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A transformação na estrutura do mercado de trabalho e o desaparecimento dos bons empregos

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empresas tenham grandes gastos com a substituição (Jovanovic, 1979), a perda de trabalhadores com níveis inferiores de treinamento (inclusive treinamento específico da empresa) acarretaria menores custos de transação para os empregadores. Por exemplo, Robertson e Dutkowsky (2002) constataram que os custos de ajuste no setor manufatureiro do México são mais altos para trabalhadores que não são da área de produção (e que costumam ter salários mais altos), trabalhadores com treinamento mais específico para o trabalho que fazem e trabalhadores em setores mais sindicalizados. Consequentemente, quando a empresa enfrenta uma queda na demanda, os trabalhadores da produção, com salários mais baixos, são dispensados em maior número que os trabalhadores com salários mais altos.

De acordo com essa constatação, os ajustes quantitativos tendem a acontecer mediante a redução do quadro de trabalhadores com menores custos de ajuste. Em economias de alta renda, o número de trabalhadores de baixa renda que saem da força de trabalho é desproporcionalmente maior em períodos de retração (Carneiro, Guimarães e Portugal, 2011; Solon, Barsky e Parker, 1994) e o desligamento de trabalhadores jovens e pouco qualificados e maior do que o de outros tipos de trabalhadores (Devereux, 2004; Teulings, 1993). Pesquisas nos países da ALC indicam tendências semelhantes. Ao estudarem a crise econômica de 2009 no México, Campos-Vázquez (2010) e Freije, López-Acevedo, e Rodríguez-Oreggia (2011) encontraram maiores taxas de perda de emprego entre os trabalhadores jovens e não qualificados.

Na região da ALC, a combinação de grandes setores informais e trabalhadores com uma variedade de níveis de qualificação sugere que pode existir uma hierarquia nos custos de ajuste, onde os trabalhadores informais, que têm menos proteções trabalhistas, têm mais chance de perder o emprego, independentemente do nível de qualificação. Entre os trabalhadores formais, aqueles com rendimentos mais baixos têm maior probabilidade de perder o emprego do que os que têm rendimentos mais altos. De fato, em cinco dos seis países analisados e ao longo de todo o ciclo de negócios, os trabalhadores com salários mais baixos têm mais chance de passar por um tempo desempregados que os trabalhadores com salários mais altos, quer sejam do setor formal ou informal (figura 2.9). A única exceção é o México, onde as transições para o desemprego são mais altas no meio que na parte inferior ou superior da distribuição.

Contudo, a probabilidade aumentada de que trabalhadores não qualificados transitem para o desemprego não indica de uma maior vulnerabilidade do emprego a flutuações no crescimento econômico. Ao invés disso, as transições cíclicas de emprego - aquelas correlacionadas a desacelerações no crescimento econômico - são mais frequentes entre trabalhadores qualificados que entre trabalhadores não qualificados (ver a tabela 2A.1 do anexo 2A). Esse resultado vale para homens e para mulheres. Nenhuma das transições de emprego analisadas foi cíclica para mulheres pouco qualificadas em nenhum dos seis países estudados.

As crises se traduzem em menos oportunidades de emprego ao longo do tempo que perduram além do ciclo de negócios (Artuc, Bastos e Lee, 2021) e reduzem a rotatividade de trabalhadores, isto é, os fluxos de um emprego ao outro, reduzindo a qualidade da correspondência empregado-emprego. Esse efeito ocorre porque quando a disponibilidade de empregos cai, a possibilidade e disposição dos trabalhadores de mudar de emprego diminui. Usando um modelo estrutural para o Brasil, Artuc, Bastos e Lee (2021) descobriram que choques externos adversos reduzem a mobilidade interna entre empregos - o que, por sua vez, reduz o bem-estar dos trabalhadores ao longo da vida.

As crises também causam uma redução gradual do número de bons empregos na região da ALC. Esse efeito ocorre porque

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