Comunicare 348

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Cultura

Religiões afro-brasileiras lutam contra o preconceito há quase 100 anos

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Personalidade

Migrante japonês formou mais de cem fotógrafos em Curitiba

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Espaços

Tradição familiar se mantém nas históricas confeitarias de Curitiba

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Glamour e Resistência

O Gala Gay foi um evento icônico do carnaval de Curitiba, marcado pelas décadas de 60, 70 e 80. Era um show de alegria, beleza e liberdade. Também conhecido como ‘’Baile dos Enxutos’’, foi um movimento realizado na Sociedade Beneficente Protetora dos Operários, onde atraía foliões de todo o Brasil para desfiles deslumbrantes, apresentações de travestis e drag queens. Nesse ambiente de cores, os preconceitos eram deixados de lado por alguns dias.

Poty:

Além da celebração, o baile mostra a contradição de uma sociedade que, após os dias de carnaval, retornava à reprimir a comunidade LGBTQIA+

100 anos de história

N apoleon Potyguara Lazzarotto, mais conhecido como Poty Lazzarotto, marcou a história de Curitiba ao produzir diversas obras espalhadas pela cidade. O artista, que completaria 100 anos este ano, se expressava através de diferentes modos artísticos, como desenhos, gravuras, ilustrações, murais e vitrais. Seu trabalho exposto a céu aberto criou uma espécie de galeria de arte ao ar livre que inspira pessoas a manterem vivo o seu legado.

Paulo Roberto de Camargo é doutor em Comunicação e Linguagens e coordenador do bacharelado em artes visuais da PUCPR. À reportagem, ele afirma que

Cinema de Rua

Poty Lazzarotto pertence a uma geração de artistas que fundaram uma identidade curitibana. “Ele criou, com a azulejaria, e outros tipos de obras que estão espalhadas pela cidade, e que de certa forma vão narrar a epopeia curitibana”.

Simon Taylor é um ilustrador curitibano e comanda a exposição Meu Amigo Poty, que acontece no Studio R Krieger e comemora o centenário de Poty Lazzarotto. Em entrevista, Simon revela que nunca conheceu Poty pessoalmente, mas que o nome do evento é uma brincadeira com o fato das obras do artista serem tão familiares para os moradores da capital.

A grande presença dos cinemas de rua no século passado diminuiu conforme as salas de shopping surgiram. Relembrar a cultura curitibana e as tradições que as salas de projeções geram é preservar

uma memória popular. A Cinelândia de Curitiba fez o comércio do centro se desenvolver economicamente e culturalmente, e foi a principal fonte de entretenimento dos habitantes durante as décadas de 1950 a 199

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Curitiba, 18 de Junho de 2024 - Ano 27 - Número 348- Curso de Jornalismo da PUCPR
O jornalismo da PUCPR no papel da notícia
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Beatriz Dias
Simon Taylor e visitante da exposição Meu Amigo Poty

Editorial

Olhar para trás é olhar para quem somos

C om 331 anos, Curitiba é repleta de história, cultura e inovação. No entanto, sua riqueza cultural nem sempre recebe o destaque merecido. Por isso, defendemos a realização de uma edição especial de um jornal dedicado inteiramente à cultura curitibana.

Esta iniciativa não é apenas um tributo às tradições e aos talentos locais, mas é também uma oportunidade crucial para fortalecer o senso de identidade e orgulho da nossa sociedade.

A capital paranaense é múltipla. Da arquitetura europeia ao modernismo do Museu OscarNiemeyer, da poesia de Paulo Leminski aos espetáculos do Teatro Guaíra, ela abriga umadiversidade cultural vibrante. Cada rua, praça e estabelecimento conta uma história.

Destacar estas singularidades podem revelar tesouros culturais que, muitas vezes, passamdespercebidos. No período da globalização e digitalização, há uma crescente necessidade de reforçar as raízes locais.

Conhecer e reconhecer a riqueza cultural da cidade é uma forma de construir um futuro que valoriza sua herança histórica e faz dela memória viva.

Em uma edição especial dedicada à cultura de Curitiba, espaços dedicados a entrevistas, perfis e reportagens sobre eventos e projetos culturais oferecem visibilidade e reconhecimento a talentos emergentes e estabelecidos.

Isso não só incentiva a produção cultural, mas envolve a comunidade em um diálogo mais

profundo sobre a importância da arte e sua construção. Além disso, tal edição reflete a cosmopolidade do município, que tem atraído turistas e novos moradores de todo o Brasil.

Nesse sentido, é importante lembrar que imigrantes de diversos países, como Alemanha, França, Suíça, Polônia, Itália e Ucrânia fizeram parte de seu povoamento.

Novos imigrantes e refugiados têm chegado à capital e todos contribuem para a constante formação da sua cultura. Falar de Curitiba também é falar dos povos originários, que tiveram um papel importante no seu processo de habitação.

Inclusive, o nome da cidade vem do Guarani “kur yt yba” e significa grande quantidade

Voz da Comunidade Comunitiras

Isabel Enns Töws, aluna de graduação em História na UFPR, assina o texto abaixo a partir do questionamento “Para quem a história está sendo feita?”.

O historiador Keith Jenkins pontua, em sua obra “A História Repensada”, que “nossa cultura tem uma longa tradição dominante na qual a verdade e a certeza são consideradas descobertas, e não criações”. Enquanto, em contrapartida, o pensamento europeu que tem se desenvolvido é de que a verdade é sempre criada, nunca descoberta.

Fazendo um paralelo entre esta ideia ao conceito de história relacionada à memória, fica claro que, atualmente, a sociedade tem uma necessidade de buscar uma grande “verdade descoberta”.

Ainda assim, a memória coletiva, formada diretamente ou vivida “por tabela” pelas próximas gerações, é mantida viva através de lugares, acontecimentos e personagens, como Michael Pollak estrutura em sua

COORDENADOR

COORDENADOR

TRADUÇÃO

COORDENADORA

Suyanne

COORDENADORA

Suyanne

de pinheiros. Do mesmo modo, a população afro-brasileira realizou diversas contribuições aomunicípio, as quais, infelizmente, enfrentam um apagamento constante. Um exemplo são as técnicas de construção adobe e taipa, utilizadas nos edifícios do Largo da Ordem. Renegar essas populações é negar nosso passado e anular parte da nossa história. Assim, discuti-las e recordá-las é essencial.

Por fim, escrever sobre os costumes curitibanos seria um presente para os leitores. Em tempos em que o jornalismo enfrenta preocupações e desafios, dedicar espaço à celebração do que é nosso, serve como forma de proporcionar inspiração. É uma oportunidade de nos reconectar com nossas raízes e de olharmos paraquem somos.

obra “Memória e Identidade”. Ou seja, são estes os elementos parcialmente responsáveis pela preservação da identidade de um grupo. Consequentemente, as memórias, contadas ou presentes por meio do patrimônio físico, vão muito além das poucas histórias escolhidas geralmente por pequena parcela da população, para serem lembradas e tidas como conteúdo didático.

As diversas narrativas e histórias formam a identidade de uma cidade, composta pelas narrativas factuais, mas além disso, pelas múltiplas jornadas dos que formaram o que conhecemos hoje por Curitiba.

Memórias que merecem ser preservadas em suas mais diversas expressões materiais, orais e folclóricas para a compreensão maior da cultura e história local. E esta preservação mais íntegra só pode ser estabelecida quando nos atentamos à pergunta que Jenkins levanta: para quem é esta história que está sendo feita?.

