Emprego em Crise

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28  EM P REGO

EM C RI S E

na América Latina? Novas pesquisas feitas no contexto deste projeto mostram que as crises podem, de fato, afetar consideravelmente a estrutura do mercado trabalho durante vários anos (Regis e Silva, 2020). Nos três países analisados (Brasil, Chile e México), a queda no emprego formal causada pelas crises mostrou-se forte e duradoura. Em dois desses países, a informalidade parece ter funcionado como um amortecedor de longo prazo para o desemprego; no terceiro país, o emprego formal estagnou ou caiu. Ao considerarem os efeitos das crises sobre a mobilidade e o bem-estar da força de trabalho, Artuc, Bastos e Lee (2020) concluíram que em períodos de desaceleração e crise a redução dos fluxos de trabalho diminui a compatibilidade entre o trabalhador e o emprego, reduzindo assim a utilidade estimada do trabalho. Os resultados sugerem que uma crise tem o potencial de empurrar o mercado de trabalho para um novo ponto de equilíbrio entre o emprego formal e informal, com implicações de longo prazo no bem-estar e na produtividade.

Fluxos do Mercado de Trabalho: Desemprego versus Informalidade Na região da ALC, as crises econômicas são consideráveis e frequentes, representando um grande entrave para o desenvolvimento econômico e para a redução da pobreza. Esses choques econômicos reduzem a demanda de modo geral, diminuindo a demanda por mão de obra e eventualmente culminando em ajustes quantitativos no emprego. Esta seção apresenta evidências sobre quatro margens desse ajuste quantitativo no emprego: desemprego, saídas da força de trabalho, transição para a informalidade e transição para o trabalho em regime de tempo parcial. O objetivo desta seção, baseada em Sousa (2020), é caracterizar os impactos de curto prazo das flutuações cíclicas do crescimento no mercado de trabalho, analisando como os fluxos do mercado de trabalho variam com o ciclo de negócios. Sousa (2020) estimou os fluxos de trabalhadores usando dados sobre mais de seis milhões de transições no mercado de trabalho, construídos a partir

de painéis de pesquisa da força de trabalho do projeto de Banco de Dados do Trabalho para a América Latina e o Caribe (um projeto conjunto do Centro de Estudos Distributivos, Trabalhistas e Sociais e o Banco Mundial). A análise neste capítulo concentra-se em trabalhadores urbanos, limitando assim o efeito das diferenças entre os países nos níveis de subsistência ou atividades de baixa produtividade do setor primário nos resultados. Devido a questões de disponibilidade de dados, os países considerados foram Argentina, Brasil, Chile, Equador, México e Peru. Para cada país, foram construídos painéis trimestrais conectando dados de diversos levantamentos consecutivos entre o primeiro trimestre de 2005 e o quatro trimestre de 2017 com indivíduos de 15 a 64 anos de idade. Os painéis foram usados para calcular fluxos de trabalho e taxas de transição trimestrais a partir de dados de nível individual. Esta seção discute tanto os fluxos de trabalho quanto as transições no emprego. Enquanto os fluxos de trabalho medem o número de trabalhadores que transitam entre estados de ocupação em determinado momento, as transições de emprego medem a taxa com que os trabalhadores transitam entre esses estados. Para calcular a ciclicidade das transições no emprego (ou seja, os desvios da frequência/tendência natural) foram utilizados microdados. Os estados de emprego utilizados na análise são: emprego formal remunerado no setor privado, emprego público formal, emprego informal remunerado, autônomo, desempregado, desocupado e trabalho em tempo parcial. Conforme Moscarini e Postel-Vinay (2012), a ciclicidade é medida pela construção de séries de crescimento (onde o ciclo de crescimento é medido como o crescimento do PIB trimestral, ano a ano) e por séries trimestrais de transição no emprego. O crescimento e as transições econômicas foram destendenciados e dessazonalizados com aplicação do filtro de Hodrik-Prescott para obter o componente cíclico desses números. Uma transição é procíclica quando a correlação entre o ciclo de crescimento e a respectiva série de transição é positiva, e contracíclica quando a correlação é negativa.


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Referências

24min
pages 161-169

nos trabalhadores

1min
page 156

Conclusão

9min
pages 157-159

mercado de trabalho

3min
page 155

Notas

3min
page 160

econômicas?

3min
page 154

4.17 Instrumentos normativos do mercado de trabalho e duração do desemprego

18min
pages 148-153

4.13 Abordagem do impacto das crises e preparação para a mudança: reformas de políticas

5min
pages 142-143

Estrutural: maior concorrência e políticas baseadas no local

3min
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involuntária de emprego

2min
page 139

mudanças estruturais

3min
page 140

4.1 Auxílio Familiar como Seguro-Desemprego na Prática

3min
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B4.2.1 Estratégia trabalhista e de proteção social adotada em resposta à COVID-19 no Brasil para dois grandes grupos vulneráveis

1min
page 133

4.8 Apoio insuficiente, com muitos deixados para trás

2min
page 129

4.1 Panorama do apoio formal à renda no desemprego na região da ALC

2min
page 119

Agregado: estabilizadores macroeconômicos mais robustos

6min
pages 113-114

4.1 Como funciona o ajuste e um triplo pacote de políticas para facilitá-lo

5min
pages 111-112

setorial e propriedade estatal

2min
page 98

Conclusão

6min
pages 101-102

Localidades: o papel das oportunidades locais e da informalidade

3min
page 99

Introdução

8min
pages 107-109

Empresas: o custo da concorrência limitada no mercado

9min
pages 93-95

Três dimensões principais das políticas

3min
page 110

3.1 Presença de efeitos negativos e efeitos cicatriz nos salários, por gênero e nível de ensino

2min
page 92

Fluxos do Mercado de Trabalho: Desemprego versus Informalidade

3min
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Trabalhadores: uma carga maior sobre os não qualificados

9min
pages 81-83

Criação e destruição de empregos em tempos de crise

3min
page 60

por Decil Salarial, Setores Formal e Informal, 2005–17

5min
pages 69-70

A transformação na estrutura do mercado de trabalho e o desaparecimento dos bons empregos

3min
page 68

2.2 Ciclicidade de Fluxos Líquidos entre Setores, e de Saída do Emprego

6min
pages 55-56

Introdução

5min
pages 79-80

Principais ideias

18min
pages 29-34

Introdução

8min
pages 49-51

1.3 Estabilizadores e Estrutura Macroeconômica: Reformas de Políticas

8min
pages 38-40

Referências

5min
pages 44-45

sobre os trabalhadores

2min
page 42

1.2 Como funciona o ajuste e as políticas que podem atenuá-lo

4min
pages 36-37

Três dimensões das políticas de resposta

3min
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Notas

3min
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Emprego em Crise by World Bank Publications - Issuu