Zona de Couros: Algumas notas sobre o nosso passado, presente e futuro Ricardo Rodrigues Arquiteto, coordenador técnico/científico da candidatura do Centro Histórico de Guimarães e Zona de Couros a Património Mundial
Em setembro de 2001, iniciou-se a minha colaboração com o Município de Guimarães, que perdura até à data. Pouco tempo depois, a 13 de dezembro, celebrava com os restantes colegas do Gabinete Técnico Local (CMG), no Largo da Oliveira, a notícia acabada de chegar de Helsínquia: aprovada a inscrição do “Centro Histórico de Guimarães” na lista do Património Mundial da Unesco. Guimarães juntava-se ao grupo restrito de “centros históricos” em território nacional classificados como Património da Humanidade: Angra do Heroísmo (1983), Centro Histórico de Évora (1986), Paisagem Cultural de Sintra (1995) e Centro Histórico do Porto (1996). Desde então, de entre os inúmeros núcleos urbanos portugueses com elevado valor histórico, apenas a cidade de Elvas e suas Fortificações foi adicionada a esta lista de inscritos na lista da Unesco, em 2012. A Universidade de Coimbra—Alta e Sofia, inscrita em 2013 na lista da Unesco, não se integra nesta categoria uma vez que incide estritamente sobre edifícios e espaços da Universidade, não incluindo a “cidade”, no sentido mais amplo, com as respetivas habitações, comércio, indústria, serviços e demais atividades comuns à vida urbana. Interessa sublinhar a referência à vida urbana porque é um dos aspetos que, na prática, distingue Guimarães de muitas outras cidades ou núcleos de elevado interesse histórico. Em Guimarães, o burgo de origem medieval é parte integrante da cidade, ativa, e até central, na dinâmica quotidiana contemporânea da cidade. Se considerarmos que o “centro histórico” é a área que a Unesco inscreveu na lista do Património Mundial, em 2001, então essa área, de 19,45 hectares, corresponde ao interior do perímetro definido pela antiga muralha defensiva. Mas facilmente se percebe que a cidade histórica se estende muito para lá das muralhas. Pela rua D. de João I, pela rua de Camões, pelos Couros, pela Caldeiroa, por Santa Luzia (rua Francisco Agra), pela rua da Arcela, e por muitas outras. Mais óbvias umas do que outras. As noções de valor patrimonial e as respetivas classificações são aparentemente simples, mas, na realidade, são bastante complexas, tanto pelo que incluem, como pelo que excluem. “Classificar” implica selecionar à luz de critérios e de orientações que vão evoluindo ao longo dos tempos. Quando, a partir de 1996, se determinou iniciar o processo de candidatura de Guimarães à Unesco, o debate patrimonial era distinto daquele que hoje está consagrado. Estávamos já longe do entendimento do monumento como um edifício 143


































