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Em meio aos números, o talento de mestres das letras
from Sefaz 130 anos
by Keops Ferraz
Os trabalhos lá reunidos se detêm em temas como a paisagem recifense e a história pernambucana, com seus grandes eventos. E inclui uma apresentação da Rua do Imperador, escrita por Antônio Carlos Bastos Monteiro. Além do livro, os escritores e poetas também encontravam espaço para sua arte dentro da Secretaria, em publicações como as revistas Fisco & Finanças e Finanças & Tributação. É uma safra que também conta com nomes que se destacaram na escrita, como Vital Corrêa de Araújo, que trabalhou como funcionário da Secretaria desde os 18 anos de idade, mas também se destacou como escritor, poeta, jornalista e tradutor, especialista na obra do argentino Jorge Luís Borges. Também foi curador das duas primeiras edições da Fliporto. Outros expoentes são Paulo Bandeira da Cruz, poeta que tem uma escola com seu nome no Recife, e Caio de Souza Leão, que, além do trabalho como poeta, também trabalhou ativamente nos restauros dos painéis de Cícero Dias instalados no prédio da Fazenda, coordenando os trabalhos.
cOrDeL Ainda no campo das letras, mas em um estilo diferente, destaca-se o cordelista Josué Limeira. O gerente de Atendimento aos Usuários de TI da Sefaz-PE lançou, em 2016, uma versão em cordel do clássico da literatura infantil O Pequeno Príncipe, do autor francês Antoine de Saint Exupéry. Dividido em 27 capítulos, o livro reproduz com muita fidelidade a obra de Exupéry. No entanto, ele usou recursos criativos para dar um caráter do regionalismo nordestino ao personagem, que no cordel é um menino sertanejo, com chapéu de couro e gibão, uma capa e um facão.
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FreVO e FOLiA Nas últimas décadas, pelo menos dois fazendários realizaram produções significativas para a cultura pernambucana, mas na área da música. O auditor Gerson Victor é uma figura relevante para o Carnaval pernambucano como fundador e presidente do Bloco Carnavalesco Misto Nem Sempre Lily Toca Flauta, um dos expoentes dos blocos líricos e que faz parte da folia recifense desde 1989. O também auditor Nilo Otaviano é fundador, organizador e um dos cantores da orquestra de frevo Arruando, um dos projetos mais importantes de resgate e difusão do ritmo que é Patrimônio Imaterial da Humanidade. Até 2021, a Arruando havia feito mais de 50 shows gratuitos, a maioria deles no Bairro do Recife, a fim de manter acesa a chama do frevo e apresentar o ritmo e um pouco do Carnaval recifense para os turistas que visitam a capital.
Secretaria foi comandada por mulheres em apenas duas passagens
Durante muitos anos, a atividade fazendária de fiscalização era algo exclusivo dos homens. Era considerada árida, até mesmo arriscada. Não à toa, algumas funções permitiam a posse de arma de fogo para ampliar a proteção dos funcionários. Apenas após o concurso de 1982, quando uma grande quantidade de mulheres foi aprovada, a igualdade de gênero chegou de vez à Sefaz-PE. As funcionárias se mostraram aptas a realizar as tarefas que antes eram exercidas somente pelos homens, transformando um aspecto cultural predominante na Secretaria. Essa particularidade da Sefaz-PE se refletiu também na ocupação do cargo máximo da pasta. Apenas em 1988 a Secretaria seria dirigida de forma efetiva por uma mulher. Até então, somente a advogada Maria Frederica Kriek havia assumido, mas de forma interina, durante a ausência do secretário Everardo Maciel (1979-1983). Coube à economista Tânia Bacelar, que inicialmente também havia assumido a pasta interinamente, acumulando-a com a Secretaria de Planejamento, receber do então governador Miguel Arraes a missão de comandar a Fazenda de maneira oficial e permanente. Ela havia substituído o secretário Flávio Tavares Lyra, que não resistiu aos problemas de relacionamento com os fazendários. Era