Revista Plano B Brasília

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8 22 14 24 20 28 8 Da prisão ao Planalto 13 Política ao Quadrado 14 Valdir Oliveira: um cearense com disposição para retribuir tudo que recebeu de Brasília 18 Falando em Saúde 19 Afinal, liberdade de expressão ou de agressão? 20 Uma profissional disposta a compartilhar conhecimento 22 Os projetos sociais de Laura Mbeng 24 Uma nova geração da política 26 Como anda sua Saúde Mental? 28 Mariana Camelo: “O rock me escolheu” 30 American Prime Steakhouse Surpreende os Paladares mais sofisticados Unidade Terraço Shopping 34 Paco Britto continua no governo Ibaneis 37 O poder sob a ótica feminina 38 Doenças Inflamatórias Intestinais 40 O alambique mágico pertinho de Brasília que se chama Cambéba 44 Uma lição da eleição 45 O Primeiro Golpe Militar: 15 de Novembro de 1889 48 Conselhos Regulamentadores ou Sindicatos Patronais? SUMÁRIO

EDITORIAL

Diretor Executivo Paulo Henrique Paiva

Diretor Administrativo Rócio Barreto

Chefe de Redação: Paulo Henrique Paiva

Colaboradores: Adriana Vasconcelos, Ana Beatriz Barreto, Romulo Neves, Luciana Lima, Renata Dourado, Paulo César, Wilson Coelho Design Grafico: Alissom Lázaro Redação: Adriana Vasconcelos Fotografia: Ronaldo Barroso Tiragem: 10.000 exemplares

Redação: Comentários sobre o conteúdo editorial, sugestões e criticas às matérias: planob@gmail.com Aviso ao leitor: acesse o site da Revista Plano B e tenha acesso a todo o conteúdo na íntegra, inclusive a Revista Digital. www.revistaplanob.com.br Janeiro/2023

Ano 01 – Edição 01 – R$ 14,90

Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores.

A Revista Plano B não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

O que esperar de 2023?

A primeira edição da revista Plano B chega aos nossos leitores praticamente junto com 2023, um ano que já começa tenso, com os brasileiros de olho na posse de Luiz Inácio Lula da Silva e seu terceiro mandato como presidente da República, depois de ter passado 580 dias de prisão em Curitiba, no auge da Operação Lava Jato.

Mesmo tendo ampliado para 37 o número ministros na Esplanada dos Ministérios, Lula acabou frustrando de certa forma o eleitorado feminino, que teve uma participação decisiva para sua vitória apertada no segundo turno das eleições presidenciais com Jair Bolsonaro.

Além do excesso de petistas nos principais postos do governo, Lula concedeu apenas uma das joias da coroa a uma mulher, com a nomeação de Nísia Trindade para o comando do Ministério da Saúde, pasta que teve nada menos do que 4 ministros diferentes na gestão de Bolsonaro em meio a uma pandemia.

Socióloga e pesquisadora oficial da Casa de Oswaldo Cruz, Nísia foi a primeira mulher eleita para presidência da Fiocruz e agora faz novamente história como a primeira mulher a comandar a pasta da Saúde no Brasil.

A despeito dos protestos cada vez mais perigosos por parte de manifestantes inconformados com a derrota de Bolsonaro, Lula conseguiu vencer seu primeiro desafio antes mesmo de sua posse e garantiu que o Congresso Nacional aprovasse a PEC da Transição.

Com isso, Lula poderá começar a cumprir uma de suas principais promessas de campanha: manter em R$ 600 o valor do Auxílio Brasil, que voltará a se chamar Bolsa Família, e ainda pagará um adicional de R$ 150 por cada filho de até 6 anos de idade.

Já o governador reeleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha , mesmo tendo feito campanha para Bolsonaro, conseguiu impedir, através da Polícia Civil do DF, um atentado a bomba no aeroporto Juscelino Kubitschek, idealizado por um empresário que viajou do Pará a capital federal para participar das manifestações em apoio a Bolsonaro.

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EXPEDIENTE

Da prisão ao Planalto

Confira os principais desafios que Luiz Inácio Lula da Silva terá em seu terceiro mandato como presidente da República

Dedicado a pesquisas sobre a Democracia Participativa e Eleições no Brasil, o analista político Rócio Barreto aponta os fatores que mais pesaram para que o presidente Jair Bolsonaro entrasse para a história como o primeiro chefe de Estado brasileiro que não conseguiu um segundo mandato, desde que a reeleição foi adotada no país. Ele ainda prevê dias desafiadores para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que assume seu terceiro mandato, mesmo depois de ser preso e condenado por corrupção.

Bolsonaro foi o primeiro presidente da República, após a redemocratização e a adoção do instituto da reeleição, que não foi reeleito. A que você atribui isso?

As pessoas votam no candidato à reeleição quando elas se sentem bem, quando estão se alimentando, trabalhando, tendo lazer. E com o governo Bolsonaro isso daí foi diferente.

