Emprego em Crise

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V i s ã o Ge r a l

oscilações da demanda agregada (além de algumas crises domésticas auto infligidas e má gestão). Essa crise profunda chegou em um momento em que muitos governos da região enfrentavam desafios estruturais já bem conhecidos. Isso acelerou as mudanças estruturais de longo prazo que vêm mudando a natureza do trabalho, ampliando seu potencial de contribuir ainda mais para a redução das oportunidades de empregos tradicionalmente considerados “bons empregos” - ou seja, empregos-padrão, estáveis, protegidos e associados ao setor formal (Beylis et al., 2020). Do ponto de vista do trabalho, a dinâmica dos empregos mencionada acima e observada em muitos países da ALC resultará em efeitos cicatriz consideráveis decorrentes da crise da COVID-19. Para alguns trabalhadores, as características dos diversos setores e locais provavelmente ampliarão esses efeitos ainda mais. No entanto, a estrutura tridimensional de políticas proposta neste estudo é um roteiro capaz de agregar resiliência ao processo de recuperação. A maneira como as políticas públicas e corporativas lidam com os desafios atuais será decisiva para o avanço das economias da região da ALC e o bem-estar de seus trabalhadores e cidadãos, com efeitos que duram décadas. O desafio é imenso e este é o momento de enfrentá-lo.

Notas 1. Segundo a definição de Végh e Vuletin e Vegh (2014) usada neste documento, as crises começam no trimestre em que o produto interno bruto (PIB) real cai abaixo da média móvel do quarto trimestre anterior e acabam no trimestre em que o PIB real retorna ao patamar pré-crise. Esta estatística foi calculada usando séries trimestrais do PIB da International Financial Statistics e da Haver Analytics. Embora o número específico de crises ocorridas neste período seja sensível à definição de crise utilizada, independentemente dessa definição esse resultado mostra que, ao contrário dos países desenvolvidos onde a evolução da produção é caracterizada

por ciclos suaves - a América Latina sofre crises pronunciadas. 2. Há extensa literatura sobre a dinâmica de ajuste do mercado de trabalho às mudanças tecnológicas e ao comércio internacional. Veja, por exemplo, Acemoglu y Restrepo (2017); Autor et al. (2014); Autor, Dorn e Hanson (2015); Dauth, Findeisen e Sudekum (2017); Dix-Carneiro e Kovak (2017, 2019); e Utar (2018). 3. As características únicas da crise de COVID-19 incluem lockdowns e riscos à saúde associados ao contato pessoal que tiveram efeitos prejudiciais em muitos empregos, especialmente os empregos informais, e causou uma perda de empregos mais intensa nos setores em que o trabalho de casa não é possível. Outra característica importante desta crise é a incerteza prolongada que ela gerou, postergando investimentos e contratações e lançando novas dúvidas sobre as perspectivas de recuperação dos empregos. 4. Os autores estimaram estas estatísticas foram estimadas pelos autores com base nos dados da Base de Dados Socioeconômicos para a América Latina e Caribe (Banco Mundial e Centro de Estudos Distributivos, Laborais e Setoriais). 5. Embora não seja um dos focos deste estudo, a migração representa mais uma margem de ajuste quantitativo no emprego. Esse fator é relevante em toda a região da ALC - por exemplo, nos grandes fluxos migratórios da República Bolivariana da Venezuela para países vizinhos, principalmente a Colômbia. O Caribe, em particular, é conhecido por seus altos índices de desemprego e egresso de migrantes; com frequência, trabalhadores deslocados deixam os países do Caribe quando perdem o emprego ou quando há excedente nos mercados de trabalho. 6. Esses estudos incluem Elsby, Hobijn and Sahin (2013) e Shimer (2005). 7. As políticas de estabilização monetária e fiscal são ferramentas poderosas de resposta às crises. Embora fundamentais para a mitigação das crises, essas políticas não são o foco principal deste estudo. 8. Em contraste com a experiência dos Estados Unidos durante a crise de COVID-19, os programas de retenção de empregos de vários países europeus atenderam a milhões de trabalhadores. A magnitude da destruição do capital humano (efeitos cicatriz) que esses programas podem evitar depende: (a) das perdas estimadas de capital humano que teriam sido causadas

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Referências

24min
pages 161-169

nos trabalhadores

1min
page 156

Conclusão

9min
pages 157-159

mercado de trabalho

3min
page 155

Notas

3min
page 160

econômicas?

3min
page 154

4.17 Instrumentos normativos do mercado de trabalho e duração do desemprego

18min
pages 148-153

4.13 Abordagem do impacto das crises e preparação para a mudança: reformas de políticas

5min
pages 142-143

Estrutural: maior concorrência e políticas baseadas no local

3min
page 141

involuntária de emprego

2min
page 139

mudanças estruturais

3min
page 140

4.1 Auxílio Familiar como Seguro-Desemprego na Prática

3min
page 130

B4.2.1 Estratégia trabalhista e de proteção social adotada em resposta à COVID-19 no Brasil para dois grandes grupos vulneráveis

1min
page 133

4.8 Apoio insuficiente, com muitos deixados para trás

2min
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4.1 Panorama do apoio formal à renda no desemprego na região da ALC

2min
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Agregado: estabilizadores macroeconômicos mais robustos

6min
pages 113-114

4.1 Como funciona o ajuste e um triplo pacote de políticas para facilitá-lo

5min
pages 111-112

setorial e propriedade estatal

2min
page 98

Conclusão

6min
pages 101-102

Localidades: o papel das oportunidades locais e da informalidade

3min
page 99

Introdução

8min
pages 107-109

Empresas: o custo da concorrência limitada no mercado

9min
pages 93-95

Três dimensões principais das políticas

3min
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3.1 Presença de efeitos negativos e efeitos cicatriz nos salários, por gênero e nível de ensino

2min
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Fluxos do Mercado de Trabalho: Desemprego versus Informalidade

3min
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Trabalhadores: uma carga maior sobre os não qualificados

9min
pages 81-83

Criação e destruição de empregos em tempos de crise

3min
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por Decil Salarial, Setores Formal e Informal, 2005–17

5min
pages 69-70

A transformação na estrutura do mercado de trabalho e o desaparecimento dos bons empregos

3min
page 68

2.2 Ciclicidade de Fluxos Líquidos entre Setores, e de Saída do Emprego

6min
pages 55-56

Introdução

5min
pages 79-80

Principais ideias

18min
pages 29-34

Introdução

8min
pages 49-51

1.3 Estabilizadores e Estrutura Macroeconômica: Reformas de Políticas

8min
pages 38-40

Referências

5min
pages 44-45

sobre os trabalhadores

2min
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1.2 Como funciona o ajuste e as políticas que podem atenuá-lo

4min
pages 36-37

Três dimensões das políticas de resposta

3min
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Notas

3min
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