Brasil, Brazil, Breazail: utopias antropofágicas de Rosa Magalhães

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introduzir a figura do palhaço no circo, para descontrair a plateia entre os números de acrobacia que eram perigosos e emocionantes.337

Para expressar a presença britânica, a autora concebeu figurinos inspirados em roupas militares típicas das terras da Rainha, como variações da indefectível indumentária da “Guarda Real”. No colorido, possíveis diálogos com o visual lisérgico de Sargent Peppers, dos Beatles: amarelo, azul, vermelho e rosa. Por meio do colorido vibrante, a autora “neutralizava” a típica frieza do British Style.

V. 1. 7 – Nesse feitiço tem castanhola A Espanha é o destino do enredo desenvolvido por Rosa Magalhães para o carnaval de 2010 da União da Ilha do Governador, uma interpretação do grande romance de Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro dos sonhos impossíveis. Apenas o último setor de tal apresentação situava as aventuras de Quixote em território brasileiro (com referências a Ziraldo, Cândido Portinari e Carlos Drummond de Andrade); o restante do cortejo percorria vilas, cidades e castelos espanhóis, acompanhando o “cavaleiro errante” e o fiel escudeiro Sancho Pança. Gustavo Krelling e Dulce Osinski abordam tal presença espanhola em Rosa de Ouro nunca foi de brincadeira. Para eles, Rosa Magalhães se valeu de uma cartela de referências de artistas espanhóis para conceber os figurinos que ajudaram a contar o enredo quixotesco, ou seja, uma “homenagem” também interna, nas formas e nas cores, e não algo puramente temático. Havia roupas inspiradas na dança flamenca, por exemplo; roupas que traduziam criações de Pablo Picasso (imagens 93 e 94):

Também merece ser citada uma das fantasias de Rosa Magalhães no carnaval de 2010 para a escola de samba União da Ilha do Governador (...). A fantasia possui muitas semelhanças com os figurinos criados por Picasso para o balé Le Tricorne, fato que evidencia a apropriação pertinente desse tipo de fonte pela artista. Ao mencionar Dom Quixote, personagem espanhol, ela busca no acervo de um pintor de igual nacionalidade e grande relevância referências para a visualidade de seu desfile.338

Leques, rosas vermelhas, mantilhas, nada ficou de fora (imagem 95). Elementos que, ressignificados e coloridos de modo diferente (a predominância do branco), já 337

Justificativa do terceiro carro alegórico da São Clemente, no carnaval de 2016, presente no Livro AbreAlas daquele ano. Disponível para consulta no Centro de Memória do Carnaval – LIESA. 338 KRELLING, Gustavo; OSINSKI, Dulce Regina Baggio. Obra citada, p. 170.

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VIII – Referências bibliográficas

18min
pages 324-336

VII – Conclusão – Utopias antropofágicas

48min
pages 293-323

IX – Anexos

6min
pages 337-342

VI.2.3 –A carne é fraca, é isso aí

6min
pages 285-288

VI.2.4 – Onisuáquisólamento

6min
pages 289-292

VI.2.1-Pirão de areia e sopa de vento

4min
pages 281-282

VI.2.2-Pirataria S/A

2min
pages 283-284

VI. 2 – O panelaço brasileiro

2min
pages 279-280

VI.1.7- O carnaval nosso de cada ano

16min
pages 269-278

VI.1.6 – A folia de cocar

3min
pages 267-268

VI.1.3 – No coração da floresta

2min
page 260

VI.1.5 – O medievo de lá pra cá

4min
pages 265-266

VI.1.1- O sertão que não é só lamento e a mítica Bahia

8min
pages 254-258

VI.1.2 – No balanço da expedição

1min
page 259

VI.1.4 – Pianópolis – Rua do Ouvidor

8min
pages 261-264

V.1.12- Tutti-multinacional

4min
pages 247-250

V.1.11 – Toda a América Pré-Colombiana foi saqueada em suas riquezas

1min
page 246

V.1.10 – Tambor africano, solo feiticeiro

5min
pages 243-245

V.1.9 – Nobreza holandesa

1min
page 242

V.1.8 – Fado tropical

1min
page 241

V.1.7 – Nesse feitiço tem castanhola

2min
pages 239-240

III. 3 – As distopias e o pop-nostalgia

24min
pages 169-181

V.1.4 – Folias geladas

5min
pages 235-237

V.1.3 – Vive la France

12min
pages 229-234

IV. 3 – O céu não é o limite

22min
pages 211-221

V.1.2 – Orientalismos

4min
pages 227-228

IV. 2 - Diários de navegação

31min
pages 187-210

V.1. 1 – Os mitos que enlaçam antigas tradições

2min
page 226

III. 2 – De luta, esperança, amor e paz

19min
pages 157-168

II. 4. 2 - Utopias e heterotopias: Michel Foucault, navegador

23min
pages 122-132

II. 3. 3 – Pau-Brasil

21min
pages 98-108

II. 4. 3 – O heterotópico Carnaval Carioca: invocando Mário de Andrade

22min
pages 133-144

II. 2. 3 – Breazail: metanarrativa metálica

16min
pages 74-80

I – Por mares nunca dantes navegados

1hr
pages 17-43

II. 3. 2 – Cabo Frio, o cenário do clímax

19min
pages 88-97

II. 2. 2 – Uma ilha chamada Brasil?

13min
pages 67-73
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