Comunicare 352

Page 1


Cidades

Mães enfrentam dificuldades em conciliar a maternidade com o trabalho

Página 3

Política

Projeto de Lei contra a discriminação à comunidade LGBTQIA+ Página 4

Economia

Preço de alimentos básicos variam até

41% entre mercados de bairro e de redes Página 10

Cuidado e dignidade

A ação social tem como objetivo a valorização da saúde física e mental das mulheres catadoras do bairro Vila Sandra, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). O projeto idealizado por voluntários oferece itens de higiene pessoal, maquiagens, roupas, cestas básicas, além de serviços de assistência social e saúde, com o propósito de proporcionar apoio emocional e bem-estar físico para as catadoras da região.

| pág. 6

Projeto “Solidárias Festinhas” preserva vaidade e autocuidado de mulheres catadoras em barracão

Combate à fome

Dos 4,3 milhões de domicílios paranaenses, 774 mil registraram algum nível de insegurança alimentar em 2023. A condição, que está associada à baixa renda familiar, resulta na falta de garantia de alimentação adequada aos moradores.

Com o objetivo de reverter essa situação, o Coletivo Marmitas da Terra (MDT) surgiu com iniciativa de distribuição de alimentos para população em estado de vulnerabilidade em Curitiba. Desde sua criação, durante a pandemia de Covid-19 em 2020, o projeto já distribuiu mais 180 mil marmitas e desde então foi ampliado para atender as necessidades das comunidades

Educação popular

participantes, com atendimentos voltados para educação, saúde e infraestrutura.

O coletivo, que faz parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), ampara nove comunidades da capital e conta com mais de 200 voluntários, desde o cultivo nas hortas comunitárias à produção das marmitas. Além disso, as hortas comunitárias e as cozinhas solidárias do projeto atendem moradores de rua, famílias em ocupações e em situação de insegurança alimentar nos bairros periféricos de Curitiba.

Cidades | pág.9

São 84 famílias na comunidade 29 de Janeiro são auxiliadas pelo Marmitas da Terra

Com problemas de infraestrutura e carência de recursos básicos como sistema de água, o Centro Cultural Pontarolla sobrevive a base de trabalho voluntário dos moradores, para levar atividades didáticas e reforço

escolar popular para crianças e adolescentes em uma área de ocupação periférica no bairro Tatuquara.

Cultura | pág.11

Curitiba, 10 de Junho de 2025 - Ano 28 - Número
Cidades
Nicole Duarte

Mulheres fora do plano: um erro que se repete

Cerca de metade da população urbana global é composta por mulheres. Ainda assim, as cidades não são projetadas com elas em mente. Métropoles fornecem centros fundamentais de inovação, produtividade e são formadores de indivíduos e culturas. A maneira como são projetadas, construídas, governadas e mantidas afeta a qualidade de vida daqueles que ali vivem.

Pesquisas mostram que mulheres de diferentes idades, identidades, expressões de gênero, e condições socioeconômicas enfrentam barreiras e vulnerabilidades específicas nas cidades. Os impactos da discriminação de gênero incluem, mas não se limitam a, taxas mais altas de pobreza, desemprego, deveres de cuidado não remunerados, barreiras à educação e experiências de violência e assédio nas ruas. Elas também sofrem desproporcionalmente com as consequências

das mudanças climáticas e têm participação desigual na tomada de decisões públicas e privadas. Sistemas urbanos falhos impõem limitações às suas vidas que agravam ainda mais essas disparidades, deixando as mulheres vulneráveis e mal atendidas de maneiras que raramente se aplicam aos homens.

De acordo com um estudo publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU), da forma como estão, as cidades priorizam a mobilidade, saúde, segurança, lazer e bem-estar econômico dos homens em detrimento das mulheres. E a culpa é da falta da participação na construção do design urbano, particularmente pela falha em envolvê-las nos processos de planejamento e regeneração urbana.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, apontam que 85% do

trabalho do cuidado é feito por mulheres. Os indicadores ainda mostram que o público feminino gasta 21 horas semanais no trabalho do cuidado, enquanto os homens gastam 11 horas na atividade no mesmo período. As horas a mais investidas no cuidado não são consideradas socialmente como trabalho. Assim, elas acabam prejudicadas na vida pessoal e profissional. Ainda segundo a ONU, apenas 29% das mulheres nos negócios globalmente estão em posições de tomada de decisão sêniores.

Globalmente, elas estão lutando para acessar casas por conta própria. Acomodações e lares de cuidados muitas vezes são inacessíveis e de baixa qualidade. Quando estão lutando para pagar suas contas, preocupadas com a ameaça de despejo ou vivendo em espaços úmidos e superlotados, elas e seus filhos podem enfrentar tanto doenças

Voz da Comunidade Comunitiras

Diante das dificuldades, a triatleta Luzia Prado de Oliveira, deficiente visual, passa por cima de sua condição, praticando diariamente nado, corrida e pedalada. Começou a caminhada no esporte em 2015 por recomendação médica e hoje é campeã dos Jogos Abertos Paradesportivos 2025 (PARAJAPS) com 3 ouros na sua categoria. Luzia concedeu para o Jornal Comunicare uma entrevista para contar um pouco mais da sua história e a tamanha importância do esporte em sua vida.

O que é o esporte para você? Pra mim, o esporte traz liberdade. Quando conheci o pessoal, fiquei muito feliz porque eu achava que pessoas com deficiência não conseguiam correr. Então, para mim foi uma vitória. Apesar de sofrermos muito ainda porque não têm pessoas que nos ajudem, a maioria delas trabalha e tem sua vida secular. Nós cegos dependemos 100% de um olho para correr, tanto na corrida quanto na bike. Agora, na piscina eu consigo nadar tranquilo. Nos dias 17 e 18 de maio, fui para o PARAJAPS [Jogos Paradesportivos] em Foz do

Iguaçu e lá tem natação, ciclismo, bike e vários tipos de esporte. E, graças a Deus, consegui trazer três ouros na minha categoria. Fiquei muito feliz porque foi a primeira vez que fui nadar. Já fui correr, pedalar e agora esse ano resolvi nadar. Então, o esporte traz liberdade. Você poder correr no parque, escutar os pássaros cantando te traz felicidade, é muito bom. Esporte é vida, esporte é saúde. Nosso coração agradece.

A partir de que momento você passou a perceber o esporte como uma alternativa de vida?

A partir do momento que eu estava com sobrepeso e colesterol alto. Tive uma recomendação médica.

O que o esporte pode oferecer para pessoas portadoras de deficiência física em outras áreas da sua vida?

Ele proporciona liberdade, bem-estar, saúde, qualidade de vida e interação social.

Para você, o esporte tem potencial para acabar com a visão capacitista da sociedade em relação a comunidade PCD?

Não

REITOR

Ir. Rogério Renato Mateucci

DECANA DA ESCOLA DE BELAS ARTES

Ângela Leitão

COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO

Suyanne Tolentino De Souza

COORDENADORA EDITORIAL

Suyanne Tolentino De Souza

físicas quanto mentais. De acordo com o 2° Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, as mulheres no Brasil recebem 20,7% menos do que os homens ao executarem a mesma função. Essa diferença salarial de gênero também significa que elas estão pagando mais, proporcionalmente, do que os homens por espaços.

O Comunicare acredita que a única maneira de alcançar cidades verdadeiramente inclusivas é incorporar as opiniões, necessidades e requisitos de diferentes pessoas – especialmente dos grupos mais vulneráveis e excluídos – em todas as etapas. É necessário abordar a representação limitada de mulheres entre os profissionais do ambiente construído e os tomadores de decisão da cidade.

