
6 minute read
Conclusão
o im PAC to S obre o S tr A b A lh A dore S , em P re SAS e lo CA lid A de S 77
informalidade, as empresas podem empregar trabalhadores informais; e b) essas empresas reduzem o emprego dos trabalhadores informais, e não dos trabalhadores formais, quando enfrentam choques adversos nas exportações (Figura 3.9). Nesse contexto, a informalidade pode fornecer uma flexibilidade real para empresas e trabalhadores enfrentarem choques adversos. Esse resultado está de acordo com os resultados encontrados sobre o efeito da liberalização comercial no Brasil por Dix-Carneiro e Kovak (2019) e Ponczek e Ulyssea (2018).
Este estudo também constatou que os trabalhadores em localidades com mais oportunidades de emprego (alternativas) se recuperam melhor das crises. Especificamente, perdas maiores e mais duradouras no emprego (e às vezes nos salários) em resposta a uma crise são encontradas para trabalhadores formais em localidades com setores primários maiores, setores de serviços menores, menor número de grandes empresas e uma produção altamente concentrada no mesmo setor de seu emprego anterior à crise (Fernandes e Silva 2021). As perdas de rendimentos persistentes desses trabalhadores podem refletir uma falta de oportunidades na recuperação, não apenas o “efeito cicatriz” no sentido tradicional de uma perda persistente de capital humano associada a um período de desemprego ou a um período de emprego de qualidade inferior.
As crises podem causar efeitos de longo prazo no mercado de trabalho por meio de dois canais principais. Primeiro, na medida em que as crises levam a interrupções no emprego, destruindo ou reduzindo o estoque de capital humano da região, elas podem ter efeitos de longo prazo nas perspectivas de crescimento da região.4 A acumulação de capital humano é fundamental para o crescimento econômico contínuo e ganhos sociais da região. Embora o estoque de capital humano de um país seja um fator determinante do crescimento por meio de seu papel como insumo na produção (Mincer, 1984), os pesquisadores também enfatizam sua contribuição para o crescimento por meio de mais inovação, produtividade e absorção tecnológica (Benhabib e Spiegel, 1994; Nelson e Phelps, 1966; Romer, 1990).
O segundo canal pelo qual as crises podem levar a mudanças de emprego com efeitos de longo prazo no crescimento é a indução de uma realocação de trabalhadores e empresas (por exemplo, entre setores ou ocupações) ou alteração do uso de tecnologia por parte das empresas (por exemplo, a forma como as empresas combinam seus diferentes insumos). Essa realocação causa tanto a destruição de empregos (que ocorre imediatamente) e a criação de empregos sendo desacelerada por fricção de mercado. As constatações apresentadas neste capítulo sugerem que ambos os canais atuam na América Latina.
As evidências apresentadas neste capítulo indicam que as crises deixam cicatrizes - não em todos, mas em muitos trabalhadores. Alguns trabalhadores se recuperam da perda involuntária do emprego e de outros choques sobre seus meios de subsistência, enquanto outros ficam com cicatrizes permanentes. Por exemplo, no Brasil e no Equador, os efeitos sobre o emprego e os salários dos trabalhadores ainda estão presentes, em média, 9 anos após o início da crise. É surpreendente que um choque temporário possa acarretar o tipo de efeito normalmente associado a grandes choques permanentes, como a liberalização do comércio.5 Esse achado sugere que o aumento da taxa de crescimento econômico de longo prazo na região da ALC dependerá de medidas de resposta que previnam efetivamente a destruição desnecessária do capital humano e das capacidades das empresas.
