Revista CDM Impressa #33

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de sonhos Chácara Meninos de 4 Pinheiros se tornou uma oportunidade para jovens em situação de risco reconstruírem suas vidas
revista corpo da matéria CURSO DE JORNALISMO PUCPR
ano 12 - edição 33 dezembro de 2014 Fábrica
“DEIXAR A PRÓPRIA COMODIDADE E ATREVER-SE A CHEGAR A TODAS AS PERIFERIAS QUE NECESSITAM DA LUZ DO EVANGELHO” (EG). 2016|2017 La Valla 2015|2016 Fourvière 2014|2015 Montagne um novo começo maristas 2017

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Corpo da matéria

Ano 12 - Edição 33 - Dezembro de 2014 Revista Laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR

Pontifícia Universidade Católica do Paraná R. Imaculada Conceição, 1115 Prado Velho, Curitiba PR

REITOR

Waldemiro Gremski

DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES Eliane C. Francisco Maffezzolli

COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Julius Nunes

COORDENADOR EDITORIAL Julius Nunes

COORDENADOR DE REDAÇÃO/JORNALISTA RESPONSÁVEL Paulo Camargo (DRT-PR 2569)

COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade

MONITORIA Carolina Mildemberger

Alunos - 6º Período Jornalismo PUCPR

Amanda Louise Mitt Schause Satuf Silva, Ana Beatriz Villas Bôas Maruch, Ana Luiza Ferreira de Souza, Beatriz Chaves Pacheco, Bruna Carvalho da Silva, Bruna Mazanek, Carolina Andrade Chab, Carolina Silva Mildemberger, Caroline Martins Stédile, Fernanda Novaes Buffa, Fernando Burigo Guimarães Back, Gabriela Carolina Miranda de Oliveira, Getulio Xavier de Almeida Filho, Guilherme Osinski, Gustavo Lavorato Justino da Silva, Helem Caroline Barros, Helena Comninos, Isadora Teresa Carvalho, Jhenifer Wendy dos Santos Valentim, Jheniffer de Andrade, Jordan Marciano, Karla Letícia Tumelero Fernandes, Laura Umada Espada, Lucas Aquino de Oliveira, Lucas Prestes das Chagas, Manuella Costa Pires, Marcela Oliveira de Carvalho, Maria Fernanda Moretti Schneider, Mariana Dorneles Papi, Mayara Michelli Nascimento, Melvin Gavinho Quaresma, Rafaela Oliveira, Raíssa Gomes da Silva Ribeiro, Renata Nicolli Rodrigues, Silvia Yumiko Tokutsune, Thiana July Perusso, Vinicius Cordeiro da Silva, Vinicius Savaris Rech, Fernanda Brunken, Lydia Christina Brunato de Camargo, Alana Freiberger, Alessandro Pinheiro da Silva, Amanda Bedide Zanao, Amanda Luiza de Souza, André Gessi Rogal Wuicik, Beatriz Theiss Evaristo Hubert, Bianca Caroline Fragoso de Lima, Bruna Catache, Carolina Cristina Ferreira Rodelli, Guilherme Roberto Liça, Isabel Maria dos Santos, Isabella Santos Lanave, Jessica Mayara Cereja Dias, Jordana Figueiredo Machado, Juliana dos Reis Antunes da Silva, Katiucy Binhara Pinto, Lara Berbes de Farias, Mariana Therezio da Silva, Mario Spaki, Roberta Costa Gonçalves de Almeida, Rodrigo Soares Dornelles Pereira, Stacy Barbosa da Silva, Stephani Mantovani Diedrich, Hellen Crisley Ribaski

Imagem de capa: Melvin Quaresma - 6ºP Jornalismo

4 Revista CDM Jornalismo PUCPR

O lugar ideal 6

A cidade sem fim 16

Na calada da noite 22

O legado que a copa deixou 26 A pequena parceira 28

MEIO AMBIENTE

Histórias de um velho senhor 30

COMPORTAMENTO

O novo que se cuide 34 Destino Brasil 38

TECNOLOGIA

As consequências do e-lixo 42 Aplicatividades 44 SAÚDE

Para fazer sorrir 46 Pessoa de fibra 50

A arte da cura 52 CULTURA

Vem ver, menino vem ver! 54 Loucura que só fã entende… 60 cidARTE 64

A magia do circo 68 E aí, partiu? 74

GASTRONOMIA

À moda do chef 78 Vamos comer fora? 82 Bodas de ouro 86 Mais chocolate, por favor! 90

Jornalismo PUCPR Revista CDM 5 CIDADES

O lugar ideal

O projeto da Chácara Meninos de 4 Pinheiros não só tira os jovens das ruas, como dá a eles a chance de sonhar

Texto:

Fotos: Melvin Quaresma

Edição: Getulio Xavier e Caroline Stédile

Qual o seu sonho? Essa é uma das primeiras per guntas feitas aos garotos que chegam à Chácara Meninos de 4 Pinheiros. Locali zada em Mandirituba, a entidade tem a finalidade de dar assistência e educação integral às crianças e adolescentes das classes menos favorecidas e que estão em situação de vulnerabilidade social. Mas o objetivo principal daqueles que estão coordenando todo o processo é, principalmente, fazer com que esses jovens saiam de lá caminhan do rumo aos sonhos que já tinham ou que ali encontraram.

Tudo começou há 30 anos, quando o ex-frade carmelita Fernando Francisco de Gois voltou do Nor deste e, após conviver com muita miséria percebeu que defenderia a causa a favor das crianças e adoles centes de rua. Para ele, o melhor jeito de descobrir uma maneira de ajudar essas pessoas, seria estando totalmente em contato com elas. Assim, começou a habitar a Vila Lindoia, que passou a ser conhe cida como Comunidade Profeta Elias. Essa favela havia sido forma da por pessoas que vieram do norte do Paraná e que após um acordo com o proprietário do terreno, ocuparam o espaço com o princí

pio da Bíblia de que “se a terra é de Deus, ela não pode ser vendida”.

Após o acordo ter sido feito, foi formada uma associação de mo radores, na qual cada um pagava 10% do salário mínimo para per manecer no local. Mas, segundo o ex-carmelita, mesmo a comunidade conseguindo esse espaço, as crian ças e adolescentes permaneciam marginalizadas. Assim, ele resolveu tomar uma atitude e começar a sua missão ali e iniciou um trabalho de contraturno escolar, trabalhan do com diversas atividades, como teatro, música e complemento dis ciplinar. “Antes de ir para as ruas, as crianças estão inseridas na favela, então eu precisava estar nesse meio. Precisei aprender a lidar com a vio lência, as drogas, os traficantes. Foi nesse momento que tive que sair da congregação da igreja, pois eles não aceitavam que ela fosse inserida nesse cenário”, confessa.

Depois de conseguir organizar a Comunidade Profeta Elias, Fer nando foi às ruas, para conhecer a situação de quem estava inserido nesse meio. “Levava os meninos da comunidade comigo e íamos com pandeiro, fazíamos uma roda e começávamos a tocar. Assim ia juntando cem, até 150 pessoas.

Eu perguntava o que poderia fazer para ajudá-los. Eles diziam que não precisavam só de acolhimento, mas de um lugar que fosse projetado com eles e para eles. ‘O governo pensa de cima para baixo, não pen sa na gente. Somos meros telespec tadores’, eles me diziam”, conta.

A partir disso, Fernando começou a pensar em maneiras de tirar essas crianças e jovens das ruas, indo fazer pesquisas à noite para tentar achar uma solução. Ele não tinha medo. Até que em uma noite mui to fria, no terminal do Guadalupe, Fernando se deparou com uma cena que jamais esqueceu: um grupo de dez jovens usando muitas drogas. Ele começou a conversar com eles, sem imaginar que sua pergunta seria respondida naquela madrugada curitibana.

Um dos meninos o entregou uma espada-de-são-jorge e pediu para que plantasse para ele, pois ele não tinha onde plantar. Fernando perguntou o motivo de o garoto estar tão preocupado com a planta, e ele respondeu que não morava na rua antes e vivia com os pais, mas quando vieram para cidade, o pai não deu conta de sustentá-los e ele teve de morar na rua. De repente, um rapaz virou para o ex-frade e

Ao lado direito, Fernando e os glo bos onde os sonhos que ajuda a realizar são colocados.

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O monge

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o questionou: “Por que você não constrói uma chácara? Assim pode ríamos conviver com animais, meio ambiente e principalmente, ficar distante das drogas.”

O sonho só começou

Depois daquela noite, Fernando co meçou a colocar o pedido dos me ninos em prática. Juntou o dinheiro que tinha com o de um grupo de mulheres que apoiaram a causa e, após o projeto ter sido aprovado, em 91, comprou a chácara de 11 alqueires na Região Metropolitana de Curitiba, em um lugar longe da cidade e perto da natureza. Mas a construção das casas iniciou apenas em 93, quando a comunidade ao redor do terreno apoiou a causa. “Foi muito difícil convencer os moradores, todos eram contra. Para eles, os meninos seriam um perigo. Só depois de mostrarmos a importância da organização, eles concordaram.”

Ao chegar o primeiro grupo de meninos, em 93, Fernando perguntou para eles: “O que vocês querem ser no futuro?”. Eles diziam que que riam ser policiais, para baterem nas

pessoas, pois até hoje, só apanha ram. “Comecei a pensar em como trabalhar com esse tipo de crian ça. A motivação precisava vir de mim. E, lendo um livro, comecei a trabalhar com o sonho. Quando alguém chega aqui, a primeira coisa que quero saber é qual o sonho

“O Fernando é um anjo e não é fácil existir pessoas como ele”

dela. Geralmente elas dizem que não têm. Mas eu digo que precisam ter um caminho para seguir e que se eles não têm, em breve terão”, explica.

A sala onde foi feita a entrevista com o Fernando é cheia de bolas de isopor, coloridas, bonitas e com pa lavras como “engenheiro”, “profes sor”. Dentro de cada uma delas, há o projeto de vida de cada menino que ali habita. Uma vez por mês, o

Noeli de Oliveira, a educadora

Ao lado esquerdo, os jovens se divertem no pátio. Ao lado direito, a educadora Noeli exibe o livro que, desde 2001, reúne as assinaturas de quem passa por lá.

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A educadora

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projeto social abre a bola e analisa se o menino conseguiu dar conta de suas metas. Na mesma sala, há também os espelhos com fotos de meninos que superaram a linha da pobreza, depois de passar pela fundação. “Tento extrair o que tem de bom nas pessoas. Sempre digo para eles que, para mim, não importa de onde eles vieram, mas para onde eles querem chegar”, diz o fundador da chácara.

A Chácara Meninos de 4 Pinhei ros possui convênio para acolher meninos de Curitiba, São José dos Pinhais, Almirante Tamanda ré e, em breve, de Araucária. Os municípios que desejam uma vaga encaminham um relatório técnico indicando se o garoto mora na rua, se é usuário de drogas, se está envolvido com violência e se per deu o vínculo com a família. Caso ele se enquadre nesses quesitos, ele é acolhido. O objetivo é que a criança ou adolescente reestabeleça o vínculo familiar e, caso isso não ocorra, ele é encaminhado para outra família, por meio do poder judiciário, ou segue a vida sozinho, caso esteja profissionalizado e tenha condições para tanto. “Entre 2012 e 2013 tivemos 50 retornos fami liares e aqueles que não retorna ram, foram adotados. Um menino, por exemplo, foi adotado por um casal de lésbicas”, conta.

A ajuda para sustentar a chácara vem de vários locais. As prefeituras auxiliam com um valor para cada

menino, que atualmente somam 40. “Um adolescente infrator custa uns R$ 7 mil para a prefeitura, e aqui na chácara, em torno de R$ 1,5 mil. Ou seja, se gasta muito menos na prevenção.” A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) auxilia com alimentação e com bolsas para os meninos.

Além desses locais, a chácara recebe doações de empresários e de igrejas.

O ambiente é dividido em casas, cada qual com faixas etárias dife rentes. No ambiente, os meninos vão para a aula, com um ônibus da prefeitura que os buscam e os le vam, fazem atividades pedagógicas, aulas de capoeira, jogam futebol, pescam, dentre outros afazeres. Além do espaço da chácara, os me ninos possuem atendimento odon

tológico e médico em um posto de saúde especial para eles. A equipe conta com educadores, pedagogos, psicólogos, médicos homeopatas, cozinheiros, motoristas, num total de 40 profissionais, na busca do mesmo bem comum.

Após 31 anos trabalhando com a população de rua, Fernando garante que quem mais ganhou foi ele. “Aprendi a viver só com o necessário, a mediar conflitos, mas, acima de tudo, aprendi a ajudar uma parte da população a sonhar de novo. Quanto mais você dá, mais você recebe.” Após muitos desafios, o ex-carmelita está saindo da chácara, pois vai realizar o sonho dele: morar na rua. “Na minha me todologia de vida, o que serve para o outro, também serve para mim.

Acima, os jovens se divertem nas aulas de leitura. Ao lado direito, Miguel Ser res Jr. olha a chácara que mudou sua vida.

Serres Júnior, 16, morador da chácara

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“Eu ainda vou voltar aqui e ajudar toda essa molecada”
Miguel

O engenheiro

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Henrique de Lima, 16, morador da chácara

Vou lutar por políticas públicas nas ruas e já juntei uma equipe para coordenar a chácara, inclusive, um ex-menino será o novo presidente. É o que eu digo para eles: o que re cebeu aqui, não devolva para mim, devolva para a sociedade”, finaliza o idealizador do projeto.

Mãe postiça

Noeli de Oliveira da Silva, 49, vi veu na Comunidade Profeta Elias, que era uma favela muito pesada, com famílias pobres e carentes. Segundo ela, a decadência era tão grande que viviam cinco famílias juntas na mesma casa, a valeta ficava na frente das residências e o lixo transbordava. Na época, todos da comunidade saíram do norte do Paraná na busca por uma vida melhor. Mas, ao contrário do que todos imaginavam, o governo queria acabar com as favelas e não organizá-las.

Em contrapartida, Fernando e os demais carmelitas apareceram para ajudar a comunidade a terem uma vida mais justa, fazendo um trabalho pedagógico até conseguir amparar o ambiente totalmente. “Meu sonho sempre foi ser educa dora infantil, de uma escola que eu conhecia. O Fernando me ensinou, eu fiz um concurso e trabalhei por 14 anos nesse local.”

Noeli frequentou a Chácara Meni nos de 4 Pinheiros desde o início, quando não havia nada constru ído. Mas há 12 anos ela trabalha como educadora da instituição. No início, trabalhou com as crianças e,

depois, pode ampliar seus conhe cimentos com os adolescentes. “Acabei ficando tão apegadas a eles, que não consegui dividir a profis são com a minha vida pessoal. Eu me sentia mais do que educadora e, sim, uma mãe. Não achava justo ter minha casa e deixar eles aqui, sem uma mulher para dar janta, dar banho. Não conseguia separar”, desabafa.

Depois de entrar em depressão e perceber que estava perdendo a vida pessoal e deixando os filhos e marido de lado, Noeli amadureceu bastante. “Em nenhum momento deixei de amar o que eu faço, de amar cada um aqui e, enquanto ti ver saúde, quero ajudar. Para mim, o Fernando é um anjo e não é fácil existir pessoas como ele”, finaliza a educadora.

Meninos dos sonhos Goleiro, soldado ou engenheiro? Apesar de cada menino ter as suas particularidades, eles têm o objeti vo comum de realizar um sonho. A maioria deles chegou à chácara sem saber direito o motivo e sem querer estar ali.

Miguel Serres de Araújo Júnior, atualmente está com 16 anos, mas chegou à chácara com 9. Mesmo sem entender direito tudo o que estava acontecendo, já na primeira noite conheceu vários meninos que o convidaram para jogar videoga me. “Me senti acolhido”, conta.

Para ele, a chácara é muito impor tante. Além de ter conseguido o

primeiro emprego por intermédio dela, Miguel descobriu em meio aos cursos e atividades que realizou ali, sua paixão por informática e por programação e identificou que o seu sonho é ser engenheiro de Mecatrônica. “O trabalho da chá cara é esse, ela nos ajudar a perceber que somos alguém, não um nada”, desabafa emocionado.

Miguel está no primeiro ano do ensino médio e já está batalhando para atingir seus objetivos. “Eu olho os espelhos e penso: ‘Se eles conseguiram, por que eu não consigo?’. Eu ainda vou voltar aqui e ajudar toda essa molecada.” Para o futuro engenheiro, o momento que mais o marcou foi quando ganhou uma madrinha. “Ela sempre me diz: ‘Você quer as coisas? então trabalhe por elas’, ela me ajuda muito.”

Tímido e com um olhar baixo, Henrique de Lima, 16, é o tipo de rapaz que parece quieto, mas é só fazer uma palhaçada que já abre um sorriso. Com um olhar doce, o rapaz, que já está na chácara há três anos, possui três sonhos: ser jogador de futebol, ser policial, mas o mais importante para o menino é servir o Exército. “Desde pequeno eu quis ser soldado, pois sempre vi na tevê”, confessa.

A adaptação na chácara foi difícil para Henrique. Já nos primeiros dias, o rapaz brigou com alguns meninos, pois ele estava muito triste de estar ali. Depois de um tempo, ele fez amizades e conseguiu se adaptar. “Nunca imaginei estar

Ao lado direito, Henrique de Lima, que sonha em ser soldado.

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“Nunca imaginei estar num abrigo, mas vejo como esse acolhimento foi bom para mim. Antes, eu não era nada...”

O soldado

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num abrigo, mas vejo como esse acolhimento foi bom para mim. Antes, eu não era nada... Não tinha o carinho da minha mãe.”

Geralmente, o que une os meninos que chegam é o futebol. Eduardo Santana da Costa, 15, sonha em ser goleiro e ao chegar um novo meni no na fundação, ele sempre mostra as atividades que o local oferece e principalmente: chama-o para jogar bola com ele. “Sem dúvidas, a chácara foi e é o melhor lugar para mim. Faço questão de receber os novos jovens que chegam com o mesmo carinho que me recebe ram”, conta Eduardo.

“Sem dúvidas, a chácara foi e é o melhor lugar para mim”

Eduardo Santana, 15, morador da chácara

Ao lado esquerdo, Eduardo Santana exibe com orgulho seu caderno de matemática. Ao lado direito, Eduardo no lugar onde sonha trabalhar.

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O goleiro

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crédito: Isabella Lanave
A CIDADE SEM FIM

Todos os dias os paralelepí pedos do Largo da Ordem, no Centro Histórico de Curitiba, são testemunhas da fidelidade de um homem. A igreja já cansou de ver se repetir a cena. As pombas não ocupam o lugar que sabem ser dele. O vento já conhece fio por fio os cabelos grisalhos que balançam junto com as folhas dos livros que lê. E o pequeno senhor lê, sem parar. Todos os dias ele está no mesmo lugar, com os pés sob seus chinelos, em pé ou sentado. Não dá a nada nem a ninguém o direito de o interromper.