COORDENADOR DE REDAÇÃO /JORNALISTA RESPONSÁVEL

Rodolfo Stancki (DRT-8007-PR)

COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO

Rafael Andrade

TRADUÇÃO

Isabela Borges

FOTO DA CAPA

Pedro Henrique

Clara Martins
Luzia Prado de Oliveira, triatleta cega

Mães que trabalham de home office enfrentam jornada tripla

Vendedoras relatam dificuldade em conciliar a maternidade com o trabalho home office. Segundo o IBGE, mulheres da região sul do Brasil dedicam 31,12% do tempo a mais do que os homens em casa no cuidado de pessoas e/ou afazeres domésticos

Iorhana 3º Período

Oequilíbrio entre trabalho doméstico e o home office tem sido um grande desafio para mulheres que atuam na área de vendas em Curitiba. Muitas delas relatam dificuldade em dar atenção aos filhos e precisam lidar com a pressão e a culpa, sem deixar de apresentar resultados para as empresas que trabalham.

O grande desafio é a jornada tripla, em que lidam com o home office, a maternidade e a gestão do ambiente doméstico. “Por ser um contínuo que não tem intervalo, a rotina impossibilita as mulheres de terem saúde. O que você vai ter como resultado são adoecimentos que vão surgir de diversas formas”, avalia Ana Paula Nunes, assistente social na Universidade Federal do Paraná (UFPR), especializada na área de educação, saúde pública e saúde mental.

De acordo a edição de 2024 da Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no

office da empresa Unigloves Brasil, é um exemplo dessa tripla jornada de trabalho, ao precisar conciliar o cuidado com os dois

“Àsvezesnofinal do dia a gente se sente super frustrada”

Brasil feita pelo IBGE, a média de horas semanais dedicadas a cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos, entre homens e mulheres do Brasil, na região Sul é aproximadamente 34,44% pros homens e 65,56% para as mulheres. Um reflexo da carga depositada para grande parte da população feminina. Ana Paula Nunes alerta que essa falta de apoio familiar e comunitário pode agravar ainda mais a situação dessas mulheres, reduzindo a capacidade delas construírem redes de relações e, consequentemente, as isolando ainda mais.

Amanda Leontino da Cruz, vendedora em regime CLT de home

filhos e a casa. “Consigo trabalhar enquanto o Bernardo dorme. Na cama, ele tira sonecas muito rápidas de 10 a 15 minutos. Para trabalhar, tenho que ficar com ele no colo e aí ele consegue dormir umas duas, duas horas e meia.”

Um dos desafios enfrentados pela profissional foi a dificuldade de encontrar uma creche para o filho caçula. Para encaixar em sua própria rotina de trabalho, Amanda precisou recorrer a uma escola particular ao invés da pública. Mesmo assim, o bebê de 11 meses teve dificuldade em se adaptar e voltou para casa. Em função disso, o grande

dilema da vendedora é conciliar a atenção ao trabalho, com 30 clientes revoltados de uma vez, e o bebê, que faz questão de ganhar um colo e, sempre que tem oportunidade, interage nas ferramentas de trabalho de sua mãe. “Daqui a pouco acaba a distração e já volta a pedir colo, chorar na minha perna querendo que eu pegue ele. Se dou colo enquanto trabalho ele fica chutando o computador. Ele quer escrever!”

Para Amanda, o grande desafio em dividir as atenções é trocar a fralda e preparar um alimento com antecedência sem atrapalhar as demandas da empresa. “No final da tarde me sinto mal por não ter dado comida, ou paro e dou comida, mas acabo rendendo menos no trabalho”. Amanda sofre uma exaustão devido a falta de uma rede de apoio. Mesmo com o marido presente na vida das crianças, ele ainda não consegue auxiliar nas tarefas devido ao trabalho no regime presencial. para poder desabafar.

Rosana Oliveira Pires apresenta outra perspectiva da maternidade. Mãe de uma criança com

Síndrome de Down e vendedora home office, ela administra tarefas e concilia com os estudos do filho. Por ele estudar no período da tarde e por poder contar com uma rede bem próxima, ela afirma que não estaria desamparada diante de imprevistos. “Somos privilegiados. Caso se faça necessário temos uma rede de apoio familiar sempre à disposição.”

Giordanna Oliveira Carvalho, coordenadora de vendas na modalidade home office e mãe de um recém nascido, expressa a importância de poder contar com sua mãe nessa nova etapa de sua vida, como o apoio mais importante e comenta um pouco dos sentimentos envolvidos durante essa rotina, que causam uma pressão constante. “Quando vamos para a prática, essas sensações se misturam e vem a preocupação, o medo de não estar sendo presente nem no trabalho nem com o bebê e um pouco de culpa também. ”

A sensação de culpa é comum na rotina dessas mães. “É por essa condição de cuidar de alguém que tem uma total dependência de um adulto que essas mulheres trabalhadoras antecipam qualquer ausência que elas vão ter trabalhando muito mais”, avalia a assistente social Ana Paula.

“O burnout está saindo do ambiente do trabalho e esse esgotamento está vindo para dentro da própria casa”, relata a psicóloga Letícia Anjos, que defende a importância do amparo emocional

Leia mais

Veja entrevista completa sobre saúde mental com a psicóloga.

portalcomunicare.com.br

Clara Iorhana
Clara Iorhana
Psicóloga Letícia Anjos traz alerta sobre possível burnout causado por pressões constantes em ambiente doméstico.
Representação da vida de centenas de mulheres, que compartilham o ambiente profissional com o doméstico.

Projeto de lei contra a LGBTQIA+fobia é apresentado na Câmara de Curitiba

Vereadora Professora Angela apresenta projeto de lei contra lesbohomotransfobia em espaços público e privados com medidas preventivas e de acolhimento às vítimas

Isabela Borges 3º Período

A vereadora Professora Angela (PSOL) apresentou à Câmara Municipal de Curitiba (CMC) um projeto de lei que cria um protocolo de medidas específicas para a prevenção a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero em locais públicos e privados. O projeto também visa garantir o acolhimento, a proteção e a dignidade das vítimas de lesbohomotransfobia.

Em 2024, o Paraná registrou 10 mortes violentas de pessoas da comunidade LGBTQIA+, segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia. Dados da Ipsos Equalities Index 2024 registram que 35% dos brasileiros consideram que esse grupo sofre tratamento desigual ou injusto. Uma pesquisa do Grupo Dignidade, feita com 1.326 pessoas da comunidade em 2018, descobriu que 84,4% dos participantes já sofreu discriminação nas ruas, em locais de estudos, no trabalho ou em comércios em Curitiba e região metropolitana.

Vereadora

Professora

exemplo. “Leis direcionadas não apenas asseguram direitos, mas também contribuem para o combate mais eficaz à violência e ao preconceito, tornando essa luta mais visível e real”.

O novo projeto de lei se baseia na legislação nacional já existente, a lei federal 7.716/1989, que criminaliza a discriminação por raça,-

do

de

de profissionais que atuam em repartições públicas e privadas de uso coletivo. Com isso, considera-se lugares como escritórios, comércios, condomínios, instituições de saúde, estações, rodoviárias, cinemas, shoppings, escolas, templos religiosos, igrejas, bares, restaurantes, hoteis, estádios de futebol, supermercados, veículos de transporte co-

e defensora das causas LGBT+ e feministas na Câmara. negar atendimento, hospedagem ou locação de imóveis motivadas por LGBTQIA+fobia, praticar demissões ou impedir admissões.

