Crónica Guimarães - um som junto ao coração Teresa Macedo
Quando alguém me pergunta “De onde és” e eu digo “Sou de Guimarães”, não preciso de indicar as rotas da terra a que pertenço, pois creio que não há ninguém que não tenha ouvido falar desta cidade antiga e saber marcá-la no mapa de Portugal, exceto, recentemente, o dono de um restaurante em Santiago de Compostela que, numa conversa, colocou Guimarães perto de Lisboa, o que me inquietou um pouco, mas logo reparei esse erro, pensando que se nunca tivesse estado em Ponferrada era capaz de a marcar junto a Madrid e também esquecer algumas centenas de quilómetros que separam estas cidades. Houve um tempo em que, para mim, ser de Guimarães também era duro de dizer, pois sabia a cerca de sessenta minutos a pé, atravessando campos e a subida da calçada do ferreiro, junto à da Madre de Deus, ao sol ou à chuva e com uns sapatos desconfortáveis nos pés, para poupar umas moedas na camioneta e, assim, poder ir ao cinema Jordão ou São Mamede ver um filme indiano. Era uma choradeira coletiva provocada por aquelas cenas de miséria, amores enviesados, onde eu também me deixava arrastar pelas melancolias e dramas e permitia que umas lágrimas falassem por todas as coisas que me faziam sofrer como era ter de regressar, de novo, a passo largo, porque não vivia propriamente na cidade de Guimarães. Dizer isto é muito grave ou assim pode ser julgado, se souberem que nasci a poucos quilómetros do casco velho, há vinte anos elevado pela Unesco à condição de Património Cultural da Humanidade, onde realizei os meus estudos até concluir o curso que me permitiu ganhar uma profissão, que me levou a uma terra onde o silêncio era de chumbo e as flores das bordas dos caminhos fechavam quando o sol abria ou a minha mão lhes cortava as hastes para fazer um ramo, que serviria para alegrar a minha casinha perto do Rio Nabão. O que eram pétalas azul cobalto, as minhas favoritas, fechavam-se numa recusa a serem outra coisa que não as flores selvagens que nasciam, cresciam e embelezavam as beiras das estradas pouco concorridas, onde o moleiro por vezes me esperava para dizer um bom dia enfarinhado e apontar Guimarães como um lugar onde só tinha ido na página rasgada do livro do irmão, que nunca conseguiu aprender a ler. Ele próprio chegou a confessar-me que foi para França ao concluir que uma pessoa não se pode intimidar quando são levantados muros nas letras indecifráveis dos livros da escola. O mais estranho é que este homem cismava que eu era parecida com um emigrante que foi seu vizinho
129


































