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A magia do circo

Em cada espetáculo, os artistas buscam despertar a alegria do público

Texto: Caroline Stédile, Getulio Xavier e Thiana Perusso Fotos: Melvin Quaresma

Obrilho no olhar e o sorriso no rosto de crianças e adultos que estão na plateia mostram que a magia do circo é capaz de encantar qualquer um, não importa a circunstância. Em meio a um mundo no qual os problemas e estresse tomam conta do dia a dia, despertar uma simples gargalhada de alguém não é tarefa fácil, mas, de acordo com os artistas circenses, o esforço é sempre recompensado quando conseguem fazê-lo.

Buscando levar arte e cultura para toda a população de Curitiba de maneira descentralizada, a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) investe há 37 anos na arte circense, percorrendo os bairros da região. Atualmente instalado no Alto Boqueirão, o projeto Circo da Cidade, que desde 2008 está com uma nova forma de funcionamento e novos equipamentos, em 2009, ganhou também um novo nome: o Circo da Cidade Zé Priguiça. “O objetivo do projeto é que a população curitibana tenha acesso a produtos culturais de qualidade na área do circo, desenvolvendo manifestações artísticas e revelando novos talentos nas oficinas e cursos que oferece”, diz Albanir Moura, o coordenador de circo da FCC.

O Circo da Cidade Zé Priguiça abre espaço para inscrições de várias companhias, quando aprovadas, promoverem espetáculos no local. Mariana Zanette, 37 anos, diretora de uma das peças presentes no circo, atua há 22 anos no teatro e pela primeira vez trabalha diretamente com circo. “Já havia colocado em outras apresentações elementos circenses, mas meu foco sempre foi a dramaturgia. Nos meus espetáculos busco além de entreter, questionar algo.

Nessa que apresentamos hoje, quisemos discutir os valores”, conta.

Um pouco mais distante de Curitiba, o Circo Irmãos Romanos está sempre rodando pela Região Metropolitana e já tem 156 anos de estrada. Muito tradicional, os artistas presentes nesse circo aprenderam tudo por estarem inseridos no meio desde sempre.

Márcia Santos, 41 anos, entrou na vida de circo há 22 anos por conta de seu marido, Joarez Alves, 46 anos, que é malabarista. “Nós trabalhamos contratados e viajamos por diversas regiões do país. Antes eu era malabarista com meu marido, mas há quatro anos larguei o palco e cuido apenas de barraquinha de comida.” Por influência do pai, os filhos de Márcia, Igor Alves, de 9 anos, e Junior Alves, 20, são um talento desde cedo. “Em breve, eu e minha família pretendemos abrir um circo nosso em Curitiba”, conta.

Os artistas do circo vivenciam dificuldades, assim como qualquer outra pessoa e, muitas vezes, é preciso passar por cima delas o mais rápido possível. Afinal, o espetáculo nunca pode parar. “O público paga para nos ver sorrir” são as palavras da dona Deolinda, que faz parte da primeira geração da família circense do Circo Irmão Romanos.

Além dos circos, Curitiba possui alguns grupos que contam com a presença apenas de palhaços, como a Trupe Novembro, que surgiu em novembro de 2012 com o objetivo de fazer renascer, em cada um, a vontade de voltar a ser criança. O grupo se conheceu em uma oficina circense e atualmente é composto por quatro palhaços: Caxias, Jujuba, Sementinha e Tchonsky.

Hoje tem palhaçada?

Sementinha

Pode-se dizer que a palhaça Sementinha, ou melhor, Patrícia Barbosa Zupo, 31 anos, segue três caminhos diferentes. Por formação, fez Comércio Exterior; pelo coração, virou fotógrafa e, por vocação, palhaça. Como Sementinha, ela faz parte da Trupe Novembro e considera que a “palhaçada” não é algo engraçado, mas sim dramático. “Você aprende a lidar com seu emocional, vai se expor ao ridículo. A pessoa busca algo legal em você, nada necessariamente engraçado, mas que vai tirar um sorriso”, destacou. Ser palhaço, segundo Sementinha, é lidar com os próprios defeitos, perder a vergonha de mostrar aquilo que você não gosta em você. Paty, como prefere ser chamada, acredita que a arte de ser palhaço nunca vai acabar: “Todo mundo precisa de algo diferente no dia a dia e a ‘palhaçada’ é esse algo a mais.”

Pimentinha

Se tem alguém que pode dizer que o circo é sua vida, esse alguém é Junior Alves (dir.), com 20 anos, e o mesmo tempo de circo: ele é um palhaço desde que nasceu e, há 18 anos, sustenta seu melhor personagem, o palhaço Pimentinha. Hoje, ele acompanha seus pais, Márcia Santos e Joarez Alves, no Circo Irmãos Romanos. “Nasci no circo, meu avô era de circo, meu pai era de circo e eu não tive como escapar, fiquei no circo.” Além do Pimentinha, Junior Alves faz um pouco de tudo dentro do circo: trapézio, pêndulo, faixa, globo da morte e mais alguns personagens, como o Homem-aranha e Michael Jackson, mas tira do palhaço o seu lema, a alegria. “Tudo que eu faço é a alegria que eu tento passar, não importa o personagem.”

John Salgueiro

Da quarta geração de uma família circense chamada Salgueiro, John (esq.), 28 anos, confessa que na vida de circo, tudo é muito intenso. Além de estudar, como qualquer outra pessoa, o artista aprendeu cedo o dia a dia do circo, desde a parte de montagem até os números das apresentações. Por vontade própria e incentivo do pai, John entrou pela primeira vez no palco como palhaço, quando tinha apenas 4 anos, e a partir daí sua paixão pelo circo só cresceu. Com 6 anos, o rapaz começou a gostar de trapézio e, com 7, já estreou uma apresentação com um de seus tios. “Independentemente do tema do espetáculo, quero passar alegria, emoção, inspiração e superação, para que as pessoas vejam que tudo é possível se você acreditar.”

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