Quais são os projetos para a comunidade LGBTQIA+ em Curitiba?

“Leis direcionadas não apenas asseguram direitos, mas também contribuem para o combate mais eficaz á violência”

Em 2024, uma empresa foi condenada a pagar R$20 mil de danos morais, por discriminações transfóbicas no ambiente de trabalho. Este caso se tratou de uma ação trabalhista aberta por uma colaboradora transgênero que enfrentou situações vexatórias devido a atitudes transfóbicas. A empresa se recusou a aceitar o nome social da funcionária, desconsiderando sua identidade de gênero, o que gerou um ambiente de trabalho humilhante e desconfortável à vítima.

Segundo a vereadora, o projeto era a princípio um protocolo de atendimento a pessoas trans, mas a partir de conversas com o movimento lésbico foi decidido englobar toda a comunidade. “Elas reivindicaram que o protocolo se estendesse às lésbicas que também têm tratamento desumanizado nas instituições públicas como delegacias e até mesmo áreas da saúde, para humanizar e acabar com esse tipo de perseguição”, diz.

Para Gabriele Pinheiro, Diretora do UNALGBT-PR, a população LGBTQIA+ enfrenta desafios que não são abordados de maneira adequada nas legislações e enfatiza a importância de uma lei específica para combater a LGBTQIA+fobia e cita a lei de criminalização como um bom

cor, etnia, religião e procedência nacional, que foi, posteriormente, ampliada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para incluir casos de LGBTQIA+fobia.

Em entrevista exclusiva ao Comunicare, a vereadora Professora Angela afirma que o projeto pode sofrer certa resistência dentro da Câmara dos Vereadores por se tratar de um assunto sobre diversidade, mas diz se manter esperançosa em relação à aprovação. “Tenho bastante orgulho desse projeto. Gostaria muito que ele fosse aprovado, porque é um avanço ter um protocolo de atendimento para esse grupo de pessoas que até então é um dos que mais sofrem na nossa sociedade”, comenta a parlamentar. Hoje, o projeto de lei está em análise por parte da Procuradoria Jurídica (ProJuris) da Câmara Municipal de Curitiba. Em sequência seguirá para as comissões permanentes. Caso passe dessa etapa, será levado para votação em plenário, e se aprovado, será sancionada e passará a vigorar 90 dias após sua publicação no Diário Oficial de Curitiba.

Protocolo

A principal característica do protocolo é prever a capacitação

letivo, e quaisquer outros locais igualmente utilizados coletivamente. O texto também atribui campanhas educativas para conscientização da população sobre a LGBTQIA+fobia, visando a diminuição dos casos.

Como punição aos estabelecimentos que descumprirem o que vigora nesta lei, serão aplicadas ao proprietário as seguintes medidas administrativas: Advertência formal escrita emitida da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, multa de 1 a 10 salários mínimos e, em caso de reincidência, fechamento por até 30 dias. Eles também deverão manter informações visíveis sobre como acionar o protocolo e os possíveis canais de denúncia, através de placas e cartazes.

O que é discriminatório contra a comunidade?

A lesbohomotransfobia é a aversão, preconceito ou discriminação contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero. O projeto de lei define como atos de lesbohomotranfobia e discriminatorios contra a comunidade LGBTQIA+: Insultos, humilhações, ameaças, exclusão de espaços e oportunidades, negação de direitos, comentários e atitudes ofensivas,

Outros projetos de lei que visam combater a LGBTfobia e promover a valorização da comunidade já passaram pela Câmara de Curitiba anteriormente, porém, dentre eles, a capital paranaense possui apenas um projeto aprovado pela Câmara de vereadores; Lei nº 16.128/2023-Criação do Conselho Municipal da Diversidade Sexual (CMDS): Sancionada em fevereiro de 2023, esta lei estabeleceu o CMDS, com o objetivo de formular e propor diretrizes de ações governamentais voltadas à promoção dos direitos e da cidadania da população LGBTQIA+. O conselho é composto por representantes do poder público e da sociedade civil, atuando na defesa e promoção dos direitos dessa comunidade em Curitiba.

Confira dois outros projetos da Câmara dos Vereadores de Curitiba que tratam do tema:

- 14 de março: Dia Municipal de Enfrentamento à Violência Política contra Mulheres Negras, LBTQIA+ e periféricas (estado: arquivado pelas comissões).

- Política Municipal de Inclusão e Acesso ao Fomento Cultural de artistas e técnicos-artísticos oriundos de grupos tradicionais, discriminados, vulneráveis e invisibilizados, (aguardando análise em 1º turno).

Leia mais

Para mais informações sobre os projetos apresentados acesse: portalcomunicare.com.br

Angela (PSOL) propulsora
projeto
lei
Isabela Borges

Projeto de lei busca dar visibilidade às religiões de matriz africana

Vereadora Giorgia Prates apresentou a proposta no final de dezembro de 2023 e desde então espera pela análise das comissões temáticas da Câmara Municipal de Curitiba

U m projeto de lei que busca o reconhecimento das religiões de matrizes africanas como Patrimônio Cultural e Imaterial de Curitiba está parado na Câmara Municipal de Vereadores. A proposta busca reconhecer e valorizar as tradições afro-brasileiras na cidade, além de combater a intolerância religiosa. O projeto é visto como essencial e urgente por essas comunidades.

No final de 2023, a vereadora Giorgia Prates (PT) apresentou um projeto que tem como objetivo reconhecer as religiões de matrizes africanas como um componente do patrimônio cultural e imaterial de Curitiba. Entretanto, a iniciativa ainda está pendente, pois está aguardando a avaliação das comissões temáticas da Câmara Municipal, uma fase crucial antes que possa ser submetida à votação em plenário.

de terreiros e estudiosos das religiões de matrizes africanas. Durante o evento, a vereadora enfatizou a importância do reconhecimento desse projeto.

“O respeito precisa existir para todos. Meu espaço é sagrado“

Entre janeiro de 2022 e outubro de 2023, Curitiba registrou 397 boletins de ocorrência relacionados à intolerância religiosa, liderando os números no estado do Paraná. No mesmo período, o Paraná contabilizou mais de 2.300 boletins de ocorrência por intolerância religiosa, com Curitiba à frente, seguida por Foz do Iguaçu (109 casos), Londrina (103), Ponta Grossa (87), Cascavel (79), São José dos Pinhais (57), Guarapuava (41), Araucária (37), Cianorte (26) e Maringá (24).

Para promover a discussão e buscar apoio para a iniciativa, Prates organizou uma reunião pública em fevereiro de 2024, que reuniu representantes

“É uma resposta a demandas da comunidade, incluindo a garantia da isenção tributária aos templos de umbanda, o desenvolvimento de políticas públicas afirmativas voltadas aos povos de matriz africana”, afirma.

Em maio de 2023, três terreiros de matriz africana em Curitiba e região metropolitana, foram alvos de ataques de intolerância religiosa.O terreiro A Casa Espiritual Sete Caminhos da Luz na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) foi invadido e completamente destruído. O espaço teve objetos sagrados queimados. O suspeito foi detido, mas liberado logo em seguida após assinar um termo circunstanciado.

Durante a gira na Casa de Terreiro de Umbanda Tia Maria (Piraquara), o terreiro foi apedrejado e chegou a atingir os participantes. O autor era um vizinho que alegou barulho excessivo como justificativa. A mãe de santo de um terreiro em Araucária encontrou estilhaços de coquetel molotov (mistura inflamável) após ouvir barulhos, sem suspeitos.

