Emprego em Crise

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e m Cr i s e

significar que os valores transferidos são insuficientes para suavizar de forma robusta o consumo quando os meios de subsistência são destruídos por uma crise.10 Benefícios racionados. Poucos programas de transferência de renda para fins de assistência social configuram um direito na América Latina. Essa distinção é importante porque as alocações orçamentárias para a maioria desses programas de transferência são discricionárias, impondo limites sobre os montantes em benefícios que podem ser pagos a famílias elegíveis em determinado ano. Ser elegível não garante o acesso; devem existir vagas disponíveis no programa, o que depende da entrada e saída de famílias do programa e do orçamento do Governo. Na Argentina e no Chile, esse aspecto dos programas mudou. Porém, mesmo no ­Brasil – que é famoso por seu programa Bolsa Família, de TCR –, antes da recente expansão da cobertura em resposta à COVID-19, havia mais de um milhão de famílias elegíveis esperando que as limitações sobre os benefícios fossem afrouxadas ou suspensas

QUADRO 4.1

por completo. Como tais racionamentos são politicamente e até legislativamente complicados de se afrouxar rapidamente e os formuladores de políticas estão administrando muitas outras demandas com espaço fiscal limitado, a situação é difícil para as transferências de renda como existem atualmente na maioria dos países da ALC para substituir a cobertura de planos de seguro-desemprego. A Argentina e seu programa de auxílio familiar são uma exceção elucidativa (quadro 4.1). Investimento lento em sistemas de identificação e execução. As bases da maioria dos programas de assistência social repousam em bancos de dados de identificação, conhecidos na maioria dos países como cadastros sociais, que possibilitam a esses programas identificar as pessoas mais necessitadas. No entanto, na região da ALC a parcela da população coberta por esses cadastros é baixa e limitada aos cronicamente pobres e vulneráveis. Na pandemia de 2020, os países da ALC dependeram fortemente das transferências de renda para fazer o dinheiro chegar rapidamente às mãos das pessoas

Auxílio Familiar como Seguro-Desemprego na Prática

A rede de segurança da Argentina é ­p articularmente eficaz na mitigação do empobrecimento, principalmente entre famílias com crianças e que dependem de meios de subsistência informais (Banco ­Mundial, 2020). Para uma crescente maioria de trabalhadores e seus dependentes, auxílios familiares, especificamente o “não contributivo” Asignacion Universal por Hijo (AUH), ­t ornaram-se, na prática, o seguro-desemprego na Argentina. De fato, para microempresários, outros trabalhadores autônomos e empregados não registrados com filhos, a AUH é, na verdade, o único meio rapidamente disponível de sustentar o consumo após choques. Porém, mesmo para as pessoas com empregos formais, a AUH pode servir como um instrumento mais confiável de suavização do consumo que o programa oficial de apoio aos desempregados. Isso é irônico, já que a Argentina é um dos poucos países da América Latina que oferecem, nacionalmente, proteção de renda por desemprego. A crescente escassez de

ofertas de emprego formal e a tendência de épocas com empregos disponíveis mais curtas dificultaram conseguir cobertura e, mesmo para aqueles que conseguem, os valores benefícios diminuíram. Além disso, a lei trabalhista da Argentina determina que as verbas rescisórias sejam pagas aos trabalhadores demitidos por dificuldades econômicas ou insolvência de uma empresa. Ainda assim, em 2018, entre as pessoas que relataram perder o emprego formal por esses motivos, apenas um terço recebeu verbas rescisórias - aproximadamente a mesma parcela que as recebeu em 2009. Os sistemas de cadastro, identificação e execução desenvolvidos pelo governo para transferir rapidamente trabalhadores e suas famílias do auxílio familiar “contributivo” para a AUH estão, por esta razão, cumprindo uma função vital de “seguro-­ desemprego” que os outros instrumentos de proteção social não dão conta de cobrir. Fonte: Banco Mundial (2020).


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Referências

24min
pages 161-169

nos trabalhadores

1min
page 156

Conclusão

9min
pages 157-159

mercado de trabalho

3min
page 155

Notas

3min
page 160

econômicas?

3min
page 154

4.17 Instrumentos normativos do mercado de trabalho e duração do desemprego

18min
pages 148-153

4.13 Abordagem do impacto das crises e preparação para a mudança: reformas de políticas

5min
pages 142-143

Estrutural: maior concorrência e políticas baseadas no local

3min
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involuntária de emprego

2min
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mudanças estruturais

3min
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4.1 Auxílio Familiar como Seguro-Desemprego na Prática

3min
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B4.2.1 Estratégia trabalhista e de proteção social adotada em resposta à COVID-19 no Brasil para dois grandes grupos vulneráveis

1min
page 133

4.8 Apoio insuficiente, com muitos deixados para trás

2min
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4.1 Panorama do apoio formal à renda no desemprego na região da ALC

2min
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Agregado: estabilizadores macroeconômicos mais robustos

6min
pages 113-114

4.1 Como funciona o ajuste e um triplo pacote de políticas para facilitá-lo

5min
pages 111-112

setorial e propriedade estatal

2min
page 98

Conclusão

6min
pages 101-102

Localidades: o papel das oportunidades locais e da informalidade

3min
page 99

Introdução

8min
pages 107-109

Empresas: o custo da concorrência limitada no mercado

9min
pages 93-95

Três dimensões principais das políticas

3min
page 110

3.1 Presença de efeitos negativos e efeitos cicatriz nos salários, por gênero e nível de ensino

2min
page 92

Fluxos do Mercado de Trabalho: Desemprego versus Informalidade

3min
page 52

Trabalhadores: uma carga maior sobre os não qualificados

9min
pages 81-83

Criação e destruição de empregos em tempos de crise

3min
page 60

por Decil Salarial, Setores Formal e Informal, 2005–17

5min
pages 69-70

A transformação na estrutura do mercado de trabalho e o desaparecimento dos bons empregos

3min
page 68

2.2 Ciclicidade de Fluxos Líquidos entre Setores, e de Saída do Emprego

6min
pages 55-56

Introdução

5min
pages 79-80

Principais ideias

18min
pages 29-34

Introdução

8min
pages 49-51

1.3 Estabilizadores e Estrutura Macroeconômica: Reformas de Políticas

8min
pages 38-40

Referências

5min
pages 44-45

sobre os trabalhadores

2min
page 42

1.2 Como funciona o ajuste e as políticas que podem atenuá-lo

4min
pages 36-37

Três dimensões das políticas de resposta

3min
page 35

Notas

3min
page 43
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Emprego em Crise by World Bank Publications - Issuu