Edição 348 - 2024 | O Comunicare é o jornal laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR jornalcomunicare.pucpr@gmail.com | http://www.portalcomunicare.com.br Pontifícia Universidade Católica do Paraná | R. Imaculada Conceição, 1115 - Prado Velho - Curitiba - PR

Estudantes 3º Período de Jornalismo

FECHAMENTO

Isadora Jacon

Beatriz Dias

Eduardo Pascnuki

Giovanna Romanoff

Lorena Andrade

Caio Stelmachuck

Milena Bilino

Reportagem Carolina Senff

Giovana Tirapelli

Heloise Claumann

Larissa Croisfett

Isadora Jacon

Caio Stelmachuck

Arthur Froes

Pablo Ryan

Beatriz Dias

Eduardo Pascnuki

Giovanna Romanoff

Ricardo de Siqueira

Lorena Andrade

Stephanie Carneiro Vinicius Sech

Letícia Hamm

Gustavo Xavier Gustavo Malinowski

Davi Guiarzi

Emilly Kauana Alves

Mariana Uniati

Breno Gallina

Laura Kaiser

Ingrid Polti

Hiago Machado

Marcelo Xavier

Murilo Wiczick

Leonardo Yukio Yokoyama

Traços marcantes de Poty Lazzarotto influenciam novos artistas

Multiartista que comemorou centenário em março, inspira com obras espalhadas por Curitiba

Beatriz Dias

Eduardo Pascnuki

Giovanna Romanoff

3º Período

N apoleon Potyguara Lazzarotto, mais conhecido como Poty Lazzarotto, marcou a história de Curitiba ao produzir diversas obras espalhadas pela cidade. O artista, que completaria 100 anos este ano, se expressava através de diferentes modos artísticos, como desenhos, gravuras, ilustrações, murais e vitrais. Seu trabalho exposto a céu aberto criou uma espécie de galeria de arte ao ar livre que inspira pessoas a manterem vivo o seu legado.

Paulo Roberto de Camargo é doutor em Comunicação e Linguagens e coordenador do bacharelado em artes visuais da PUCPR. À reportagem, ele afirma que Poty Lazzarotto pertence a uma geração de artistas que fundaram uma identidade curitibana. “Ele criou, com a azulejaria, e outros tipos de obras que estão espalhadas pela

fazem sentir como se fossem amigos de longa data. “Muitos piás curitibanos cresceram vendo as obras de Poty pelas ruas.

A ideia da exposição surgiu no ano passado e foi pensada pelo

Na década de 1990, os trabalhos começaram a ser expostos no local e Robson Krieger, filho do então dono do estúdio Ricardo Krieger, virou amigo próximo de Lazzarotto. Robson expressa grande admiração por Poty

“Muitos piás curitibanos cresceram vendo as obras de

Poty pelas ruas

cidade, e que de certa forma vão narrar a epopeia curitibana”.

Simon Taylor é um ilustrador curitibano e comanda a exposição Meu Amigo Poty, que acontece no Studio R Krieger e

ateliê em conjunto com Simon. As artes têm como cenário diversos pontos da cidade que recebem obras de Poty. Todas têm a presença do artista e de Simon, a representar o impacto de Lazzarotto em Curitiba. O

Lazzarotto quando perguntado sobre a influência do artista em Curitiba e diz que faz questão de seguir contando sua história, para eternizar aquele que trouxe arte às ruas da cidade.

comemora o centenário de Poty Lazzarotto. Em entrevista, Simon revela que nunca conheceu Poty pessoalmente, mas que o nome do evento é uma brincadeira com o fato das obras do artista serem tão familiares para os moradores da capital, que os

material exposto deve fazer parte de um livro baseado no traço não-linear de Poty, que também reunirá aspectos do cartum.

O Studio R Krieger, localizado no Largo da Ordem, é a galeria que mais detém obras de Poty.

Fernando Ferlin, conhecido como Gardpam, é reconhecido internacionalmente por suas obras em grafite. Residente de Colombo, região metropolitana de Curitiba, pintou um mural em homenagem a Poty Lazzarotto no calçadão da Rua XV. O

painel ficou pronto em abril, no dia em que o artista completaria um século de vida e acompanha artes dedicadas a Paulo Leminski e Helena Kolody.

Ao ser questionado sobre a influência de Poty em sua arte, Gardpam afirma ser uma grande satisfação poder homenagear o artista em suas obras. “Também morando na grande Curitiba pude conhecer o incrível trabalho do Poty, que é uma grande referência artística para mim e é também uma grande satisfação poder homenageá-lo”.

Um grande diferencial de Lazzarotto é o fato de ele não ter renegado suas raízes curitibanas, mas ter abraçado elas, o que criou um grande senso de comunidade para a população e influencia cada vez mais novos artistas da capital. “Poty está nos muros, nas praças, na casa das pessoas, nas gravuras... então, ele se consolida como criador de iconografias, mas também como um ícone da cultura paranaense”, conclui Camargo.

Outras exibições comemoram o centenário de Poty. No Museu Oscar Niemeyer (MON), ocorre a exposição “Trilhos e Traços – Poty 100 anos”, que reúne 500 obras do artista. Na Caixa Cultural, “Poty Expandido” leva os visitantes a uma imersão tecnológica com o trabalho do desenhista. Já no Museu Municipal de Arte (MuMa), a mostra “Poty de Curitiba, Curitiba de Poty” reúne desenhos e gravuras de Lazzarotto.

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Mapa interativo sobre as principais obraPoty Lazzarotto em Curitiba, PR portalcomunicare.com.br

Entre cartas e desenhos, obras de Poty são expostas na galeria R. Krieger.
Simon Taylor entre suas próprias obras e as de Poty Lazzarotto.
Beatriz Dias
Beatriz Dias

Tradição familiar se mantém nas históricas confeitarias de Curitiba

Cidade conta com diversas padarias e confeitarias de diferentes segmentos e em todos os bairros, do Batel e Água Verde até o Centro e Portão.

C uritiba tem uma fama entre as capitais de ser um lugar conquistador. E se tem um jeito certeiro para conquistar alguém, é pelo estômago. Além da tradicional carne de onça, outra coisa que nasceu e cresceu junto com a história da capital foram as padarias, cheias de pães quentinhos e histórias para contar. Entre as mais de 800 panificadoras espalhadas pela cidade, três delas chamam atenção pela sua trajetória e tradição curitibana. A capital possui a Padaria América que passa dos cem anos e tem papel fundamental na história de Curitiba, com sua loja matriz no bairro São Francisco. Além das queridas pelo público curitibano como a Confeitaria Holandesa e a Confeitaria das Famílias.

época. Um ano depois, em 1914, o estabelecimento se muda para a Rua América (atual Rua Trajano Reis) e o nome da panificadora surge naturalmente.

Passando os conhecimentos de geração em geração, a Padaria América se tornara um tradicional estabelecimento da cidade. Isso se dá tanto pelo seu carro chefe, a famosa broa de centeio

incêndio, em 1981. A causa do incêndio foi um curto circuito na elétrica do estabelecimento, na época os donos eram Lídia e seu esposo Evaldo, filho de Eduardo conhecido como “Seu Bruda”, e felizmente ninguém se feriu nesse incêndio. Por se tratar de um lugar querido da cidade, o triste ocorrido saiu em diversos veículos na época, como o Diário do Paraná.

