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A arte da cura

A arte da cura

Ana Luiza Souza

De artistas a pessoas comuns, curitibanos unem esforços para transformar a cidade em um repleto de arte. Transformando a imagem da capital em um cenário mais agradável aos olhos de turistas e população

Ana Beatriz Villas Bôas, Ana Luiza Souza, Bruna Mazanek e Lucas Prestes

Ese você estiver andando pela rua e, de repente, se deparar com árvores de tronco colorido, coberto de peças de crochê? Ou com tapumes que embelezam ao invés de apenas tampar um canteiro de obras? Ou, até mesmo, com um viaduto que serve de galeria para belos trabalhos do grafite?

As ruas de Curitiba estão cheias de intervenções urbanas para tirar a paisagem da monotonia. Suzana Bittencourt é uma das responsáveis por isso. A dentista aposentada acabou vendo no crochê, mais do que uma distração, uma maneira de embelezar a cidade.

Com pesquisas na internet, Suzana encontrou o Yarn Bombing, projeto presente no mundo todo, que consiste em cobrir as árvores com peças de crochê. “É uma forma de gentileza urbana, e uma arte de rua feita por mulheres, pode até ser chamada de grafite feminino”, explica a aposentada. Ela conta que acabou conhecendo outros vizinhos e pessoas da cidade toda com o seu projeto “As pessoas vêm aqui, e acham bonito, tiram foto.”

Mas a dentista não esta sozinha nessa empreitada.

Na praça tem

No bairro Batel, uma das praças mais famosas da cidade, a Espanha, está sendo reformada desde julho. Denise Roman é moradora da região e trabalha como gravurista desde 1979. Vendo o trabalho na praça, a ideia de contribuir com a pintura dos tapumes surgiu de imediato. “Muitas vezes, eu desenhava por ali. Fiz uns estudos das paineiras em nanquim. Quando vi

os tapumes cor de rosa, pensei que se aplicasse árvores em preto, daria uma sensação de leveza”, explica Denise. A artista decidiu tomar a iniciativa de mostrar seus desenhos para a equipe de marketing responsável por pintar os tapumes e, assim, surgiu a parceria.

O trabalho artístico, composto pela pintura de árvores que acompanham a estrutura das plantas da praça, ainda não está finalizado, mas já vem atraindo a atenção da população que passa por lá. “Gosto muito mais assim. É uma forma de mostrar que a arte urbana não é só um rabisco e, sim, uma forma de expressão”, conta a designer Mariana Lima. Para a gravurista Denise, esse tipo de cultura deixa a cidade mais bonita, além de dar visibilidade aos artistas: “É a primeira vez que realizo uma grande interferência na rua e estou gostando muito”, explica.

Linha Verde

João Marcos é designer gráfico e grafiteiro há mais de 11 anos. E há tanto tempo imerso nessa arte, acaba querendo preencher toda parede vazia. Para compor o time de mais de 40 grafiteiros do projeto Mural Street of Styles – Linha das Artes” João foi um dos convidados pelo

“ É uma forma de gentileza urbana.”

- Suzanna Bittencourt, aposentada

Suzana Bittencourt, ao lado de uma das árvores que decorou em sua rua

Jornalismo PUCPR Revista CDM 65 Ana Beatriz Villas Bôas

artista urbano Michael Devis para grafitar as pilastras do viaduto da Avenida Marechal Floriano Peixoto na Linha Verde.

O projeto, financiado pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC), precisou receber autorização do Detran para estacionar carros embaixo do viaduto e utilizar andaimes no local. João Marcos levou 20 horas para finalizar o desenho. Isso sem contar o tempo que gastou pensando e projetando a obra e como ela seria executada. Ele utilizou seus próprios materiais, mas recebeu cachê da prefeitura, que cobriu seus gastos, estimados em cerca de R$ 200.

João, como é chamado pelos colegas de profissão, diz que qualquer forma de arte deixa Curitiba mais atraente, e que tenta ser o mais educado possível, pois essa é uma virtude que também transforma a cidade. “O certo não é pensar que tem de pintar para deixar a cidade mais bonita, porque cada um tem um gosto, e o meu bonito pode não ser considerado belo por todos. O importante é proporcionar acesso à arte. Isso, sim, faz os curitibanos pensarem, consequentemente, deixando as pessoas mais bonitas”, argumentou o grafiteiro.

A opção pela grande dimensão do desenho, e de ele ser em preto e branco, foi para facilitar a leitura das pessoas que passam rápido de carro ou de ônibus por ali. O designer finaliza, explicando a escolha do desenho para o viaduto e seu interesse por trabalhar com imagens de idosos: “É uma contradição de símbolos. Os velhos veem rugas representadas em grafite e acham lindo, mas neles mesmo acham feio.”

“ O certo não é pensar que tem que pintar pra deixar a cidade mais bonita, por que cada um tem um gosto e o meu bonito por não ser para outro.“ - João Marcos, designer gráfico

Artistas fazem parceria com lojistas da região e dão cor aos tapumes da Praça da Espanha, em Curitiba.

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