Este homem se chama Juscenir. Ou talvez Henrique. Repito: ele não deixa, sob nenhuma circuns tância, que, seja lá o que for, o interrompa. E se tentarem, apenas olhará fundo nos olhos, mostrará o livro e mergulhará de volta em sua leitura. Sem nome, é a personifi cação do desejo de uma sociedade que quer que a rua seja seu quin tal, onde é possível sair de chinelos para ler um livro e tomar um pouco de sol – quando as cínicas nuvens curitibanas permitem que o raios as atravessem.

A rua, considerada não em seu aspecto físico, como uma conexão entre espaços da cidade – vias locais, coletoras, expressas –, mas sim como um local de trocas e vivências, com o decorrer da história, foi ganhando um novo significado e os indivíduos foram aos poucos transformando sua relação com estas que se tornaram as veias e artérias das cidades.

Espaço público

Na Grécia Antiga, a pólis era um lugar de debate e tomada de deci sões políticas. Os espaços públicos das cidades-estados serviram de palco para diversos acontecimen

tos que marcaram a história da humanidade. Contudo, os direitos daquela época eram válidos apenas para pessoas do sexo masculino, excluindo as mulheres, jovens, estrangeiros e escravos, que cons tituiam dois terços da população, conforme afirma Lédio Rosa de Andrade, doutor em Direito e em Filosofía Jurídica, Moral e Políti ca, pela Universidad de Barcelona.

“Hoje não há exclusão desse tipo, mas [...] os espaços públicos estão sendo abandonados e as pesso as estão frequentando espaços privados e de consumo”, completa Andrade. Com medo da violência, do trânsito, e se isolando cada vez mais em fortalezas de segurança

vendas cresçam 8,3%.

“Os shoppings são espaços de convivência controlada a partir de uma coisa muito específica, que é o estímulo ao consumo, e as pes soas entendem que aquilo ali é o entretenimento”, diz Jorge Brand, mais conhecido como Goura Nataraj, coordenador da Asso ciação de Ciclista do Alto Iguaçu (Cicloiguaçu), e completa, “Podia ter uma lei que proibisse ‘não vai mais abrir shopping na cidade’”.

Mobilidade

O planejamento dos centros urbanos em função dos automó veis, incentivando o uso do carro

com muros altos, alarmes e cercas elétricas, a opção da grande maio ria dos indivíduos não tem sido as áreas públicas das cidades.

No ano de 2013, o mercado dos shopping centers brasileiros atin giu uma média de 415 milhões de visitantes por mês e teve alta de 8,6% nas vendas em relação ao ano anterior, arrecadando o total de R$ 129,2 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Para este ano, a expectativa do setor é de que as

em detrimento de meios alter nativos de mobilidade, também demonstra que o espaço público é pensado mais para o capital e menos para o cidadão.

Danilo Herek, coordenador de mobilidade urbana da prefeitura pela Setran, acredita que o que está acontecendo é uma inversão de valores. “Hoje o espaço está todo pensado para o automóvel, e isso não é bom, porque apenas 30% das pessoas se locomovem desta forma, os outros 70% vão a pé, de ônibus.”

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“Não é inteligente incentivarmos o transporte individual.”
Danilo Herek, coordenador de mobilidade urbana da prefeitura pela Setran.

A greve do transporte público que aconteceu em Curitiba entre os dias 26 de fevereiro e 1.° de março deste ano, deixou os ônibus fora de circulação e fez com que o trânsito ficasse paralizado e a cidade, tomada pelos carros. Essa situação prova para o coordenador que o siste ma adotado atualmente é falho. “Não é inteligente incentivarmos o transporte individual”, afirma Herek.

É necessário trabalhar cultu ralmente a cidade para que as pessoas possam entender que, além de muito trabalho, é

preciso tempo para que as coisas realmente se alterem. “Cope nhague conseguiu passar de 3% do uso da bicicleta pra 53% em 30 anos”, exemplifica o coorde nador.

Contudo, mesmo com dados que comprovam o aumento da popularidade dos espaços privados e de consumo, existem pessoas e movimentos que, em meio ao turbilhão da Era da Informação, pararam para se questionar sobre a forma com que a cidade vem sendo ocupada e começaram a criar e defender formas de retomar e resignificar esse espaço que é de todos, por direito. Enquanto os 30 anos não passam.

Do povo para o povo

“O melhor governo é aquele que menos governa”, diz Goura, citando uma passagem do livro Desobediência Civil, escrito pelo filósofo e crítico da ideia de desenvolvimento Henry David Thoreau. As pessoas já se submetem a diversas imposi ções, ao sistema de transporte, medicina, que dita o remédio e o que fazer com o corpo, às instituições educacionais. E é nesse contexto que entra a bicicleta, afirma Goura, como apenas uma das possibilidades de autonomia.

Caroline Lemes, estudante de Artes Visuais e organizadora do Criaturas Crônicas e participan te do Crôquis Urbanos, duas iniciativas que utilizam dos

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crédito: Isabella Lanave

espaços da cidade para desenvol ver as artes da pintura e da escrita, sente a bicicleta como um meio além de autônomo, contemplati vo. “Quando você está de carro, você só quer chegar. De bike ou a pé, as pessoas param para olhar as coisas, ao invés de ficarem ligadas apenas na velocidade e no stress diário do trânsito.”

O grupo criado por Lemes e Fabiano Vianna em novembro de 2013, Criaturas Crônicas, tem o mesmo princípio: escritores, amantes da escrita ou apenas curiosos se reunem em um deter minado espaço da cidade para, em uma hora e meia, escreverem inspirados pelo que está aconte cendo ao redor. No fim, todos compartilham com os outros as suas impressões. “E é essa troca que vale, você ver a visão de cada um daquele lugar, que mesmo que esteja sentado ao seu lado, será totalmente diferente da sua”, afirma a artista.

Os encontros, as interações com os – até então – desconhecidos e o bom dia inesperado do “cara que dorme lá no passeio”, como diz Carol, ajudam a complemen tar os textos. “Essa troca quebra alguns preconceitos de que, por exemplo, a pessoa é maloquei ra e vai me fazer mal. A mais bondade que maldade em cada esquina”, finaliza.

Uma outra iniciativa para ocupar o espaço público é o “Música para Sair da Bolha”, realização da Ciclo Iguaçu, que transforma, com bandas e intervenções, uma área de fluxo em uma área de presença no seu momento mais crítico: a hora do rush. Situando, são as pessoas construindo as situações da vida no cotidiano.

Ocupe

Talvez o Plano das Bicicletas Brancas – manifestação organi zada pelos Provos, movimento

de contracultura dos anos 60, que tinha como objetivo a melhoria dos transportes de Amsterdã - não tenha alcançado o seu principal objetivo no momento em que foi realizado. Quem sabe qual realmente era esse objetivo? Tudo leva um tempo e Amsterdã é hoje a capital mundial das bicicletas.

Por aqui, as provocações dos Pro vos ainda navegam por esses mares mais cinzas, trazendo o ideal de um povo transformador, que se en caixaria perfeitamente no modelo de um espaço público bem utili zado para Goura. Um lugar onde houvesse a produção do próprio alimento, uma redução do lixo gasto individualmente, um deslo camento de forma sustentável e es paços onde as pessoas se sentissem livres para interferir construtiva e positivamente. Quem sabe aquele anônimo de cabelos grisalhos não esteja certo num aspecto: a rua é nosso quintal.

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crédito: Isabella Lanave
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Nas ruas do Largo da Ordem, o homem que lê.

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crédito: Isabella Lanave

da noite Na calada

Alessandro Pinheiro André Wuicik Lara Farias Rodrigo Dornelles Fotos: Washington Cesar Takeuchi
cidades

Curitiba é conhecida por ser uma capital organizada e que toma atitudes criativas para abrigar as pessoas que nela vivem. Não à toa, sua fama externa é de ‘’cidade-sorriso’’, devido à sua positiva imagem urbana.

Inclusive, algumas atitudes simples ajudam a abrigar os diversos tipos de pessoa que circulam pela metró pole. A cidade conta, por exemplo, com ruas temáticas na região cen tral, a fim de proporcionar pratici dade no cotidiano.

A Rua Riachuelo, por exemplo, abriga diversos comércios de mó veis e eletrodomésticos usados. A 24 de Maio, é o point para quem procura produtos eletrônicos do mais variados tipos, e a XV de No vembro, é o calçadão mais famoso da cidade, sendo que comércios de todas as espécies podem ser vistos.

“Meu passado me condena”

Existem também, algumas ruas que no passado foram conhecidas por prestar serviços diferentes dos que oferecem na atualidade, mas que nem por isso deixaram de ter características marcantes que as diferenciam de outras localidades.

Um exemplo é a Rua Saldanha Marinho, que se inicia ao lado da Catedral e percorre todo o centro curitibano, e sua irmã Cruz Macha do, menor em extensão, mas não em relevância.

A primeira, que tem nome de im portante jornalista, era conhecida como uma rua maldita, pois ainda no século XX abrigava funerárias e açougues, serviços considerados impuros na época, segundo apon tam estudantes de arquitetura da Universidade Federal do Paraná e seu professor Humberto Mezzadri.

Já a Cruz Machado teve até nome diferente. Até 1902 conhecida como Travessa do Thezouro, era uma ruela mal cuidada e sem

glamour, mas que honrava o nome: ali existia a Secretaria das Finanças, Comércio e Indústria, que cuidava do “thezouro” da cidade.

Hoje, tanto a Saldanha Marinho e Cruz Machado são conhecidas por outros motivos. Sua temática, é o entretenimento noturno, que em nada se assemelha com o ofereci do em regiões mais prestigiados e nobres.

Durante o expediente conven cional, esses eixos são idênticos a qualquer outro lugar do Centro, mas a noite, o cenário se transfor ma e o perímetro fica parecido com o que algumas pessoas costumam de chamar de “inferninho”.

Curitiba Lado B

Quando anoitece nessas ruas, não é só a luz do céu que muda. Boa parte dos comércios fecham as por tas, sendo que estudantes, doutores e comerciantes saem para dar vez aos trabalhadores de bares e boates que ficam praticamente invisíveis durante o dia.

Um dos locais que abre as ativida des notívagas da região é o Cine Lido. Localizado na Ermelino Leão quase esquina com a Cruz Macha do, este é o maior cinema porno gráfico da cidade, que tem amplo bar, sala para 300 espectadores e TV a cabo.

Ali dentro, há basicamente dois tipos de pessoas diferentes, mas que possuem o mesmo objetivo: acabar com a solidão. Grupos de homens bem apresentáveis se encontram nas poltronas, e de outro lado alguns curiosos vão se aconchegando com mulheres que aproveitam do ambiente apimentado para sair ganhando.

Segundo o gerente do estabele cimento, Alexandre Polydoro, a atividade é as vezes vista com certo preconceito. “Os clientes são como quaisquer outros. O problema é o medo do julgamento, ninguém quer ser visto entrando em um cinema pornográfico, tem medo que falem algo depois, encontrem algum conhecido”, explica.

Após anoitecer, a prostitui ção é uma atividade recorrente.

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Rio é o mar.

Curitiba é o bar

Ainda na Ermelino Leão, mas desta vez fazendo fronteira com a Salda nha Marinho, está localizado um dos restaurantes mais emblemáticos da cidade, o Gato Preto. Um felino de neon vermelho enfeita a entrada do lugar.

Unindo gastronomia, música e paquera, este restaurante dançante é oficialmente conhecida como “Pantera Negra”, mas poucos o chamam assim.

Dentro do recinto pode-se encon trar desde o mais simples trabalha dor até o mais notável empresário, com espaço inclusive para candida to a deputado fazendo campanha. O ambiente é enfeitado com luz psicodélica e diversos lustres, além de música ao vivo. Uma película de insufilm na entrada chega a enganar a vista, tornando difícil perceber quem está dentro ou fora do local.

Um dos garçons mais solícitos da casa se chama Junior, que fala sobre os segredos para andar na região. “Você tem de vir com tranqüili dade, comer, beber e sair na sua

que não vai arrumar confusão”. A explicação começa a fazer sentido após a meia noite, horário em que o movimento começa a aumentar.

Junior revela outro segredo de qual foi testemunha e que recentemente estourou nas conversas dos curiti banos. Julio Iglesias, famoso cantor espanhol, teria feito um show em Curitiba no ano de 2008, quando cansado da monotonia de seu quar to de hotel caminhou até o Gato Preto e cantou para os clientes. O próprio Iglesias confirmou o fato para o jornal Gazeta do Povo, e Junior mostra com orgulho uma coluna moldurada do jornalista Dante Mendonça sobre o ocorri do, que orna uma das paredes do restaurante.

Caminhos perigosos

Saindo do restaurante, avista-se na Saldanha Marinho um pequeno mercado, sempre com movimento. Não é raro encontrar mendigos e bêbados pelos cantos da desativada Sinagoga Francisco Frischmann, e assovios misteriosos podem ser ouvidos, como se um código Morse das ruas estivesse sendo aplicado.

Já na larga Cruz Machado, muitas lanchonetes continuam funcionando durante a madrugada, a maioria com placas oferecendo canja de galinha. Mais a frente encontra-se o bar Som de Cristal. Dentro e fora do esta belecimento, pouca coisa chama a atenção. Alguns clientes na entrada, e menos ainda dentro do bar, bebem e quase nada conversam.

Mais à frente, no memorial de Belarmino e Gabriela, mocinhas da cidade se agrupam em frente ao monumento, que tem desenhos de Fernando Canalli e uma bonita moldura da foto da dupla caipira. Uma delas, com nome fictício de Patrícia, diz que “com mais quatro amigas, domina aquele ponto”.

Nos arredores do memorial há diversas boates, algumas já desati vadas, e o ambiente democrático é um fator curioso. Muitos carros de alto valor estacionam nos espaços vagos, e jovens bem apessoados, que aparentemente não figurariam em um cenário como o da Cruz Machado, apoderam-se da paisagem, junto também com alguns senhores de idade e pedestres solitários.

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Praça Santos Dumont e Memorial de Belarmino e Gabriela: Homenagens a figuras importantes são ícones da Cruz Machado.

Taxi Driver

Um dos meios de transporte mais utilizados quando se acaba um tour pela Cruz Machado e Saldanha Marinho é o taxi. Aos montes, os veículos laranja estacionam em frente às panificadoras 24 horas a espera de clientes e também de um café da madrugada.

Um destes taxistas, que pediu para não ter seu nome divulgado, será chamado de “Prado”. Prado disse que gosta de trabalhar na região, e assim como a maioria dos que por ali dirigem, não recusam nenhuma viagem.

“Eu gosto de trabalhar de noite, porque recebemos melhor, dá para pagar umas contas a mais. Quem

gosta de trabalhar no centro não troca por nada. Às vezes é perigoso, mas nos sabemos como nos defen der também”, releva.

Quando o sol começa a nascer e os pássaros a cantar, nada daquilo que se vê a noite faz mais sentido. Logo, os comerciantes matutinos voltam ao trabalho, cobradores e ônibus já figuram pelas ruas, e adolescentes uniformizados aparecem prontos para mais um dia de aula.

Quando menos se percebe, o ciclo dia-noite na cidade já está encerra do, e Curitiba prova que dentro de seu enorme “sorriso”, de uma forma ou de outra, pode abrigar gente de todo tipo.

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O legado que a Copa deixou

Obras e revitalizações marcaram a vinda do Mundial para a capital paranaense

Passada a Copa do Mundo FIFA em Curitiba, é possível ver obras de melhoria para a cidade que foram realizadas para o campeonato. Além da Arena da Baixada, que foi toda reformada para receber os jogos e ainda recebe os últimos retoques, os trabalhos seguem em alguns pontos da cidade.

A Praça Afonso Botelho, também conhecida como a praça do Atléti co, em frente à Arena da Baixada, no bairro Água Verde, passou por reformas para receber uma melhor estrutura para o Mundial. O espaço ganhou nova iluminação e o piso foi todo trocado. Além disso,

o local vai ganhar novos equipa mentos de esporte e lazer.

Obras do projeto

A reestruturação integra o legado que a Copa do Mundo deixou para Curitiba. Para a segunda etapa de obras, que terá início no próximo mês, o projeto prevê a construção de uma moderna pista de skate, novas quadras esportivas, pista de caminhada, além da instalação de banheiros, sala de ginástica, vestiá rio e um espaço para crianças, entre outros equipamentos. As obras são de especificações da FIFA e têm o custo estimado em R$ 2 milhões.

Para Sérgio Pontes, morador da re gião, as obras irão trazer benefícios para o bairro. ‘’Com a iluminação melhor e todas as coisas que a prefeitura prometeu fazer aqui na praça, vai ficar muito bom, mais gente vai começar a frequentar. Será bom para o comércio e para a gente também. Agora vamos ter uma praça de excelente qualidade bem perto da gente’’.

A Praça Afonso Botelho foi cons truída 1972 entre as ruas Brigadei ro Franco, Engenheiros Rebouças e a Av Presidente Getúlio Vargas.

A nova Rodoferroviária de Curi tiba já está oficialmente entregue,

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Fernando Back e Lucas Aquino Fotos: Fernando Back Praça Afonso Botelho, em frente à Arena da Baixada, foi revitalizada para a Copa do Mundo.

embora ainda existam obras a serem concluídas. Mesmo assim, o terminal passa a ter o funciona mento individualizado das alas: a interestadual, no bloco da frente; e a estadual, no dos fundos. As obras de revitalização do local começa ram em 2012 e mobilizaram recursos de R$ 46 milhões do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa. A rodoviária passa a ser a única do país com sistema de controle eletrônico de embarque, por meio de código de barras.

O bloco interestadual já foi reformado e entregue em outubro do ano passado, e agora oferece escadas rolantes, elevadores, novos banheiros, iluminação, pisos e cadeiras novas. Além disso, o novo espaço recebeu placas de sinaliza ção para orientar os passageiros e alguns procedimentos de embarque mudaram após o início da revita lização, como o acesso aos portões de embarque feito pelo uso de catracas.

Novas instalações

As melhorias nas instalações resultaram na ampliação da capacidade do terminal. Isso em função das oito novas plataformas para desembarque, que agora são

“Fazia muito tempo que a rodoviária precisava de uma boa reforma. O novo terminal oferece mais segurança na hora de embarcar ou desembarcar.”

- Luís Martins, arquiteto urbanista da prefeitura.

em número de 58. A nova infraes trutura também vai permitir uma quantidade maior de embarque de passageiros, passando de 40 mil para 50 mil, por dia. Arquiteto urbanista da prefeitura de Curitiba, Luís Martins fala sobre a grande importância dessa revitalização da rodoviária para a cidade. “Fazia muito tempo que a rodoviária pre cisava de uma boa reforma. O novo

terminal oferece mais segurança na hora de embarcar ou desembarcar. Essa maior organização vai facilitar muito a vida de todos que passam por aqui, além de ser uma boa alternativa para quem não quer enfren tar o aeroporto.” Segundo a URBS (Urbanização de Curitiba S/A), empresa que há 42 anos administra o terminal, é a primeira vez que o local passa por uma revitalização completa, obedecendo padrões mundiais de mobilidade e acessibilidade.

