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Centro Histórico de Guimarães Património Cultural da Humanidade
Armindo Cachada
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Quando foi recebida a notícia na cidade, a 13 de dezembro de 2001, os sinos repicaram e correu champanhe na Praça da Oliveira
Os vimaranenses receberam com repicar de sinos, toque de sirene, estralejar de foguetes, muitos abraços e apertos de mãos, tilintar de copos de champanhe e outras manifestações de regozijo, a notícia da proclamação do Centro Histórico de Guimarães (CHG) como património cultural da Humanidade, feita pela UNESCO. A informação chegou às 15.50 horas, pela vereadora da Cultura, Francisca Abreu, que se deslocou a Helsínquia, acompanhada pela diretora do GTL, arquiteta Alexandra Gesta, para assistir à votação da Assembleia Geral da Unesco. Na praça da Oliveira aguardavam a comunicação o presidente da Câmara, António Magalhães, alguns vereadores, técnicos municipais, representantes de órgãos da comunicação social e muitos populares, residentes no centro histórico. Quando a informação chegou, foi a alegria geral, correu o champanhe e de imediato se deu início ao programa que estava preparado para a ocasião, já que a grande festa foi adiada para o próximo dia 22. António Magalhães era a pessoa mais feliz, constantemente ao telemóvel, a corresponder a saudações, a dar entrevistas a jornalistas, a falar com populares, a cumprimentar personalidades, a partilhar com todos o momento de glória que fez de Guimarães, naquele dia, o centro de atenções do mundo. Um dos presentes na praça era António Xavier, social democrata, ex-presidente da Câmara municipal, um dos intervenientes no processo de reabilitação do centro histórico, durante o seu mandato. Disse ele:
Esta classificação é um símbolo; para além do que representa como reconhecimento da história e do património de Guimarães, ela é, também, uma homenagem às gerações que, a partir dos anos 40, iniciaram a reabilitação da cidade, para a devolver à dignidade de terra mãe da pátria. Sem esse trabalho, complementado agora com a reabilitação do centro histórico, não teríamos chegado aqui. No calor da festa, António Magalhães convocou uma conferência de imprensa, na qual se apresentou acompanhado dos membros do seu executivo, incluindo os da oposição. Festejou-se com champanhe o acontecimento e, esquecendo divisões partidárias, o autarca elogiou o esforço e o trabalho partilhado por todos
na recuperação do centro. Por cima de todas, a bandeira de Guimarães – sublinhou. Foram lidos telegramas de várias entidades, incluindo de António Guterres, que realçou o pioneirismo da nova conceção do património aplicada a Guimarães. Tal classificação, disse, valoriza a capacidade de relacionar o tecido construído com o tecido humano e a coexistência do legado histórico com o progresso, o desenvolvimento e a contemporaneidade.
O próximo passo na reabilitação do CHG será fechá-lo ao tráfego automóvel, admitindo apenas a entrada de viaturas para os serviços imprescindíveis, e só em determinadas horas do dia.
Quando houver luz verde legal para a instalação da videovigilância, esta será igualmente implementada, para prevenir ações de vandalismo, - referiu o presidente da autarquia, António Magalhães. Na sequência da distinção atribuída a Guimarães, passaram a ficar iluminadas com luz especialmente estudada, alguns dos edifícios de maior referência no CHG: a Casa da Câmara, Igreja da Colegiada, Tribunal da Relação, Convento de Santa Clara e Estátua de D. Afonso Henrique. AC
Representantes dos vários partidos políticos festejam, com champanhe, a elevação do CHG a património cultural da Humanidade
Testemunhos de habitantes do Centro Histórico
Como, na altura, estava a recolher dados para uma informação a publicar no Jornal de Notícias, procurei auscultar a sensibilidade com que os residentes no CHG reagiram à notícia da promoção do seu bairro intramuros a património cultural da humanidade. Eis alguns testemunhos:
* Ermínia Fonseca
Vendedeira de fruta na Praça de Santiago
Nasci aqui, nesta praça, estou a fazer 70 anos e aqui espero morrer. Em 70 anos muita coisa mudou. Mas sempre gostei disto. Antigamente vivia-se aqui um bocado mal, havia muita sujidade, mas agora está tudo muito bonito. Gosto das festas no Verão, à noite e agora que somos património mundial isto vai animar
ainda mais.

* José Teixeira Pereira
Empreiteiro de reabilitação de construções antigas
Esta vitória de Guimarães, também é minha. Fiz muitos trabalhos de recuperação de casas neste centro histórico. Algumas até ganharam prémio. As pessoas hoje ganharam nova consciência do sítio onde vivem. Antes havia por aqui droga e marginalismo, mas agora, com esta iluminação toda, há mais atenção e respeito. Mas ainda há casas para recuperar.
* João Vieira
Fotógrafo na Praça da Oliveira
Estou nesta praça desde 1965. Jogava-se aqui a bola de farrapos e fugia-se à polícia. Esta zona era pobre e degradada. Muitas casas estavam a cair. Mesmo assim eram bonitas e típicas. Mas tudo melhorou. Sobretudo desde que tiraram o trânsito. Sermos património mundial traz responsabilidades e tirar daqui o trânsito é uma delas. É preciso proteger o património.
Programa de celebrações
A festa comemorativa da classificação do CHG como património cultural da humanidade foi marcada para o dia 22 de dezembro. Foram confirmadas as presenças do Presidente da República, do Primeiro Ministro, de vários ministros do atual e antigos governos que, ao longo dos últimos 17 anos, se empenharam no processo de reabilitação do CHG e contribuíram para esta distinção, além de outras personalidades e toda a população vimaranense. O programa ficou agendado da seguinte forma: às 16:00 horas, sessão solene comemorativa no Paço dos Duques de Bragança; às 17:30 horas, brindes no Largo da Oliveira e na Praça de Santiago, com
participação de toda a população; às 22:00 horas, início de um espetáculo pirotécnico e multimédia, e de uma peregrinação, com ações diferentes, por cada uma das praças do centro histórico. Um carro alegórico, preparado para o espetáculo pirotécnico e de lazer, foi o referencial desse cortejo, que decorreu da seguinte forma: o Ato I decorreu no Largo da Mumadona, percorrendo-se em seguida o Largo da Câmara, a Praça de Santiago, o Largo João Franco e o Largo da Oliveira. O ato final decorreu no Largo da República do Brasil. Objetivo desta peregrinação pelos diferentes espaços citadinos foi homenagear e fazer participar toda a população na festa de qualificação do CHG como Património Cultural da Humanidade. A partir dessa data, personalidades e turistas de todas as partes do mundo passaram a visitar Guima-
rães.