A causa do incêndio foi um curto circuito”

europeia, quanto pela sua localização já que residia no coração da cidade e próximo ao Largo

Padaria América

Trazendo conhecimentos da Alemanha, Friedrich Engelhardt inicialmente abre a primeira cervejaria a vapor de Curitiba: a cervejaria glória, no século XX. Friedrich venho para a capital junto a sua esposa, Karoline, em busca de uma vida melhor.

A história da Padaria América surge quando o filho de Friedrich, Eduardo, utiliza da levedura do pai e seus conhecimentos como aprendiz de padeiro para criar um armazém de secos e molhados, que funcionava como uma espécie de mercearia na

da Ordem, palco de inúmeras histórias de Curitiba.

Porém, nem só de boas lembranças vive a padaria. Por conta da escassez de trigo decorrente da Segunda Guerra Mundial, a família Engelhardt viu sua produção diminuir e se tornando cada vez mais rasa. Além disso, por se tratar de um estabelecimento de origem alemã, vândalos depredaram e saquearam a Padaria, que contribuíram ainda mais para a má fase da panificadora.

Outro fato devastador que caiu sobre a América foi um terrível

Embora com algumas adversidades durante sua história, a Padaria América segue funcionando e crescendo junto a cidade durante esses 111 anos, mantendo suas raízes e tradições de família, já que desde o ínicio o espaço é comandado pela família Engelhardt e pretendem continuar assim pelo próximo centenário.

Confeitaria Holandesa A Confeitaria Holandesa foi pioneira no ramo em Curitiba. Foi fundada em 1958, por uma antiga funcionária da Leiteria Scheffer e pelo marido, que na época era considerado um dos únicos confeiteiros com diploma na cidade. Na década de 60, não eram comuns muitas confeitarias especializadas, o que trouxe pouca concorrência e uma oportunidade de se destacar na culinária da cidade.

Localizada entre as ruas Doutor Pedrosa com a Brigadeiro Franco, no Centro, a confeitaria possuía um cardápio variado de tortinhas de creme, empadão, baba de moça e fios de ovos, que logo foi ganhando popularidade e conquistando o coração e o estômago dos curitibanos.

Embora não seja a criadora, a Holandesa ficou famosa pelo bolo Marta Rocha, um tradicional bolo a base de pão de ló e fios de ovos, logo se tornando o carro chefe da confeitaria e responsável por 50% do faturamento da loja.

Durante seus 66 anos de história, a doceria cresceu e chegou a ocupar um casarão na Sete de Setembro, no Batel. Atualmente, a confeitaria possui apenas sua sede no centro, que foi vendida pelos tios e agora é administrada pelos sobrinhos Ingo, Karin e Persio, mantendo viva a tradição da administração do local pela Família Procop.

Embora os sobrinhos queiram manter a tradição do local, eles sentiram que a Confeitaria Holandesa precisava se reinventar. Karin Procop, uma das sócias da doceria, sentiu que o lugar precisava seguir as tendências do mercado e da concorrência, para sair desse sentimento de estar parado no tempo.

“Uma ideia é tornar o ambiente mais instagramável e atrativo, mas sem perder a tradição”, diz um dos sócios, Ingo Procop.

Confeitaria das Famílias A Confeitaria das Famílias foi inaugurada no dia 11 de outubro de 1945, pelo proprietário espanhol Jesus Alvarez Terzado. A sede está localizada em um dos prédios mais antigos da cidade, considerado uma Unidade de Interesse e Preservação, por conta do seu estilo mais arcaico e robusto características das construções da Rua XV no início do século XX.

O prédio foi casa de diversos outros empreendimentos antes de se tornar a Confeitaria. Foi um salão de sinuca e um estúdio fotográfico. A fama da Confeitaria das famílias foi aumentando. Assim, o simples balcão de madeira para atendimento dos clientes se transformou em grandes salões com mesas e decorações.

Um fato que marcou o nome da Confeitaria das Famílias na cidade foi a nomeação da sua torta de Fondant para a torta Marta Rocha. Os donos da confeitaria decidiram fazer a troca desse nome em questão, da modelo e Miss Brasil Martha Rocha que infelizmente conquistou a segunda posição no Miss Universo em 1954. A Torta ficou muito famosa e ganhou recriações por diversas confeitarias de Curitiba como a Padaria América e a Confeitaria Holandesa.

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Famosa torta Marta Rocha que rivalizou as tradicionais padarias de Curitiba.
Fachada da padaria América nos anos 60.
Leocadia Bettio
Divulgação/Padaria América
Letícia Hamm
Gustavo Xavier Gustavo Malinowski.
3º Período

Cinema de Rua é sinônimo de nostalgia para curitibanos

Em um período de aproximadamente 20 anos, quase todos os cinemas de rua de Curitiba foram extintos

Giovana Tirapelli

Durante as décadas de 1950 a 1990, a capital paranaense possuía cerca de 15 cinemas de rua com 50 salas distribuídas no centro de Curitiba. Essas salas fizeram parte da rotina de muitos curitibanos durante a infância e adolescência, criando memórias e histórias. Por volta de 1990, os cinemas de rua perderam sua praticidade, sendo substituídos por cinemas de shopping e canais de streaming.

O Cine Avenida foi o primeiro cinema de rua a ser construído para projeções cinematográficas na capital. Inaugurado em 1929, no Palácio Avenida, na Rua XV, deu início à Cinelândia curitibana. Essa expressão era usada para definir a região do centro da cidade, localizada entre as Rua XV de Novembro e Avenida Luiz Xavier, onde encontravam-se cerca de 15 cinemas de ruas. A localidade reunia os principais cinemas da cidade como o Ópera (1941), o Cine Palácio (1950), Cine Odeon (1934) e o Cine Luz (1939).

A Cinelândia, além de agrupar esses locais, dispunha de diversos serviços para o público, como as galerias de lojas e comércios externos, tal como as barraquinhas de doces e pipoca. Os cinemas eram espaços socialmente relevantes, considerados um dos únicos meios de entretenimento da cidade. Com as mudanças tecnológicas e o surgimento de cinemas em ambientes fechados, nos shoppings, os cinemas de rua foram perdendo sua segurança e falindo gradativamente. O Cine Luz foi o último local a funcionar únicamente como cinema de rua na cidade e foi fechado em 2009.

Além dos espaços voltados para a projeção cinematográfica, em 1975, Valêncio Xavier (escritor e cineasta) idealizou a Cinemateca de Curitiba, a terceira mais antiga do Brasil. O espaço

é responsável por armazenar a história do cinema na cidade e manteve a tradição dos cines antigos, exibindo diversos filmes ao decorrer dos anos. O coordenador do local, Marcos Sabóia, 54, explica que o acervo busca preservar materiais cinematográficos e, principalmente, expor os trabalhos audiovisuais à população de forma gratuita. A Cinemateca foi o único espaço a funcionar no estilo dos cinemas antigos na década de 2010. Porém, em 2019 surge o Cine Passeio, cinema de rua que, vagamente, retoma as características dos cinemas passados.

A tradição guardada nas memórias

Os cinemas de rua marcaram o progresso do centro de Curitiba e de seus habitantes. Além do desenvolvimento econômico e cultural que a região teve, muitos moradores que vivenciaram esse período vivem com nostalgia dessa época.

