III. 3 – As distopias e o pop-nostalgia
Rio de Janeiro, 16 de julho de 2013, Auditório do Instituto de Artes da UERJ. Em encontro promovido pelo Centro de Referência do Carnaval e pelo Departamento Cultural da UERJ, com a participação do professor Felipe Ferreira e do jornalista d’O Globo Marcelo de Mello, Rosa Magalhães concordou com a ideia de Ferreira de que a obra por ela desenvolvida pode ser considerada “barroca”, uma vez que o barroco é parte da pósmodernidade. Muito detalhadamente, Ferreira explicou que algumas características do barroco (dinamismo, contraste, dramaticidade, incompletude, movimento, opulência, sobreposições, acúmulo, decoração excessiva, originalidade, ousadia, entre outras) são detectáveis no contexto pós-moderno (usou como exemplo, inclusive, a sobreposição de imagens nas páginas da Internet). Iluminou-se a ideia de que o conceito de “barroco”, tanto mais no contexto carnavalesco das escolas de samba do Rio de Janeiro268, não é algo atrelado ao passado, empoeirado, arcaico, em oposição às tecnologias do agora. De certa forma, Ferreira aprofundou, diante da convidada ilustre, as proposições defendidas em artigo publicado na Revista de Carnaval de 2009 da Imperatriz Leopoldinense, intitulado Rosa Magalhães: Pós-Modernidade Barroca. No artigo, o autor afirma: “muito mais que barroca, a carnavalesca (...) pode ser definida como uma artista pós-moderna, por sua capacidade de acumular, sobrepor e justapor referências reunidas em toda uma vida ligada à cultura, às artes e ao ensino.”269 No mesmo encontro ocorrido na UERJ, naquela noite de inverno carioca, Felipe Ferreira questionou Rosa Magalhães sobre a presença de elementos da cultura pop em
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Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, em Carnaval Carioca: dos bastidores ao desfile, fala da “primazia do visual” em um desfile de escola de samba e atenta para o fato de que é impossível apreender as alegorias em sua totalidade: no barracão nunca estão prontas, na concentração estão desmontadas, no desfile estão em movimento, ou seja, formam um todo complexo cujo decifrar por inteiro não é permitido ao observador. Evocando autores estrangeiros (Arnold Hauser, Walter Benjamin, Jeanne Marie Gagnebin) e nacionais (Hiram Araújo, Frederico de Moraes, Ferreira Gullar), a pesquisadora defende que as escolas de samba do Rio de Janeiro são “manifestações barrocas”. Citando Hauser, discorre: “Haveria portanto alguns traços gerais nesse barroco revalorizado, que mencionados neste contexto soam particularmente carnavalescos. São eles: a substituição do absoluto pelo relativo; a valorização do incompleto ou do desconexo em formas que ‘parecem poder continuar em todas as partes que transbordam de si mesmas. Todo o firme e o estável entra em comoção’; o caráter improvisado: ‘Em última instância – diz Wolffin – existe a tendência a apresentar o quadro não como coisa do mundo que existe por si, mas como um espetáculo transitório no qual o espectador teve precisamente a sorte de participar do momento... Interessa que o conjunto do quadro apareça como não pretendido’”. In: CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. Obra citada, p. 154/155. 269 FERREIRA, Felipe. Rosa Magalhães: Pós-Modernidade Barroca. In: Imperatriz Leopoldinense – Revista de Carnaval 2009. Rio de Janeiro: Gráfica Formato3, 2009, p. 34.
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