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Rodoferroviária: única no país com sistema eletrônico de controle de embarque.

A pequena parceira

Velhinha meio ranzinza. Opina sobre tudo, é uma arroz de festa convicta desde cedo. Ainda jovem, tinha a companhia das mais emble máticas figuras de Curitiba, de polí ticos a estudantes. Agora sua maior preocupação é manter seus sapatos nos trinques, sempre bem engraxa dos. Seu gosto pouco refinado para a bebida e suas opiniões políticas fizeram com que virasse a famosa “Boca maldita”, conhecida por toda a cidade. Mas a coluna de hoje, na verdade, é sobre a fiel companheira da extravagante Boca. A baixinha pouco conhecida esteve ali o tempo todo entre os romances e brigas de sua eterna amiga. Sempre meio ca lada, vendo tudo acontecer e a vida conturbada da companheira passar. Assim foi e ainda é a velhinha sim pática que compreende e consola as desilusões da idade da Sra. Boca

A Avenida Luiz Xavier, menor avenida do mundo, já teve seus momentos de glória. Situada entre as calçadas de petit pavê, típicas de Curitiba, que parecem espremer

ainda mais a pequena rua, a aveni da carrega o nome de um popular político.

Nascido em 21 de dezembro de 1856, o coronel era filho de Manuel Antonio Xavier e Anna Fernandes Xavier. Além de coronel, exerceu os cargos de prefeito, secretário das finanças e deputado. Carismático, Luiz Antônio Xavier comandou a capital por sete anos (1900 - 1907). Tempos depois, a rua ganhou seu nome como homenagem. O prefeito faleceu em 19 de dezembro de 1933, prestes a completar 77 anos de vida.

Desomenagem

Durante 35 anos, o nome Luiz Xa vier foi deixado de lado e deu lugar a Avenida João Pessoa, presidente da Paraíba assassinado durante a re volução de 1930. Por não saberem ao certo a natureza do crime, se po lítico ou passional, a homenagem voltou ao ex-prefeito da cidade e continua até hoje.

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Texto: Caroline Stédile, Getulio Xavier, Melvin Quaresma e Thiana Perusso Fotos: Melvin Quaresma

Histórias de um velho senhor

O Rio Belém é considerado por muitos curitibanos um legítimo ícone da capital paranaense: viu a cidade nascer, acompanhou (e sustentou) o seu progresso e hoje sofre os efeitos dessa passagem do tempo. Mas as novas gerações ainda reser vam um sopro de esperança para o “velho senhor”

Ele não é mais o mesmo. Há muito, muito tempo, viu crianças brincando a seu redor, refrescou tardes de verão e conduziu a sobrevivência de muitas gerações. Mas um dia participou de um nascimento que mudaria

para sempre seu curso de vida: o surgimento de Curitiba. O Rio Belém foi o provedor das primei ras habitações, igrejas e comércio da cidade, como normalmente se iniciam as aglomerações urbanas. Na década de 1950, acompanhou

o alargamento de avenidas, a construção da Praça Rui Barbosa e empreendimentos como a Rodovi ária Velha e o Mercado Municipal. Assistiu à estruturação do transpor te urbano e interurbano, como a litorina que liga Curitiba a Paranag

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Ponte sobre o Rio Belém nas imedia ções da Rua Canal Belém e Rua das Carmelitas. crédito: Beatriz Theiss

Cada vez que passo ali, onde nasci, me vem um filme na cabeça.”

crédito: Site Curitiba Antiga

Estadual do Paraná, na Avenida João Gualberto e, no retorno para casa, passava pela Mariano Torres”. Christiane relata o pânico que sentiu ao ver a cena: “Quando cheguei à praça em frente ao Cír culo Militar [Largo Bittencourt], percebi que não havia como passar: a água estava na altura dos joelhos. Fiquei assustada, com medo que a correnteza me carregasse”.

guá, antiga motriz. O maquinista Gonzaga Cella, que aparece de chapéu na foto, dirigia uma dessas motrizes e foi um dos primeiros “empreendedores” na modificação do espaço do Rio Belém: construiu uma pequena ponte (pinguela) sobre o rio – esquina da atual Avenida Visconde de Guarapuava com a Rua Mariano Torres – com direito a foto de inauguração. O fotógrafo Carlos Cella, filho de Gonzaga, fala com nostalgia daque la época: “Cada vez que passo ali, onde nasci, me vem um filme na cabeça”, lembra-se, saudoso. “Era uma pingulea estreita. Meu pai a construiu para facilitar a passagem das pessoas que moravam por ali”, explica.

Enchente

Eliane Vieira, professora de ensino fundamental, é outra que convive com boas histórias do Rio Belém. Sua família, moradora do bairro Barreirinha há 60 anos, assistiu a

cenas que só existem na memória dos pais e dos avós da professora: “Eles contam que os moradores pescavam, nadavam e até passe avam de canoa”. Eliane lembra, porém, que nem sempre a situação era tão tranquila: “Quando chovia muito, as ruas sempre alagavam. Isso até a década de 1990, mais ou menos”. Mas foi Christiane Chio ppo, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), quem realmente sentiu a fúria do “velho senhor” de perto, durante uma enchente, em 1975, que inundou a rua Mariano Torres “Naquela época, eu estudava no Colégio

De lá pra cá, muitas águas corre ram pelo rio até que chegassem, em 1992, à beira da casa de Gessimiel Fabricio, serralheiro que vive no bairro Uberaba. As reminiscências de Fabrício, contudo, não lembram nem um pouco o saudosismo de Carlos Cella. E, se Christiane tinha medo de ser levada pela correnteza das águas, o serralheiro teme ser levado pela correnteza de lixo: “Se é que um dia foi limpo, isso foi muito tempo atrás. Quando vim morar aqui, em 1992, o rio já era muito sujo. Toda a sujeira do IML [Instituto Médico Legal], por exemplo,vem para cá. E quem mora na beira do Belém, como eu, não suja. Quem polui são as pesso as que moram longe. Cansei

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– Carlos Cella, fotógrafo

crédito: Mario Spaki

Rio Belém acompanhou a formação da cidade.

de ver as pessoas jogarem sacos de lixo de dentro do carro para dentro do rio, de cima da ponte”, revolta-se.

Carlos Garcia, professor de Engenharia Ambiental da PUCPR concorda com Fa brício: “O rio não é um canal para condução de esgotos dos moradores que não cuidam da cidade. Ele era limpo até a cidade de Curitiba se instalar às suas margens.”, lamenta-se.

Em nota, a assessoria da Secre taria Municipal do Meio Ambiente informa que está em fase de elabo ração o Projeto de Gestão de Risco da Bacia do Belém, dividida em 23 sub-bacias.

O bairro Uberaba, conforme dados da assessoria, possui parte de três sub-bacias e, a medida que o proje to avança, também será atendido.

Progresso e meio ambiente

O pesquisador da Casa da Me mória da Fundação Cultural de Curitiba Marcelo Sutil faz uma reflexão de como a situação teria chegado, do nascimento da cidade até as queixas de Fabrício e Garcia: “A partir do momento que uma população começa a usufruir das águas de um rio, seja para lavar rou

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Gessimiel Fabrício: mora a poucos metros do Rio Belém. crédito: Mario Spaki
“Quando uma população começa a usufruir das águas de um rio, começa o proces so de poluição das águas.” –Marcelo Sutil, pesquisador

pas, animais ou despejar dejetos, começa o processo de poluição das águas. Se pegarmos as ordenações escritas pelo Ouvidor Pardinho, na década de 1720, para Curiitba, já vamos localizar itens referentes às questões da limpeza das ruas e das águas.”, explica. Sutil destaca ainda momentos em que a participação do Rio Belém teria sido preponde rante para o surgimento da cidade: “É importante lembrar que não só o núcleo central de Curitiba se formou à beira do rio, mas ao longo do seu curso, no passar do tempo, pequenas propriedades surgiram aproveitando a água para o cultivo e o trato dos animais, bem como estabelecimentos fabris também se localizaram. No caso do Rio Belém, podemos lembrar do antigo curtume e fábrica de cola que se transformou em um Centro de Criatividade.

Christiane Chioppo, que é doutora de Educação em Ciências e autora de trabalhos científicos em Educa ção Ambiental, analisa os impactos do progresso sobre o meio ambien te, lembrando que, antigamente, as prioridades eram outras: “A preocupação inicial da sociedade moderna foi com a energia elétrica. Estudos da história e da arquite tura mostram que os rios eram considerados lugares naturais para emissão dos dejetos e, por isso, as casas eram construídas com suas fachadas viradas para o lado oposto aos cursos d´água. Nos fundos, ficavam as ‘cloacas’, com os esgotos cinza e negros caindo diretamente nos rios, que eram considerados emissários naturais dos dejetos. Discussões sobre preservação ambiental vieram somente depois”, esclarece.

Esperança

Mas as novas gerações ainda guar dam uma esperança para o “velho senhor”. A professora Eliane Vieira atuou no projeto Aprendendo

crédito: foto/ divulgação

Projeto Aprendendo Educação Ambiental: consciência de preservação para as novas gerações.

Descíamos em pontos prede terminados para observação e análise ambien tal”, explica.

Educação Ambiental com o Rio Belém, com alunos do 6.° ano, entre 2002 e 2010, em uma escola de seu bairro. O projeto estimulava os alunos a desenvolverem atitudes ambientais adequadas para mini mizar os impactos negativos sobre o Rio Belém. “Em alguns trechos, percorríamos o trajeto a pé; em outros, íamos de ônibus fretado.

E é assim, vivendo entre o passado e o fu turo, que Eliane transita entre as memórias do rio, narradas pelafamília, e as (belas) histórias que pretende fazer os alunos escreverem, revelando seus anseios: “Gos taria de ter tido a oportunidade de admirá-lo mais de perto, ter brincado em suas águas e mo lhado os meus pés”. Presente nas recordações de infância de Carlos Cella, o “velho senhor” Belém tam bém é capaz de provocar reações eufóricas, desembocando em decla rações apaixonadas: “É uma história única, que faz parte da cidade e não pode morrer em nenhum de nós”, desabafa o fotógrafo.

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“Gostaria de ter tido a oportunidade de admirá -lo mais de per to e ter brincado em suas águas.” – Eliane Vieira, professora

O novo que se cuide

A onda vintage e retrô vem conquistando muitos adeptos e chamando a atenção dos mais variados grupos. Será que todos eles sabem a diferença entre essas duas tendências?

Podem começar a tirar a poeira da vitrola da vovó e os casacos antigos do baú: o velho virou moda, ou melhor, o vintage. A palavra existe desde o século 18 e costumava ser utilizada para representar o ano em que um determinado vinho era criado. Porém, ao longo dos anos, seu significado foi sendo alterado e passou a incorporar o vocabulário da moda para nomear estilos de objetos pertencentes a uma outra época. Ou seja, todas aquelas peças que tiverem mais de 20 e menos de cem anos são consideradas vintage.

Mas, ao contrário do que todo mundo pensa, essas peças não são tão fáceis de serem encontra

das. Não é todo objeto que está encostado há algum tempo em um canto que é vintage. “A dificuldade de achar peças antigas já é uma coisa, achar peças antigas que sejam bonitas é outra coisa, assim como de tamanho legal e em bom estado de conservação. Aí que é o porém da coisa, né?”, diz um dos proprie tários do Libélula Brechó, Ricardo Gomes Savae. Além do mais, esse estilo não é para todos. “Tem tam bém que ter bom gosto, né? Uma visão diferente de se vestir primei ro”, conta. Mesmo assim, ele ainda prefere o estilo: “Com certeza, o charme maior está em como a peça se conserva até hoje, como ela foi feita. Parece que ela foi feita agora.” E ele faz uma ressalva: “Vintage é uma caixinha

de surpresa. Cada peça que você olha parece ter um brilho próprio”.

Aprendi com o vovô

O hábito de ter objetos antigos vem de família na casa de Felipe Mari, estudante de Medicina, que com 8 anos de idade viu seu irmão mais velho ganhar do avô uma espada de capitão de 1958. Desde então, ele se tornou um aficionado por objetos colecionáveis e, princi palmente, vintage. Ele, geralmente, compra pela internet, mas também frequenta sebos, lojas de antigui dades, vendas de garagem e até mesmo seus familiares e amigos, sabendo de sua fissura, contribuem com a coleção.

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Carolina Silva Mildemberger, Mayara Nascimento, Silvia Yumiko Tokutsune e Vinicius Cordeiro

Aliás, não é apenas uma coleção de coisas antigas e inúteis – ele garante que faz uso de todos os objetos que possui.

“Um álbum de figurinhas que fica guardado, e às vezes é folheado, está sendo usado, ainda que seja uma coleção”, diz. Além disso, o preço não depende apenas do material ou da raridade, o valor sentimental também conta muito na hora de adquirir algum artigo. “Um item curioso ou que não pude possuir na infância é o que me mo tiva a pesquisá-lo e encontrá-lo no melhor estado possível. É um sen timento de conquista.” Como toda raridade, esses produtos vintage têm um preço elevado. Qual seria

então a opção para quem deseja, mas não tem poder aquisitivo para possuir esses objetos? O mercado cultural trouxe uma solução viável: o retrô. São produtos com apelo antigo apreciado pelos consumi dores em fabricações atuais. A estudante de moda Caroline Novak é o exemplo perfeito dessa inova ção... que a transformou em uma bonequinha dos anos 70.

“Eu gosto do apelo retrô, não tenho condição financeira pra comprar muitas peças vintage porque essas peças são difíceis de conseguir, mas toda vez que eu vou comprar uma roupa, eu vou atrás daquilo que são as minhas referências, que é o apelo retrô.” O

mais legal dessa moda, de acordo com Caroline, é a possibilidade de resgatar o desconhecido, ou seja, trazer para o presente épocas que não foram vivenciadas. “Às vezes você tá tipo num dia ‘ah, eu quero ser o Mick Jagger’, então vamos ver alguma coisa relacionada a ele no meu armário, então eu me sinto o próprio Mick Jagger.”

E o retrô?

No entanto, o crescimento do mercado tem exigido sua especiali zação. Sabbag Neto percebeu essa oportunidade e criou a Certas Coi sas Vintage que, apesar do nome contraditório, já que vende apenas produtos retrô, contém itens para

Acima, o Mercado de Pulgas, loja de produtos vintage e, abaixo, Cer tas Coisas Vintage, que vende pro dutos retrô.

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crédito: Silvia Tokutsune

presentes e decoração. O próprio proprietário se diz adepto ao estilo retrô e não vintage. “Quando as pessoas querem dar um presente, querem dar uma coisa nova. Não querem dar uma coisa usada, que precisa de reparo”, comenta.

Mas não é todo mundo que concorda com Netto. A equipe da CDM foi conhecer o depósito do Caçadores de Relíquias, uma loja virtual que se tornou popular tanto no ramo comercial quanto artístico. Adriano José Viana, antes advogado, transformou seu hábito de colecionador em seu trabalho, e passou a vender objetos dos mais variados gêneros,vintage e até mesmo antiguidades. Ele afirma que existe, sim, mercado, inclusive para produtos danificados. “Claro que ele também não pode estar completamente infestado de cupim gordo, mas isso porque tem pessoa que gosta de restaurar. Porque todo mundo tem que ter seu passatem po, né? Acho que todo mundo tem que ter uma válvula de escape.”

Essa renovação de estilo tem cresci do de maneira expressiva em todo o mundo e muita gente acaba se perguntando qual razão disso. Se gundo Caroline, as gerações atuais não têm uma perspectiva de futuro,

pois tudo já foi inventado. Assim, buscam novidades no passado. “Já tem TV que fala, carro eletrônico, então acho que já existe tudo. As pessoas não têm uma perspectiva de futuro e daí elas se apegam e querem resgatar aquilo que elas não tiveram”, explica.

Caroline Novak, estudante

Outro fator curioso é que esse público, que vem crescendo exponencialmente é, na maioria, jovens. A Joaquim Livraria e Sebo, especializada em livros das áreas artísticas, humanas e vinis de rock e MPB, tem um grande número de frequentadores jovens. “Tem todo um público que é colecionador e tem todo um público, principal mente jovem, que acaba descobrin do na casa dos pais, dos tios ou dos avós, os aparelhos de vinil e mesmo os vinis que eventualmente estão guardados lá. Então esse público está cada vez mais interessado”, finaliza.

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“As pessoas não têm uma perspectiva de futuro e daí elas se apegam e querem resgatar aquilo que elas não tiveram.”
Felipe mos tra seu vinil favorito e Caroline faz pose no ateliê em que traba lha. crédito: Carolina Mildemberger

A equipe da CDM fez a feira atrás dos preços dos produtos mais cobiçados por aqueles que querem uma pitada de retrô e vintage em suas vidas.

SA CO LÃO

Máquina de escrever

A primeira máquina de escre ver patenteada foi concebida na Inglaterra, em 1713, para o inglês Henry Mills. Ela foi muito utilizada antes, e até mesmo no começo da era dos computadores. O preço pode variar entre R$ 50 e R$ 900, dependendo do estado, da raridade e, é claro, do fato de que ela pode funcionar ou não.

Vitrola

A vitrola era o objeto de desejo dos que possuíam um poder aquisitivo alto. Ficava, geralmente, ao lado do piano da família, que passava o tempo ouvindo música. Na internet, é possível comprar uma usada e vintage por R$ 300, mas algumas novas, versáteis e com tecnologias do século XXI, como entrada USB e a possibilidade de se ouvir tanto um CD quanto uma fita, passam dos R$ 1 mil.

Câmera analógica

Surgiram no final do século XIX por meio de George Eastman, fun dador da Kodak Company. East man criou um dispositivo simples e de fácil acesso, o que resultou em uma grande difusão de câmeras durante o século XX. Como há um amplo mercado, com vários modelos, os preços variam muito. Uma polaroid, por exemplo, pode custar entre R$ 80 e R$ 500.

Serviço

Libélula Brechó. Rua Mateus Leme, 291 - São Francisco, Curitiba. Tel.: (41) 3082-8632 www.facebook.com/libelulabrecho | Ca çadores de Relíquias Curitiba. R. Padre José Lopacinski, 755 - Jd Gabineto, Curitiba. Tel.: (41) 3088-6202 www.reliquias.net.br | Certas Coisas Vintage. Rua Rocha Pombo, nº 843 - Juvevê, Curitiba. Tel.: (41) 3359-1960 certascoisasvintage.com.br | Joaquim Livraria e Sebo. Rua Alfredo Bufren, 51 - Centro, Curitiba. Tel.: (41) 3078-5990 www.facebook.com/JoaquimLivraria | Mercado de Pulgas Curitiba. Rua 24 de Maio, 765 - Rebouças, Curitiba. Tel.:(41) 3225-5017 www.mercadopulgas.com.br

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crédito: Silvia Tokutsune

DESTINO

BRASIL

Imigrantes contam como é viver no nosso país e o que fazem para manter suas tradições mesmo estando fora de seus países Por Beatriz Pacheco, Gustavo Lavorato, Jhenifer Valentim, Laura Espada e Mariana Papi

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Cada um possui a sua história, as suas raízes e as suas tradições. Partir para um lugar distinto daquele em que você nasceu não é tarefa fácil. O Brasil retornou com força total na rota da imigração há pouco tempo, em decorrência do seu crescimento econômico, do setor petroquímico em alta e a chegada de grandes empresas no país. O número é impressionante. Segundo dados do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia a e Estatística (IBGE), o crescimento de estrangeiros que vivem em terras brasileiras subiu 86,7% em dez anos, onde o Paraná figura em segundo lugar no ranking dos principais destinos.