Marcos explicando as técnicas de preservação para os filmes em película.

grande, [...] parecia um salão de teatro, com as poltronas e tudo.” Esses espaços tinham arquitetura externa e interna construídas para lembrar os teatros, com as entradas diretamente para a rua, as grandes fachadas, e as poltronas e paredes revestidas de carpete. “Hoje eu tenho saudade, um

“Hoje eu tenho saudade, um saudosismo de uma época que era diferente”

O promotor cultural George Struck relembra que ia com frequência ao Cine Avenida. Ele conta que a experiência de ir ao cinema na época começava antes de entrar nas salas de projeção, a emoção iniciava-se já na fila da bilheteria para tentar conseguir o ingresso da sessão. “Sempre que passo nos lugares que ficavam os cinemas, eu fico lembrando, dando saudade”, diz Struck.

Luciana Galeano, 49, é secretária, e passou a adolescência frequentando o ambiente, ela conta que cada vez que visitava os cinemas vivenciava algo novo. “Quando você entrava tinha aquele saguão

saudosismo de uma época que era diferente”, revive Galeano. Todos esses elementos tornavam essa experiência algo único. Marcelo Munhoz, de 52 anos, é produtor, diretor e professor de cinema, e para ele, esses momentos eram especiais. “Tinha um certo ar mágico, romântico que eu acho que contribuiu para esse fascínio que eu tive pelo cinema e que, de alguma forma, definiu a minha carreira.”

Marcelo também narra que o centro de Curitiba era mais vivo nas décadas da Cinelândia e que costumava assistir ao mesmo filme várias vezes no mesmo

dia. “Eu me lembro que eu ia e, no intervalo, eu ia ao banheiro e voltava para ver o filme de novo. Tinha tardes que eu tirava, ia na primeira sessão e saía só no final da tarde”, relembra.

Os cinemas de rua também instigavam os espectadores a descobrirem novos estilos de filme, já que o público dependia desses ambientes para assistir produções audiovisuais. Marcos Sabóia conta que, na época, não havia muitas possibilidades de escolha como há atualmente, o que tornava os filmes memoráveis, já que não podiam ser vistos com frequência.

Os funcionários dos cinemas também carregam histórias. Valdenício da Silveira, 61, é projecionista desde a adolescência, e nunca largou da profissão. O veterano relembra seus dias mais ativos nas salas de exibição com emoção. “Dependendo das reações das pessoas nas salas, era como se fosse eu que estivesse fazendo aquelas pessoas sorrirem, muitas vezes chorar”, reflete. Por mais que as máquinas de projeções antigas estejam sendo substituídas por equipamentos atualizados, o sentimento de operá-las nunca se afastará de Valdenício, que há 44 anos manuseia esses projetores.

Apesar da quase extinção dos cinemas de rua em Curitiba, a tradição permanece em cada morador que vivenciou a época. “No cinema você viaja no tempo e no cinema tudo é possível”, conclui Silveira.

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Conheça as histórias dos cinemas de rua de Curitiba

Heloise Claumann
Heloise Claumann
Larissa Croisfett
Período
Larissa Croisfett
Valdenício na cabine do Cine Guarani, onde trabalhou exibindo filmes infantis.

Baile de carnaval abria o armário de Curitiba

Conhecido como Gala Gay, o baile de carnaval que durou nas décadas de 1960 a 1990, era símbolo e local de resistência e expressão da comunidade LGBTQIA+

Vinicius Sech

3º Período

N o carnaval de Curitiba, antes de o curitibano criar a tradição de fugir para o litoral, era comum a organização de grandes bailes e eventos em clubes da cidade. As pessoas costumavam exibir suas fantasias, ou talvez tirar as máscaras que utilizavam para se encaixar nos “bons costumes”. A comunidade LGBTQIA+ tinha apenas esta época para ser tolerada pela então capital interiorana. Era no Baile dos Enxutos, mais conhecido como Gala Gay, que a cidade tão conservadora vivia sua expressão artística mais autêntica e livre. O evento era realizado na extinta Sociedade Beneficente Protetora dos Operários e arrastava foliões curitibanos e diversas pessoas do resto do país.

Em meados de 1960, o Clube Operário deu início à realização do Gala Gay. O evento seguiu atraindo popularidade e fama entre as festas de carnaval da cidade, tendo como seu auge as décadas de 1970 e 1980. Durante o evento havia desfiles de fantasias com direito a premiações, além de performances de travestis e drag queens. Marcado pelas disputas intensas pelos prêmios, no dia seguinte os jornais da cidade publicavam a cobertura completa e seus desdobramentos, sem poupar as fotos explícitas que ilustravam a diversão e o que era considerado totalmente vulgar.

Por alguns dias, Curitiba se deixava viver o que era “imoral”, liberando uma “folga” sem o preconceito. José Carlos Fernandes, jornalista e professor da Universidade Federal do Paraná, afirma que o Gala Gay era um fenômeno, e aponta duas curiosidades que explicam isso: a participação da elite curitibana e a cobertura feita pelos jornais da cidade. “A alta sociedade se desvestia de seus preconceitos e participava como júri desses bailes. Outro aspecto interessante é como o Diário Popular cobria o evento, que era feito de uma forma totalmente acintosa” - de forma provocadora.“Os meus alunos ficam horrorizados

e chocados quando observam as fotos e a forma na qual era feita a cobertura do baile”

Logo após, a cidade voltava à normalidade, e o que também voltava a estampar as capas de jornais seriam notícias de repressão contra as travestis e transexuais. Seus corpos deixavam o clube e sua diversão, para serem reprimidos por policiais da extinta delegacia de comportamento. Era comum a prisão dessas pessoas pelo crime de “vadia-

no Rio e São Paulo, com vários relatos do preconceito da sociedade daquela época”.

Após os anos 1980, Curitiba presencia o surto de AIDS. A partir desse momento há pouca cobertura sobre o Baile dos Enxutos, que foi perdendo fôlego ao longo dos anos e teve sua última edição realizada no ano de 1999. O Clube Operário foi dissolvido nos anos 2000 e se tornou uma casa de eventos. Foi demolido após um incêndio, e em 2021, a

co do Estado do Paraná e da Tribuna do Paraná. Acho que seria um trabalho bem interessante para entender como foi o olhar fotográfico sobre essas mulheres, que não eram tratadas como mulhereseram tratadas de uma maneira muito pejorativa, muito agressiva.”

O professor enumera a quantidade de fotografias presentes no acervo citado, mas explica que o arquivo não está disponível para pesquisa. “Esse acervo fotográ-

“Meus alunos ficam horrorizados quando observam as fotos do baile”

gem” ao se prostituírem em troca de recursos para sobreviver. A presença de corpos diferentes e considerados transgressores incomodava a sociedade, principalmente em locais frequentados pela elite curitibana.

José Carlos ainda explica que o baile não era uma particularidade de Curitiba, assim como o preconceito sofrido pelas pessoas da comunidade LGBTQIA+. “Até pouco tempo eu achava que o baile tinha uma forte marca regional, mas depois de ler obras e pesquisas de diversos intelectuais brasileiros, percebi os relatos de outros bailes, principalmente

Prefeitura de Curitiba construiu um estacionamento inteligente no local histórico, palco de importantes acontecimentos e marcos culturais para a comunidade LGBTQIA +.

