Em meio aos números, o talento de mestres das letras No imaginário popular, ao se falar de um técnico fazendário, certamente vem à mente a imagem de alguém mais afeito ao rigor dos números e das leis, da rigidez das contas e da austeridade fiscal. Mas, em sua história, o prédio da Rua do Imperador também abrigou trabalhadores dotados de uma grande sensibilidade artística, sobretudo para as letras. Em seus 130 anos, a Secretaria da Fazenda contou com poetas de diferentes estilos e temas em seu quadro funcional, muitos que produziram um legado ímpar para a poesia pernambucana. São mentes que conciliaram os afazeres da vida pública com os relatos dos encantos de suas memórias e cotidianos em obras marcantes. No Cais da Alfândega, sentado, vislumbrando o Capibaribe, está um deles. Ascenso Ferreira faz parte da história da literatura brasileira e pernambucana. Papel que lhe garantiu a estátua encarando o rio dentro do Circuito da Poesia. Mas ele também possui uma história dentro do funcionalismo público, em especial na Secretaria da Fazenda. Aos 24 anos, o poeta se tornou escriturário do Tesouro. Trabalhou na Secretaria no mesmo período em que começou a publicar seus primeiros poemas em jornais como A Provincia e Diario de Pernambuco, durante a década de 1920. A obra de Ascenso Ferreira é notória por sua dedicação às temáticas regionais e sua aproximação com o modernismo, sob influência de Mário de Andrade e dos conterrâneos Manuel Bandeira e Joaquim Cardozo. Os engenhos onde passou a infância, em Palmares, o cangaço, a cultura popular e o folclore nordestino estão sempre presentes em seus versos. Também era adepto do humor, do poema-piada e um grande arquiteto do ritmo em sua poesia, expresso por seu constante trabalho de divulgação amparado pela declamação em recitais por todo o Brasil. Um de seus principais poemas, O Trem de Alagoas, foi musicado por Heitor Villa-Lobos. 144