Em Curitiba é possível encontrar gente de qualquer lugar do mundo. No centro da capital paranaense, nos deparamos com libaneses e, com certeza, companheiros sul-a mericanos. Nos bairros mais afasta dos, vemos japoneses, coreanos e até árabes, a maioria responsável por comandar cozinhas de requintados restaurantes temáticos da cidade. Também encontramos aqueles es trangeiros que vieram para o Brasil crianças, cresceram aqui e, hoje, não podem deixar de ser considerados um pouquinho brasileiros. Daniela Maccio nasceu em Cór doba, na Argentina, e veio morar no Brasil com poucos anos de idade. Filha de pai argentino e mãe brasileira, a jornalista conta que tem orgulho de ter nascido no nosso país vizinho e que mantêm algumas tradições típicas. “Na minha casa, fala-se o português e espanhol ao mesmo tempo, quase como se fosse o mesmo idioma. Minha mãe aprendeu várias receitas quando morávamos lá, então em cada refei ção tem um pouco de Argentina”, diz a jornalista. Daniela conta que não pensa em voltar a morar lá, mas sempre que pode viaja para rever parentes e amigos. “É um lugar que eu amo, com pessoas que eu amo e que me traz muita paz. Que tipo de pessoa eu seria se não amasse meu país?”, afirma.

Daniela conta que já sofreu precon

ceito de diversas formas e que se criou um estigma no Brasil de que argentinos e brasileiros são rivais não apenas no futebol. “Quan do era mais nova, me importava mais com criticas e opiniões, mas hoje nem ligo. Tem muita gente ignorante tanto aqui quanto lá”, finaliza. Nos últimos anos uma crise econômica instalou-se na Europa. Por esse motivo, muitos estran geiros europeus encontraram nos países emergentes, como o Brasil, um lugar para iniciar uma vida nova. O professor Camilo Fama veio da Itália há menos de um ano. Sua vontade de emigrar já era grande desde o início da crise, quando conheceu uma brasileira e acabou se casando com ela. Foi só unir o útil ao agradável e embarcar para o Brasil. Chegando aqui, Fama decidiu preservar, na medida do possível, um

Daniela Maccio

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Créditos: arquivo pessoal Alice Sakamoto

Brasil representa a beleza, tanto o país quanto o povo

Marcelo White, estudante

pouco da cultura italiana. Passou a participar de um coral italiano e de aulas do idioma em um centro cul tural da Itália, localizado no bairro Água Verde, em Curitiba. Ele destaca como é a nova imi gração para o Brasil e como está a procura por um novo campo de trabalho “Antigamente, as famílias vinham para o Brasil fugindo de alguma guerra, da fome e também de pestes que dilaceravam certas regiões. Já hoje em dia, os imigran tes que vêm pra cá, são engenhei ros, médicos, professores e pessoas mais capacitadas, que vêm com um currículo extenso, procurando novas oportunidades e não somente fugir da fome. Como o brasileiro é muito receptivo, eles conseguem se adaptar com facilidade”, observa Fama.

Para os que nasceram aqui, a distân cia das suas raízes e a falta de conta to com a cultura da qual descendem não são motivos que os afastem das suas origens. A família da estudante Alice Sakamoto, como o nome não nega, é de origem japonesa. Os avós da jovem vêm de diferentes regiões do Japão – a família paterna é da Região Norte, enquanto a mater na é de Hiroshima –, mas ambos vieram para o Brasil em busca de melhores condições de vida. Mesmo nunca tendo pisado no Oriente, a sansei curitibana revela se identificar muito com a cultura nipônica, até mais do que com a brasileira. Dos costumes e tradições de seus avós, há apenas resquícios na rotina da universitária. A iniciativa de alfabetizar as filhas na língua japonesa foi abandonada pelos seus pais quando sua irmã mais velha começou a confundir o idioma com o português. “O que resistiu [da cultura dos avós] foi o respeito pelo mais velho e a valorização da educa ção. Acho que, no Brasil, pouco se

respeita a experiência dos mais ve lhos. Aqui ainda há aquela visão de que as gerações antigas e seus costu mes estão ultrapassados e que não há nada a ser aproveitado. No mais, nós mantemos alguns costumes so mente no ambiente familiar, ainda nos cumprimentamos em japonês: ohayou, oyasuminasai, itekimasu, tadaima, itadakimasu, gotisosama, etc”, explica a estudante. Sobre como se vê hoje, Alice per cebe que se tornou mais “certinha do que muitas outras pessoas”, ela se reconhece uma perfeccionis ta e admite ter dificuldade para

trabalhar em grupo. “Tenho muito mais facilidade de me relacionar com os descendentes de japoneses do que com os outros. Até porque já sofri muito preconceito por ser oriental. Muitas vezes escutei nas ruas as pessoas falando com tom de depreciação “arigatô”, “sayonara”, o famoso “abre o olho japonesa” e “mas japonês é tudo igual mesmo”, me chamavam até de “xingling”. Já teve momentos em que o mérito das minhas conquistas não era meu, e sim da minha descendência”, revela a jovem. Tipicamente japonesa? Bom...

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Marcelo White

Alice tem olhos rasgados, gosta de ler mangá, assistir animes, filmes e novelas japonesas, mas, no fim, ela é brasileira. Mesmo a vontade de conhecer o Japão não impede que a jovem manifeste admiração pela alegria e hospitalidade do seu povo. “This is Brazil”, afirma com humor Marcelo White, lembrando a frase de Vin Diesel no filme Velozes e Furiosos 5 - Operação Rio (2011). Ele, que agora brinca com a situação e não tem plano nenhum de voltar aos Estados Unidos, teve uma vinda conturbada para cá. Aos 13 anos, teve apenas três dias para arrumar as malas, se despedir dos amigos e viajar. Sua mãe é brasileira, e como trabalha como corretora de imóveis decidiu, em 2009, que seria melhor sair de São Francisco (CA) – lugar onde moravam – e voltar ao Brasil. Preconceito? Nenhum. Marcelo conta que, para fazer amigos aqui, foi fácil. “Sempre tinham festas e comemorações, todo mundo era muito amigável”, lembra. O difícil mesmo foi aprender o idioma. “Conjugação de verbo, artigo, acen tos, sotaques... E toda vez que eu trocava de colégio, precisava apren der a maneira como eles falavam. Tantas gírias e maneiras de falar que chega a ser absurdo” observa. “Eu deixei os Estados Unidos nos Estados Unidos. Para mim, aquela vida não existe mais. Parece um sonho”, completa White sobre a re lação com sua pátria mãe. Hoje, ele afirma amar o Brasil e ainda destaca: “Brasil representa a beleza, tanto o país quanto o povo”.

O caso de Ghislain Mathos é pareci do com o de Marcelo. Em 2006, aos 22 anos, ele saiu de Paris e veio para o Brasil. O motivo foi o seu pai, que precisou vir para cá por causa do trabalho. A dificuldade em aprender o novo idioma foi um dos aspectos que mais marcaram. Para poder começar a entender e responder as pessoas, foram seis meses. Hoje, as dificuldades diminuíram, mas ainda existem “Quero melhorar um pouco meu português – escrita e fala –, porque vou estudar Comércio Exterior e preciso estar perfeito”,

comenta ele empolgado com o novo desafio que começa no ano que vem.

As amizades continuam as mesmas. Mesmo com a distância, Mathos conta que mantém contato com vá rios de seus amigos franceses. “Sou DJ, então todos os anos eu acabo indo para lá. Alguns amigos até já vieram para cá me visitar”, conta. Apesar de gostar muito do Brasil e entender o país como um lugar de povo aberto e feliz, Mathos aponta um detalhe que deixa a desejar, o preconceito. “No geral, o brasileiro gosta do francês, mas senti precon ceito por ser negro”, relata.

E é daqui para o mundo. Depois de formado, ele não pretende nem ficar no Brasil, nem voltar para a França. Seu objetivo é ir para algum outro país e tentar se estabelecer profissio nalmente.

Ghislain Mathos

Jornalismo PUCPR Revista CDM 41 comportamento

As consequências do e-lixo

Lixo eletrônico é um problema de saúde pública que pode ter solução

Aconscientização ambiental é um processo demorado. No entanto, a reciclagem que é uma etapa simples e muito importante, já faz parte do coti diano de muitas famílias. Um ciclo precisa ter início, meio e fim para ser completo, e quando o assunto é o lixo eletrônico, muitas falhas de percurso o impedem de ser finalizado.

Sabe aquele computador que não funciona mais, a televisão quebra da, a lâmpada queimada, as pilhas velhas e os celulares estragados? Tudo isso é e-lixo, ou lixo eletrô nico. Carlos Mello Garcia, mestre em Recursos Hídricos e Meio Ambiente, comenta que os itens citados acima são os descartes mais comuns da categoria. Além de tóxi co, o que já gera certo receio, o lixo eletrônico, quando não descartado

da maneira correta, pode trazer sé rios danos tanto ao meio ambiente quanto à saúde humana.

O maior problema do e-lixo é que envolve materiais pesados, que possuem alta densidade e, normal mente, não são encontrados em organismos vivos, prejudicando o ecossistema. Segundo um trabalho de iniciação científica (PIBIC) apresentado na PUCPR pelo aluno Felipe Lukavei, “tais metais são bioacumulativos, ou seja, acu mulam-se no decorrer da cadeia alimentar e, assim, atingem em maior escala os predadores, e logo, o homem. Os metais cádmio, mer cúrio e chumbo não têm funções no corpo humano e são, ao con trário disso, prejudiciais ao mesmo podendo causar várias doenças em determinadas quantidades”.

Garcia afirma que é importante saber os riscos que o e-lixo pode representar. “É necessário ter em mente que todo tipo de lixo eletrô nico possui os chamados materiais pesados, que têm o ‘efeito acumu lativo’ no organismo humano, e o resultado final são doenças graves, como o câncer. O mesmo serve para o que você come: se você se alimenta de um peixe que está contaminado, você se contamina também”, explica.

Karin Schellmann, especializada em Análise e Gestão Ambiental e em Educação Ambiental em Espaços Sustentáveis, conta que os problemas que o e-lixo pode causar vão além da saúde pública. “O lixo eletrônico pode ocasionar diversos problemas, o primeiro e que podemos desconsiderar ‘menos grave’ é a poluição visual,

Equipamen tos eletrôni cos podem causar da nos ao meio ambiente.

tecnologia
Stacy Barbosa Alana Freiberger
42 Revista CDM Jornalismo PUCPR

porém, os demais podem gerar consequências graves, tais como a poluição hídrica. Infelizmente, muitos componentes eletrônicos não permitem a sua reutilização ou reciclagem. Assim, o mais correto seria a adoção efetiva da política reversa, em que os produtores são obrigados a retirar seus produtos para destinação correta, como já é realizada, por exemplo, com as baterias de carros”, esclarece.

Karin fala que as campanhas de conscientização e as leis de crime ambientais existem desde 1990 e que o mais importante é que a população faça parte desse proces so. “A população precisa desenvol ver valores que proporcionem o

quando estragam, vendo para técnicos para que eles possam aproveitar as peças que não estragaram”, relata.

Em Curitiba, ainda tramita na Câmara Municipal o projeto de lei que estabelece normas e pro cedimentos para o gerenciamen to, destinação e reciclagem de “lixo tecnológico” no município. A proposta, de autoria de Carla Pimentel (PSC), visa a conscien tizar a população sobre a impor tância da logística reversa e do impacto ambiental dos resíduos eletrônicos.

Serviço

Saiba o que fazer com equipa mentos eletrônicos velhos

1Deixe no Lixo que não é Lixo: eletrôni cos recolhidos pelo caminhão da coleta seletiva são levados para uma central de reciclagem, em Campo Magro. O material é leiloado a cada três meses e a renda retorna para financiar o programa Lixo que não é Lixo. Consulte dias e horários que o caminhão passa na sua rua no site http://geocoletalixo.curitiba.pr.gov.br/ reciclavel.aspx

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Doe para associação de reciclagem: o Instituto Brasileiro de Ecotecnologia é uma organização sem fins lucrativos recomendada pela prefeitura de Curitiba para recolher lixo eletrônico domiciliar. A entidade separa o material e o vende, gerando renda para a manutenção dos trabalhos sociais, ou reaproveita os equi pamentos e peças para aulas de robótica. Telefone: (41) 9932-0168.

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reestabelecimento do convívio em sociedade, com respeito e ética. É necessário que o ser humano respeite a si próprio e aos outros. Assim, ele estará compreendendo que, por meio das relações intrín secas entre sociedade e meio, é que será possível estabelecer um patamar sustentável em todos os ambientes”, diz.

Mirian Binhara, arquiteta, revela que onde mora não há qualquer tipo de posto de coleta de e-lixo. “Moro na Lapa, e aqui não existe coleta de materiais tóxicos, nem empresas que recolham esses ma teriais. Por isso, acabo guardando pilhas velhas e lâmpadas fluores centes em caixas. Já computado res, celulares e eletrodomésticos,

De acordo com um estudo realizado em 2013 pelo Instituto de Tecnologia da Universidade das Nações Unidas (UNU), na China, em 2017, o volume anu al de lixo eletrônico será de 65,4 milhões de toneladas, o equi valente a 200 edifícios como o Empire State, em Nova York, ou 11 construções das dimensões da Grande Pirâmide de Giza.

Com a evolução tecnológica cada vez mais rápida e o consu mo desses equipamentos cada vez mais elevado, é importante saber qual a destinação correta para esses materiais. Assim, você não prejudica o meio ambiente e protege a sua saúde. Procure sempre um posto de coleta mais próximo.

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Venda como sucata: algumas empresas compram o lixo eletrônico. Na maioria das vezes, o valor é simbólico, como R$ 2 por um computador. A Reciclatech busca os aparelhos na sua casa ou empresa. Contato pelo fone (41) 3606-9623 ou e-mail reciclatech@reciclatech.com.br. Há ainda a Hamaya do Brasil, no município de Fazenda Rio Grande, que não busca o material, mas compra por quilo. Telefone: (41) 3060-3500.

Doe para uma entidade assistencial: vá rias organizações precisam de materiais de informática e aceitam doações, desde que os equipamentos estejam funcio nando. É o caso do projeto ETM, que adapta computadores para pessoas que têm graves dificuldades motoras. Conta to pelo telefone (41) 9946-2966 ou pelo e-mail alexandrehenzen@hotmail.com.

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Posto de coleta: você pode encontrar postos de coleta próximos à sua residên cia acessando: http://desapegoconsciente.org/

Jornalismo PUCPR Revista CDM 43 tecnologia
“Moro na Lapa, e aqui não existe coleta de materiais tóxicos, nem empresas que recolham esses materiais
”Mirian Binhara, arquiteta.

Ap pli ca tiv id ad es

O NOVO FLAPPY BIRD

Se você era uma das pessoas que queriam jogar o celular pela janela toda a vez que jogava Flappy Bird, prepare-se: o desenvolvedor do jogo dos pássaros pulantes, o vietnamita Dong Nguyen, criou outra frustra ção. O novo jogo, Swing Copters, foi considerado tão difícil que já foi até atualizado com uma nova versão.

DO IT YOURSELF

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Para fazer sorrir

Voluntários da Terapia Intensiva do Amor e Risotera- pia levam alegria e conforto a crianças e idosos em hospitais crédito:

Bianca Craoline, Carolina Rodelli, Juliana Reis e Mariana Therezio
saúde 46 Revista CDM
PUCPR
Mariana Therezio
Jornalismo

As paredes são cinzas e bran cas. Há um desfile nesse cenário de pessoas usando jalecos: são médicos e enfermeiros, em uma rotina sempre igual. Mas naquela tarde em especifico, algo parecia estar diferente.

Entre pinturas, bolhas de sabão e roupas coloridas. Sorrisos e risadas espontâneas. A reação das pessoas ao redor era de espanto logo no inicio, outros preferiram rir escondidos e tinha aqueles que caíram na gargalhada.

Eles são jovens e adolescentes que abrem mão de seus fins de sema na em busca do sorriso de uma criança. Com o objetivo de levar alegria, amor e esperança por meio da figura de um palhaço, diversos grupos têm se formado em Curi tiba para tentar tornar o ambiente tão sério e frio dos hospitais em algo mais leve e colorido. Exem plos disso são Terapia Intensiva de Amor (TIA), fundado em 2008 por Caroline Alcova, de 24 anos,

e o Risoterapia, este mais recente, fundado em 2013 por Bruna Dea, 21 anos.

“O TIA trouxe toda a diferença para minha vida. Antes, eu tinha uma vida normal, mas agora a

atividades com os pacientes, desde mágicas, piadas, danças até as so nhadas bolhas de sabão. O sorriso de gratidão dos pais é outro item sempre presente nas visitas. Maria G. Motta, que não quis revelar a identidade da filha, disse que “o

“A alegria de uma criança é o nosso presente, um presente que nem merecemos. ”

- Bruna Dea do grupo Risoterapia

minha vida é voltada ao grupo, a realizar com excelência o trabalho para o qual eu fui chamada.Posso perder o final de semana. Mas ganho a semana inteira. A cada visita, adquirimos conhecimento humano”, declara Caroline.

Os grupos desenvolvem diversas

projeto ajuda muito. Quando os palhaços chegaram, ela abriu um sorriso e esqueceu de tudo por um minuto. O que eles fazem é muito bom”. A filha de Motta estava in ternada há poucos dias e teria alta no dia da visita.

Para os voluntários, o sentimento

Pais acom panham o trabalho dos volun tários com as crianças hospitaliza das.

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crédito: Mariana Therezio

de promover o sorriso de uma criança doente é renovador e os estimula a continuar fazendo a diferença. “A alegria de uma criança é o nosso presente, um presente que nem merecemos. A sensação é a de que estamos cumprindo a missão pela qual Deus nos chamou em um simples gesto inocente de criança. Sentir a pureza das atitudes delas nos fortalece”, revela Bruna Dea. Ericson Chagas, capelão hospita lar do Hospital Evangélico, fala sobre a importância do trabalho voluntário, não só para as crianças e suas famílias, mas para o hospital

e seus funcioná rios. “O trabalho voluntario é o que sustenta um hospital, pois esse povo cheio de amor e fazendo tudo de forma desprendida nos anima a continu ar em nosso oficio, apesar das lutas. O voluntariado é um fôlego novo para nós da área de saúde.”

