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EM C RI S E
elástica a variações na produção na América Latina do que em economias avançadas, e por quê tal elasticidade é altamente heterogênea na região. Embora os fluxos em direção ao desemprego constituam uma importante margem do ajuste na região da ALC, os fluxos para a informalidade os complementam como parte do mecanismo de ajuste. Esse canal, o emprego informal, é consideravelmente mais limitado em economias avançadas. Os resultados desta seção são consistentes com achados recentes publicados na literatura internacional do comércio. Dix-Carneiro e Kovak (2019) documentaram que embora no médio prazo as regiões mais expostas à concorrência estrangeira tenham enfrentado aumentos de médio prazo no desemprego em relação à média nacional após a liberalização comercial do Brasil (que sofreu um choque comercial negativo), o desemprego ficou abaixo do que teria ficado se a informalidade não tivesse absorvido os trabalhadores desligados de seus empregos.
Criação e destruição de empregos em tempos de crise Conforme vimos na seção anterior, o desemprego é uma das principais margem de ajuste do mercado de trabalho na região da ALC. As elevadas taxas de informalidade na região e os fortes mecanismos de proteção no setor formal implicam grandes diferenças nos custos de ajuste para os empregadores entre os dois tipos de emprego. Enquanto obrigações contratuais e jurídicas para o empregador encarecem a destruição de empregos no setor formal, no setor informal a destruição de empregos praticamente não onera o empregador, especialmente em empregos onde o capital humano apresenta baixa especificidade para a indústria ou empresa. Essa observação sugere que a destruição de empregos informais e a criação de empregos formais responderiam mais rapidamente a desacelerações na economia. De fato, Bosch e Maloney (2008) observaram que em períodos de recessão o desemprego contracíclico no Brasil e no México é impulsionado por
um volume considerável de separações do trabalho por parte de trabalhadores informais, ao invés de separações de empregos formais. Os autores encontraram ainda uma queda no número de admissões no setor formal durante retrações. Da mesma forma, Bosch e Esteban-Pretel (2012) constataram que a variação cíclica do desemprego é explicada principalmente por mudanças na taxa de separação do emprego de trabalhadores informais, enquanto a variação cíclica da parcela do emprego formal é explicada por mudanças na taxa de transição de empregos informais para empregos formais. O s f lu xos de emprego podem ser decompostos em fluxos de criação e de destruição de empregos (Davis e Haltiwanger, 1992). Considerando que é relativamente raro encontrar medições dos fluxos líquidos e brutos de emprego em países em desenvolvimento (à exceção de Ochieng e Park, [2017]), as medidas apresentadas nesta seção são particularmente valiosas. A mudança líquida de empregos foi calculada por trimestre em cada empresa analisada. Empresas onde o desligamento de funcionários foi maior que a admissão de novos funcionários são consideradas destruidoras líquidas de postos de trabalho e contribuem para os fluxos de destruição de empregos. Inversamente, empresas que terminam o trimestre com mais funcionários do que começaram são geradoras líquidas de postos de trabalho e contribuem para o fluxo de criação bruta de empregos. Por serem realizadas em nível de estabelecimento, as medições limitam-se a empregos no setor formal. Para uma visão mais ampla da dinâmica do emprego, esta seção também inclui os fluxos de novos empregos encontrados e os fluxos de perda de empregos, conceitos baseados em pesquisas sobre o trabalho. Por ser o único meio de medir o setor informal, essa métrica alternativa é particularmente relevante na região da ALC. As taxas de separação do emprego não representam necessariamente o mecanismo mais importante de ajuste do mercado de trabalho na América Latina: muitos trabalhadores que poderiam deixar os seus empregos de forma voluntária adiam a decisão durante