Poucos relatos e acervo indisponível Mesmo com todos os anos de realização e as multidões que o baile arrastava, a memória do Baile dos Enxutos resiste em jornais arquivados na Biblioteca Pública do Paraná. Além da biblioteca, há poucos registros no Centro de Documentação Professor Dr. Luiz Mott, centro de arquivos da organização social de apoio à comunidade LGBTQIA+, o Grupo Dignidade. Segundo Alisson Gonçalves, um dos pesquisadores responsáveis pelo CEDOC, pela escassez de relatos e informações acerca do baile, seria necessário resgatar essas histórias para entender e descrever de uma forma detalhada o que realmente acontecia dentro do Clube Operário.

O professor José Carlos também cita seu desejo de poder fazer uma releitura do Gala Gay, a partir de acervos fotográficos. “É um sonho que eu tenho, de um dia fazer a releitura do Gala Gay, a partir do acervo fotográfi-

fico está em um grande arquivo de 68 milhões de itens, numa das 6.800 caixas que tem lá. Está cuidado, porém não está disponível, por motivos empresariais e por questões de segurança e tudo mais.”

Para tentar contornar essa situação, atualmente há um projeto de resgate histórico da memória LGBTQIA+ em Curitiba. O projeto pertence ao grupo de extensão Máquina de Ativismos, que é coordenado por professores da Universidade Federal do Paraná. Alberto Schmitz, um dos professores que compõem o grupo de pesquisa do projeto, explicou que a iniciativa vem coletando alguns relatos e documentos para montagem de materiais didáticos, com o intuito de resgatar histórias e afirmar que a comunidade LGBTQIA+ também fez parte da história cultural da cidade.

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homenageia Gilda, figura símbolo de resistência.

portalcomunicare.com.br

Artista
Foto tirada no acervo da Biblioteca Pública do Paraná.
Parte do acervo do Gala Gay está armazenado na Biblioteca Pública do Paraná.
Stephanie Carneiro
Stephanie Carneiro
Lorena Andrade Ricardo de Siqueira
Stephanie Carneiro

Curitiba’s carnival ball used to open the closet

Known as the Gay Gala, the carnival ball that lasted from the 1960s to the 1990s, was a symbol and place of resistance and expression of the LGBTQIA+ community

In the carnival of Curitiba, before the culture of traveling to the beach, it was common for people to organize large balls and events in clubs of the city. People used to show off their costumes, or perhaps take off the masks they wore to fit into the “good manners.” The LGBTQIA+ community had this time to be accepted by the capital. It was at the “Baile dos Enxutos”, better known as the Gay Gala, that the very conservative city lived its most authentic and free artistic expression. The event was held at the extinct Beneficent Society for the Protection of Workers and drew revelers from Curitiba and several people from the rest of the country.

In the mid-1960s, the Workers Club began holding the Gay Gala. The event continued to attract popularity and fame among the city’s carnival festivities, with its peak in the 1970s and 1980s. During the event there were costume parades with prizes, as well as performances by trans people and drag queens. Marked by intense disputes for the awards, the next day the city’s newspapers published the complete coverage and its developments, without sparing the explicit photos that illustrated the fun and what was considered vulgar.

For a few days, Curitiba allowed itself to live what was “immoral”, releasing a “break” from prejudice. José Carlos Fernandes, a journalist and professor at the Federal University of Paraná, says that the Gay Gala was a phenomenon, and points out two curiosities that explain this: the participation of the Curitiba elite and the coverage made by the city’s newspapers. “High society stripped itself of its prejudices and participated as a jury at these balls. Another interesting aspect is how the Diário Popular covered the event, which was done in a totally brazen way” - in a provocative way.” My students are horrified and shocked when they look at the photos and the way in which the prom was covered.”

Right after that, the city regressed back into normality, which also would bring back the repressive newspaper covers against trans people. They used to leave the club and their fun times, to go right back into being repressed by the late (now defunct) Behavioral Police. It was com-

After the 80’s, Curitiba suffered an AIDS epidemic. From that moment forward there was a lack of coverage of the “Baile dos Enxutos”, which lost momentum after long years and had its last dying breath in its final edition in the year of 1999. The Workers’ Club dissolved in the

“My students were horrified when they saw the pictures of the ball.”

mon that queer people would be jailed due to them prostituting themselves in the hopes of gaining access to basic resources to survive. The notion of different bodies that were seen as transgressors really bothered society, especially places frequented by the elite of Curitiba.

José Carlos also explained that said ball wasn’t particular to the city of Curitiba, and neither was the prejudice that the LGBTQIA+ suffered. “Until a short while ago, I believed that the prom had a strong regional character, but after reading some literary work and researches done by many brazilian intellectuals, I’ve noticed some retales of other dances, specially in Rio and São Paulo, accompanied by many accounts of societal prejudice from that time”.

following year, and became an event location. It was demolished after a fire, and in 2021 the City Hall of Curitiba decided to construct a smart parking lot in that historical spot, which served as a stage for many pivotal moments and cultural achievements for the LGBTQIA+ community.

Lack of accounts and unavailable collection

Even with all these years of organization and the crowds that the ball brought, the only memory of the Baile dos Enxutos exists in archived newspapers in the Public Library of Paraná. Outside of the library, there are few registers in the Professor Dr. Luiz Mott Documentation Center, an archives center from the social organization of LGBTQIA+ community support, Grupo Dignidade. According to Alisson Gonçalves, one of the researchers responsible for the Documentation and Research Center (CEDOC), due to the lack of reports and information regarding the ball, it would be necessary to rescue these stories to understand and describe in detail what really happened inside the Workers Club.

Professor José Carlos also mentions his wish of making a reenactment of the Gay Gala, based on the photographic collections.

“It is a dream of mine, making a reenactment of the Gay Gala,

based upon the photographic collection of the State of Paraná and Paraná’s Tribune. I believe that it would be a pretty interesting endeavor to catch a glimpse of how the photographic view of those women, who weren’t even treated as women and were treated really pejoratively and aggressively”.

The professor gives a known number of photographs present in said collection, but mentions that the archive is no longer available for research purposes.

“This photographic collection is within a large archive composed of 68 million items, in one of the 6.800 boxes present there. It is preserved, but it is not available, for corporate reasons, as well as security reasons and such”.

In the hopes of solving this issue, there currently is a project that seeks to recover the memories of the LGBTQIA + community in Curitiba. The project belongs to the extension group “Máquina de Ativismos”, which is coordinated by professors of the Federal University of Paraná. Alberto Schmitz, one of the professors that make up the research team of the project, explained that the initiative has been collecting accounts and documents to develop didactic materials, with the goal of rescuing tales and assert that the LGBTQIA + is also part of the cultural background of the city.

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Artist makes a homage to Gilda, an icon for the resistence.

Part of the archives of the Gay Gala in the Public Library of Paraná.
Stephanie Carneiro
Stephanie Carneiro
Lorena Andrade
Ricardo de Siqueira
Stephanie Carneiro
Vinicius Sech
3º Período
Tradução:
Raquel Wrege
Breno Gallina

Religiões afro-brasileiras sofrem com a discriminação há quase 100 anos

Evidências de praticantes da Umbanda e do Candomblé na cidade datam do começo do século XX. Atualmente, ainda há resquícios do sofrimento que viveram

Desde a formação dos primeiros terreiros, umbandistas e candomblecistas sofrem ataques devido ao desconhecimento da população geral. “Macumbeiros” e “feiticeiros” eram termos que frequentemente ganhavam as páginas dos jornais curitibanos. Muitas das vezes, as reportagens tinham um olhar pejorativo e incriminador. A intenção era expor um “crime”, escancarando o preconceito que havia sob as religiões afro-brasileiras.

