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Um monumento modernista com destaque na paisagem do Recife

Prédio da Fazenda é marco da arquitetura moderna no País Fotos: Daniela Nader

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Em meio aos números, o talento de mestres das letras

No imaginário popular, ao se falar de um técnico fazendário, certamente vem à mente a imagem de alguém mais afeito ao rigor dos números e das leis, da rigidez das contas e da austeridade fiscal. Mas, em sua história, o prédio da Rua do Imperador também abrigou trabalhadores dotados de uma grande sensibilidade artística, sobretudo para as letras. Em seus 130 anos, a Secretaria da Fazenda contou com poetas de diferentes estilos e temas em seu quadro funcional, muitos que produziram um legado ímpar para a poesia pernambucana. São mentes que conciliaram os afazeres da vida pública com os relatos dos encantos de suas memórias e cotidianos em obras marcantes. No Cais da Alfândega, sentado, vislumbrando o Capibaribe, está um deles. Ascenso Ferreira faz parte da história da literatura brasileira e pernambucana. Papel que lhe garantiu a estátua encarando o rio dentro do Circuito da Poesia. Mas ele também possui uma história dentro do funcionalismo público, em especial na Secretaria da Fazenda. Aos 24 anos, o poeta se tornou escriturário do Tesouro. Trabalhou na Secretaria no mesmo período em que começou a publicar seus primeiros poemas em jornais como A Provincia e Diario de Pernambuco, durante a década de 1920. A obra de Ascenso Ferreira é notória por sua dedicação às temáticas regionais e sua aproximação com o modernismo, sob influência de Mário de Andrade e dos conterrâneos Manuel Bandeira e Joaquim Cardozo. Os engenhos onde passou a infância, em Palmares, o cangaço, a cultura popular e o folclore nordestino estão sempre presentes em seus versos. Também era adepto do humor, do poema-piada e um grande arquiteto do ritmo em sua poesia, expresso por seu constante trabalho de divulgação amparado pela declamação em recitais por todo o Brasil. Um de seus principais poemas, O Trem de Alagoas, foi musicado por Heitor Villa-Lobos.

Ascenso Ferreira. Foto: Autoria não identificada/Acervo Fundação Joaquim Nabuco

No mesmo período, a Secretaria da Fazenda abrigou em seu quadro um outro poeta de Palmares, também notório por seu trabalho com o regionalismo e com o ritmo. A trajetória de Jayme Griz é de uma versatilidade que o coloca, ao mesmo tempo, no cargo de Diretor do Tesouro de Pernambuco e como um dos grandes contribuidores para a criação de um imaginário místico do estado, sobretudo da vida nos engenhos, entre seu cotidiano e suas assombrações. A construção viva desses espaços é um dos aspectos mais notórios de sua obra, assim como um olhar para o passado. Ele passeia pelos cantos populares com diversas linhas melódicas, como as toadas e as cantigas de viola, trabalhando com carinho o ritmo de suas obras. São dele títulos como O Lobisomem na Porteira, Rio Una e Acauã. Nas décadas seguintes, alguns outros nomes da Fazenda também alcançaram um trabalho reconhecido nas letras, como o contador Mariano Teixeira e o secretário José de Barros Lima, que, durante seus anos como estudante de Direito, também publicava suas poesias no jornal A Província. Apenas na década de 1980 foi editada uma reunião de todo trabalho poético realizado por fazendários, com o livro Poetas da Rua do Imperador, publicado pela Pool Editorial. A obra conta com textos de Iran Gama, Jodeval Duarte, Cláudio Couceiro, Eduardo Freyre Magalhães Melo, Alberto Lins Caldas, Caio de Souza Leão e Antônio Carlos Bastos Monteiro, além de dois outros ex-secretários da Fazenda, Gustavo Krause e Luiz Otávio Cavalcanti.

PuBlICAçÕES TéCnICAS

A produção literária dos funcionários da Sefaz-PE não conta apenas com romances e poesias. A casa sempre dispôs de autores relevantes no universo dos livros técnicos. É o caso do auditor aposentado Valdeblan Siqueira, responsável por Ética e Administração Tributária. O livro, publicado em 2006, foi baseado na pesquisa que resultou na tese Ética e Deontologia na Administração Tributária, elaborada durante o doutorado de Valdeblan Siqueira em Filosofia do Direito, na Universidade Autônoma de Madri, na Espanha. É uma obra que contribui para o esclarecimento de como a ética tem um papel fundamental para a prestação de um serviço de qualidade para a população. Além de Valdeblan, destacam-se como autores Franklin Azoubel e Cosme Maranhão, entre outros.

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