“O trabalho voluntário enche o hospital de amor ” - Ericson Chagas

Para tornar-se um voluntário, é preciso primeiro passar por um processo seletivo e, depois, por uma

série de treinamentos. Mais do que isso, se você quer ser um voluntá rio, é preciso ter muito amor e ale gria à disposição, e estar disposto a perder o fim de semana para ganhar a semana. toda

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crédito: Mariana Therezio

“Muitas histórias me marcaram. Mas acho que a que mais me tocou foi a do Gustavo, um menino com leucemia. Fomos até a casa dele fazer uma visita em fevereiro deste ano. Um domingo chuvoso e cinzento, que ficou muito mais colorido quando o conhecemos. Ele tinha 11 anos, era apaixonado por cachorros e o melhor banqueiro do Jogo da Vida. Aquele dia nós cantamos, estouramos bolhas de sabão, jogamos vídeogame e brincamos bastante. Oramos com toda a família e entregamos a situação nas mãos de Deus. Ele já estava bem fraco. Mas os sorrisos daquele dia nós jamais vamos esquecer. Lembrar daquele dia nos motiva a continuar. Dois meses depois dessa visita Deus o levou. Acom panhei a família no velório. A tristeza foi muito grande. Ainda converso com a mãe dele, uma mulher guerreira e muito querida, aprendemos a amar esta família e ela continua em nossas orações. Hoje os pais conseguiram aprovar a Lei Gustavo Calonga de incentivo à doação de medula óssea. Já podemos ver que ele é um menino que mesmo não estando mais entre nós, continua fazendo a diferença em nossas vidas.”

Bruna Dea, criadora do gru po Risoterapia

saúde Jornalismo PUCPR Revista CDM 49

Pessoa de FIBRA

Mesmo com o diagnóstico de fibrose cística, ainda é possível ser forte e ter uma vida normal

Maria Alice Travagin teve seu diagnóstico logo após o nascimento. Fez e refez o teste do pezinho para confirmar o destino que tomaria. Ela era uma pessoa de fibra – ter mo usado para se referir a quem é diagnosticado com fibrose cística (FC). O que isso significa e repre senta hoje na vida dessa menina de 2 anos?

Segundo o médico Luis Felipe de Camargo Abagge, a fibrose cística é uma doença genética comum em descendentes de países do norte europeu. Conhecida popularmente como doença do suor salgado, ela pode causar diversos problemas, já que as reações que provoca afetam boa parte dos tecidos do corpo hu mano. Os sintomas são pneumo nias de repetição, dificuldade para ganhar peso, crescimento retardado e o suor salgado

Abagge afirma que, com um bom acompanhamento, o diagnóstico é realizado já nos primeiros anos de vida. Isso é muito importante por que quando se descobre a doença precocemente, a pessoa pode evitar ou atrasar as complicações decor rentes da fibrose. “Para se ter uma ideia, atualmente 40% dos por tadores da enfermidade nos EUA

Estomago

Infografia: Marcela Carvalho

SINTOMAS

50 Revista CDM Jornalismo PUCPR saúde
Helena Comninos, Isadora Domingues, Marcela Carvalho e Maria Fernanda Schneider Confira quais são os sintomas mais frequentes da Fibrose Cística
- Pneumonia de repetição - Tosse e mucos no pulmões - Sibilis (chiados
peito)
Pulmão
no
- Ganho de peso lento embora o apetite esteja regular Intestino - Defecação anormal (diarréia crônica e fezes volumosas, gordurosas e mal cheirosas -Prolapso retal, o reto se expõe através do anus
- Braqueteamento digital nas pontas dos dedos dos pés e das mãos
- Pequenos nódulos carnosos - Respiração de sabor muito salgado
Dedo
Nariz

têm mais de 18 anos. Quando não tratada, essa expectativa de vida cai para menos de sete anos.” Quando não tratada, essa expectativa de vida cai para menos de sete anos.”

Apesar disso, Maria Alice não possui qualquer dificuldade, se for comparada com outras crianças com a mesma idade. Aura, mãe da menina, afirma que ela não sente cansaço ou falta de ar e, por isso, brinca normalmente. Mas isso tudo só é possível devido ao tratamento. Ela ingere enzimas pancreáticas em todas as refeições, segue uma dieta hipercalórica, faz ingestão de cloreto de sódio, além das duas inalações diárias com solução hipertônica salina para a reposição do sal perdido no suor.

Os cuidados que essas pessoas de fibra precisam ter são essenciais para uma qualidade de vida. O tratamento envolve o uso de anti bióticos quando surgem infecções, inalações com medicamentos para abrir as vias respiratórias, terapia de substituição de enzimas – que pode ajudar a afinar o muco, uma dieta especial rica em calorias e ingerir altas concentrações de soluções

salinas. Em alguns casos, se faz ne cessário o transplante de pulmão.

Assim, após o susto de ter sua filha diagnosticada com fibrose cística, Aura Travagin resolveu se informar mais e procurar ajuda para lidar com a doença. E foi na internet que se deparou com o site do Instituto Unidos Pela Vida. Ali, encontrou o apoio que precisava e se envolveu cada vez mais, até ser convidada para participar da dire toria da ONG em abril deste ano. Hoje, Aura entende mais a doença e ajuda pais que como ela buscam apoio e precisam de esclarecimento sobre a FC. sobre a FC.

INSTITUTO

Tudo começou com a história de Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, 27 anos, que foi diagnos ticada com fibrose cística aos 23 anos. Até descobrir o resultado do exame, Verônica passou por muitos internamentos e sofrimento por não saber o que tinha. E quando foi diagnosticada com a FC, logo ela iniciou o tratamento correspon dente à doença e foi ai que a ideia de criar o Instituto Unidos Pela

Vida surgiu.

Com a intenção de ajudar o próximo, Verônica criou um blog para ajudar famílias e pessoas que estavam passando pela mesma situação. Com o sucesso do blog, o grupo informal passou a ser uma ONG e hoje, com a aprovação da Assembleia Geral Constituinte, foi regulamentado e registrado.

Diretora geral e fundadora do Instituto, Verônica ajuda as pessoas de fibra com postagens na inter net sobre a doença, diagnósticos, tratamentos, histórias de vida e também por meio de programas de divulgação sobre a doença.

A equipe deixa claro que as infor mações contidas no site são apenas de cunho educacional e sempre recomenda a procura de um profis sional da saúde. “Não somos uma associação de apoio, não trabalha mos com medicamentos, tampou co somos um ‘consultório virtual’. Nós ajudamos as pessoas de fibra a encontrar tudo isto”, esclarece a equipe do Instituto.

“Hoje, a Maria Alice não tem qualquer limite em comparação com outra criança de sua idade. Ela não sente cansaço, falta de ar e por isso brinca normalmente com outras crianças, ela corre, pula, canta...”

Aura Travagin, mãe da Maria Alice

Jornalismo PUCPR Revista CDM 51 saúde
Maria Alice, uma menina de fibra. Foto: arquivo pessoal

A arte da

Cura

Aarte, segundo o dicionário Aurélio, é um complexo de regras e processos para a produção de um efeito estético determinado. Mas, para algumas pessoas, é uma maneira de enfrentar diversas doenças crônicas como ansiedade e enxaqueca. Esta última atinge cerca de 20% da po pulação feminina e de 5 a 10% dos homens, de acordo com a Socieda de Brasileira de Cefaléia (SBC).

Manuel Santore, bancário de 29 anos, encontrou na música uma maneira de enfrentar a enxaqueca. “Ouvir música me ajudava muito, mesmo que todos dissessem que escutar muito barulho piora as dores de cabeça. Então, pensei em tentar fazer uma aula de violão com o apoio do meu médico”, afirma. Segundo ele, os remédios ainda são necessários, porém apenas quando a dor está insuportável.

De acordo com Barbara Prado Zerbatto, psicóloga especializa da em tratamentos alternativos, aliar a terapia tradicional a alguma expressão artística, contribui para o desenvolvimento do hemisfério direito do cérebro, responsável pelo processo criativo: “A arte ativa o lado lúdico, a criatividade, fortalece os hormônios que combatem o estresse, a falta de concentração, as dificuldades de memorização e mo toras, e os vários outros distúrbios mentais e do corpo”.

Os tratamentos alternativos, como são conhecidos os métodos que procuram trabalhar para fazer o pa ciente se expressar por meio da arte, estão ganhando espaço nas clínicas médicas. Segundo a psicóloga, esse tipo de tratamento é recomendado para doenças que afetam direta mente o estado mental e emocional,

como depressão, estresse, fobia e que causam enfermidades como gastrite e asma.

Para a estudante Caroline da Silva Carvalho, a escrita se tornou sua fuga. ”Tenho problemas com ansiedade desde que me lembro. Qualquer mudança de rotina ou apresentação na escola me fazia tremer, e a falta de ar não ajudava.” O tratamento convencional foi a primeira opção, mas, após tentar algumas sessões com um psiquiatra, sua mãe desistiu da ideia: “Ela não quis que eu continuasse depois de tantos remédios que o médico pres creveu. É meio contra, então tive que dar um jeito por mim mesma e até que deu certo”.

O neurologista Eduardo Bauer diz já ter tido pacientes que encontra ram uma melhora na enxaqueca

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Dores de cabeça, crises de ansiedade, depressão: todas essas doenças crônicas e um tratamento diferente e natural Karla Fernandes e Rafaela Oliveira
saúde

Alguns pacientes conseguem relaxar com a pintura e até ouvindo música.

por meio de exercícios artísticos. “Alguns pacientes conseguem relaxar com a pintura e até mesmo ouvindo música, mas para uma cura completa, é necessário um trata mento acompanhado.”

Bauer não aconselha começar um tratamento alternativo sem acom panhamento. “Por mais que tenha sido comprovado que a música traz uma grande melhora à saúde de uma pessoa. É preciso que um médico especializado esteja acom panhando o processo”, afirma o neurologista. Contudo, Bauer diz que o relaxamento por meio desses meios é uma forma de prevenir a enxaqueca em pessoas que tendem a ter a doença, por questões de genética. “É sempre bom separar alguns minutos do dia para escutar música, ler e até mesmo conversar com os ami

gos. A meditação também é uma aliada”, finaliza.

Opções de tratamento

Segundo Barbara Prado Zerbatto, as opções de tratamentos alternativos para doenças psíquicas são inúme ras, variando conforme a necessida de do paciente. Os mais procurados são a terapia cognitiva, a terapia comportamental e as técnicas de relaxamento.

A cognitiva tem o objetivo de alte rar padrões de pensamento indese jados e perturbadores. “O indivíduo examina os seus pensamentos e aprende a separar pensamentos re alistas de pensamentos irrealistas”, afirma Zerbatto.

Na comportamental, o paciente ganha controle sobre os comporta

mentos indesejados. “Ele aprende a lidar com situações difíceis, muitas vezes através do controle à exposi ção a esses fatores”, relata Zerbatto.

As técnicas para relaxamento ajudam as pessoas a desenvolver a capacidade para lidar de forma mais eficaz com o stress e com sinto mas físicos que contribuem para a ansiedade. Segundo a psicóloga, a técnica mais comum é o reaprender a respirar.

Todas as técnicas devem ser orien tadas por um profissional especia lizado, pois devem ser analisados aspectos psicológicos dos pacientes, “Cada um desenvolve sintomas próprios, mesmo quando se trata da mesma doença, que pode se ma nifestar de diversas formas, e para cada uma delas há um tratamento específico”, afirma.

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Eduardo Bauer,
saúde
cultura

Vem ver, menino vem ver!

História do maracatu em Curitiba guarda casos de amor e alegria que só o tambor pode contar

Texto: Amanda Souza Fotos: Amanda Souza Ilustração: Rosinha

Jornalismo PUCPR Revista CDM 55 cultura

No começo dos anos 2000, um pedacinho da cultura popular brasileira foi trazida do Nordeste para o Sul. Vindos, mais especificamente, do estado de Pernambuco, o cavalo -marinho, o caboclinho, o coco, a ciranda, o maracatu, chegaram a Curitiba pelas mãos de pessoas apaixonadas pelo universo da cultu ra popular.

Foi na virada do século que a Ofi cina de Música de Curitiba, evento que acontece na cidade desde 1983, trouxe uma integrante da nação Estrela Brilhante de Recife para dar um curso sobre maracatu de baque virado. Essa foi a primeira vez que o maracatu ganhou as ruas de Curi tiba. “A gente saiu ali do Largo da Ordem e foi até o Memorial. E era assim: cinco alfaias, quatro caixas, cinco ou seis ganzás, três gonguês e agogôs e umas 20 pessoas todas fantasiadas de rei e rainha, em

baixador e embaixatriz, catirinas”, conta o professor de artes Pedro Solak, de 40 anos, participante da oficina.

Origens

O maracatu de baque virado, também conhecido como maracatu nação, é uma manifestação cultural popular de origem afro-brasileira, fortemente ligada com o candom blé, que surgiu em meados do século XVIII , na região onde hoje existe o estado de Pernambuco. A história mais aceita e difundida sobre o seu surgimento, conta que o maracatu nasceu das coroações do Rei do Congo, uma das poucas práticas realizadas pelos escravos que eram permitidas pelos senhores de engenho.

Com o fim da escravidão, o mara catu passou, aos poucos, a se tornar uma manifestação típica do carna

val recifense. Mas foi na década de 1990 que, depois de um processo de decadência vivido durante quase todo o século XX, o movimento Mangue Beat – que tinha como principais expoentes Chico Science e a banda Nação Zumbi – foi um dos responsáveis pelo que se cha mou de “boom do maracatu”.

Foi nesse contexto que a manifes tação saiu de Recife e se apresentou não só ao resto do país, como ao resto do mundo. Com seus tambo res, suas danças, suas calungas, seus reis, suas rainhas e toda a riqueza da sua tradição.

Boi Faceiro

Em Curitiba, o maracatu não chegou sozinho, veio acompanhado de outras manifestações da cultura popular. Poucos anos depois da fatí dica Oficina de Música de Curitiba, que havia iniciado, sem saber, um

caixa alfaia

agbê ou

cultura
xequere
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movimento que se estende até hoje na cidade, um grupo de universi tários, com a ajuda do músico e bailarino Luciano Fagundes, passou a estudar, praticar e conhecer cada vez mais o tesouro nordestino que estava sendo redescoberto pelo resto do país.

“Montamos uma turma de mais ou menos 20 pessoas e lá começaram os encontros semanais [...]As aulas não eram só de maracatu. Trabalhá vamos cavalo-marinho, caboclinho, coco, ciranda e etc.”, conta Luciano Fagundes, de 31 anos. O compro metimento e interesse dos alunos fez com que, em 2003, a turma se

tornasse um grupo. “Eis que nasce o Boizinho Faceiro (um sonho que eu tinha: montar um boizinho na cidade de Curitiba)”, explica o músico.

No mesmo ano, o grupo começou a fazer arrastões pelo centro da cidade. Na época chamados de cor tejos, as saídas passaram a acontecer sempre na última sexta-feira do mês, quando o Boizinho Faceiro ia

para as ruas tocar, principalmente, maracatu. Um hábito que virou tradição e acontece até hoje.

“Para sair pra rua a gente não podia levar o CD pra dançar o cabocli nho, o cavalo-marinho, e o que aconteceu? Levamos os instrumen tos para a rua com o maracatu. E todo mundo dizia: “Ai, o grupo de maracatu!”. “Na verdade, a gente fazia um monte de outras coisas e o maracatu era uma coisinha de leve”, conta Pedro Solak, ex-integrante do Boizinho Faceiro e um dos prota gonistas da história da maracatu em Curitiba.

gonguê mineiro ou ganzá

cultura crédito: Amanda Souza
Jornalismo PUCPR Revista CDM 57
cultura 58 Revista CDM Jornalismo PUCPR

O grupo abriu as portas da cidade para a cultura popular. Mas, entre as diversas manifestações praticadas por eles, foi o maracatu que esti mulou a criação de novos grupos, nascidos da vontade de pesquisar e conhecer cada vez mais esta tradição.

Os grupos Maracaeté, Estrela do Sul e Voa Voa surgiram quando o Boizinho ainda vivia. Foi a época de ouro do maracatu na cidade, quando quatro maracatus coexisti ram. Com o fim desses grupos surgiu o Itá, que, em 2012, deu lugar ao Maracatu Aroeira.

Tradição

A internet é, hoje, uma impor tante ferramenta de pesquisa. Segundo o Instituto Brasilei ro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade dos brasileiros já está conectada à web. “A internet possibilita um acesso que essa distância de mais três mil quilômetros [en tre Curitiba e Recife] impede”, afirma o estudante de Artes Visuais Rodrigo Melo, de 24 anos, integrante do Maracatu Aroeira.

Mas não foi sempre assim. As primeiras informações come çaram a chegar à cidade pr meio da experiência pessoal de cada um com a cultura popular. O maior exemplo é Luciano Fagundes, cria dor do Boizinho Faceiro e sobri nho do artista e músico brasileiro Antônio Nóbrega. Por intermédio do tio, Fagundes teve a oportu nidade de mergulhar na cultura popular. Além de diversas oficinas de música e dança com mestre e artistas da cultura popular, realizou

uma imersão cultural, sobretudo no estado de Pernambuco, conhe cendo ainda mais coisas, pessoas e histórias.

O conhecimento de Fagundes foi a base para dar início às aulas, que posteriormente se tornariam o Boizinho Faceiro. Depois do boom do maracatu, nos anos 1990, o acesso foi se tornando cada vez mais fácil e cada vez mais gente começou a ir para Pernambuco co nhecer as manifestações culturais.

Adeus, companheiro

Acima de tudo, o que fez nascer e o que faz perpetuar a cultura popular brasileira é a paixão. “O encan tamento que tive com o universo da cultura popular aconteceu de maneira muito forte. Encontrei pessoas que trazem valores, sobre tudo, humanos. Existe uma verdade muito bonita no ‘brincar’ do povo, isso toca profundamente”, conta Luciano Fagundes.

“A gente tenta ir pra lá pelo menos uma vez por ano, no carnaval, o estudo que temos é lá. Quando a gente não consegue o jeito é escutar CDs, gravações, assistir a vídeos.

Além disso,sempre tentamos trazer as pessoas referências de Recife para dar oficinas aqui”, conta um dos coordenadores do Maracatu Aroeira, Paulo Henrique Portes, de 21 anos.

Além disso, é preciso lembrar que por trás da folia e da alegria das ma nifestações populares, sua função social dentro das comunidades é fundamental. “A cultura popular ainda não é vista e reconhecida com o seu potencial ‘salvador’, ela traz uma ‘boa nova’ para o mundo. Há vida, novidade, movimento, beleza, pulso e etc. Ela tem o poder de conectar o ser humano consi go mesmo, pelo menos comigo é assim!”, conclui Fagundes.

cultura Jornalismo PUCPR Revista CDM 59
“O encantamento que tive com o universo da cultura popu lar aconteceu de maneira mui to forte. Encontrei pessoas que trazem valores, sobre tudo, humanos.” Luciano Fagundes, músico e bailarino

Loucura que só fã entende...

A equipe da revista CDM foi atrás de pessoas que não medem esforços para se sen tirem mais próximos dos ídolos, sejam eles atores, bandas ou sagas inteiras. Eles se arrependem de algo que fizeram? Pode apostar que não

N“No meio do cami nho, o ônibus quebrou literalmente no meio do deserto de Nevada.”Thaís Carvalho, estudante.