As primeiras notícias depreciativas surgem na década de 20. Geralmente referenciadas pelo termo “macumba”, as religiões passaram décadas sendo perseguidas por alguns noticiários. “Enquanto Curytiba dorme… as macumbas das sextas-feiras”manchete do Diário da Tarde em 1929. Uma edição de 1930 refe-

A linha que essas manchetes seguiam divergia de um periódico para outro. Jornais como o Diário da Tarde e o Diário do Paraná publicaram matérias de cunho

rias destinadas a essas religiões, ocorre uma forte tendência na apresentação de conteúdos positivos”. Consequentemente, a situação das religiões de matriz

é porque uma pessoa preta está toda de branco que ela vai ser do Candomblé ou da Umbanda”. Na Praça Tiradentes existe um

Não é porque uma pessoa preta está toda de branco que ela vai ser do Candomblé ou da Umbanda”

depreciativo até meados da década de 50. “Até gente de ‘bem’ frequenta terreiros”, era o destaque do jornal de Assis Chateaubriand em 1955. Em contrapartida, no mesmo ano, o periódico O Dia desmistificava alguns estereótipos. “Sempre ouvi dizer que

renciava o Candomblé como “um mal indisfarçavel”. No âmbito esportivo, clubes contrataram “macumbeiros” para ganharem seus jogos, como relata uma edição do Paraná Esportivo em 1950. “A macumba teria sido perfeita, se o auxiliar do pai de santo não tivesse falhado nos despachos”. Por não ter conhecimento, o povo curitibano julgava umbandistas e candomblecistas como pessoas marginais e “praticantes de magia negra”.

nesses lugares havia sacrifício de gato preto. Onde estive não vi gato, nem preto nem de outra cor, muito menos degolado”.

Nesse contexto, a sociedade começou a desenvolver uma visão menos etnocêntrica com o tempo. Mestranda em antropologia social na UFPR, Jaqueline Soares explica a legitimação das religiões afro-brasileiras a partir da década de 60. “Além de um aumento no número de maté-

africana apresentou uma melhora significativa naquele período.

Uma amostra disso é a criação da coluna “Umbanda/Candomblé”, que perdurou diariamente entre 1978 e 1979 no Diário do Paraná. Na celebração de seu primeiro ano, em 1978, o babalorixá Edson Centanini descreveu como foi difícil praticar a sua fé até aquele momento. “Éramos chamados de macumbeiros e de gente que somente pratica o mal. Por esse motivo, sofríamos o desprezo da maioria do povo e não raramente repressão policial”. Os textos assinados por Dirce Alves ajudaram a desenvolver uma abertura de pensamento na sociedade. Houve um princípio de aceitação e de crescimento das religiões afro-brasileiras na capital paranaense.

Ainda é difícil Mesmo com a melhora em relação ao passado, Curitiba ainda vive em uma bolha de desconhecimento. É o que explica a espiritualista e presidente do Instituto Afro-Brasil do Paraná, Wil Amaral. Ela diz que é confundida como praticante de Umbanda frequentemente. “Por ser preta, e pela forma que me visto, com turbantes e roupas coloridas, acham que sou umbandista”. Will relata que as pessoas lhe pedem bênção, ou coisas que não está preparada religiosamente para sanar. “Não

círculo de gameleiras, árvore de valor sagrado para as religiões afro-brasileiras. Para marcar o local, foi colocado uma placa que conteria uma menção à Oxalá, o orixá mais poderoso. “Quando a Prefeitura não deixou colocar Oxalá, usamos símbolos paranistas (dois pinhões) para formar um machado. Porém, alguém ouviu a gente falando e quebraram” - lamenta Kandiero, cofundador do Centro Cultural Humaitá. Para vários povos africanos, o Machado de Xangô é um símbolo que representa a justiça. A referência não foi permitida com a justificativa de que a cidade é laica.

Fundado em 1988, o Terreiro Pai Maneco é um dos mais conhecidos de Curitiba. Apesar disso, o lugar sofreu um incêndio criminoso em 2016. Partes significativas do terreiro foram destruídas pelo fogo, incluindo altares e objetos sagrados. O ataque foi amplamente denunciado como um ato de intolerância religios e, entretanto, nenhum criminoso foi detido até o momento.

Mãe de Santo e tesoureira do terreiro, Camila Guimarães afirma que o incêndio não foi um caso isolado. “Nossa líder espiritual já levou um tapa na cara enquanto estava dirigindo a gira”. Camila relata que o Pai Maneco sofre diversos tipos de atentados, inclusive de praticantes de outras religiões. “Já sofremos ataques cibernéticos e o nosso terreiro já foi apedrejado com pedras enroladas em versículos bíblicos”. Diante do problema, a Mãe explica o que é fundamental para o etnocentrismo da sociedade diminuir. “Precisam ter educação e conhecimento para saber que todas as religiões devem (ou ao menos deveriam) levar para um único caminho”.

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Veja histórias de jornais antigos que hoje são fonte de aprendizado histórico e cultural

Reportagem do jornal “O Correio da Noite”, em 1959.
Davi Guiarzi
Hemeroteca digital
Davi Guiarzi
Emilly Kauana Alves
Mariana Uniati
3º Período

Trajetória do Largo da Ordem foi marcada pela boemia e conflitos

Durante os anos 80 e 90 jovens começaram a se concentrar no Centro Histórico, um ponto de encontro que reunia muita cultura, diversidade e tragédias

Pablo Ryan

Arthur Froes

3ºPeríodo

N a década de 80, o Largo da Ordem começou a se destacar como um ponto de encontro de jovens que pertenciam a diversas tribos urbanas. A eletrizante vida noturna do local era marcada pela variedade de bares, pubs e restaurantes que atraíam muitas pessoas.

O ex-cantor e compositor João Lopes, conhecido pela famosa música “Bicho do Paraná”, era uma figura frequente que realizava shows no local. Nascido no Município da Califórnia, no Norte do Paraná, ele se destacava pelo estilo rock rural. O cantor gravou seu primeiro disco em 1981 (João Lopes), quando lançou a música Bicho do Paraná, que se tornou um hino não oficial do estado.

As performances de Lopes, que teve a primeira experiência na banda curitibana Blindagem, principal grupo de rock do Paraná, marcaram a vida de diversas pessoas. O aposentado Mauro Senter, de 53 anos, que frequenta o Largo até hoje, presenciou vários eventos do cantor no Centro Histórico. “Vi muitas vezes

relata que presenciou muitos casos de violência no restaurante “Gato Preto” por conta disso. “A rua São Francisco, por exemplo, era um palco de tensão que os travestis eram ‘proibidos’ de subir para evitar confusões.”

enfrentamento aos preconceitos. Apesar desses conflitos, a transição para os anos 90 trouxe novas influências e mudanças. A globalização e a crescente das subculturas moldaram a vida noturna. O aposentado Wilson

“Os travestis eram ‘proibidos’ de subir a Rua São Francisco”

o João Lopes fazendo shows e tocando música ao vivo nos bares populares da época”.

No entanto, a atmosfera boa não era isenta de problemas. A diversidade cultural e as transformações sociais antigamente resultavam em conflitos entre as pessoas.

Era comum que a diversão durante a noite terminasse em confusão. Muitas vezes motivada por preconceitos relacionados à orientação sexual, divergências culturais e políticas. Mauro

O professor de sociologia do Colégio Estadual do Paraná Ney Jansen esclarece que tais conflitos muitas vezes surgiam da dificuldade da sociedade em compreender que a educação vai muito além de uma simples determinação biológica. “Os estudos antropológicos e históricos demonstram que as relações homoafetivas não eram alvo de tabus.”

