – outra referência literária esgrimida pela autora.

V. 1. 8 – Fado tropical Evidentemente, o apreço por narrativas que tratam de episódios da história do Brasil, país colonizado por Portugal, aproxima Rosa Magalhães do universo lusitano. O enredo do ano 2000 é o exemplo mais flagrante, uma vez que trata da “descoberta” do Brasil e tem início com os sonhos de riqueza de D. Manuel, ou seja, o apogeu do Império Luso, a glória d’Os Lusíadas. Personagens inseridos nesse contexto aparecem em inúmeras narrativas da autora, inclusive em 2004 – a memória de Américo Vespúcio e a ficção de Rafael Hitlodeu. Os três enredos desenvolvidos para a Estácio de Sá passam pelas viagens marítimas iniciadas em Belém (no caso do sapoti, a história varre os tapetes da família real portuguesa). No Salgueiro, em 1990 (Sou amigo do Rei), a história dos Doze Pares de França chega ao medievalismo ibérico e à tradição das feiras da Lisboa medieval. Em 1996, na Imperatriz, a carnavalesca une Brasil, Áustria e Portugal, terminando o enredo com a nossa independência. Em 2001, ao tratar do ciclo da cana-de-açúcar, evoca as memórias das lutas entre mouros e cristãos (o universo temático do desaparecimento de D. Sebastião, em Alcácer-Quibir) e desenha um complexo retrato da sociedade colonial brasileira. Em 2008, a fuga da família real e a genealogia das casas reais portuguesas foram transportadas para a Passarela do Samba, conduzindo os espectadores para o casario lisboeta de 1808. As baianas, mui formosas, traziam azulejos; a bateria, as águas do Tejo. Via de regra, Portugal aparece, nesses enredos, enquanto matriz colonizadora – o que reforça (como se necessário fosse) o entendimento de que os enredos da carnavalesca, especialmente aqueles desenvolvidos para a Imperatriz Leopoldinense, evocam um imaginário colonial, imperial, nobiliárquico. A figura do colonizador violento aparece de 241


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VIII – Referências bibliográficas

18min
pages 324-336

VII – Conclusão – Utopias antropofágicas

48min
pages 293-323

IX – Anexos

6min
pages 337-342

VI.2.3 –A carne é fraca, é isso aí

6min
pages 285-288

VI.2.4 – Onisuáquisólamento

6min
pages 289-292

VI.2.1-Pirão de areia e sopa de vento

4min
pages 281-282

VI.2.2-Pirataria S/A

2min
pages 283-284

VI. 2 – O panelaço brasileiro

2min
pages 279-280

VI.1.7- O carnaval nosso de cada ano

16min
pages 269-278

VI.1.6 – A folia de cocar

3min
pages 267-268

VI.1.3 – No coração da floresta

2min
page 260

VI.1.5 – O medievo de lá pra cá

4min
pages 265-266

VI.1.1- O sertão que não é só lamento e a mítica Bahia

8min
pages 254-258

VI.1.2 – No balanço da expedição

1min
page 259

VI.1.4 – Pianópolis – Rua do Ouvidor

8min
pages 261-264

V.1.12- Tutti-multinacional

4min
pages 247-250

V.1.11 – Toda a América Pré-Colombiana foi saqueada em suas riquezas

1min
page 246

V.1.10 – Tambor africano, solo feiticeiro

5min
pages 243-245

V.1.9 – Nobreza holandesa

1min
page 242

V.1.8 – Fado tropical

1min
page 241

V.1.7 – Nesse feitiço tem castanhola

2min
pages 239-240

III. 3 – As distopias e o pop-nostalgia

24min
pages 169-181

V.1.4 – Folias geladas

5min
pages 235-237

V.1.3 – Vive la France

12min
pages 229-234

IV. 3 – O céu não é o limite

22min
pages 211-221

V.1.2 – Orientalismos

4min
pages 227-228

IV. 2 - Diários de navegação

31min
pages 187-210

V.1. 1 – Os mitos que enlaçam antigas tradições

2min
page 226

III. 2 – De luta, esperança, amor e paz

19min
pages 157-168

II. 4. 2 - Utopias e heterotopias: Michel Foucault, navegador

23min
pages 122-132

II. 3. 3 – Pau-Brasil

21min
pages 98-108

II. 4. 3 – O heterotópico Carnaval Carioca: invocando Mário de Andrade

22min
pages 133-144

II. 2. 3 – Breazail: metanarrativa metálica

16min
pages 74-80

I – Por mares nunca dantes navegados

1hr
pages 17-43

II. 3. 2 – Cabo Frio, o cenário do clímax

19min
pages 88-97

II. 2. 2 – Uma ilha chamada Brasil?

13min
pages 67-73
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