Todo mundo já teve, tem ou terá sua dose de loucura na vida. Seja pulando de paraquedas, fazendo um mochilão pela Europa com pouquíssimo dinheiro ou agindo de forma que outras pessoas não entendem muito bem para ir à pré -estreia de um filme, homenagear a sua saga predileta, ou ir a um show esperado há anos.

Thaís Carvalho, 21 anos, por exemplo, passou por um perrengue daqueles para ver sua banda do coração pela primeira vez na vida. Se ela faria de novo? Com certeza.

2013 foi um ano especial para todos os fãs da Fall Out Boy, banda de pop-rock formada em 2001, na cidade norte-americana de Chicago. Depois de um hiato (período em que houve uma pausa da banda) de três anos, o quarteto anunciou a volta e um novo CD a ser lançado no mesmo ano.

“Em 2013, eu queria viajar para os Estados Unidos para ir para a War ped Tour, mas não tinha qualquer plano concreto ainda”, conta Thaís sobre como toda essa maluquice começou. Depois que os roqueiros quase quebraram a internet com o retorno e a divulgação de uma pe quena turnê para promover o novo álbum pelos Estados Unidos, Thaís sabia que aquela era a hora certa de se decidir pela viagem. “Foi o empurrão final”, afirma.

E foi aí que os problemas começa ram. Devido à grande demanda, os ingressos para a show em Los Angeles, onde Thaís planejava ir, se esgotaram antes que ela pudesse adquirir o seu. O jeito foi comprar um bilhete para a apresentação em Las Vegas, cidade que fica a apro ximadamente 430 quilômetros da metrópole californiana – só que os ingressos também se esgotaram por lá. Thaís acabou comprando por um site de cambistas e pagando o triplo do preço. Para completar, o site não fazia entregas no Brasil e a pessoa que ficou responsável por enviar os suados ingressos para Thaís se atrapalhou nas datas. Re

sultado: o envelope com as entra das ficou preso na Receita Federal e Thaís só conseguiu colocar as mãos nele duas horas antes de ir para São Paulo, de onde sairia o voo para os Estados Unidos.

E ainda tem mais. Entre voos, escalas, trens, metrôs e quatro dias sem dormir, Thaís ainda pegou um ônibus de Los Angeles a Las Vegas para ir ao show. “Decidi ir de ônibus para ver a paisagem e era uma viagem de seis horas. Então, achei que valia a pena”, conta. Mal sabia que isso iria trazer mais dor de cabeça. Com apenas algumas horas para poder chegar a tem po no show, o ônibus enguiçou. “Tivemos que parar no acostamen to umas sete vezes até finalmente chegarmos”, relata. Apenas dez minutos depois de chegar à casa de shows em Las Vegas, Fall Out Boy subiu ao palco e tudo compensou. E foi mesmo uma grande sorte: “Se por um acaso algo no processo ti vesse atrasado mais um pouquinho, eu teria perdido o show.”

No entanto, essa não foi a única experiência que Thaís teve nos

Thaís já fez coisas impensá veis para conseguir ir a shows narionais e internacio nais.

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Por Carolina Mildemberger, Mayara Nascimento, Silvia Tokutsune e Vinicius Cordeiro
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Estados Unidos. A Vans Warped Tour, festival itinerante de música e motivo pelo qual ela queria viajar primeiramente, ainda estava por vir. “Foi uma das experiências mais legais da minha vida. É aquele tipo de sonho de adolescência que você nunca imagina que vai se realizar, já que desde os 15 anos eu via ban das como Fall Out Boy e Blink 182 falarem desse festival como se fosse a melhor coisa do mundo”, conta animadamente.

As coisas na Warped Tour ficaram um pouco mais “tranquilas”, mas só relativamente. Em cada dia do festival, aproximadamente 90 bandas tocam em diversos palcos das 11 às 21 horas. A parte mais legal, segundo Thaís, é conhecer os músicos em barracas que ficam espalhadas pelo festival, onde as bandas vendem itens de merchan dise e marcam sessões de autógra fos e fotos com fãs.

Mãe, eu não sou um trouxa!

Dormir na praça com chuva não poderia ser um desfecho melhor. Pelo menos é isso que Marília da Costa, também com 21 anos e estudante de Design Gráfico, tem a dizer sobre ir até Londres

para a pré-estreia de Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte II, último filme da saga que começou em 2001 e terminou em 2011, somando oito longas-metragens e legiões de fãs.

Talvez alguns fãs que acompa nham a saga desde o comecinho pudessem chamar Marília de poser (termo de denomina pessoas que

Foi só então, em Harry Potter e o Cálice de Fogo, que Marília começou a leitura das obras de J. K. Rowling. “Quando eu já estava definitivamente viciada, decidi começar a ler os livros. Li o quinto volume em quatro dias, e por aí foi”, relata. É valido comentar que o livro ao qual ela se refere, Harry Potter e a Ordem da Fênix, tem mais de 700 páginas, dependendo

na praça, fiquei 20 horas lá esperando junto com os outros.”Marília da Costa, estudante

se dizem fãs de algo, mas que na verdade só gostam superficialmen te), já que, inicialmente, não lia os livros e apenas via os filmes. “Mi nha mãe até tentou me dar [Harry Potter e ] a Câmara Secreta para ler, mas eu demorei meses e até pulei capítulos”, conta a estudante. Ape sar disso, Marília organizava, desde o quarto filme, idas a estreias com os amigos. Essas, é claro, aconte ciam aqui mesmo no Brasil.

da edição, e é o mais extenso entre os sete tomos da saga.

Voltando para a parte que em Marília teve de dormir na praça, tudo aconteceu no dia 7 de julho de 2011 na Trafalgar Square, no centro de Londres, que apesar de receber esse nome por causa de uma batalha durante as Guerras Napoleônicas, é famosa por ser um ponto turístico obrigatório e por

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arquivo pessoal arquivo pessoal arquivo pessoal
“Dormi
Thaís e a banda While She Sleeps na Vans Warped Tour em 2013. Marília ficou pertinho dos gêmeos James e Oliver Phelps. Felipe mostra suas tatuagens em homenagem a saga Star Wars

receber eventos desse porte. Marília conta que ficou sabendo que um grupo de fãs brasileiros estava organizando uma viagem à capital inglesa para assistir à pré-estreia, as sim como eles já haviam feito para outros filmes. “Como era o último filme, eu precisava ir”, enfatiza. Com outras 30 pessoas, a estudante chegou a Londres no dia 6, mas foi imediatamente para a praça, já que o número de pessoas que poderiam ficar nos arredores do ilustre tapete vermelho era limitado. “Dormi na praça, fiquei 20 horas lá esperando junto com os outros. O ônibus de viagem foi para o hotel com as nos sas malas e eu só fui vê-las no dia seguinte”, relata Marília. Apesar do esforço, ela conta que valeu a pena. “Consegui ver todos eles de perto, inclusive a J.K. Rowling.”

E até que os pais de Marília leva ram toda essa loucura numa boa. “Quando eles viram que eu estava falando sério, eles até me entende ram. Eles sabiam o quanto Harry Potter significava para mim. E, além do mais, fui eu quem paguei a maior parte da viagem.”

Se ela faria isso de novo? “Com certeza. Mesmo com todas as coisas

que não estavam previstas, dormir na praça com chuva, por exemplo, foi uma experiência que de certa forma serviu para fechar com chave de ouro a minha história com a saga Harry Potter.”

A força está com você

Felipe Alves tinha apenas 9 anos quando conheceu Star Wars (Guerra nas Estrelas) em 2002, no lança mento do quinto filme da saga, o Episódio II – Ataque dos Clones na ordem cronológica. Agora, com 21 anos e depois de mais alguns epi sódios, ele reconhece que algumas coisas que fazia naquela época já poderiam ser consideradas vício. “Me pegava citando frases como a clássica do mestre Yoda ‘do or do not, there is no try’ [faça ou não faça, não existe tentar], e trazen do isso como filosofia de vida até hoje.”

Felipe realmente começou cedo. Ele conta que assistia à saga periodica mente e que a cada dez brinquedos que tinha, oito eram relacionados à saga Star Wars. “Reconheci isso como um vício somente depois de mais velho”, admite. A comprova ção do vício, no entanto, só veio

aos 17 anos, com duas tatuagens de personagens da saga: Darth Vader e mestre Yoda – que basicamente representam o mal e o bem, res pectivamente. Quando perguntado sobre o motivo dessa escolha, ele responde: “A ideia foi distinguir os dois lados da Força com persona gens marcantes”.

Mas não é tudo felicidade, agulhas e tinta. Felipe diz que as pesso as riram quando ele contou que tinha feito as duas tatuagens. “Não acreditavam que eu chegaria a tal ponto”, conta entre risos. Apesar da incredulidade dos amigos e da fa mília, Felipe tem planos para mais tatuagens no futuro: “Estou com alguns projetos em mente”.

Sobre o impacto que Star Wars teve em sua vida, Felipe conta que, desde criança, tentava manter a calma em diversas situações, lição presente no livro de ensinamentos Jedi, ordem do lado luminoso da Força. “Pensava que não queria chegar a sentir medo, porque o medo me levaria ao lado negro da força”, explica e, logo em seguida, ri. “Idiota, mas me influenciou quando pequeno e isso fez parte da minha formação.”

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Marília exibe sua coleção de objetos do universo Harry Potter.
crédito: Silvia Tokutsune

cidARTE

De artistas a pessoas comuns, curitibanos unem esforços para transformar a cidade em um repleto de arte. Transformando a imagem da capital em um cenário mais agradável aos olhos de turistas e população

Ese você estiver andando pela rua e, de repente, se deparar com árvores de tronco colorido, coberto de peças de crochê? Ou com tapumes que embelezam ao invés de apenas tampar um canteiro de obras? Ou, até mesmo, com um viaduto que serve de galeria para belos trabalhos do grafite?

As ruas de Curitiba estão cheias de intervenções urbanas para tirar a paisagem da monotonia. Suzana Bittencourt é uma das responsáveis por isso. A dentista aposentada acabou vendo no crochê, mais do que uma distração, uma maneira de embelezar a cidade.

Com pesquisas na internet, Suzana encontrou o Yarn Bombing, pro jeto presente no mundo todo, que consiste em cobrir as árvores com peças de crochê. “É uma forma de

gentileza urbana, e uma arte de rua feita por mulheres, pode até ser chamada de grafite feminino”, explica a aposentada. Ela conta que acabou conhecendo outros vizi nhos e pessoas da cidade toda com o seu projeto “As pessoas vêm aqui, e acham bonito, tiram foto.”

Mas a dentista não esta sozinha nessa empreitada.

Na praça tem

No bairro Batel, uma das praças mais famosas da cidade, a Espanha, está sendo reformada desde julho. Denise Roman é moradora da região e trabalha como gravurista desde 1979. Vendo o trabalho na praça, a ideia de contribuir com a pintura dos tapumes surgiu de imediato. “Muitas vezes, eu dese nhava por ali. Fiz uns estudos das paineiras em nanquim. Quando vi

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Ana Beatriz Villas Bôas, Ana Luiza Souza, Bruna Mazanek e Lucas Prestes
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Ana Luiza Souza

os tapumes cor de rosa, pensei que se aplicasse árvores em preto, daria uma sensação de leveza”, explica Denise. A artista decidiu tomar a iniciativa de mostrar seus dese nhos para a equipe de marketing responsável por pintar os tapumes e, assim, surgiu a parceria.

O trabalho artístico, composto pela pintura de árvores que acompa nham a estrutura das plantas da praça, ainda não está finalizado, mas já vem atraindo a atenção da população que passa por lá. “Gosto muito mais assim. É uma forma de mostrar que a arte urbana não é só um rabisco e, sim, uma forma de

expressão”, conta a designer Maria na Lima. Para a gravurista Denise, esse tipo de cultura deixa a cidade mais bonita, além de dar visibili dade aos artistas: “É a primeira vez que realizo uma grande interferên cia na rua e estou gostando muito”, explica.

Linha Verde

João Marcos é designer gráfico e grafiteiro há mais de 11 anos. E há tanto tempo imerso nessa arte, aca ba querendo preencher toda parede vazia. Para compor o time de mais de 40 grafiteiros do projeto Mural Street of Styles – Linha das Artes” João foi um dos convidados pelo

“ É uma forma de gentileza urbana.”

- Suzanna Bittencourt, aposentada

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Ana Beatriz Villas Bôas
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Suzana Bittencourt, ao lado de uma das árvores que decorou em sua rua

artista urbano Michael Devis para grafitar as pilastras do viaduto da Avenida Marechal Floriano Peixoto na Linha Verde.

O projeto, financiado pela Funda ção Cultural de Curitiba (FCC), precisou receber autorização do De tran para estacionar carros embaixo do viaduto e utilizar andaimes no local. João Marcos levou 20 horas para finalizar o desenho. Isso sem contar o tempo que gastou pensan do e projetando a obra e como ela seria executada. Ele utilizou seus próprios materiais, mas recebeu cachê da prefeitura, que cobriu seus gastos, estimados em cerca de R$ 200.

João, como é chamado pelos cole gas de profissão, diz que qualquer forma de arte deixa Curitiba mais atraente, e que tenta ser o mais educado possível, pois essa é uma

virtude que também transforma a cidade. “O certo não é pensar que tem de pintar para deixar a cidade mais bonita, porque cada um tem um gosto, e o meu bonito pode não ser considerado belo por todos. O importante é proporcionar acesso à arte. Isso, sim, faz os curitibanos pensarem, consequentemente, deixando as pessoas mais bonitas”, argumentou o grafiteiro.

A opção pela grande dimensão do desenho, e de ele ser em preto e branco, foi para facilitar a leitura das pessoas que passam rápido de carro ou de ônibus por ali. O de signer finaliza, explicando a escolha do desenho para o viaduto e seu interesse por trabalhar com imagens de idosos: “É uma contradição de símbolos. Os velhos veem rugas representadas em grafite e acham lindo, mas neles mesmo acham feio.”

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“ O certo não é pensar que tem que pintar pra deixar a cidade mais bonita, por que cada um tem um gosto e o meu bonito por não ser para outro.“ - João Marcos, designer gráfico
AnaLuiza Souza
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Artistas fazem parceria com lojistas da região e dão cor aos tapumes da Praça da Espanha, em Curitiba.
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A magia do circo

Em cada espetáculo, os artistas buscam despertar a alegria do público

Texto: Caroline Stédile, Getulio Xavier e Thiana Perusso
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Fotos: Melvin Quaresma
Jornalismo

Obrilho no olhar e o sorriso no rosto de crianças e adultos que estão na plateia mostram que a magia do circo é capaz de encantar qualquer um, não importa a circunstância.

Em meio a um mundo no qual os problemas e estresse tomam conta do dia a dia, despertar uma simples gar galhada de alguém não é tarefa fácil, mas, de acordo com os artistas circen ses, o esforço é sempre recompensado quando conseguem fazê-lo.

Buscando levar arte e cultura para toda a população de Curitiba de maneira descentralizada, a Funda ção Cultural de Curitiba (FCC) investe há 37 anos na arte circense, percorrendo os bairros da região. Atualmente instalado no Alto Bo queirão, o projeto Circo da Cidade, que desde 2008 está com uma nova forma de funcionamento e novos equipamentos, em 2009, ganhou

também um novo nome: o Circo da Cidade Zé Priguiça. “O obje tivo do projeto é que a população curitibana tenha acesso a produtos culturais de qualidade na área do circo, desenvolvendo manifestações artísticas e revelando novos talentos nas oficinas e cursos que oferece”, diz Albanir Moura, o coordenador de circo da FCC.

O Circo da Cidade Zé Priguiça abre espaço para inscrições de várias companhias, quando aprovadas, promoverem espetáculos no local. Mariana Zanette, 37 anos, diretora de uma das peças presentes no cir co, atua há 22 anos no teatro e pela primeira vez trabalha diretamente com circo. “Já havia colocado em outras apresentações elementos circenses, mas meu foco sempre foi a dramaturgia. Nos meus espetáculos busco além de entreter, questionar algo.

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Nessa que apresentamos hoje, qui semos discutir os valores”, conta.

Um pouco mais distante de Curitiba, o Circo Irmãos Romanos está sempre rodando pela Região Metropolitana e já tem 156 anos de estrada. Muito tradicional, os artistas presentes nesse circo apren deram tudo por estarem inseridos no meio desde sempre.

Márcia Santos, 41 anos, entrou na vida de circo há 22 anos por conta de seu marido, Joarez Alves, 46 anos, que é malabarista. “Nós trabalhamos contratados e viaja mos por diversas regiões do país. Antes eu era malabarista com meu marido, mas há quatro anos larguei o palco e cuido apenas de barraqui nha de comida.” Por influência do pai, os filhos de Márcia, Igor Alves, de 9 anos, e Junior Alves, 20, são um talento desde cedo. “Em breve, eu e minha família pretendemos abrir um circo nosso em Curitiba”, conta.

Os artistas do circo vivenciam dificuldades, assim como qualquer outra pessoa e, muitas vezes, é preciso passar por cima delas o mais rápido possível. Afinal, o espetáculo nunca pode parar. “O público paga para nos ver sorrir” são as palavras da dona Deolinda, que faz parte da primeira geração da família circense do Circo Irmão Romanos.

Além dos circos, Curitiba possui alguns grupos que contam com a presença apenas de palhaços, como a Trupe Novembro, que surgiu em novembro de 2012 com o objetivo de fazer renascer, em cada um, a vontade de voltar a ser criança. O grupo se conheceu em uma oficina circense e atualmente é composto por quatro palhaços: Caxias, Juju ba, Sementinha e Tchonsky.

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Hoje tem palhaçada?

Sementinha

Pode-se dizer que a palhaça Semen tinha, ou melhor, Patrícia Barbosa Zupo, 31 anos, segue três caminhos diferentes. Por formação, fez Co mércio Exterior; pelo coração, virou fotógrafa e, por vocação, palhaça. Como Sementinha, ela faz parte da Trupe Novembro e considera que a “palhaçada” não é algo engraçado, mas sim dramático. “Você aprende a lidar com seu emocional, vai se expor ao ridículo. A pessoa busca algo legal em você, nada necessaria mente engraçado, mas que vai tirar um sorriso”, destacou. Ser palhaço, segundo Sementinha, é lidar com os próprios defeitos, perder a vergo nha de mostrar aquilo que você não gosta em você. Paty, como prefere ser chamada, acredita que a arte de ser palhaço nunca vai acabar: “Todo mundo precisa de algo dife rente no dia a dia e a ‘palhaçada’ é esse algo a mais.”