Além de destacar que quaisquer formas de opressão a organização coletiva, são os primeiros passos da resistência e do

Vicente, de 67 anos, revela que assistia ao show de Palminor Rodrigues Ferreira, apelidado como Lápis, no Centro Histórico e acompanhou essa transição. “Surgiram novos bares que acolhiam uma clientela diversa de punks, góticos, hippies e outros grupos alternativos.”

Largo nos anos 1990 e 2024 Nos anos 90, à medida que a diversidade cultural se transf ormava, a vida noturna no Largo reunia cada vez mais jovens autênticos e pertencentes a determinados grupos. Diante

disso, os comércios se destacavam e as brigas entre grupos sociais diferentes ainda eram comuns de acontecer.

Nessa época, havia vários bares um perto do outro, um exemplo disso era o Tubas que os punks frequentavam e o Amnésia que era movimentada pela classe mais alta. Uma diferença muito grande de grupo social e de ideias que acabavam terminando em pancadaria. Na Rua São Francisco, o Circus se destacava como o principal núcleo underground da cidade, atraindo skatistas, roqueiros e outros. Houve também o Saci, um bar de MPB, e o Bills, frequentado por punks e ‘doidões’.

Essa presença maciça de jovens, aliada com a ausência de medidas de segurança eficazes, resultava em incidentes frequentes e preocupação entre os moradores locais. Foi nesse contexto que a Guarda Municipal foi apenas reconhecida como responsável por enfrentar a juventude rebelde que se reunia no Largo, conforme relatado na matéria “Guardas Pós-Modernos”, publicada no Correio de Notícias em 1990.

Atualmente, o problema não é centrado nas tensões entre grupos culturais. Porém, o tráfico de drogas, conflitos relacionados ao consumo excessivo de álcool, a exploração da prostituição e o uso de substâncias ilícitas são agora preocupações predominantes no Largo.

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Veja mais detalhes sobre a interessante história do Largo

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Centro histórico de Curitiba, conhecido como Largo da Ordem.
Pablo Ryan
Wilson Vicente e Mauro Senter foram testemunhas da mudança do Largo da Ordem.
Pablo Ryan

Imigrante japonês formou mais de cem fotógrafos em Curitiba

Masanori Yamasaki trabalha com fotografia em Curitiba desde os anos 60

Caio Stelmachuck

Carolina Senff

Isadora Jacon

3º Período

Masanori Yamasaki veio ao Brasil em 1963 e, um ano depois, chegou em Curitiba em busca de melhores oportunidades. Conseguiu o emprego de assistente na Foto Okamoto e se apaixonou pelo ramo. Alguns anos depois, seu chefe ficou doente e ele se tornou sócio, assumindo o negócio. Desde então, mais de cem fotógrafos trabalharam com Masanori. Ele se diz orgulhoso de vê-los dando continuidade em suas vidas após os aprendizados em sua loja.

Quando se mudou, Masanori era um jovem de 17 anos que saiu de seu país com sua família devido às consequências da Segunda Guerra Mundial. A promessa de uma vida melhor no Brasil não era realidade e a família enfrentou dificuldades no primeiro ano no país. Apenas quando chegaram em Curitiba e o jovem conseguiu um emprego a família se estabilizou.

Ao longo dos anos, Yamasaki pôde acompanhar o desenvolvimento da fotografia. Quando iniciou no ramo, ainda utilizava a chapa fotográfica. Presenciou o surgimento dos filmes e a popularização da fotografia analógica. Entretanto, quando o digital passou a ganhar força, Masanori e sua esposa tiveram dificuldades para se adaptar.

Na época, os filhos ainda eram estudantes e ajudavam o casal com os sistemas de edição. Além disso, Masanori e Elisa fizeram um curso de informática durante um ano para atender às demandas do mercado. “Tivemos que aprender para não sermos igual a outros fotógrafos antigos que não evoluíram e fecharam as portas”, relatou Yamasaki.

A especialidade do japonês foi a fotografia de eventos. Trabalhou muito com formaturas, casamentos e aniversários. As fotos de estúdio também sempre estiveram presentes em sua carreira. Participou de algumas exposições com

fotos mais artísticas, mas apenas porque pediram. Se dependesse dele, não participaria.

Foi na década de 90 que a loja passou a ter o nome Yamasaki Fotografias. Ao longo dos anos de trabalho, o ponto comercial teve que se adaptar às mudanças urbanas ao redor. A modernização do transporte, construções

período, sofreu diversos golpes. Alguns profissionais não pagavam o que deviam e a loja ficava devendo aos fornecedores e, por isso, não recebia material. “Sofri muito naquela época”, relembra.

Masanori conheceu a esposa, Elisa Satiko Yamasaki, quando era jovem. Eles praticavam a mesma religião - o budismo - e

“Vendo os jovens, vemos o futuro do país, então eu ajudo eles no que eu puder”

nas redondezas e o fluxo de pessoas são fatores que influenciam as vendas. “Para tocar tem que se esforçar, acompanhar a época, a evolução, compreender o que o povo quer” esclarece o empreendedor.

Com tanto tempo de atividade, Masanori também relata épocas em que viveu muita dificuldade. O empreendedor atendia muitos fotógrafos e, durante um

acabaram virando bons amigos. Depois de um tempo, Elisa passou a trabalhar com o fotógrafo. Assim que casaram, tiveram filhos e a senhora Yamasaki passava bastante tempo em casa cuidando das crianças. Ao longo dos anos, a esposa foi um grande apoio a Masanori. Ela sempre confrontou a timidez do marido a fim de valorizar o trabalho dele. Foi Elisa quem correu atrás de toda a docu-

mentação para Masanori ser nomeado cidadão honorário de Curitiba, já que quando a proposta foi feita ele a recusou, pois acredita que não fez tanto pela cidade para receber tamanha honra.

“Ele era assim mais novo, trabalhava muito, era dedicado. Ele é tímido, não sabe reconhecer o valor que tem”, relembra Elisa ao mostrar uma foto do marido jovem em frente a loja posando com o fusca de seu “patrão”.

Diferentemente de muitos fotógrafos, para Masanori Yamasaki, seu trabalho virou hobbie. A loja de fotografia não é mais apenas um negócio, mas um laço emocional com os proprietários e uma parte deles. O fotógrafo japonês esboça sua alegria ao saber que fez parte de momentos especiais de tantas pessoas ao longo da vida. “Não fiquei milionário, mas fiquei realmente satisfeito”, reflete Masanori ao relembrar sua carreira com saudosismo.

O fotógrafo conta que existem muitos jovens com o desejo de revelar fotos em preto e branco. Apesar de ter parado de fazer isso há muito tempo, voltou a revelar em preto e branco para atender aos pedidos. “Monetariamente não vale a pena, por isso que eu tinha parado. Mas, como muitos jovens tinham interesse, acabei voltando a fazer, porque para eles é novidade olhar o filme em preto e branco”. Segundo ele, faz tudo o que está ao seu alcance pelos jovens. “Vendo os jovens, vemos o futuro do país, então eu ajudo eles no que eu puder.”

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Code e conferira a galeria de fotos da história da Yamasaki Fotografia.

