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O novo que se cuide
crédito: Silvia Tokutsune
O novo que se cuide
A onda vintage e retrô vem conquistando muitos adeptos e chamando a atenção dos mais variados grupos. Será que todos eles sabem a diferença entre essas duas tendências?
Carolina Silva Mildemberger, Mayara Nascimento, Silvia Yumiko Tokutsune e Vinicius Cordeiro
Podem começar a tirar a poeira da vitrola da vovó e os casacos antigos do baú: o velho virou moda, ou melhor, o vintage. A palavra existe desde o século 18 e costumava ser utilizada para representar o ano em que um determinado vinho era criado. Porém, ao longo dos anos, seu significado foi sendo alterado e passou a incorporar o vocabulário da moda para nomear estilos de objetos pertencentes a uma outra época. Ou seja, todas aquelas peças que tiverem mais de 20 e menos de cem anos são consideradas vintage.
Mas, ao contrário do que todo mundo pensa, essas peças não são tão fáceis de serem encontradas. Não é todo objeto que está encostado há algum tempo em um canto que é vintage. “A dificuldade de achar peças antigas já é uma coisa, achar peças antigas que sejam bonitas é outra coisa, assim como de tamanho legal e em bom estado de conservação. Aí que é o porém da coisa, né?”, diz um dos proprietários do Libélula Brechó, Ricardo Gomes Savae. Além do mais, esse estilo não é para todos. “Tem também que ter bom gosto, né? Uma visão diferente de se vestir primeiro”, conta. Mesmo assim, ele ainda prefere o estilo: “Com certeza, o charme maior está em como a peça se conserva até hoje, como ela foi feita. Parece que ela foi feita agora.” E ele faz uma ressalva: “Vintage é uma caixinha de surpresa. Cada peça que você olha parece ter um brilho próprio”.
Aprendi com o vovô
O hábito de ter objetos antigos vem de família na casa de Felipe Mari, estudante de Medicina, que com 8 anos de idade viu seu irmão mais velho ganhar do avô uma espada de capitão de 1958. Desde então, ele se tornou um aficionado por objetos colecionáveis e, principalmente, vintage. Ele, geralmente, compra pela internet, mas também frequenta sebos, lojas de antiguidades, vendas de garagem e até mesmo seus familiares e amigos, sabendo de sua fissura, contribuem com a coleção.


crédito: Silvia Tokutsune
Aliás, não é apenas uma coleção de coisas antigas e inúteis – ele garante que faz uso de todos os objetos que possui.
“Um álbum de figurinhas que fica guardado, e às vezes é folheado, está sendo usado, ainda que seja uma coleção”, diz. Além disso, o preço não depende apenas do material ou da raridade, o valor sentimental também conta muito na hora de adquirir algum artigo. “Um item curioso ou que não pude possuir na infância é o que me motiva a pesquisá-lo e encontrá-lo no melhor estado possível. É um sentimento de conquista.” Como toda raridade, esses produtos vintage têm um preço elevado. Qual seria então a opção para quem deseja, mas não tem poder aquisitivo para possuir esses objetos? O mercado cultural trouxe uma solução viável: o retrô. São produtos com apelo antigo apreciado pelos consumidores em fabricações atuais. A estudante de moda Caroline Novak é o exemplo perfeito dessa inovação... que a transformou em uma bonequinha dos anos 70.
“Eu gosto do apelo retrô, não tenho condição financeira pra comprar muitas peças vintage porque essas peças são difíceis de conseguir, mas toda vez que eu vou comprar uma roupa, eu vou atrás daquilo que são as minhas referências, que é o apelo retrô.” O mais legal dessa moda, de acordo com Caroline, é a possibilidade de resgatar o desconhecido, ou seja, trazer para o presente épocas que não foram vivenciadas. “Às vezes você tá tipo num dia ‘ah, eu quero ser o Mick Jagger’, então vamos ver alguma coisa relacionada a ele no meu armário, então eu me sinto o próprio Mick Jagger.”
E o retrô?
No entanto, o crescimento do mercado tem exigido sua especialização. Sabbag Neto percebeu essa oportunidade e criou a Certas Coisas Vintage que, apesar do nome contraditório, já que vende apenas produtos retrô, contém itens para Acima, o Mercado de Pulgas, loja de produtos vintage e, abaixo, Certas Coisas Vintage, que vende produtos retrô.
presentes e decoração. O próprio proprietário se diz adepto ao estilo retrô e não vintage. “Quando as pessoas querem dar um presente, querem dar uma coisa nova. Não querem dar uma coisa usada, que precisa de reparo”, comenta.
Mas não é todo mundo que concorda com Netto. A equipe da CDM foi conhecer o depósito do Caçadores de Relíquias, uma loja virtual que se tornou popular tanto no ramo comercial quanto artístico. Adriano José Viana, antes advogado, transformou seu hábito de colecionador em seu trabalho, e passou a vender objetos dos mais variados gêneros,vintage e até mesmo antiguidades. Ele afirma que existe, sim, mercado, inclusive para produtos danificados. “Claro que ele também não pode estar completamente infestado de cupim gordo, mas isso porque tem pessoa que gosta de restaurar. Porque todo mundo tem que ter seu passatempo, né? Acho que todo mundo tem que ter uma válvula de escape.”
Essa renovação de estilo tem crescido de maneira expressiva em todo o mundo e muita gente acaba se perguntando qual razão disso. Segundo Caroline, as gerações atuais não têm uma perspectiva de futuro, pois tudo já foi inventado. Assim, buscam novidades no passado. “Já tem TV que fala, carro eletrônico, então acho que já existe tudo. As pessoas não têm uma perspectiva de futuro e daí elas se apegam e querem resgatar aquilo que elas não tiveram”, explica.
Outro fator curioso é que esse público, que vem crescendo exponencialmente é, na maioria, jovens. A Joaquim Livraria e Sebo, especializada em livros das áreas artísticas, humanas e vinis de rock e MPB, tem um grande número de frequentadores jovens. “Tem todo um público que é colecionador e tem todo um público, principalmente jovem, que acaba descobrindo na casa dos pais, dos tios ou dos avós, os aparelhos de vinil e mesmo os vinis que eventualmente estão guardados lá. Então esse público está cada vez mais interessado”, finaliza.