Os ataques não são somente físicos aos templos dessas religiões.Eles começam por palavras ofensivas para as pessoas que frequentam essas religiões desde pequenas. “Quando pequena na escola, falei que ia ao terreiro com a minha família. Os colegas de sala começaram a me chamar de ‘macumbeira’. Na vida adulta, os ataques pioraram. Uma vez um colega viu minha guia e perguntou se eu sacrificava animais para fazer alguém se apaixonar por mim”, relata Maria Clara Souza, frequentadora de um terreiro de Umbanda.

As religiões de matrizes africanas são o principal alvo das intolerâncias religiosas. “Meu espaço é sagrado, mas hoje vivo com receio de novos ataques. O respeito precisa existir para todos”, comenta Luciana Oliveira, mãe de santo que sofreu ataques verbais dentro do seu terreiro algumas horas antes de começar sua gira. Segundo Prates, a estagnação do projeto se dá pela resistência da direita.

Terreiros de Umbanda

Saiba onde se localizam os terreiros de Umbanda abertos em Curitiba

• Centro de Umbanda Luzes no Caminho - Rua Dr. Gabriel Ferreira Filho, 158- Uberaba

• Terreiro de Umbanda Cruzeiro das AlmasRua Estevam Monastier, 289 - Xaxim

• Casa de Umbanda Pai João de Aruanda - Rua Maestro Romualo Suriani, 67b - Jardim das Ámericas

• Terreiro Vovó Benta - Rua José Zgoda, 205Bairro Alto

• Casa do Bem - Avenia Affono Penna - Tarumã

• Terreiro de Umbanda Casa do vô - Rua Iapó, 1390 - Rebouças

• Casa de Umbanda Pai Chico das Almas - Rua Imaculada Conceição, 229 - Rebouças

• Terreiro de Umbanda São Jorge GuerreiroRua Acácio Corrêa, 391 - Parolin

• Terreiro Pai Congo - Rua Maj. Fabriciano do Rêgo Barros, 520 - Hauer

Leia mais

Conheça a história do primeiro Terreiro em Curitiba

Pai Caetano reverencia os Orixás, os guias da casa e a ancestralidade.
Pedro Fernandes
Pedro Fernandes
Ana Vitória Leal
3º Período

Projeto “Solidárias Festinhas” oferece apoio a 40 famílias de catadoras

Iniciativa transforma barracão do CIC em espaço de cuidado e dignidade para catadoras

E ntre o vai e vem dos caminhões e sacolas de recicláveis do bairro Vila Sandra, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), está o projeto social “Solidárias Festinhas”, uma iniciativa que surgiu em 2019, com o objetivo de organizar aniversários, casamentos e chás de bebê para pessoas em vulnerabilidade social. Com o tempo, também começou a oferecer ações de apoio a mulheres catadoras de recicláveis.

Liderado por uma equipe de voluntários, o projeto passou a disponibilizar itens de higiene, roupas, maquiagem, material escolar, cestas básicas e serviços voltados ao bem-estar físico e emocional, como atendimentos de saúde, assistência social e cortes de cabelo. “Essas mulheres são em maioria responsáveis pela renda das famílias. Elas sustentam casas, cuidam de

remuneração proporcional ao volume de material reciclável processado. No entanto, apesar de Curitiba ser considerada referência nacional na área — com reaproveitamento de 22,5% dos resíduos sólidos, segundo a Secretaria Municipal do Meio

ção de vulnerabilidade intensa. Mesmo assim, continuam a trabalhar na separação de resíduos, tornando o barracão um grupo de apoio e auxílio.

É o caso da dona Iva, catadora há mais de 30 anos, que comenta

“É bonito de ver o trabalho e a diferença que elas fazem.”

Ambiente (SMMA) — a infraestrutura pública de coleta ainda é limitada. Apenas 26 mil toneladas de resíduos recicláveis são coletadas por ano pela prefeitura, enquanto mensalmente 40 mil toneladas de resíduos

filhos e netos, muitos deles com problemas com drogas”, explica Fernanda Pires de Oliveira, voluntária e uma das articuladoras das ações sociais.

A atuação do Solidárias Festinhas ocorre de forma paralela ao Programa Ecocidadão, coordenado pela Prefeitura desde 2007, que tem como proposta organizar os catadores em cooperativas e associações, oferecendo estrutura mínima e

orgânicos e cerca de 140 toneladas de rejeitos vindos das cooperativas ainda são enviadas ao aterro sanitário.

Hoje, o projeto Solidárias Festinhas atende cerca de 40 famílias de catadoras, inseridas num total de 100 famílias da comunidade local. Para muitas dessas mulheres, a coleta de recicláveis é a única fonte de renda. A maioria tem pouca ou nenhuma formação escolar e vive em situa-

sobre a importância do projeto na vida dela. “Aqui virou minha segunda casa. A gente trabalha muito, você não faz nem ideia, mas também nos cuidamos.”

Para ela, os pequenos cuidados oferecidos não são apenas um gesto de vaidade, mas de dignidade. “A gente rala dia e noite pra levar comida pra casa. Não é só cortar o cabelo, ou pintar as unhas. Faz a gente se sentir bem, feliz. Não é só vaidade”.

Além das ações voltadas ao cuidado e assistência social, o projeto também propõe atividades educativas. “A gente recebe de vez em quando algumas mudas de árvores e flores da região. Plantamos elas nas praças e parques, além de doarmos algumas mudas para as comunidades”. A proposta vai além do barracão e envolve também a preservação ambiental e dos espaços públicos.

Todo sábado o caminhão do programa “Lixo que não é lixo”, uma iniciativa municipal feita para ampliar a coleta seletiva em Curitiba, chega ao barracão trazendo os resíduos separados pela população. No entanto, as catadoras ainda enfrentam muitos desafios com o descarte incorreto de materiais. “Chega de tudo ali. Produtos hospitalares, lixo orgânico, preservativo… chega de tudo”, revela Fernanda. “Mesmo assim, elas continuam trabalhando duro.

É bonito de ver a diferença que elas fazem no bairro. Mesmo sem ajuda da prefeitura, elas fazem a parte delas”.

Para manter todas essas ações funcionando, o Solidárias Festinhas conta com bazares, rifas e campanhas de doações. Amigos, participantes e parceiros da iniciativa contribuem com alimentos, roupas, móveis e outros itens, divulgando as necessidades pelas redes sociais. Essa rede de solidariedade tem garantido o mínimo necessário para que as ações continuem impactando positivamente a vida dessas mulheres e suas famílias.

Lixo que não é lixo

Dicas para separar o lixo corretamente

Não Misture Materiais: Evite colocar lixo orgânico, como restos de alimentos, junto com os recicláveis. Além de impedir a reciclagem, a mistura causa contaminação e aumenta o risco de acidentes.

Embalagem de Vidros e Latas:

Para garantir a segurança dos catadores, é importante embalar itens perfurocortantes, como vidros e latas de alumínio. Latas, por exemplo, devem ser descartadas com a parte cortada para dentro, e os vidros quebrados devem ser embalados em garrafas PET ou caixas de leite bem vedadas.

Artistas de rua podem se apresentar livremente em Curitiba, desde que respeitem o espaço público e a circulação de pedestres. Locais como a Rua XV de Novembro e o Largo da Ordem são pontos tradicionais para performances, mas é importante evitar bloqueios e manter o volume do som em um nível adequado.

