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Introdução
Jorge do Nascimento Silva
Guimarães é a minha cidade adotiva desde o Carnaval de 1969, porque a freguesia de Mujães, Viana do Castelo, foi quem me viu nascer. Nessa data, vim frequentar os meus estudos no Colégio Egas Moniz e gostei tanto de tudo que por cá fiquei. Guimarães “prendeu-me” para a vida. Ouvi dizer, desde muito novo, que Guimarães é boa madrasta. E é, de facto. Sempre me senti apaixonado pela história, pela cultura, pelo bairrismo vimaranense e pelas gentes de Guimarães que se manifestam sempre que grandes causas têm lugar e fazem-no com emoção, sentimento e garra – a garra vimaranense. Desde jovem me envolvi no associativismo (batizei-me na JUNI, na Costa, há 50 anos atrás - 29 de janeiro de 1971), tendo servido várias associações culturais, recreativas e desportivas ao longo dos anos. Aquando do exercício das minhas funções de diretor do Centro de Formação Francisco de Holanda (e foram 20 anos!), na primeira metade do ano de 2002, liderei um processo que deu origem a OSMUSIKÉ, cujo objetivo primeiro era assumir-se como vertente cultural do Centro de Formação. De início centrada na música e na poesia, foi-se alargando a outras áreas, como o teatro, o entretenimento, as visitas culturais e, mais recentemente, a publicação de OsmusikéCadernos. Ora, foi neste contexto que o tempo foi decorrendo. Este grupo de professores e educadores, que contou depois com outros profissionais, foi ganhando escala e transformou-se na atual associação que hoje somos e que completa duas décadas de existência no decorrer de 2022.
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Com a chegada do confinamento, “imprevisto, preocupante, provocador e mortífero”, que assolou Portugal e o mundo, em 2019/2020, colocando em causa o relacionamento afetivo, pessoal e social, acabei por desafiar os companheiros e companheiras de direção para um projeto editorial de escrita – OsmusikéCadernos. Com a cumplicidade do Agostinho Ferreira, do Joaquim Salgado Almeida, do João Silva Pereira e, já ao longo do caminho, do Álvaro Nunes, o projeto ganhou credibilidade e forma. Na altura, o grande objetivo era dar a conhecer e partilhar aquilo que cada um era capaz de criar, no aconchego do seu lar, transformado em refúgio, num tempo difícil das nossas vidas, versando temas diversos de acordo com as suas vivências e
apetências de cada um. Abrimo-nos à comunidade vimaranense e o desafio concretizar-se-ia em junho de 2020, com o lançamento, na plataforma ZOOM, do E-book de OsmusikéCadernos1, posteriormente editado em suporte de papel. Tal só foi possível com o apoio da Câmara Municipal de Guimarães, num gesto atento, oportuno, encorajador e nobre do seu Presidente, em junho de 2020 e, deste modo, OsmusikéCadernos1 saltaria dos écrans(E-book) para o papel. E, de facto, a envolvência foi tão significativa e a mobilização da comunidade vimaranense tão genuína que levaram naturalmente à germinação de OsmusikéCadernos2. Germinação que fez (re)florir os cravos de Abril, como uma forma de celebrar os 47 anos do 25 DE ABRIL, tendo como húmus a nossa terra e a nossa cidade, a nossa história, as nossas gentes e a nossa língua mãe. Tratou-se de um projeto coletivo, plural, agregador e livre, onde todos cabem e têm voz. Vozes audíveis de cerca de 80 colaboradores: poetas, contistas, romancistas, pintores, cartoonistas, desenhadores, amantes da fotografia, vimaranenses e aqueles que gostam de Guimarães… Uma edição que Osmusiké custeariam em suporte de papel com um misto de dificuldade, alegria e prazer, mas que se impunha, pois Abril também passou por aqui e tinha de sair à rua, o mais popularmente possível. Logo, missão cumprida… Porém, novas missões se vislumbraram nos horizontes da cidade que, de forma imparável, levaram Osmusiké a novas batalhas e a novas conquistas. Aproximava-se inexoravelmente uma data muito especial para Guimarães - o 13 de dezembro de 2001 - que há duas décadas atrás levaria a UNESCO a consagrar o Centro Histórico de Guimarães como Património Mundial da Humanidade. De facto, em 13 de dezembro de 2001 (Dia de Santa Luzia), já lá vão vinte anos, a UNESCO viu com bons olhos a inscrição do Centro Histórico de Guimarães na Lista de Bens Património Mundial. Desde a década de oitenta do século passado, vindo a acentuar-se mais visivelmente a partir de 1994, ano em que a autarquia, apoiada pelo Governo Central, tomou a decisão de formalizar a candidatura à UNESCO do seu Centro Histórico, que houve um grande empenho em conservá-lo e reabilitá-lo, envolvendo os moradores e os proprietários das casas antigas degradadas, o que veio a apresentar-se como um exemplo para o país e para o mundo. Algumas delas, situadas na zona classificada, são da época medieval, sendo outras mais recentes, pois remontam ao século XVII e outras ainda aos séculos seguintes. Numas como noutras foram utilizados materiais e técnicas tradicionais no processo de recuperação. Guimarães seria, assim, consagrada como património da humanidade, herança que as novas gerações terão a responsabilidade de preservar Ora, OSMUSIKÉ, enquanto instituição cultural e intergeracional, não podia ficar alheia a esta conquista, pugnada com empenho e esforço, que conduziu à vitória. Deste modo, enfrentamos este novo desafio, envolvendo os “melhores”, fazendo memória do caminho (difícil!) percorrido e da alegria esfusiante daquele final de tarde de 13 de dezembro de 2001. E, por isso, aqui estamos novamente a reviver e a evocar esses
tempos nas páginas de OsmusikéCadernos3, celebrando, em parceria com a Câmara Municipal, duas décadas da elevação de Guimarães a património mundial da UNESCO.