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Pimentinha

Se tem alguém que pode dizer que o circo é sua vida, esse alguém é Junior Alves (dir.), com 20 anos, e o mesmo tempo de circo: ele é um palhaço desde que nasceu e, há 18 anos, sustenta seu melhor personagem, o palhaço Pimentinha. Hoje, ele acompanha seus pais, Márcia Santos e Joarez Alves, no Circo Irmãos Romanos. “Nasci no circo, meu avô era de circo, meu pai era de circo e eu não tive como escapar, fiquei no circo.” Além do Pimentinha, Junior Alves faz um pouco de tudo dentro do circo: trapézio, pêndulo, faixa, globo da morte e mais alguns personagens, como o Homem-aranha e Michael Jackson, mas tira do palhaço o seu lema, a alegria. “Tudo que eu faço é a alegria que eu tento passar, não importa o personagem.”

John Salgueiro

Da quarta geração de uma famí lia circense chamada Salgueiro, John (esq.), 28 anos, confessa que na vida de circo, tudo é muito intenso. Além de estudar, como qualquer outra pessoa, o artista aprendeu cedo o dia a dia do circo, desde a parte de montagem até os números das apresentações. Por vontade própria e incentivo do pai, John entrou pela primeira vez no palco como palhaço, quando tinha apenas 4 anos, e a partir daí sua paixão pelo circo só cresceu. Com 6 anos, o rapaz começou a gostar de trapézio e, com 7, já estreou uma apresentação com um de seus tios. “Independentemente do tema do espetáculo, quero passar alegria, emoção, inspiração e superação, para que as pessoas vejam que tudo é possível se você acreditar.”

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E aí, partiu?

Colecionar histórias e aventuras estão entre as preferências dos mochilheiros, que saem pelo mundo com o objetivo de conhecer novos lugares, culturas e pessoas

Viajar está entre as atividades que a maioria das pessoas ama fazer. Fugir das rotinas diárias, dar uma pausa no trabalho ou nos estudos, ter mais tempo para si mesmo e conhecer lugares e pessoas novas sem preocupações. Tudo isso é tão bom, que muitos descobrem uma verdadeira paixão.

Colocar uma mochila nas costas, escolher um destino e botar o pé na estrada, prontos para ganhar um mundo cheio de culturas diferentes e histórias para serem vividas.

Viajar se torna uma verdadeira aventura. E pessoas que colecio nam histórias para serem compar

tilhadas não faltam. O engenheiro florestal Guilherme Canever teve a incrível experiência de percorrer o mundo durante três anos, ao lado de sua atual esposa, a psicóloga Bianca Soprano Canever. Ambos deixaram seus empregos e parti ram. “Eu sempre gostei de viajar, e, durante alguns trajetos mais curtos,

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Amanda Bedide, Guilherme Liça e Hellen Ribaski
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crédito: Arquivo / Suzana Paquete Suzana Paquete, jornalista e marketeira digital, chegando à ilha de Koh Tao, na Tailândia.

tive o prazer de conhecer pessoas que estavam fazendo percursos mais longos. Tive a certeza de que eu também queria fazer isso”, conta. Em princípio, quando comentou com sua esposa, ela não levou muito a sério. “Para conven cê-la, expliquei que precisávamos ir antes que estivéssemos totalmente estabilizados profissionalmente, porque depois seria mais difícil abandonar tudo”, conta. Decidi dos, ambos queriam conhecer o mundo antes de ele ser totalmen te globalizado. “O planeta está passando por grandes mudanças. A ideia era visitar os países que ainda estavam em desenvolvimento. Por isso, não demoramos muito para partir e demos prioridade à Ásia e à África”, revela. A aventura deu vida ao blog Saí por Aí, do Guilherme, e ao Também Saí, da Bianca, além dos livros lançados contando as diversas histórias vividas, com relatos, fotos e dicas.

Conhecer novos lugares é o que encanta todos que gostam de viajar. “A possibilidade de vivenciar outras culturas, conhecer outros sa bores, ver paisagens diferentes das que vemos no dia a dia é ótimo. É levar a alma para passear. Abre a mente e te dá ideias novas”, conta a curitibana jornalista e marketeira digital Suzana Paquete, de 37 anos, que já passou pela Bolívia, Peru, Croácia, Ásia – e diversos outros lugares – e atualmente vive em Ma dri, na Espanha. Com esse mesmo pensamento, o analista de sistemas e sócio de empresa de turismo e aventura, Luiz Claudio Aleixo, de 27 anos, gosta de conhecer a diver sidade dos locais, tanto a beleza da natureza quanto a das cidades. “A experiência conquistada em uma viagem é algo que levamos para a vida toda”, afirma.

pretendia conhecer, pesquisei as principais questões burocráticas e fui”, afirma. Para Luiz, a ideia é basicamente a mesma. “É preciso ter, ao menos, um itine rário inicial. Na minha viagem de mochileiro para o Chile, por exemplo, eu planejei os quatro primeiros dias. Depois, fui montando o roteiro por lá mesmo, de acordo com os lugares que

que, em algumas viagens, o planeja mento é necessário. “Antigamente se podia viajar sem reservas. Hoje, se você não se planeja, acaba pagando mais caro para se locomover e para dormir. Em época de alta tempora da, por exemplo, o mochileiro corre o risco de ficar sem estadia”, afirma.

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Entretanto, existem algumas dicas básicas que os mochileiros podem seguir para terem uma viagem mais tranquila e sem muitos contra tempos. “Pesquisar sobre o lugar é muito importante. Clima, pontos turísticos, restaurantes, hospe dagem e locais para câmbio, que podem variar bastante dependendo do país”, indica Luiz. Além disso, ele também diz que um mapa da cidade ajuda bastante, bem como planejar seu tempo com cuidado e conversar com os moradores, que sempre dão boas dicas. Guilherme completa: “Aprender as palavras mágicas de cada língua, tais como ‘por favor, obrigado, desculpe’ abrem muitas portas. Além, é claro, de respeitar os costumes e cultura local”.

O curitibano Leonardo Maceira, de 23 anos, decidiu viver a aven tura de viajar sem planejamento algum pela América do Sul, apenas com uma mochila nas costas e sua câmera fotográfica. “Desenvolvi o projeto Os Lugares de Cada Um durante um debate na escola de fotografia Omicron, com o intuito de fotografar os lugares por onde eu passar enquanto viajo”, explica. A proposta, que ganhou vida em janeiro deste ano (2014), tem uma página no Facebook, que é o meio pelo qual ele consegue garantir suas estadias, uma vez que ele viaja sem nada de dinheiro nos bolsos. “Por meio da internet, as pessoas me indicam amigos que podem me hospedar na cidade para a qual eu estou indo”, conta. Já o desloca mento fica por conta das ca ronas. “Fico na rua com a mão levantada pedindo carona até encontrar alguém

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Com relação ao roteiro de via gem, ele também não montou um planejamento. A ideia inicial era passar pelas capitais e ir planejando o restante dos destinos no decor rer da jornada. “Comecei pelo Nordeste e já estou novamente no Sul. Agora, a próxima parada é o Uruguai, mas não sei quais cidades ainda”, conta. Durante sua viagem, Leonardo iniciou um projeto paralelo, o Nu Mondo, em que ele faz fotos artisticamente sensuais de mulheres pelas cidades em que vai passando. “É só me mandar uma mensagem na página do Facebook e pronto”, explica.

Experiências

As experiências proporcionadas pelas viagens ficam registradas na memória de cada um. Sejam elas boas ou ruins, todas têm algo a acrescentar na vida de quem se permitiu fugir um pouco da realidade e viver uma aventura di ferente. Para Guilherme, além de ter experimentado a liberdade sem se preocupar com o tempo, suas viagens o ajudaram a não ter uma visão unilateral das coisas. “Foi incrível estar solto no mundo e poder encontrar infinitamente mais pessoas dispostas a ajudar do que pessoas que querem se aproveitar de um estran geiro”, revela.

quece tanto a viagem como a vida. Já fiz grandes amigos que mantenho contato até hoje”, conclui.

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À moda do chef

Os jovens de atualmente não tem medo de colocar a mão na massa para investir em uma carreira gastronômica de sucesso

Vestido com o jaleco de chef de cozinha, tênis e touca, o jovem de apro ximadamente 30 anos, que já fez algumas faculdades e cursos antes de assumir a verdadeira vocação começa a ganhar destaque. Essa é a história que vem se repetindo muito hoje em dia, pois o que antes era trabalho para as vovós Palmirinhas na tevê, acabou pas sando a ser a missão dos seus netos. O glamour da cozinha reproduzido na mídia por renomados chefs seduz e encoraja cada vez mais os jovens a assumir, como profissão, o que antes era apenas função dos mais velhos, aos domingos e em datas especiais.

O sonho de ser médico, advogado ou engenheiro vem dando lugar a novas profissões, e entre elas a de chef. O número das escolas e facul dades no ramo de gastronomia no Brasil vem crescendo muito, e em Curitiba não é diferente! O Centro Europeu, uma das escolas de maior prestigio na cidade, oferece há 15 anos o curso de chef de cuisine, que já revelou grandes talentos da gastronomia local e nacional. “Começamos com uma turma com 25 alunos. Hoje, temos anual mente, cinco turmas entrando semestralmente, com média de 28 alunos por sala, sendo que a média de idade dos nossos alunos é de 25 anos“, afirma a gerente do curso de gastronomia do Centro Europeu, Iracema Bertoco.

Engana-se quem pensa que o curso é simples e fácil. As disci

plinas ofertadas vão desde a base da cozinha contemporânea até matérias como planejamento físico de cozinhas profissionais, compras e logística de suprimentos, além de, claro, a precificação dos pratos. Um caso especial que encontramos foi o de Samara Moretti Domin gues, de 22 anos, que após passar por várias faculdades encontrou no hobby a sua profissão. “Saí de São Paulo e vim para Curitiba fazer o curso de gastronomia porque o mercado de lá já estava um pouco saturado”, conta a estudante.

Para Gilda Bley, 28 anos, uma das sócias da escola Espaço Gourmet, um dos maiores desafios do setor é a formação de bons profissionais na área gastronômica, que respeitem o alimento e a hierarquia de uma

cozinha. “A titulação de chef é algo que se adquire com o tempo, por meio de um trabalho bem feito.”

Apesar da complexidade do currí culo e do crescimento da procura dos cursos na área, a decisão de estudar gastronomia ainda não é bem vista pelas famílias, como é o caso da de Giuliano Galvão, de 27 anos, estudante do curso de master chef da escola Espaço Gourmet. “Minha família tirou sarro quando decidi estudar para ser chef. Di ziam que eu ia cozinhar lanche e fritar ovo.”

Sonho

Após um contato muito próximo com a gastronomia norte-ameri cana em 2007, Larissa Perini, de 27 anos, conheceu os tão famosos

crédito: Isadora Carvalho

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Estudantes do curso de Master Chef na escola de gastrono mia Espaço Gourmet

cookies americanos, que acabaram não tendo nem metade do gosti nho que ela tanto imaginava. Pura frustração!

Foi então que, ao retornar ao Brasil, Larissa começou a testar várias receitas dos livros que havia trazido, modificando-as até que chegassem o mais próximo do que ela imaginava ser o tão sonhado gosto dos cookies: macio por den tro e crocante por fora. Depois de várias tentativas, a saborosa receita foi criada e é usada até hoje.

tomar forma ainda na faculdade, onde toda a parte visual do projeto foi desenhado por Larissa no seu projeto de conclusão de curso.

As jovens inauguraram a Goodies Bakery no dia 22 de novembro de 2012. Foram seis anos de muito planejamento e criação, em que todos os detalhes da casinha de bo neca para adultos, carinhosamente assim conhecida pelos clientes, foi criada. O principal objetivo era deixar o ambiente aconchegante e agradável, onde cada um dos pro dutos da loja fosse representado.

A decisão de abrir a bakerynão foi fácil, as meninas já sabiam dos de safios que viriam, mas a confiança no instinto e a fé falaram mais alto. “Se Deus está na frente, as coisas fluem de um modo muito sobrena tural.” Essa frase foi o que moveu as chefs a acreditar na competência e sucesso do mais novo empreendi mento de sucesso de Curitiba.

Se elas não conseguiam se imagi nar chefs e pâtissières no começo da Goodies, hoje podem dizer que não conseguem se imaginar fazendo outra coisa que não seja

Minha família tirou sarro quan do decidi estudar para ser chef, diziam que

eu ia cozinhar lanche e fritar ovo.”

Giuliano Galvão, estudante do Espaço Gourmet

Receita pronta. Sabor aprovado. A partir daí foi só sucesso!

Com a ajuda da irmã, Andressa Perini, de 25 anos, Larissa passou a vender os cookies na faculdade, estendendo para amigos, chegando a alcançar pessoas que nem imagi navam. Por incrível que pareça, foi através da rede social Orkut, hoje extinta, que elas atingiram vários clientes fiéis.

Sucesso

Antes de irmãs, sócias e chefs de sucesso, Larissa é formada em Desenho Industrial e Andressa é advogada. Embora ambas profis sões pareçam distantes da reali dade atual, as irmãs confirmam a utilidade de muita coisa que aprenderam nos cursos de Desenho Industrial e Direito. O sonho de abrir a Goodies Bakery começou a

Na criação dos doces e bebidas da Bakery, as irmãs decidiram pegar os diferentes ingredientes de vários países para criarem os melhores sabores de cookies, cupcakes e bebidas.

Com dois cardápios de cupcakes durante o ano, o de primavera/ verão e outono/inverno, foram criados sabores que se adaptavam à necessidade dos clientes. No inverno, a loja conta com sabores “mais aconchegantes e aveludados”, já no verão o sucesso é algo mais fresco e azedinho. E, por aí vai: a criação não para nunca, e o sucesso também não.

Apesar dos vários clientes já fiéis da Goodies, o medo de largar a faculdade que havia cursado para virarem empresárias assombrou as irmãs. O sucesso não era esperado pela família, a não ser pelas duas.

desenvolver produtos especiais na cozinha da loja. A busca por trazer diferenciais para os clientes, além dos sabores especiais de cupcakes, fez as irmãs introduzirem várias ou tras opções para a bakery, pois eles acabaram vendo que era isso que os clientes estavam à procura.

Aventura

A mensalidade de um curso de chef com duração de um ano pode che gar a quase R$ 2 mil em Curitiba. Porém, quem leva sério a profissão encontra uma série de segmentos para atuar na gastronomia, desde a participação em eventos, na administração de negócios ou até mesmo lecionando.

E ai, se animou?

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Tradição de profissão

“Cheguei ao ponto de ouvir de desconhecidos: ‘Gostaria de ser como você, nascer sabendo o que quer fazer.’ O que essa pessoa não sabe é que a chef Gabriella Farias, de 31 anos, fez nada mais nada menos do que três fa culdades antes de descobrir seu talento e prazer dentro da cozinha. “Fiz Admi nistração, Hotelaria e Direito. Cheguei a entregar minha monografia, mas me neguei a fazer alguns ajustes, porque nada daquilo fazia sentido.”

Sem estímulo e apoio da famí lia, a chef relembrou o prazer nas aulas de culinária vividos durante o curso de Hotelaria, e resolveu investir. Procurou uma escola de culinária e se propôs a trabalhar como supervisora acadêmica em troca de uma bolsa para estudar gastronomia, e daí para o sucesso foi um passo! Hoje, a chef, que já participou de vários concursos, diz se orgulhar do mais recente – ficou em segundo lugar no prêmio Jovens Talentos da Gazeta do Povo, que teve como coordenador o renomado chef Celso Freire.

A grande inspiração pra tantas conquistas e realizações na profissão? “Meu avô, que é pernambucano e adora cozinhar. Cresci com comidas com muita cor e sabor. Faço uma homenagem a ele na construção de cada prato”.

Após cursar duas faculdades e ser proprietário de uma loja de roupas, Dudu Sperandio resolveu se dedicar a uma grande paixão: a gastronomia. Formado pelo curso de chef de cuisine em uma tradicional escola de Curitiba, o jovem chef logo saiu pelo mundo em busca de experiências profissionais. De cidido, foi para a Europa, onde trabalhou com o celebrado chef inglês Gordon Ramsay e no restaurante La Scaletta, tradicional casa de Milão.

De volta ao Brasil, em 2011, com muita experiência na bagagem e amor pela culinária italiana, Dudu resolveu abrir seu próprio restaurante, o Ernesto Ristorante, nome que ele deu em home nagem ao seu avô. O estabelecimento, que acumula vários prêmios e indica ções, recebeu recentemente o prêmio da revista Veja–Comer&Beber , nas categorias Chef do Ano 2014, Melhor Restaurante Italiano e Melhor Menu Executivo de até R$ 50.

Mesmo com uma carreira con sagrada e premiada, o jovem chef não se acomoda. Dudu viaja constantemente com sua bicicleta a tiracolo, explorando novos lugares e sabores pelo mundo. Toda essa vivência gastronômica faz dele um chef de sucesso e com um futu ro próspero à frente.

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VAMOS COMER FORA ?

Os food trucks são a nova febre gastronômica e estão invadindo Curitiba Gabriela Oliveira, Helem Barros, Raíssa

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Ribeiro

Os food trucks são uma tendência dos últi mos anos nos Estados Unidos e agora a ideia está se proliferando pelo Brasil. O veí culo estacionado nas ruas vende refeições mais elaboradas que os convencionais sanduíches e, além de ser uma maneira diferente e rápida de fazer um lanche, o serviço oferecido pelos furgões possibilitam novas oportunidades gastronômicas para quem está de passagem pelo lugar.

A rotina de quem trabalha em um truck exige toda uma preparação. Ao contrário do que acontece em restaurantes fixos, onde se mantém em equilíbrio todo o serviço, nos furgões pode ocorrer imprevistos e é preciso saber lidar com eles.

A principal ideia desses furgões em feiras é oferecer o serviço de qualidade, em um espaço incomum e ao ar livre. “Mesmo quando chove, os food trucks funcionam”, comenta José Luiz Carvalho, gerente do food truck do Madero. “No caso do nosso furgão, monta-se uma estrutura maior para isso, com uma equipe maior, caminhão frigorífero e veículo de apoio”, esclarece o gerente. “Dependendo da feira, a estrutura é diferente. E se chover, a gente está preparado”, comple menta.

O restaurante Madero realiza o serviço com trucks desde 2013, sendo uma alternativa de expan são da marca. “O Madero Burger Truck é utilizado em eventos especiais como feiras gastronômi cas e parcerias especiais. É uma ótima oportunidade para levar a marca em ocasiões que não tería mos como participar se não fosse com o furgão porque o espaço é pequeno, pelo grande número de pessoas ou mesmo pela curta duração do evento”, explica Aline Anginski, assessora da empresa.

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crédito: Gabriela Oliveira

como participar se não fosse com o furgão porque o espaço é pequeno, pelo grande número de pessoas ou mesmo pela curta duração do evento”, explica Aline Anginski, assessora da empresa. No segundo semestre deste ano, o Madero ofereceu o serviço de food truck no campus da Pontifícia Uni versidade Católica do Paraná (PU CPR). “Na PUC, a ideia é avaliar a aceitação na instituição. Caso seja aceito, temos uma possibilidade de instalar um Madero Container no local”, explica Anginski. José Luiz Carvalho diz que a rotina dentro da PUCPR é corrida, mas que a preparação dos funcionários é um diferencial. “A gente treina o pessoal do Madero anteriormente nos nossos restaurantes Express, onde o cardápio é reduzido e seme lhante ao que oferecemos no truck. Eles aprendem lá, se adaptam e vão

para o furgão”, relata o gerente do Madero.