Cuidado com Materiais Contaminantes: Medicamentos vencidos, pilhas e eletrodomésticos são exemplos de materiais que não devem ser descartados de forma comum. Esses resíduos devem ser entregues nos pontos de coleta específicos, como o caminhão da coleta especial.

Para apresentações nesses e em outros espaços movimentados, pode ser útil consultar a prefeitura sobre eventuais regulamentações. A prática de receber contribuições do público é permitida, desde que não haja abordagem direta ou insistente.

Leia mais

Ensaio fotográfico no barracão Ecocidadão.

portalcomunicare.com.br

Catadoras do projeto retirando o lixo do caminhão de reciclagem.
Catadora fazendo a separação do lixo no barracão “Ecocidadão”.
Antonio Eduardo
Antonio Eduardo
Antonio Eduardo, Caio Zelak e Pedro Fernandes
3º Período

Solidárias Festinhas project offers support to 40 families of waste pickers

Initiative transformed CIC shed into a space of care and dignity for women waste pickers

AAmid the back-and-forth of recycling trucks and plastic bags in the Vila Sandra neighborhood, located in the Cidade Industrial de Curitiba (CIC), there is the social project “Solidárias Festinhas”, an initiative that emerged in 2019, with the aim of organizing birthdays, weddings and baby showers for people in social vulnerability. Over time, it also began to offer support actions to women who collect recyclable materials.

Led by a team of volunteers, the project began providing hygiene items, clothing, makeup, school supplies, basic food baskets and services aimed at physical and emotional well-being, such as health care, social assistance and haircuts.“These women are mostly responsible for the family income. They provide for homes, take care of children and grandchildren, many of them

of recyclable material processed. However, despite Curitiba being considered a national reference in the area — with 22.5% of solid waste reused, according to the Municipal Secretariat for the Environment (SMMA) — the public collection infrastructure

This is the case of Mrs. Iva, a collector for over 30 years, who comments on the importance of the project in her life. “This has become my second home. We work a lot, you have no idea, but we also take care of ourselves.” For her, the small

“It’s beautiful to see the work and the difference they make.”

is still limited. Only 26 million tons of recyclable waste are collected each year by the city government, while 40 million tons of organic waste and around 140 tons of waste from cooperatives are still sent to landfill every month. Today, the “Solidárias

with drug issues.”, explains Fernanda Pires de Oliveira, volunteer and one of the organizers of social actions.

The work of Solidárias Festinhas takes place in parallel with the Ecocidadão Program, coordinated by the City Hall since 2007, which aims to organize collectors into cooperatives and associations, offering a minimum structure and remuneration proportional to the volume

Festinhas” project serves around 40 families of recyclers, included in a total of 100 families in the local community. For many of these women, collecting recyclables is their only source of income. Most have little to no formal education and live in situations of extreme vulnerability. Even so, they continue to work in waste separation, making the shed a support and assistance group.

gestures offered are not just a gesture of vanity, but of dignity. “We work hard day and night to bring food to home. It’s not just about getting a haircut or painting our nails. It makes us feel good, happy. It’s not just about vanity”. In addition to actions aimed at care and social assistance, the project also proposes educational activities. “We receive, sometimes, some tree and flower seedlings from the region. We plant them in squares and parks, in addition to donating some seedlings to the community.” The proposal goes beyond the shed and also involves environmental preservation and public spaces.

Every Saturday, the truck from the “Lixo que não é lixo” (trash that is not trash) program, a municipal initiative created to expand selective collection in Curitiba, arrives at the warehouse bringing waste separated by the population.However, waste pickers still face many challenges with the incorrect disposal of materials. “Everything arrives there. Hospital products, organic waste, condoms… everything arrives”, Fernanda reveals. “Even so, they continue to work hard. It’s beautiful to see the difference they make in the neighborhood. Even without help from the city government, they do their part.”

To keep all these actions running, Solidárias Festinhas relies on bazaars, raffles and donation campaigns. Friends, participants and partners of the initiative contribute with food, clothing, furniture and other items, publicizing the needs on social media. This solidarity network has ensured the minimum necessary for the actions to continue to positively impact the lives of these women and their families.

Trash that is not trash

Tips for separating trash correctly

tre o vai e vem dos caminhões e sacolas de recicláveis do bairro Vila Sandra, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), está o projeto social “Solidárias Festinhas”, uma iniciativa que surgiu em 2019, com o objetivo de organizar aniversários, casamentos e chás de bebê para pessoas em vulnerabilidade social. Com o tempo, também começou a oferecer ações de apoio a mulheres catadoras de recicláveis.

Do not mix materials: Avoid placing organic waste, such as food scraps, together with recyclables. In addition to preventing recycling, mixing causes contamination and increases the risk of accidents.

Liderado por uma equipe de voluntários, o projeto passou a disponibilizar itens de higiene, roupas, maquiagem, material escolar, cestas básicas e serviços voltados ao bem-estar físico e emocional, como atendimentos de saúde, assistência social e cortes de cabelo. “Essas mulheres são em maioria responsáveis pela renda das famílias. Elas sustentam casas, cuidam de filhos e netos, muitos deles com problemas com drogas”, explica Fernanda Pires de Oliveira, voluntária e uma das articuladoras das ações sociais.

Glass and Can Packaging: To ensure the safety of collectors, it is important to package sharp items, like glass and aluminum cans. Cans, for example, should be discarded with the cut side facing inwards, and broken glass should be packed in tightly sealed plastic bottles (PET) or milk cartons.

Beware of Contaminated

Artistas de rua podem se apresentar livremente em Curitiba, desde que respeitem o espaço público e a circulação de pedestres. Locais como a Rua XV de Novembro e o Largo da Ordem são pontos tradicionais para performances, mas é importante evitar bloqueios e manter o volume do som em um nível adequado.

A atuação do Solidárias Festinhas ocorre de forma paralela ao Programa Ecocidadão, coordenado pela Prefeitura desde 2007, que tem como proposta organizar os catadores em cooperativas e associações, oferecendo estrutura mínima e remuneração proporcional ao volume de material reciclável

Materials: Expired medicines, batteries and household appliances are examples of materials that should not be disposed of in the usual way. These residues should be taken to specific collection points, such as the special collection truck.

Para apresentações nesses e em outros espaços movimentados, pode ser útil consultar a prefeitura sobre eventuais regulamentações. A prática de receber contribuições do público é permitida, desde que não haja abordagem direta ou insistente.

Photo shoot at the Ecocidadão shed.
Project collectors removing trash from the recycling truck.
Collector separating garbage in the “Ecocidadão” shed.
Antonio Eduardo
Antonio Eduardo
Antonio Eduardo, Caio Zelak e Pedro Fernandes
Translated by Isabela Borges 3rd semester

Idosos que prestam expediente fazem parte do cenário de Curitiba

Seja para complementar renda, comprar guloseimas para os netos ou se sentirem úteis, a realidade é similar para muitos deles. Afinal, de acordo com o Governo, 70% dos pagamentos feitos pelo INSS são de até um salário mínimo

Giovana Kais

3º Período

N o Brasil, 60% dos aposentados seguem trabalhando, segundo o Serasa. O dado não leva em conta aqueles que trabalham na informalidade, o que pode representar uma porcentagem ainda maior. Em Curitiba, idosos aposentados que prestam jornada diária de trabalho compõem a vida na capital.