Assim, durante alguns meses, num trabalho de equipa, desbravamos dificuldades, avivamos memórias, confrontamos caminhos percorridos, em testemunhos e depoimentos colhidos. São 85 autores envolvidos neste espírito colaborativo, a quem agradecemos a adesão entusiástica a este projeto.
OsmusikéCadernos3 pretende, assim, dar conta de um pouco de tudo isto. Com efeito, abertos os baús dos testemunhos, depoimentos e reflexões (de Presidentes de Câmara, de Vereadores, de políticos em geral, de investigadores, de artistas, de homens e mulheres da cultura vimaranense, de Instituições e Associações, de responsáveis técnicos) procuramos, neste Dia de Santa Luzia, protetora dos olhos e portadora da luz, facultar visões plurais e sobre prismas diversos de uma realidade que nos orgulha e responsabiliza. E nos iluminará para novos caminhos, uma vez que os nossos olhos perscrutadores do devir serão certamente janelas da nossa alma e querer, tão característicos das nossas gentes. E, realmente, o futuro está já aí, ao virar das esquinas do burgo. Com efeito, a urbe não para. A candidatura da Zona de Couros proposta para alargamento da área elevada a património mundial está já em andamento. Futuramente, as candidaturas podem ainda estender-se a outros patrimónios, como a Penha, ou ao património imaterial, como as Nicolinas, as Gualterianas ou as passarinhas e sardões, em Santa Luzia… Por outro lado, nesta edição de OsmusikéCadernos3, fomos ao encontro do que pensam os responsáveis por instituições e associações do nosso território e damos conta da imprensa da época sobre o evento, uma vez que recordar é viver. Acima de tudo, gostaríamos de convidar o estimado leitor a empreender connosco, nestas páginas, uma Viagem(parcial) ao Centro Histórico da Cidade, tendo como ponto de partida a Colina Sagrada, também denominada e conhecida por Monte Latito. Depois, não se preocupe, pois é sempre a descer pelo Largo do Carmo, com paragens aqui e ali. Seguidamente, retomaremos o caminho pela Rua de Santa Maria, até à Oliveira e Praça de Santiago, locais onde podem ocorrer breves pausas para recuperar o fôlego ou um cafezinho estimulante nas convidativas esplanadas da nossa cidade. Claro que, ao passarmos pelo Largo José Maria Gomes, impõe-se entrar na Biblioteca Raúl Brandão, fazer memória acerca do Convento de Santa Clara e, como não poderia deixar de ser, fazer uma visita a Mumadona Dias e, pela pena do arquiteto Eduardo Fernandes, fazer memória sobre o Largo da Mumadona, detendo-nos na história, desenho e evolução da sua importância na estrutura urbana de Guimarães. Porque o tempo urge, retomamos, de seguida, o percurso pelo Largo da Misericórdia, prosseguindo pela Rua da Rainha e espaços adjacentes até ao Toural, nossa sala
de visitas, carregado de memórias. Quiçá também um saltinho ao Largo do Trovador e ao do Cidade e reler no granito o poema do nosso poeta Carlos Poças Falcão. Estamos, então, mergulhados em plena zona de Couros, recuperada e já à espera de ser igualmente classificada duplicando a área protegida atual. Após a viagem, mais uma pausa para a leitura de outros patrimónios, abordar e recordar algumas histórias de Guimarães, assim como dar a conhecer algumas “dicas” habituais sobre os nossos escritores e a nossa língua e algumas recensões e sinopses sobre produções literárias e artísticas da nossa gente da terra. Prometemos não ficar por aqui. Em 2022, Osmusiké comemoram 20 anos de vida e perpassarão 10 anos de Guimarães, enquanto Capital Europeia da Cultura, data que coincide com o centenário de um outro património vimaranense: a fundação do Vitória Sport Clube.
Não faltaremos à chamada. Venham daí connosco!