“As pessoas não têm uma perspectiva de futuro e daí elas se apegam e querem resgatar aquilo que elas não tiveram.” Caroline Novak, estudante Felipe mostra seu vinil favorito e Caroline faz pose no ateliê em que trabalha.
crédito: Carolina Mildemberger

A equipe da CDM fez a feira atrás dos preços dos produtos mais cobiçados por aqueles que querem uma pitada de retrô e vintage em suas vidas.

SA CO LÃO
crédito: Silvia Tokutsune

Máquina de escrever
A primeira máquina de escrever patenteada foi concebida na Inglaterra, em 1713, para o inglês Henry Mills. Ela foi muito utilizada antes, e até mesmo no começo da era dos computadores. O preço pode variar entre R$ 50 e R$ 900, dependendo do estado, da raridade e, é claro, do fato de que ela pode funcionar ou não. Vitrola
A vitrola era o objeto de desejo dos que possuíam um poder aquisitivo alto. Ficava, geralmente, ao lado do piano da família, que passava o tempo ouvindo música. Na internet, é possível comprar uma usada e vintage por R$ 300, mas algumas novas, versáteis e com tecnologias do século XXI, como entrada USB e a possibilidade de se ouvir tanto um CD quanto uma fita, passam dos R$ 1 mil. Câmera analógica


Surgiram no final do século XIX por meio de George Eastman, fundador da Kodak Company. Eastman criou um dispositivo simples e de fácil acesso, o que resultou em uma grande difusão de câmeras durante o século XX. Como há um amplo mercado, com vários modelos, os preços variam muito. Uma polaroid, por exemplo, pode custar entre R$ 80 e R$ 500.
Serviço
Libélula Brechó. Rua Mateus Leme, 291 - São Francisco, Curitiba. Tel.: (41) 3082-8632 www.facebook.com/libelulabrecho | Caçadores de Relíquias Curitiba. R. Padre José Lopacinski, 755 - Jd Gabineto, Curitiba. Tel.: (41) 3088-6202 www.reliquias.net.br | Certas Coisas Vintage. Rua Rocha Pombo, nº 843 - Juvevê, Curitiba. Tel.: (41) 3359-1960 certascoisasvintage.com.br | Joaquim Livraria e Sebo. Rua Alfredo Bufren, 51 - Centro, Curitiba. Tel.: (41) 3078-5990 www.facebook.com/JoaquimLivraria | Mercado de Pulgas Curitiba. Rua 24 de Maio, 765 - Rebouças, Curitiba. Tel.:(41) 3225-5017 www.mercadopulgas.com.br