Quem caminha pela Rua XV de Novembro, região de grande movimento no centro da capital paranaense, pode confirmar isso. O comerciante Luiz Carlos de 79 anos, aposentado desde 2011 diz que voltou ao mercado porque precisou. “Trabalho por necessidade e para completar o orçamento. Tudo aumenta, menos o salário”.

O aposentado é um exemplo do resultado de uma pesquisa apurada pelo Serasa, que informa que 4 a cada 10 aposentados seguem trabalhando por enfrentar algum tipo de dificuldade financeira. Ainda nesse sentido, a pesquisa aponta também que 29% dos entrevistados sentem-se felizes, 27% independentes e

funções quase invisíveis no cotidiano. Além disso, relatam que a aposentadoria não é suficiente. Seja para arcar com os gastos da casa ou para comprar uma guloseima para os netos. As

“Além de gostar, ainda trabalho por necessidade”

22% aliviados por continuarem em seus trabalhos.

No Paraná, em março deste ano, o número de aposentados é de 106.671 pessoas, de acordo com a Previdência do estado. Curitiba tem o crescimento mais acelerado da população sexagenária em relação à média do Brasil (de 14,69%), que correspondia a 16,93% da população curitibana em 2021, de acordo com a Prefeitura.

O engraxate Spiridião Alves, de 75 anos, atua há 50 anos e está aposentado há 7. “Além de eu gostar, ainda trabalho por necessidade.” Para ele, o trabalho não é de todo ruim. “A gente cria amizade, sabe? Ainda tem clientes que vem aqui visitar a gente e a gente fica contente.” Com um ponto de vista parecido, em uma banca de Jornais próxima à Rua XV, Marcos Manoel, de 65 anos, com aproximadamente 40 anos atrás de um balcão de uma banca, afirma que continua no mercado por disposição. “Trabalhei tanto com isso que não me vejo fazendo outra coisa. Impacta positivamente na minha qualidade de vida”.

Em comum, os entrevistados para essa reportagem, além da vida profissional ativa após a aposentadoria, desempenham

histórias vão de encontro com dados fornecidos pelo Governo: dos pagamentos realizados pelo INSS, 70% são equivalentes ao valor de até um salário mínimo.

O economista Lucas Dezordi avalia o sistema previdenciário brasileiro como complexo. De acordo com ele, o valor da aposentadoria não é suficiente para cobrir as

despesas, porque “tem um problema muito sério na economia brasileira de padrão e qualidade de vida”.Isso porque não há eficiência da produtividade - tudo aquilo que é produzido e dividido pelo número de trabalhadores.

O especialista destaca ainda a eficiência como responsável por possibilitar salários mais altos, gerando maior poder de compra. Dezordi caracteriza o trabalho informal como complicado, a partir do momento em que deixa de garantir as necessidades básicas (INSS, décimo-terceiro e FGTS) oferecidas àqueles que trabalham com carteira assinada.

Ele diz também que a taxa de desemprego está abaixo do nível de pleno emprego. Exemplo disso é o Paraná, apresentando uma taxa de 3,3% em relação à população economicamente ativa. Apesar do cenário positivo,

algumas empresas ainda enfrentam dificuldades para contratar novos funcionários, tornando a contratação de idosos vantajosa e possibilitando uma mudança no mercado de trabalho. “Eles podem contribuir bastante no que diz respeito às demandas das empresas. É uma tendência natural o mercado de trabalho estar aberto para pessoas 50+ e de mudar essa pirâmide etária, com menos jovens na base.”

Leia mais

O que os aposentados entrevistados têm a dizer

portalcomunicare.com.br

Spiridiäo Alves, engraxate há 50 anos, segue fazendo aquilo que gosta.
Giovana Kais
Marcos Manoel, aposentado que segue trabalhando em sua banca.
Giovana Kais

Projeto Marmitas da Terra ajuda na luta contra a Insegurança Alimentar

Capital se torna referência para que o país saia do mapa da fome, mas a luta contra a insegurança alimentar ainda é uma realidade para mais de 200 mil lares na cidade

Curitiba foi umas das três capitais brasileiras a receber o Selo Betinho, premiação de honraria pela promoção da segurança alimentar e nutricional a capitais que cumprem pelo menos 70% das 36 metas estabelecidas em parceria com o Instituto Comida do Amanhã.

A entrega do prêmio é realizada pela ONG Ação da Cidadania, com o intuito de estimular a criação de iniciativas e políticas públicas de combate à fome. Apesar da premiação, dos 4,3 milhões de domicílios paranaenses, 774 mil registraram algum nível de insegurança alimentar em 2023, sendo 275 mil apenas na capital paranaense.

As situações de insegurança alimentar, em sua maioria, estão associadas à baixa renda familiar, que resulta na falta de garantia de uma alimentação

ziam marmitas também, deixavam no ‘cantinho’ e aí pegavam para pessoas que precisavam. Era bem complicado. Graças a Deus o projeto ajudou muito.”

nidades para depois fazer um trabalho muito mais amplo de consciência crítica da classe. Então, acho que é fundamental esse papel de apoio.”

“A alimentação é necessariamente política, então é como se fosse a porta de entrada que a gente tem”

adequada. Pensando nisso, Adriana Oliveira criou o Coletivo Marmitas da Terra (MDT) que é um dos mais de 20 projetos com iniciativas de distribuição de alimentos para população em estado de vulnerabilidade no Paraná. O coletivo, que faz parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), foi criado em 2020 durante a pandemia, e desde então já distribuiu mais de 180 mil marmitas.

Dona Terezinha de Barros tem 64 anos e faz parte de uma das 84 famílias que moram na comunidade 29 de Janeiro, localizada no bairro Uberaba, uma das 9 comunidades integrantes do Coletivo Marmitas da Terra. Há 15 anos dona Terezinha utiliza a reciclagem para se sustentar e conta como o projeto auxilia a comunidade desde de 2020. “Nós ganhamos muita cesta básica, que o povo trazia para repartir com a gente. Tra-

Após a pandemia de Covid-19, o coletivo se reorganizou e passou a perceber na convivência com as pessoas das comunidades que a alimentação não era a única demanda da população. Para atender as necessidades da comunidade, o projeto formou núcleos de atendimento, voltados para educação, saúde e infraestrutura. O Núcleo de Educação Popular foi um dos principais durante o período pós pandêmico, já que mais de 80% das crianças não tinham acesso ao ensino remoto ou tinham apenas um celular por família.

Segundo Isabela Molim, coordenadora do Núcleo de Educação Popular do projeto, apesar do nome, o Marmitas da Terra tem uma atuação diversificada dentro do movimento. “A alimentação é necessariamente política, então é como se fosse a porta de entrada. A demanda que a gente atende das comu-

As marmitas distribuídas são produzidas através de hortas comunitárias cultivadas pelos mais de 200 voluntários do projeto, que se reúnem às quartas-feiras e produzem em média mil marmitas para distribuição. Além das marmitas, o projeto atua por meio de hortas comunitárias e cozinhas solidárias que atendem moradores de rua, famílias em ocupações e em situação de insegurança alimentar nos bairros periféricos de Curitiba.

Pedro Costa também é um dos moradores da comunidade 29 de Janeiro, auxiliada pelas hortas comunitárias do projeto. Ele afirma que o Marmitas da Terra trouxe apoio para a vila. “Tanto para passar segurança como para adquirir recursos para a comunidade se sustentar. O Projeto traz essa base principalmente através das hortas e das cozinhas comunitárias para as famílias da comunidade. Esse apoio é fundamental porque ajuda a levantar a parte social da comunidade e das famílias que passam por dificuldades”, explica.