Para trabalhadores menos qualificados (sem formação de nível superior), as perdas de rendimentos causadas pelas crises são persistentes. Os trabalhadores com ensino superior sofrem impactos mínimos da crise em seus salários, e os impactos em seus empregos são de duração muito curta. Curiosamente, as respostas à crise financeira global de 2008-09 foram semelhantes entre trabalhadores do sexo masculino e feminino, e entre trabalhadores com alta e baixa participação
78 e m P rego em Cri S e
anterior no mercado de trabalho formal. Os trabalhadores que ingressam no mercado de trabalho durante uma crise enfrentam um início de carreira pior, do qual é difícil se recuperar. Embora os mecanismos específicos e a duração do efeito cicatriz possam variar entre homens e mulheres, a situação geral nos países da ALC é semelhante – entre os homens e as mulheres, aqueles com níveis de escolaridade mais baixos são mais vulneráveis ao efeito cicatriz. Para homens e mulheres, o efeito cicatriz é mais provável entre aqueles que têm menos escolaridade do que entre os trabalhadores com ensino superior. Também é muito mais provável que ocorra por meio do emprego do que de salários mais baixos.
Neste contexto, é crucial direcionar recursos para os mais afetados pelas crises e garantir que esses recursos cheguem até eles de forma eficaz. Contudo, se os trabalhadores em localidades onde há mais oportunidades de trabalho se recuperam melhor das crises (conforme constatado neste estudo), seja por causa da existência de mais oportunidades de trabalho informal ou porque os empregadores disponíveis (mais empresas de grande porte e setores de serviços maiores com empregos compatíveis) aumentam as chances de se conseguir emprego - as perdas de rendimentos observadas entre outros trabalhadores podem não ser tão marcantes no sentido tradicional de perda de capital humano, mas sim um sintoma da falta de oportunidades para esses trabalhadores. Nesse caso, abordar o problema apenas a partir da perspectiva do trabalhador não resolverá a questão.
Os efeitos sobre os trabalhadores descritos acima têm implicações importantes para a equidade e a pobreza. O que este relatório também mostra é que eles também podem afetar a eficiência a longo prazo. As crises vão além de destruir empregos; elas trazem implicações para a produtividade no futuro. Dois fatos são consistentes com a lenta recuperação do emprego após as crises. Em primeiro lugar, as crises podem ter efeitos persistentes sobre o uso da tecnologia pelas empresas existentes e sobre o tamanho e a capacidade das novas empresas criadas durante as crises. As empresas pré-existentes ajustam a demanda por qualificação, o apelo do produto e as markups em resposta a choques de demanda. Por exemplo, Fernandes e Silva (2021) descobriram que, em resposta à crise financeira global, as empresas brasileiras e equatorianas aumentaram sua razão capital-trabalhador. As crises também aumentam o conteúdo de qualificação da produção: foi demonstrado que a participação da mão de obra qualificada no emprego total aumenta na presença de choques negativos de demanda externa negativos em países como a Argentina (Brambilla, Lederman e Porto, 2012) e Brasil (Mion, Proença e Silva, 2020) e Colômbia (Fieler, Eslava e Xu, 2018).
Em segundo lugar, as empresas que nascem em tempos de crise acabam atrofiadas, crescendo lentamente ao longo de seu ciclo de vida, mesmo quando os tempos melhoram. Se a empresa começa em um momento de baixa demanda, ela é menos capaz de desenvolver relacionamentos com os clientes e de aprender a trabalhar bem com eles, e essa debilidade é algo que persiste por muito tempo. Se os empregos demoram para se recuperar após uma crise por causa do efeito cicatriz sobre as empresas nesse sentido mais amplo, implantar políticas que tratam somente das cicatrizes do mercado de trabalho pode não ser suficiente para resolver o problema, conforme discutido no próximo capítulo.
Outro mecanismo importante em jogo é o efeito de depuração. Empresas menos produtivas são mais propensas a perder lucratividade e desaparecer em uma recessão do que empresas altamente produtivas. No entanto, as unidades instaladas podem não experimentar o impacto total da queda total da demanda se tal queda for compensada por uma redução na taxa de criação de empregos. Os efeitos de destruição e realocação são positivos, desde que empregos sejam criados após o fim da crise. Uma vez incluídas as dimensões espaciais e de empresa dos ajustes dos mercados de trabalho às crises, a importância do lado da demanda fica clara. É importante destacar que os resultados mostram que os setores e empresas protegidos se ajustam menos durante uma crise (Fernandes