O i m pac t o s o b r e o s t r a b a l h a d o r e s , e m p r e sas e l o ca l i d a d e s
informalidade, as empresas podem empregar trabalhadores informais; e b) essas empresas reduzem o emprego dos trabalhadores informais, e não dos trabalhadores formais, quando enfrentam choques adversos nas exportações (Figura 3.9). Nesse contexto, a informalidade pode fornecer uma flexibilidade real para empresas e trabalhadores enfrentarem choques adversos. Esse resultado está de acordo com os resultados encontrados sobre o efeito da liberalização comercial no Brasil por Dix-Carneiro e Kovak (2019) e Ponczek e Ulyssea (2018). Este estudo também constatou que os trabalhadores em localidades com mais oportunidades de emprego (alternativas) se recuperam melhor das crises. Especificamente, perdas maiores e mais duradouras no emprego (e às vezes nos salários) em resposta a uma crise são encontradas para trabalhadores formais em localidades com setores primários maiores, setores de serviços menores, menor número de grandes empresas e uma produção altamente concentrada no mesmo setor de seu emprego anterior à crise (Fernandes e Silva 2021). As perdas de rendimentos persistentes desses trabalhadores podem refletir uma falta de oportunidades na recuperação, não apenas o “efeito cicatriz” no sentido tradicional de uma perda persistente de capital humano associada a um período de desemprego ou a um período de emprego de qualidade inferior.
Conclusão As crises podem causar efeitos de longo prazo no mercado de trabalho por meio de dois canais principais. Primeiro, na medida em que as crises levam a interrupções no emprego, destruindo ou reduzindo o estoque de capital humano da região, elas podem ter efeitos de longo prazo nas perspectivas de crescimento da região.4 A acumulação de capital humano é fundamental para o crescimento econômico contínuo e ganhos sociais da região. Embora o estoque de capital humano de um país seja um fator determinante do crescimento por meio de seu papel como insumo na produção (Mincer, 1984),
os pesquisadores também enfatizam sua contribuição para o crescimento por meio de mais inovação, produtividade e absorção tecnológica (Benhabib e Spiegel, 1994; Nelson e Phelps, 1966; Romer, 1990). O segundo canal pelo qual as crises podem levar a mudanças de emprego com efeitos de longo prazo no crescimento é a indução de uma realocação de trabalhadores e empresas (por exemplo, entre setores ou ocupações) ou alteração do uso de tecnologia por parte das empresas (por exemplo, a forma como as empresas combinam seus diferentes insumos). Essa realocação causa tanto a destruição de empregos (que ocorre imediatamente) e a criação de empregos sendo desacelerada por fricção de mercado. As constatações apresentadas neste capítulo sugerem que ambos os canais atuam na América Latina. As evidências apresentadas neste capítulo indicam que as crises deixam cicatrizes - não em todos, mas em muitos trabalhadores. Alguns trabalhadores se recuperam da perda involuntária do emprego e de outros choques sobre seus meios de subsistência, enquanto outros ficam com cicatrizes permanentes. Por exemplo, no Brasil e no Equador, os efeitos sobre o emprego e os salários dos trabalhadores ainda estão presentes, em média, 9 anos após o início da crise. É surpreendente que um choque temporário possa acarretar o tipo de efeito normalmente associado a grandes choques permanentes, como a liberalização do comércio. 5 Esse achado sugere que o aumento da taxa de crescimento econômico de longo prazo na região da ALC dependerá de medidas de resposta que previnam efetivamente a destruição desnecessária do capital humano e das capacidades das empresas. Para trabalhadores menos qualificados (sem formação de nível superior), as perdas de rendimentos causadas pelas crises são persistentes. Os trabalhadores com ensino superior sofrem impactos mínimos da crise em seus salários, e os impactos em seus empregos são de duração muito curta. Curiosamente, as respostas à crise financeira global de 2008-09 foram semelhantes entre trabalhadores do sexo masculino e feminino, e entre trabalhadores com alta e baixa participação
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