Em 2021, durante a pandemia, o projeto implementou a Agrofloresta Papa Francisco, no Centro de Assistência Social Divina Misericórdia, no Sabará, em Curitiba. O espaço segue gerando alimentos para escolas que atendem cerca de 400 crianças e 100 idosos por ano. Para o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), as escolas podem ser consideradas

os principais equipamentos públicos de alimentação do país. “São quase 40 milhões de crianças e adolescentes fazendo refeições diárias nos estabelecimentos de ensino em todo o território nacional. A alimentação escolar ajuda a aliviar os gastos das famílias com alimentação e aumenta a renda disponível para comprar alimentos de melhor qualidade ou reforçar a alimentação em casa”, afirma Daniel Goes, assessor de comunicação do MDS.

Segundo dados oficiais mais recentes efetuados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do 4º trimestre de 2023, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 17,9% dos domicílios particulares permanentes do estado, conviviam com a insegurança alimentar diariamente. Destas, 2,2% apresentavam nível de insegurança alimentar grave. Na Região Metropolitana de Curitiba, os índices eram semelhantes: 17,1% dos domicílios enfrentavam insegurança alimentar, com 2,7% em situação grave.

No 1º trimestre de 2022, o cenário era ainda mais preocupante: 50% dos domicílios no Paraná registraram algum grau de insegurança alimentar, e 8,6% em situação grave (números que foram influenciados pela pandemia do ano anterior). O levantamento é da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), que utiliza a mesma metodologia do IBGE.

Leia mais

Acesse o Qr Code e confira as regiões mais afetadas pela insegurança alimentar

Projeto Marmitas da Terra já distribuiu mais de 180 mil marmitas desde 2020.
Nicole Duarte
Nicole Duarte

Curitibanos pagam até 41% a mais em mercados de bairro

Levantamento exclusivo do Comunicare mostra o quanto os preços de alimentos básicos variam entre mercados de bairro e de grandes redes em Curitiba e região

E m Curitiba e Região Metropolitana, o preço do mesmo pacote de arroz pode variar até 41% dependendo do local da compra. Enquanto no supermercado Condor, em Campo Largo, o produto foi encontrado por R$ 21,90, em um mercado de bairro no Cajuru o valor chegou a R$ 30,90. A diferença, registrada em levantamento exclusivo da reportagem, revela como a escolha do estabelecimento pode pesar no bolso do consumidor.

A apuração foi realizada entre os dias 19 e 23 de abril em mercados de diferentes regiões da capital paranaense, nos bairros: Cajuru, Sítio Cercado e Campo Largo. Em cada uma das áreas, foram comparados os preços adotados por um mercado de bairro e por uma grande rede varejista. Os dados coletados consideraram produtos da cesta básica de marcas semelhantes e quantidades idênticas. A metodologia adotada buscou refletir a realidade de consumo dos moradores curitibanos e as estratégias que eles adotam diante das variações de preços.

As grandes redes de supermercado, por terem maior poder de compra e amplo volume de distribuição, conseguem oferecer preços mais acessíveis aos seus consumidores. Conforme o levantamento, a diferença de preços pode ser significativa: o feijão, item essencial da cesta básica, foi encontrado por R$ 6,89 em uma grande rede, enquanto em um mercado de bairro o valor chegou a R$ 9,50, aproximadamente 38% a mais.

Outros produtos também evidenciam essas variações de preços. O leite, por exemplo, teve variação de até R$ 2,40 entre os comércios visitados. A carne registrou uma discrepância de até R$ 17,00 de variação no valor no mesmo corte. Esses contrastes acontecem por causa do maior poder de negociação das grandes redes, que compram em maior volume e podem distribuir de forma mais eficiente, repassando vantagens para os consumidores.

Essas diferenças aparecem em um cenário econômico apertado. Segundo dados do Dieese, os preços da cesta básica em Curitiba subiram 3,61% entre fevereiro e março de 2025, e 6,15% em relação ao mesmo período de 2024. O tomate, por exemplo, registrou aumento de 52,13% em um mês. Com essas altas, muitos consumidores têm priorizado a busca por preços menores, e as variações entre mercados de bairro e grandes redes têm sido motivo de atenção entre eles.

É o caso de Lurdes Silveira, 68 anos, aposentada e moradora do bairro Itaqui, em Campo Largo, que costuma visitar até três mercados diferentes em busca de economia. “Faço listinha, anoto os preços, olho os folhetos. Quando dá, vou em mais de um mercado. Mas, às vezes, compro no bairro mesmo sendo mais caro, porque é o que tenho perto.”

Ela afirma que a confiança e a proximidade pesam na escolha, mas os preços altos a preocupam. “Parece que o dinheiro

evapora. No fim do mês, estes dois, três reais a mais em cada item fazem muita diferença.”

Além disso, os pequenos mercados enfrentam maiores dificuldades para negociar com fornecedo-

“Mas às vezes, compro no bairro mesmo sendo mais caro (...)”

O economista Filinto Eisenbach Neto, professor da PUCPR, diz que a diferença de preços dos mercados de Curitiba e região está diretamente ligada ao perfil socioeconômico das regiões atendidas. “Cada ponto de vendas tem uma área de influência. As empresas verificam o poder de compra dos consumidores dessa área e ajustam os preços de acordo com esse perfil”.

Essa prática, reflete a desigualdade de acesso ao consumo e tende a beneficiar grandes redes, que têm mais escala e conseguem reduzir custos. “O grande varejo tem escala na compra e assim seus custos são menores. No entanto, o varejo pequeno pode defender-se com atendimento e diferenciação”.

A inflação e fatores externos, como a variação do dólar e condições climáticas, também pesam mais sobre os pequenos comércios. “As grandes organizações têm poder de absorver parte da inflação e não repassá-la toda aos preços, já os pequenos varejistas não têm esse poder de ação”, afirma Filinto.

res, o que limita sua capacidade de manter preços competitivos.

João Carlos Castaldo, morador do bairro São Braz, conta que a diferença entre os mercados vai além dos preços. Ele destaca que os supermercados oferecem mais variedade em produtos embalados, e verduras com mais frescor.“Às vezes, os produtos vêm conservados e com mais opções de marcas”, observa. Já os comércios locais, embora mais próximos, nem sempre conseguem competir em qualidade e preço. “Algumas vezes eu vi que o preço estava muito acima, aí deixei pra comprar quando fosse ao mercado grande”.

Leia mais

Tabela comparando reços de produtos da cesta básica em diferentes bairros de Curitba e Região Metropolitana .

Andréia Cristina, consumidora dos dois tipos de mercado sempre analisa, compara os preços antes de comprar os produtos.
Jeniffer Carvalho
Beatriz Stempinhaki, Jeniffer Carvalho e Kauany Barbieri
3º Período
Produtos da cesta básica que ficam encarecidos em mercados de bairro.
Jeniffer Carvalho

Pontarolla fortalece arte e ensino em ocupação no Tatuquara

Comunidade com cerca de 80 famílias é composta por aproximadamente 90 crianças

Ana Maria Marques, Isabela Borges e Millena Lechtchechen

3º Período

O Centro Cultural Pontarolla, localizado em uma área de ocupação no bairro Tatuquara, sobrevive com trabalho voluntário das fundadoras do centro e de moradores da região. Entre as atividades do espaço, destacam-se o reforço escolar popular oferecido para as crianças semanalmente, além de leitura, pintura, artesanato e outros.

A ação foi idealizada e executada por três irmãs, Juliana de Oliveira, Damares de Moraes e Daiana Moraes, filhas de moradores da ocupação que reservam seus sábados e tiram dinheiro do próprio bolso para manter o centro funcionando.