Carnaval e eles cumpriam uma agenda oficial, quando Arraes confidenciou que estava à procura de um novo secretário do Planejamento, pois Tânia continuaria na Sefaz-PE. “Você pacificou a Fazenda”, disse Arraes. Frase que a economista afirma jamais ter esquecido. O grande desafio como secretária foi o de construir o equilíbrio financeiro do Estado em um ambiente de hiperinflação. Para se ter uma ideia, em um dos meses do Governo Collor, já em 1990, a inflação fechou em 94%. Ela criou uma diretoria colegiada e o Conselho Financeiro, que trabalhava com vários cenários, indo do mais otimista ao mais pessimista. Nos pouco mais de dois anos e meio em que ficou à frente da Sefaz-PE, Tânia passou pelos desafios de enfrentar os planos econômicos Cruzado, Bresser e Collor I. A economista colocaria em prática a habilidade para buscar consenso em diversos episódios. Pernambuco vivenciava um período de ruptura política, com Arraes assumindo o poder após seguidos governos de direita alinhados com a ditadura militar. Além disso, o movimento sindical havia renascido com muita força em Pernambuco, como consequência dos avanços apresentados pela Constituição de 1988. Havia muita pressão por melhorias salariais por parte dos funcionários públicos, já que o cenário de hiperinflação desvalorizava as remunerações em uma velocidade impressionante.
O problema é que, já naquela época, os funcionários representavam a maior despesa do Governo. Tânia gastava horas para apoiar o então secretário do Trabalho, Romeu da Fonte, que virou o principal negociador junto ao movimento sindical. Ela sabia que tinha que negociar, que as reivindicações dos trabalhadores eram justas. Mas, naquele cenário, era impossível atender ao que eles queriam. Por outro lado, a secretária também sabia que, se conseguisse passar alguns meses sem ajustar os salários, obteria a folga no caixa que o Estado precisava. Como se tratava de um Governo eleito pouco tempo após a reabertura política, era preciso arbitrar, mas não de forma autoritária. O processo de construção da arbitragem era democrático e buscava o diálogo com todos. Estavam sendo construídas, naquele momento, as bases de uma nova relação política e os governantes precisavam dar o exemplo. Especificamente na Fazenda, havia um ambiente de constante reivindicação salarial, mas a categoria não possuía grande representatividade. Com três associações representativas - dos auditores, dos auditores auxiliares e dos agentes fiscais - não se formava uma unidade. Foi a própria Tânia quem acabou por fortalecer o papel do recém-criado Sindifisco, ao centralizar os debates salariais com os representantes do sindicato, ao invés de negociar de forma separada com cada associação. Ela não foi apenas a primeira secretária da Fazenda de Pernambuco. Na época em que conduziu a pasta, ela era também a única mulher a participar do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). Mas, em ambas as situações, afirma não ter sentido restrições de gênero. A secretária contava com o respaldo técnico de uma equipe muito respeitada dentro do Confaz. Quando Pernambuco falava, é porque tinha alguma coisa interessante a dizer. Na Secretaria, Tânia Bacelar montou uma diretoria somente com gente da casa. Ela sabia que a Fazenda era um lugar especial, que não era uma secretaria qualquer.
TécNicA DA cASA ASSUMe NO GOVerNO JArBAS Foram necessários quase 100 anos até que a Sefaz-PE tivesse a primeira secretária e, após o comando de Tânia Bacelar, mais 15 anos se passariam para que a pasta fosse mais uma vez liderada por uma mulher. Quem assumiu o comando foi uma técnica “da casa”. Era o ano de 2005, a segunda metade do segundo dos dois mandatos de Jarbas Vasconcelos no Governo de Pernambuco. E surgiu a necessidade de substituir o então secretário Mozart Araújo. Com uma trajetória na Fazenda desde a década de 1980, tendo ocupado cargos diretivos como a Contadoria Geral e