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Sítio
Jorge Extremina Politólogo
Dissecar sobre a teia enorme que é a nova dinâmica da promoção de regiões ou áreas a Património Mundial ou, como é referido, no interior do Comité do Património Mundial de "sítio", é por demais complexo, pois as variáveis são muitas, desde a componente política, económica, social até a uma ainda mais complexa que é o novo conceito transnacional, onde se movem organizações e instituições de carácter universal, como por exemplo, a Unesco, ou de carácter regional como é a Comissão Europeia, inserida na União Europeia, como todos sabemos. Para diminuir a complexidade , comecemos pelo ano de 1972 onde, através da organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, mais conhecida por Unesco, foi criado um Comité do Património Mundial para fazer a selecção e a escolha do "sítio" a Património Mundial. Sobre o Comité do Património Mundial, a sua constituição, as suas funções e resoluções daria assunto para dissecar ao longo de várias páginas, mas não irei por aí. Focar-me-ei mais na dinâmica e nos reais interesses que movem estas instituições e organizações de nível mundial. Sublinhei o carácter transnacional que move esta organização, pois insere-se numa política globalista que assola o mundo, em detrimento do Estado-Nação, aparecendo e dando-se a conhecer de forma maciça através dos meios que os interesses instalados dominam, como é o caso da comunicação social, assim como os próprios Estados que alimentam este sistema politico que impera no mundo. Esta criação de "sítios" a Património Mundial é um sinal de que é possível organizações internacionais, fora do âmbito dos Estados, paulatinamente serem tutores, organizadores, fiscalizadores de forma a terem controlo sobre os respectivos Patrimónios Mundiais (veja-se o caso recente da retirada de "sítio" de Património Mundial à cidade de Liverpool) para implementarem as variáveis políticas que fazem parte dos seus propósitos.
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Primeiro sítio a património mundial, as Ilhas Galápagos no Equador.
Até agora, caro leitor, julgará que é só desgraças ser "presenteado" com a classificação de Património Mundial, mas não, pois quem domina não tem descanso, não come, nem dorme, sempre na vanguarda e atento às circunstâncias presenciais, os propósitos delineados prometidos à priori, de forma a que as populações se sintam inseridas nos ditos projectos. Desde que começa o projecto do projecto, logo, quase de imediato, se sentem melhorias em vários quadrantes do "sítio" e começa-se a acreditar que é possivel fazer projectos bons em prol das populações, dos Estados, do clima, da globalização. Pois é, no início, como quase tudo na vida, é um mar de rosas. Há dinheiro a fundo perdido, subsídios, empenho dos organismos directamente relacionados com o "sítio", assim como até do próprio Estado e, claro, da organização mãe (Unesco). Assim se concretiza um projecto, ultrapassando as barreiras possíveis e imaginárias, muita enfâse pela escolha a "sítio" (em 2001 Portugal fazia parte do Comité do Património Mundial, que são 21 países no universo de 191).
Com estas pregorrativas todas, para alimentar e para que haja sustentabilidade dos "sítios", forçosamente tem que haver disponibilidades de verbas, existindo um Fundo do Património Mundial, mas não é suficiente para a preservação e aumento de novos "sítios" classificados como Património Mundial. "Face às ameaças de degradação e de destruição que fazem pesar Um dos SPAs de 7 Países da Europa que em 26 de diferentes aspectos do desenvolvimento sobre o Património e os julho de 2021, na China, foram promovidos a pa- valores que contém, é necessário enfatizar a dificuldade de preservar trimónio mundial. estes elementos frágeis e indispensáveis, de características não renováveis, para o benefício das gerações presentes e futuras. (ICOMOS, 2011, 02)" Então para tratar da dita mundialização, - François Chesnais recorre à noção de bazar cultural mundializado pelo qual passa a civilização actual - enfatizou-se o Turismo como actividade indicada na Declaração de Paris (2011) para que o Património desponte como moteur du développement. Por isso, recomenda-se a comunicação ampla sobre a fragilidade dos valores do Património aos profissionais do Turismo, além de implicar todos os actores na elaboração de planos de gestão para os "sítios" ou destinos, respondendo às questões: qual Turismo, por quê, para quem? Desde logo se infere que a dinâmica da preservação dos "sítios" foi alargada ao sector privado onde, como todos sabemos, impera um lema (natural) que é o Lucro. Com estes parâmetros e directivas de carácter transnacional, o Património Mundial começa a ficar à mercê e a desviar-se da concepção do catecismo inicial,

embora se mantenha o vocabulário, a formatação e a manipulação inerente aos interesses instalados. Toda esta retórica de âmbito geral sobre a essência e os propósitos de aclamação de "sítios", aplica-se na generalidade, ao caso de Guimarães, tendo o seu centro histórico sido aclamado em 2001 como "sítio" a Património Mundial. Este "sítio" não se desvia dos outros, pois as dinâmicas, directivas, propósitos e afins têm que estar em consonância com as orientações transnacionais vindas da Unesco. Para turista de passagem, de forma geral é agradável a visita a estes "sítios" , sendo, porém, muito diferente a concepção dos residentes e de toda a envolvência. Como se movem os interesses - lucro - dá para perceber que a considerada montra ou cenário exterior é de agradável visibilidade, sabendo os demais e os atentos que os interiores, as infraestruturas, as envolvências, a precariedade, a panóplia excessiva de oferta de várias áreas de comércio e o vazio que devia ser inexplicável, mas não é, de residentes do aclamado "sítio". Segundo a Declaração de Paris, os factos/ameaças principais e secundários recenseados nas relações periódicas elaboradas foram cinco: - Desenvolvimento e infraestruturas; - Outras actividades humanas; - Catástrofes naturais e desastres; - Problemas jurídicos e de gestão; - Outros factores. Atentem na conclusão da Declaração de Paris e, para espanto ou não, são o Desenvolvimento e infraestruturas e os Problemas jurídicos e de gestão que estão na primeira linha das preocupações de quem de facto tem um olhar diferente da concepção do Património Mundial. Do outro lado, é o efeito inerente às políticas e directivas associadas que torna estes factores dinâmicos, pois as concepções de Património Mundial têm que enveredar pelo conceito de gestão global inserido na famosa transnacionalidade que tanto nos deve preocupar, para que o Património Mundial seja efectivamente um legado para desfrutar no presente e que seja preservado para o futuro, mas sem a "mão invisível" do mercado. Que seja antes uma gestão direcionada para o bem estar das populações residentes onde o Património seja efectivamente preservado nas suas principais vertentes e integrado na vivência quotidiana, onde todos se sintam bem e se possa receber quem vier por bem. Seria um bom caminho atentar primeiro nas pessoas para que em forma de comunidade seja possível afastar as forças maléficas que inundam a sociedade em busca de um só intento, O LUCRO!