O projeto foi fundado em 2013 a céu aberto em cima de uma lona no chão de barro, o que ficava inviável nos dias de chuva. Com o tempo, houve necessidade da construção do primeiro espaço, que pegou fogo em 2020. No ano passado, a comunidade ergueu o centro por meio de doações e

de voluntários e a dificuldade na participação desses jovens que muitas vezes precisam trabalhar. “Tem uma menina que vem sempre, mas hoje ela tá vendendo bala no sinaleiro”.

Além das atividades, o centro realiza o levantamento de informações sobre as cerca de 80 famílias que vivem na região. A pesquisa abrange escolaridade, tipo de habitação, doenças, idade, renda, quantidade de filhos e outros

“Há uma ligação direta da luta contra o despejo com a construção de um espaço comunitário”

hoje atende cerca de vinte e uma crianças de 4 até 13 anos.

Uma das idealizadoras do projeto Damares Silva de Moraes afirma que todas as crianças do centro vão para a escola e fazem reforço escolar, mas muitas vezes isso não é o suficiente. “Recebemos uma adolescente de 13 anos que não sabia ler nem escrever estando no 7° ano, fazendo aula e contraturno. A gente percebeu que tinha que mudar isso”.

Damares afirma que a necessidade de ter um atendimento específico para os adolescentes tem se ampliado com os crescentes casos de gravidez entre os jovens, no momento, a comunidade tem quatro gestantes com idade por volta dos 13 anos. Para isso, precisam enfrentar algumas adversidades como a falta

A moradora da comunidade Pontarolla Evelyn Alves tem 5 filhos. Ela afirma que o centro ajuda no desenvolvimento escolar das crianças “Todo sábado é assim, almoçam correndo pra ir para o centro”. Leticia da Silva também é moradora e tem 3 crianças que frequentam regularmente o centro. Ela diz sentir diferença no desempenho escolar dos filhos. “Eu não tenho estudo, então não posso ajudar eles”.

A voluntária do projeto Jurema da Cruz Moura, 69 anos, nunca frequentou a escola e encontrou no centro uma oportunidade de se envolver com o ensino das crianças e com as causas da comunidade. “Nós precisamos de uma moradia digna”. Apesar de não saber ler, Jurema descobriu novas formas de se expressar e viu no centro um meio para combater a depressão.

fatores. Os dados são utilizados para o controle e a destinação dos fundos como o repasse de cestas básicas, roupas, kit para gestantes, cadeira de rodas ou qualquer outra necessidade específica de cada morador.

Segundo o levantamento feito pela própria equipe do Centro Cultural, cerca de 90% das casas da comunidade são feitas de madeira reaproveitada, possuindo frestas e umidade, além de grande parte não possuir pia, chuveiro ou vaso sanitário. O coordenador da Frente Organização dos Trabalhadores (FORT) e membro do Despejo Zero, Pedro Carrano, trabalha com a região do Pontarolla há cerca de dois anos e afirma que a falta de regularização fundiária e o risco de despejo forçado traz dificuldades para que essas famílias possam se estruturar. Isso traz mais riscos para as crianças, pois raramente há uma divisão bem feita entre domicílios e existem famílias inteiras dividindo o mesmo cômodo, sem acesso aos serviços básicos essenciais como água encanada. “Se nós tivéssemos um projeto habitacional no Tatuquara, políticas públicas consistentes e robustas, políticas públicas de educação. Tudo isso reflete na situação e repercute na criminalidade.”

O membro do Despejo Zero também ressalta que o centro é um verdadeiro espaço político

por concentrar a força da comunidade pela forma como esses ambientes cotidianos mostram que a população está vivendo e quer se organizar e se enraizar dentro desse território. “Há uma ligação direta da luta contra o despejo com a construção de um espaço comunitário”.

Pedro ressalta a especial dificuldade que essas comunidades enfrentam ao solicitar os serviços da Sanepar, que se recusa, em tese, a instalar o relógio de água em áreas oriundas de ocupação. A comunidade Fazendinha, no Campina do Siqueira, conseguiu a instalação do relógio apenas após 8 anos de existência. Em resposta, a Sanepar afirma que por lei não pode instalar redes de água e esgoto em loteamento ou áreas irregulares.

Onde surge a cultura

Para o sociólogo e professor coordenador da especialização em antropologia cultural Cauê Kruger, atuar nos sistemas culturais de sua própria comunidade faz parte do processo de desenvolvimento e crescimento pessoal, além de compartilhar e adquirir conhecimento.

Além disso, Cauê também ressalta a evidente barreira simbólica educacional no acesso à cultura por meio de instituições elitistas e burguesas e destaca a importância da cultura local das comunidades. “Muito da cultura popular urbana é criada exatamente em locais periféricos, por redes de jovens artistas que funcionam como mediadores entre grupos e instituições sociais”.

Leia mais

Confira mais informações e um ensaio exclusivo. portalcomunicare.com.br

Crianças da comunidade respondem questões após roda de leitura.
Isabela Borges
Fundadoras do centro cultural e moradoras do tatuquara há mais de 30 anos.
Isabela Borges

Insegurança alimentar atinge 19% da população curitibana

Apesar de se tornar referência para que o país saia do mapa da fome cerca de dois a cada dez curitibanos ainda passam por algum nível de insegurança alimentar

Lorena Loiola, Maria Eduarda Honorio, Nicole Duarte e Vitoria Santin 3º Período

Comida para suficiente 3,5

milhões de pessoas

Em 2022, a produção de frutas e hortaliças poderia alimentar quase toda a RMC e o Litoral (3,9 mi), mas a má distribuição e os desertos alimentares em Curitiba afetam comunidades de baixa renda e aumentam a segregação.

Distribuição percentual da população

segundo situação de insegurança alimentar no Brasil, Paraná e Curitiba

Legenda:

Insegurança Alimentar leve Segurança Alimentar

Insegurança Alimentar em Lares Chefiados por Mulheres (2025)

da população de Curitiba estão em situação de segurança alimentar

80,9% Os percentuais são superiores à média brasileira (70,3%), mesmo assim, cerca de 89 mil curitibanos viviam em situação de insegurança alimentar em 2022

Famílias em Pobreza com Acesso Reduzido à Rede de Segurança Alimentar em Curitiba (2024)

Insegurança Alimentar moderada

Insegurança Alimentar grave

Famílias

O mapa representa o número de famílias em pobre- za/extrema pobreza cadastradas no CadÚnico com difícil acesso (mais de 800 metros) a equipamentos da rede de Segurança Alimentar Nacional (SAN)

Mais escuro = maior número de famílias afetadas. Mais claro = menor número de famílias afetadas.

Insegurança alimentar atingiu 18 a cada 100 lares no Paraná em 2023

Lares chefiados por mulheres negras são particularmente vulneráveis: 22% enfrentam fome, o dobro em relação a famílias lideradas por mulheres brancas (13,5%)

Dos 4,33 milhões de domicílios particulares permanentes no estado, 17,9% (774 mil) estavam em situação de insegurança

Fonte: Os caminhos da Comida (Ippuc, PMC, Instituto Escolhas)
Fonte: Os caminhos da Comida (Ippuc, PMC, Instituto Escolhas)
Mulheres Negras 22%
Mulheres Brancas 13,5%
alimentar no quarto trimestre de 2023.
Fonte: PNAD/IBGE
Fonte: Agência Brasil e IPARDES

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.