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A arte da cura
Dores de cabeça, crises de ansiedade, depressão: todas essas doenças crônicas e um tratamento diferente e natural
Karla Fernandes e Rafaela Oliveira
arte, segundo o dicionário Aurélio, é um complexo de regras e processos para a produção de um efeito estético determinado. Mas, para algumas pessoas, é uma maneira de enfrentar diversas doenças crônicas como ansiedade e enxaqueca. Esta última atinge cerca de 20% da população feminina e de 5 a 10% dos homens, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaléia (SBC). Manuel Santore, bancário de 29 anos, encontrou na música uma maneira de enfrentar a enxaqueca. “Ouvir música me ajudava muito, mesmo que todos dissessem que escutar muito barulho piora as dores de cabeça. Então, pensei em tentar fazer uma aula de violão com o apoio do meu médico”, afirma. Segundo ele, os remédios ainda são necessários, porém apenas quando a dor está insuportável. De acordo com Barbara Prado Zerbatto, psicóloga especializada em tratamentos alternativos, aliar a terapia tradicional a alguma expressão artística, contribui para o desenvolvimento do hemisfério direito do cérebro, responsável pelo processo criativo: “A arte ativa o lado lúdico, a criatividade, fortalece os hormônios que combatem o estresse, a falta de concentração, as dificuldades de memorização e motoras, e os vários outros distúrbios mentais e do corpo”. Os tratamentos alternativos, como são conhecidos os métodos que procuram trabalhar para fazer o paciente se expressar por meio da arte, estão ganhando espaço nas clínicas médicas. Segundo a psicóloga, esse tipo de tratamento é recomendado para doenças que afetam diretamente o estado mental e emocional,
Acomo depressão, estresse, fobia e que causam enfermidades como gastrite e asma. Para a estudante Caroline da Silva Carvalho, a escrita se tornou sua fuga. ”Tenho problemas com ansiedade desde que me lembro. Qualquer mudança de rotina ou apresentação na escola me fazia tremer, e a falta de ar não ajudava.” O tratamento convencional foi a primeira opção, mas, após tentar algumas sessões com um psiquiatra, sua mãe desistiu da ideia: “Ela não quis que eu continuasse depois de tantos remédios que o médico prescreveu. É meio contra, então tive que dar um jeito por mim mesma e até que deu certo”. O neurologista Eduardo Bauer diz já ter tido pacientes que encontraram uma melhora na enxaqueca

Eduardo Bauer, neurologista
por meio de exercícios artísticos. “Alguns pacientes conseguem relaxar com a pintura e até mesmo ouvindo música, mas para uma cura completa, é necessário um tratamento acompanhado.”
Bauer não aconselha começar um tratamento alternativo sem acompanhamento. “Por mais que tenha sido comprovado que a música traz uma grande melhora à saúde de uma pessoa. É preciso que um médico especializado esteja acompanhando o processo”, afirma o neurologista. Contudo, Bauer diz que o relaxamento por meio desses meios é uma forma de prevenir a enxaqueca em pessoas que tendem a ter a doença, por questões de genética. “É sempre bom separar alguns minutos do dia para escutar música, ler e até mesmo conversar com os amigos. A meditação também é uma aliada”, finaliza.
Opções de tratamento
Segundo Barbara Prado Zerbatto, as opções de tratamentos alternativos para doenças psíquicas são inúmeras, variando conforme a necessidade do paciente. Os mais procurados são a terapia cognitiva, a terapia comportamental e as técnicas de relaxamento.
A cognitiva tem o objetivo de alterar padrões de pensamento indesejados e perturbadores. “O indivíduo examina os seus pensamentos e aprende a separar pensamentos realistas de pensamentos irrealistas”, afirma Zerbatto.
Na comportamental, o paciente ganha controle sobre os comportamentos indesejados. “Ele aprende a lidar com situações difíceis, muitas vezes através do controle à exposição a esses fatores”, relata Zerbatto.
As técnicas para relaxamento ajudam as pessoas a desenvolver a capacidade para lidar de forma mais eficaz com o stress e com sintomas físicos que contribuem para a ansiedade. Segundo a psicóloga, a técnica mais comum é o reaprender a respirar.
Todas as técnicas devem ser orientadas por um profissional especializado, pois devem ser analisados aspectos psicológicos dos pacientes, “Cada um desenvolve sintomas próprios, mesmo quando se trata da mesma doença, que pode se manifestar de diversas formas, e para cada uma delas há um tratamento específico”, afirma.