Os food trucks não agradam somente quem prova os alimentos oferecidos, mas quem oferece o ser viço também gosta do que faz. É o caso de Marcel Rangel, que tem seu trailler que oferece pratos mineiros há dez anos e afirma ser apaixonado pela profissão. “Eu diria que nós somos artistas e esse é nosso palco. A gente vê a reação dos clientes na hora em que fazemos as comidas e é por isso que eu gosto de trabalhar nas ruas.”

Além de oferecer pratos mais sofis ticados os furgões também resgatam o sabor da feira tradicional. Renato Pereira vende pastéis em sua kombi há sete anos e relata a facilidade de ter um veículo para levar os seus serviços. “É ótimos estar cada dia em um lugar, em cada ponto que passamos temos nossos clientes.”

As feiras gastronômicas notur nas que acontecem em Curitiba recebem uma grande variedade de food trucks. No Cristo Rei, a feira acontece sempre às quintas-feiras e atrai diversos moradores. “Eu venho quase toda semana. É uma boa forma de variar o cardápio, uma alternativa prática e que tem a mesma qualidade de uma comida de restaurante ou lanchonete”, explica Caio Oliveira, que costuma frequentar as feiras. Para Nádia Gomes, que mora próximo ao lugar onde a feira é realizada, a utilização dos trucks possibilita com que tudo possa ser montado e desmontado com rapidez. “Toda semana eles estão aqui e não incomoda a vizi nhança, rapidinho eles já conse guem desmontar”, explica.

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crédito: Helem Barros
Comidas típicas de feiras também ganham espaço em Food Truks.

Regulamentação

Na capital paranaense, os food trucks ainda não têm uma lei de regulamentação. Podem apenas ofe recer seus serviços em feiras e lugares privados, mediante autorização. Para quem trabalha na área, uma lei que regulamentasse o serviço seria muito bem-vinda. “É até melhor com regulamentação,

“Para quem trabalha na área, uma lei que regulamentasse o serviço seria mui to bem-vinda.” José Carvalho, gerente do Truck Madero

porque existindo um regulamento de atuação, a prefeitura pode fiscali zar, e fiscalizando vai ter que ter um produto de qualidade”, afirma Carvalho.

Para Rangel, a regulamentação é necessária para o serviço ficar cada vez melhor. “É muito importe a regulamentação, como fazemos comidas ao ar livre, sabemos que existem riscos se existisse uma regula mentação e quem fiscalize, haveria mais orientação aos comerciantes evitando os riscos e as providencias necessárias seriam tomadas, tudo dentro da lei.”

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crédito: Helem Barros O Truck de comida mineira marca pre sença na feira gas tronomica do bairro Boa Vista.

Bodas de Ouro

A relação de amor de algumas lanchonetes e curitibanos já dura mais de 50 anos

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Foto: Maria Fernanda Schneider

AAlém de avanços científi cos, tecnológicos, mu danças culturais e com portamentais, os anos dourados proporcionaram aos moradores de Curitiba progresso na área gastro nômica. Em uma época na qual a população saía com maior frequ ência às ruas, havia mais sociabili dade e cafés do que na atualidade, conta o historiador Marcelo Sutil. Algumas lanchonetes sobreviveram ao tempo e continuam a funcionar lotadas de antigos clientes, agora acompanhados de filhos e netos.

Alceu Azevedo, de 47 anos, co nheceu a Pastelaria Brasileira ainda na adolescência, quando prestava serviço de ourives no Centro. Hoje, mesmo trabalhando em um local mais afastado, tem prazer em levar sua filha Fernanda para comer o famoso pastel. “Gosto de lá, porque é simples e a comida é boa, ideal para comer algo rápido no almoço. Minha filha adora vir aqui. Mesmo com opções mais moder nas, sempre escolhe o pastel.”

Depois de cinco anos no Japão tentando melhorar a economia da casa, Elizeu Eberhardt decidiu voltar ao Brasil quando ficou sa bendo de uma antiga pastelaria que estava à venda e decidiu comprá-la. Atualmente dono da Brasileira, ele tem orgulho em dizer que o local já virou tradição nesses 55 anos de história. “Tem aquele freguês que vem todo dia, não enjoa do pastel.” Para quem fala que o ponto é referência em baixa gastronomia na cidade, Elizeu brinca: “Aqui a gastronomia é baixa, mas a quali dade é alta”.

Quem não gosta muito de pas tel pode encontrar no centro da capital paranaense outras opções que venceram o tempo. A Itália Pizzaria, conhecida pela pizza mussarela acompanhada da vita mina de frutas, está desde 1959 no

O que influência é ter comida extremamente bem feita e preço justo.”

mercado gastronômico de Curi tiba. Nessa época quem adminis trava a lanchonete era o avô de Ana Cristina Birindello, Bruno Birindello. “Agora sou eu que fico aqui, mas é muito bacana ver que ao mesmo tempo em que a pizzaria passou por gerações em minha família, nossos clientes também já são filhos e netos de pessoas que a frequentavam”, conta Ana.

O Bar Triângulo é uma alternativa um pouco mais antiga ao paladar. Na Rua XV desde 1939, o local nunca revelou a almejada receita do sanduíche de pernil com verde, atrativo para a maioria dos clientes. Sandra Maria Hamdar é quem gerencia o bar há 13 anos, junta mente com o marido e o filho. Para ela, manter a tradição e o ambiente familiar é o que importa. “Temos de deixar as coisas como estão. O bar é famoso assim.”

O gastrônomo Diogo Ultrabo explica que o sucesso de empre endimentos como a Pastelaria Brasileira, a Pizzaria Itália e o Bar Trinângulo, é decorrente de um segredo: comida bem feita e a preços justos. “Eles possuem boa referência porque são clássicos. É uma coisa que passa de mãe para filho. Minha mãe também me levava a esses lugares. O que in fluencia também é ter uma comida

extremamente bem feita e com um preço super justo.”

Diante de um mercado focado na alta gastronomia e comidas gour met, o centro de Curitiba oferece opções mais acessíveis com um bom custo/benefício. Sem grandes chefs e estruturas sofisticadas, a única regra para esses lugares é comida saborosa e atendimento de qualidade.

Serviço

Pastelaria Brasileira – Rua Cândido Lopes, 156, Centro Aberto de segunda a sexta, das 7:30 às 19:00, sabados das 7:30 às 14:00 Telefone: (41) 3233-4549

Itália Pizzaria - Rua Cân dido Lopes, 229 , Centro Aberto de segunda a sexta, das 9:00 às 20:00, sábados das 9:00h às 16:00 Telefone: (41) 3232-5175

Bar Triângulo - Rua XV de Novembro, 42, Centro Aberto todos os dias das 10 h à meia-noite. Telefone: (41)3014-4850

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Helena Comninos, Isadora Domingues, Marcela Carvalho e Maria Fernanda Schneider

Itália Pizzaria

Dona Valda Ouriques é a funcionária mais antiga da lanchonete. Já está há 17 anos servindo uma das melhores pizWzas da cidade, segundo os próprios curitibanos.

Pastelaria Brasileira

De acordo com o proprietário, o pastel deve ser bem recheado. “Nada de ficar medindo recheio, como a concorrência. O negócio é agradar a clientela.”

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Foto: Maria Fernanda Schneider Foto: Maria Fernanda Schneider

Mais chocolate, por favor!

Desde quando surgiu, o chocolate conquista pessoas por onde passa. Com cada vez mais tipos, formas e sabores, além de saboroso, é benéfico à saúde em vários âmbitos, ajuda as pessoas a se relacionarem e acalma. Tudo isso graças a seus vá rios componentes, como, por exemplo, os flavonoides e seus efeitos antioxidantes

Não se sabe ao certo quando ele surgiu, mas os principais relatos na história contam que por volta do ano 250 d.C. o povo maia utilizava o cacau (em uma forma bem dife rente, a semente era fermentada, tostada e moída até virar uma pasta misturada com água, farinha de milho e pimenta) como oferen da aos deuses. A partir de 1400, quando os astecas dominaram a civilização maia, a bebida nobre ganhou o nome de cacauhatl (água de cacau).

Quando chega à Europa pela primeira vez, em 1521, se junta ao açúcar e em 1600 se torna sucesso no mercado europeu. Por volta de 1700, as “Casas de Chocolate” começaram a competir com as “Casas de Café” em Londres, mas é no século XIX que os avanços tec nológicos e de mercado se acentu am. Em 1828, o holandês Conrad Van Houten inventa uma máquina que extrai a manteiga do cacau, a outra parte vira chocolate em pó. E é nessas épocas que as grandes empresas, como a Hershey, a J. S. Fry & Sons e a Nestlé começam a aparecer e competir no mercado.

Somente em 1900, o chocolate deixa de ser um produto exclusivo de elite e torna-se acessível à classe média devido à queda drástica do preço do cacau e do açúcar. Hoje é encontrado facilmente com diver sas opções de preços e tipos.

Saúde

Há muito tempo o consumo do alimento desperta interesse em pesquisadores. Durante a Segunda Guerra Mundial, o poder energéti co e antidepressivo foi reconhecido pelo Exército americano e fazia parte da ração D, consumida pelos soldados.

Em 1985, a toxicóloga do Hospital Fernand Vidal, em Paris, Chantal Favre-Bismuth investigou as causas da “chocolatemania”. Segundo ela, dopamina, feniletilamina e 17 receptores de anfetaminas são responsáveis pelo desejo de comer chocolate.

Em 2005, pesquisadores da Uni versidade di L’Aquila, na Itália, comprovaram que o consumo de chocolate com alto teor de flavo noides (meio amargo), pode redu zir a pressão sanguínea em pessoas com hipertensão. Além disso, uma

pesquisa do Journal of Nutrition relatou que comer uma pequena porção de chocolate pode reduzir o risco de doença cardíaca.

Os componentes do chocolate têm propriedades excelentes. Por exemplo, o consumo diário de flavonoides, presente em especial no meio amargo, pode prevenir doenças, como o câncer e doenças cardiovasculares; ajuda a diminuir a ação maléfica dos radicais livres prevenindo doenças e o envelheci mento.

Uma pesquisa feita na Alemanha mostrou que mulheres que bebiam chocolate quente, fortificado com flavonoides toda manhã durante três meses, sofriam menos efei tos nocivos dos raios UV do que mulheres que bebiam chocolate quente com menos flavonoides. Além disso, os flavonoides podem ajudar as pessoas a trabalhar com números.

Cada vez mais, o cho colate arte sanal ganha espaço no mercado.

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Amanda Louise e Bruna Carvalho Foto: Bruna Carvalho

chocolate é uma

Paixão antiga

Curitiba está se tornando um dos principais polos gastronômicos do país. A chance de desenvolver uma empresa de sucesso vem para aque les que conseguem levar a mistura de criatividade e tradição para o paladar dos curitibanos.

As marcas Ana Tereza Chocolates e Grué Chocolateria começaram de maneira parecida. Em ambas, a paixão pelo chocolate trouxe resultados. Para Ariel Calisto, sócio-gerente da Ana Tereza Cho colates, tudo começou quando seu pai perdeu o emprego e a venda dos chocolates que sua mãe, Tereza, fazia para conhecidos e familiares, virou a única alternativa para sus tentar a família. Vinte e três anos depois, a marca, que agora tem três lojas em Curitiba, pretende se tornar uma franquia.

“O nosso crescimento vem da pro cura pelo chocolate artesanal, não por aquele que você encontra em qualquer prateleira de mercado”, conta Calisto. Ele garante que os curitibanos vêm consumindo cada vez mais o alimento, e a recente descoberta dos clientes é o choco late amargo. O setor de presentes também é um dos mais movimen

tados da loja, para amigos, casais e familiares, o chocolate sempre é garantia de satisfação.

A chocolatier Polyana Rodrigues, fundadora da Grué Chocolateria, também confirma que o cacau é uma ótima maneira de mimar as pessoas. “Vender chocolate é uma venda que satisfaz na hora da com pra e na hora da entrega”.

Hoje a marca só trabalha com o chocolate belga como matéria -prima, mas a produção começou quando ela fazia chocolate para colaborar na renda na época de faculdade e para amigos nas datas especiais. Essa proposta ainda parece com o objetivo da Grué. “Oferecer um produto bom que é feito com o amor”, diz Polyana.

O público das chocolaterias gour met é 80% feminino. As idades variam, mas geralmente o público jovem compra mais. “Alguns che gam a vir todos os dias”, diz Ariel.

Sobre a entrada dos chocola tes importados no mercado, os proprietários afirmam que isso não interfere diretamente na venda, já que o público das lojas artesanais conhece os benefícios do chocolate não industrializado.

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Vender
venda que satis faz na hora da compra e na hora da entrega.”
Fotos: Bruna Carvalho Acima Ariel Calisto sócio-gerente da Ana Tere za Chocolates e a funcionária Marjorie Hipólito. Abaixo Polyana Rodrigues proprietária da Grué Chocolateria.
“Oferecer um produto bom que é feito com amor.”

Na dúvida, chocolate

Amargo, meio amargo, branco, ao leite… Existem tantos tipos de chocolate que é comum ficar em dúvida na hora de esco lher qual pegar na prateleira. Dos clássicos aos exóticos, selecionamos alguns para te ajudar a saborear melhor:

Amargo

Podendo variar de 90% até 50%, de cacau, é importante lembrar que quanto maior a porcentagem, mais benefícios o chocolate possui. O cho colate amargo possui menos açúcar e gordura e dose redobrada de antioxi dantes e fibras.

Variados

De avelã, amêndoas, pistache, choco lates diferenciados são uma ótima es colha para variar o sabor e melhorar a saúde. Além de dar mais saciedade, as castanhas são uma ótima fonte de vitaminas e minerais.

Meio amargo

De 35% até 50% de cacau, o choclo ate meio amargo é uma opção para aqueles que sentem falta do sabor do cinho no alimento mas não querem deixar de ingerir as substancias “do bem”. É uma ótima escolha para os que estão fazendo a transição entre o ao leite e o amargo.

Ao leite

Com 10% até 15% de cacau, uma das opções mais doces e populares de todas é o chocolate ao leite. Com moderação, esse tipo também pode trazer benefícios. Mas a dose deve ser bem reduzida para quem não quer engordar, afinal, a gordura e o açúcar equivalem praticamente a mesma quantidade de cacau.

Pimenta

Relembrando a maneira como era ingerido pelos astecas, o chocolate com pimenta é uma escolha exótica para os chocólatras. É conhecido que a pimenta aumenta o metabolismo. Melhor maneira de queimar calorias do que essa não há.

Branco

O chocolate branco geralmente é produzido com gordura hidrogenada e sem nenhuma dose de cacau. É uma delícia, mas infelizmente essa versão não traz nenhum benefício à saúde já que contém basicamente gordura e açúcar.

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Somos chocólatras

Com moderação

Rodrigo Sigmura: “eu vejo o chocolate como uma válvula de escape. Quando estou estressado, triste ou simplesmente cansado, como chocolate. Na verdade, até quando eu estou bem como!”

Marcela Hoffelder: “Chocolate é como se fosse uma das comidas dos deuses, que nós, meros mortais, tive mos acesso.”

Vanessa Frulani: “Ele é um calmante, é quase uma droga, de verdade. Eu sinto uma sensação ótima enquanto eu como e depois que acaba eu fico triste querendo mais.”

Débora Dutra: “Eu sempre fui apaixonada por chocolate, mas de uns anos para cá essa paixão desenfreada cresceu. Eu preciso comer todos os dias, principalmente após o almoço, como uma necessidade. Termino de comer algo salgado, preciso de um.”

Os relatos dos chocólatras pro varam que o poder do chocolate não está relacionado somente ao paladar, mas também às emoções. A psicóloga comportamental Vitó ria Baldissera explica por que o efeito pode ser tão viciante, “ao ser ingerido, ele faz com que o cérebro produza serotonina e endorfina no organismo, os hormônios são ligados ao prazer, ao bem-estar e à sensação de recompensa. Como essa produção é imediata, faz com que nos sintamos bem na hora que comemos”.

Essa sensação é viciante e é preciso cuidado, pois a ingestão de gordura em excesso é prejudicial e pode criar um ciclo nada saudável. Para os que se sentem incompletos sem o chocolate, a psicóloga recomenda “procurar uma terapia, lá, a pessoa pode descobrir qual o significado do chocolate para ela, que função tem o comer para ela e procurar maneiras de evitar o consumo e de sentir prazer com atividades mais saudáveis” tudo isso com a ajuda de um psicólogo, conta Vitória.

Lojas e serviços

Ana Tereza Chocolates

Av. Manoel Ribas 6.104 A - Santa Felicidade

(41) 3018 - 1153

Seg. à Sex. das 9h às 19h Sab. das 9h às 18h Rua Desembargador Vieira Cavalcante, 1.106Mercês (41) 3244 - 1152

Seg. à Sex. das 11h às 17h45

Pollo Shop Alto da XV - Loja 120 - (41) 33605633

Seg. à Sab. das 10h às 22h Dom. das 14h às 20h

Feira de Artesanato Largo da Ordem - Aos domingos das 9h às 14h, em frente ao Museu Paranaense.

Os preços variam entre R$ 1 e R$ 129.

Thyane Antunes: “Eu sinto prazer em comer chocolate. A minha feli cidade é igualmente proporcional a quantidade de chocolate que como.”

“O chocolate é um dos primeiros ‘desejos’ ou ‘pensamentos’ quando estamos naquele momento um pouco mais delicado, carente, depressivo ou até mesmo para so cializar”, diz a nutricionista Scheila Karam. Segundo ela, o efeito be néfico se relaciona principalmente aos flavonoides antioxidantes, pois eles reduzem a oxidação de LDL (o mau colesterol), evitando assim seu depósito nas artérias.

Carro-chefe da casa: alfajor de doce de leite.

Grué Chocolateria

Av. João Gualberto, 2095Cabral - (41) 3352 5586

Seg à sex das 10 às 19h sábado das 10h às 13h.

Shaiene Ramão: “Como chocolate todos os dias. Se eu não comer no dia, passo mal, fico com raiva, fico brava. Gasto pelo menos uns R$250 por mês com chocolate.”

Mônica Seolim: “A minha sensa ção comendo um chocolate é de autosatisfação, sabe aquela coisa de ‘dane-se o mundo enquanto eu como meu chocolate’.”

Com relação à dosagem, a nutri cionista alerta “o ideal é consumir 30 gramas por dia. Essa quantia é equivalente a dois bombons ou um tablete pequeno. Entretanto, é importante reforçar que é um alimento bem calórico e com uma boa quantidade de gordura”.

Av. Manoel Ribas, 3540Santa Felicidade ( 41) 3339 2818

Seg à sex das 10 às 19h Sábado e domingo das 10h às 18h.

Os preços variam entre R$ 4 e R$ 250.

Carro-chefe da casa: chocolate quente.

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