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Masanori Yamaski em frente à loja “Foto Okamoto” nos anos 70.
Masanori Yamasaki em frente a uma vitrine de fotos de sua loja.
Fotos de Acervo da família Yamasaki
Caio Stelmachuck

Aramis Chain, dono de livraria e um dos últimos livreiros curitibanos

O livreiro conta sobre a educação e os valores do Brasil atualmente e a importância da leitura para o desenvolvimento do homem e de sua nação

Breno Zottis Gallina

Ingrid Poltl

Laura Kaiser

3º Período

Há mais de 60 anos, em frente à reitoria da Universidade Federal do Paraná, Aramis Chain conta com um grande acervo de títulos acadêmicos e literários em sua livraria, que permanece no mesmo local desde sua abertura. Com mais de 80 anos e graduado em História, Enfermagem e Administração pela UFPR, Chain se tornou uma figura muito conhecida entre alunos e professores, além de moradores da região, por seu caráter amigável e confiança em seus clientes.

O nome inicial da livraria era “Uma Nova Ordem” mas logo foi alterado para “Livraria do Chain”, já que seus clientes indicavam o local desta forma, pela popularidade do dono. Além da grande popularidade, Chain relata que baseia seu comércio no famoso acordo “fio de bigode”, no qual uma pessoa dá sua palavra de que irá voltar para pagar o que deve. Para ele, a confiança e a honra da palavra, apesar de quase extintas no Brasil, devem prevalecer entre seus clientes, a quem ele chama carinhosamente de “amigos”.

A inspiração para a abertura de sua livraria, que se tornou

tradicional e uma das únicas restantes em Curitiba, veio de sua juventude durante seus anos de graduação. Ele conta que, muitas vezes, os livros pedidos pelos professores ainda não se encontravam disponíveis no Brasil ou não eram traduzidos, assim, surgiu a ideia de iniciar uma livraria que contava com os mais diversos títulos que ainda não estavam disponíveis no mercado brasileiro. Na época, ele foi pioneiro na importação de livros universitários e escolares da Europa.

Chain, atualmente, mora em sua própria livraria. Em momentos de insônia, possui a companhia de seus livros. Afinal, ao atravessar uma portinha nos fundos do segundo andar, ele pode escolher qual livro quer ler, relata ele. O amor pela literatura e por sua livraria também é demonstrado pelo grande conhecimento das obras presentes em sua loja. “Sempre que me perguntam quantos livros já li, respondo: já li e reli todos os livros daqui”.

Ao longo dos anos, a livraria recebeu duas homenagens de diferentes jornais, Folha de S. Paulo e Gazeta do Povo. Apesar de não ter

transferido sua assinatura para o formato digital do jornal, Aramis deixa exposto suas conquistas na livraria em jornais impressos.

Eduardo Tirapelle é um dos clientes há muitos anos, principalmente enquanto estudava na faculdade. Ele conta como a alma e o coração do negócio giravam em torno do Chain e que ela deve continuar a mesma por isso, apesar das grandes mudanças no comércio. “A relação do dono

com os clientes era muito

tiva, atenciosa e

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Confira o ensaio fotográfico na Livraria do Chain

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Raízes Tropeiras permanecem nas tradições de Curitiba

Legado cultural, gastronômico e arquitetônico dos Tropeiros podem ser encontrados até os dias atuais na capital paranaense

Hiago Machado

Marcelo Xavier

Murilo Wiczick

3° Período

D urante o século XVII, um grupo de trabalhadores conhecido como Tropeiros, chegava a Curitiba para marcar uma época com valor significativo na história da capital paranaense. Hoje, cerca de 300 anos depois, os vestígios dessa era podem ser encontrados em partes das tradições da cidade. Apesar de a capital ter evoluído e se modernizado, a história dos tropeiros foi parte importante para o desenvolvimento de Curitiba.

Segundo José Carlos Mendes, cuja família tem profundas raízes nas tradições do tropeirismo em Curitiba, a conexão das tradições herdadas pelos Tropeiros é pessoal. “A história dos tropeiros está entrelaçada com a história da minha família há muitos anos. Meus bisavôs eram tropeiros e percorriam as estradas trazendo mercadorias para minha família”, revela ele.

O legado cultural dos tropeiros é visível em várias manifestações culturais de Curitiba. Na gastronomia, pratos típicos como o “barreado” e o “entrevero” têm raízes no tropeirismo, refletindo as tradições culinárias desses viajantes. A

influência destacada nos dias atuais principalmente na área gastronômica, se deve a principal movimentação comercial da época . Segundo o historiador Augusto Mozart, “o pequeno lucro que era gerado na época dentro da cidade, movimentava principalmente o comércio local de gêneros alimentícios”.

As festas folclóricas de Curitiba também carregam a marca dos Tropeiros. Eventos como a Festa do Pinhão e a Festa da Uva refletem tradições que remontam ao período em que os tropeiros eram figuras centrais na vida econômica e social da região. Essas celebrações continuam a atrair moradores e turistas, mantendo vivas as tradições herdadas desse passado distante.

Na arquitetura, também é notório a influência dos tropeiros, que pode ser observada em construções coloniais como as casas em estilo enxaimel e a igreja de São Francisco de Paula, construída em 1752. Esses edifícios históricos são testemunhos do período em que Curitiba era um ponto de passagem importante nas rotas comerciais dos tropeiros.

Em 1776, a vila de Curitiba, possuía um total de 2.505 habitantes, e a passagem destes tropeiros era de grande importância para a movimentação da economia. “Para a Curitiba do século XVIII o tropeirismo era parte fundamental da economia da Vila, sendo uma das poucas atividades rentáveis naquele contexto”, destacou Augusto.

No século XIX, o comércio tropeiro perdeu sua força na economia de Curitiba dando lugar ao ciclo da erva-mate, que

se tornou o símbolo da província do Paraná. Apesar de a cidade ter evoluído e se modernizado, a história dos tropeiros continua a ser um capítulo importante na história de Curitiba.

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Rota dos pontos percorridos pelos Tropeiros em Curitiba. portalcomunicare.com.br

Monumento ao Tropeiro situado na Lapa que homenageia os Tropeiros.
Murilo Wiczick
Aramis Chain posa ao lado de seu livro favorito de seu acervo, O Homem Medíocre.
Breno Zottis Gallina
presta-
pessoal”.

Rua Barão do Rio Branco

Em Curitiba, o Barão do Rio Branco dá nome a uma tradicional rua, e também, ao primeiro Centro Cívico da cidade. Ela começou a se desenvolver a partir da criação da Estação Ferroviária em 1885. O grande fluxo de passageiros também fez com que a rede holeteira crescesse, e a rua, se tornasse uma das mais importantes da capital

3º Período
O início da Barão do Rio Branco, com a modernidade do século XXI.
Ainda é possível perceber o dano causado pelo desgaste do tempo.
Seguindo pela rua, há estruturas antigas que se destacam por permacerem quase intactas, em meio de tantos prédios e construções atuais.
Entretanto, a maioria dessas construções estão abandonadas e vandalizadas.
O ponto final da Rua Barão do Rio Branco é a antiga Rede de Viação Paraná-Santa Catarina, localizada onde hoje é o Shopping Estação.
Ao lado da Barão, o Paço da Liberdade. O prédio é tombado pela Secretaria de Estado da Cultura, além de ser um Patrimônio Histórico Nacional bastante importante.
Simultâneamente, a rua é repleta de hóteis que mantém a estética do século XX.

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