Bolsonaro fez um governo que não agradou muita gente, o desemprego bateu recordes e a economia não funcionou

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da forma esperada para que as pessoas reconhecessem isso no bolso e no seu dia a dia. Isso foi agravado pela pandemia. Enquanto alguns gestores trabalhavam para minimizar os efeitos, Bolsonaro subestimou a força do vírus, o tratou como gripezinha, brincou e usou até em tom de deboche. E o resultado veio nas urnas.

O governo Bolsonaro não soube trabalhar conquistar ou compensar os eleitores. As pessoas não viam resultado em suas ações ou nas suas políticas públicas que melhorassem suas vidas. E tudo isso se refletiu nas urnas.

Além disso, ele propôs muita coisa na sua campanha eleitoral de 2018 que não conseguiu cumprir, acabou sem condições de levar adiante seu governo, mantendo, perdendo a credibilidade de parte do eleitorado.

Lula venceu as eleições sem a máquina e o presidente Bolsonaro ficou aquém do que poderia ter feito. Foi um presidente avaliado negativamente durante todo seu mandato, não conseguindo reverter esses números.

A má gestão da crise da pandemia, na economia e no emprego. E isso tudo acabou refletindo, consequentemente, em sua relação com as pessoas. Errou ao confrontar a Ciência e criou em diversas ocasiões crises institucionais com o Congresso Nacional e o Judiciário.

O que poderia ter sido feito para que Bolsonaro pudesse ser reeleito? Algum fator determinante?

Acredito que sua derrota decorre de um conjunto de fatores. Se tivesse tido uma relação melhor com o Congresso, governadores e prefeitos. Subestimou adversários, privilegiou um determinado grupo de aliados ideológicos e deixou parte da população alijadas do Estado. Isso o tornou frágil para se manter no cargo. Preferiu ignorar vários Brasis dentro do Brasil.

Discursos machistas, debochados, inconsequentes, além de sua pregação contra a urna eletrônica e a constituição. Brincou com a vida das pessoas com covid-19, demorou a comprar vacinas, subestimou a ciência, o poder das vacinas. Desacreditou as vacinas e incentivou muita gente a não se vacinar.

No momento em que acordou para tudo isso, já era tarde demais. O presidente Lula e o PT se aproveitaram o viés golpista do discurso de Bolsonaro. Eles ainda reforçaram a tese de que Lula foi alvo de uma perseguição política, uma narrativa que acabou prevalecendo e ganhando até a chancela do STF. Bolsonaro facilitou e deixou de ocupar os espaços necessários para garantir a sua reeleição.

Qual sua avaliação sobre a performance de Bolsonaro como presidente? Apesar da derrota, ele teve um

desempenho expressivo nas eleições 2022. A eleição foi muito mais acirrada do que as pesquisas eleitorais indicavam e reavivou no imaginário do eleitorado as acusações que levaram o ex-presidente Lula a ser preso e acusado de corrupção.

Em toda a gestão, sua performance foi pífia. Em vários momentos, seu desempenho ficou aquém do esperado pela sociedade, mercado e incompatível com o cargo de presidente da República. Em vez de governar, preferiu se manter como se estivesse em cima do palanque, falando para grupos específicos, em vez de estar tratando dos problemas efetivo dos brasileiros.

Em muitos momentos, sua atuação não teve a dimensão exigida para o cargo que ocupava. E o resultado disso apareceu nas urnas, perdeu parte dos apoios que teve junto ao eleitorado em 2018 e ainda foi alvo de um número recorde de pedidos de impeachment dos mais variados partidos, em grande parte por conta de seu comportamento, atitudes e gestos, como a decretação de sigilo de 100 anos sobre ações corriqueiras do governo, o que ajudou a aumentar o clima de desconfiança por parte do eleitor.

Bolsonaro foi eleito em 2018 ao conseguir encarnar o antipetismo, como o anti-Lula e anti-Dilma, com o discurso de

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que minha bandeira não é vermelha e defendendo uma pauta de costumes conservadora e em defesa de teses até mesmo inconstitucionais. Conseguiu atrair os votos dos antigos eleitores do PSDB e de outras legendas de centro esquerda.

Seu discurso começou a ganhar forçar especialmente após o impeachment da presidenta Dilma, em meio ao avanço da Operação Lava Jato, que culminou na prisão de Lula.

Surfou na crise petista, usando a narrativa do ‘Lula ladrão’, preso por corrupção. Porém, a maioria das pessoas não quer saber se um gestor é corrupto ou não, a maioria vota pela qualidade de vida que o governante pode lhe proporcionar ao longo de sua gestão.

Ao longo de seu mandato, com seus próprios tropeços e seu discurso com viés golpista, Bolsonaro acabou perdendo a narrativa de combatente da corrupção. Mesmo assim, ainda conseguiu forçar um segundo turno com Lula, mas o excesso de erros táticos e sua opção de ignorar alertas de aliados do Centrão, acabaram diluindo o poder da máquina federal na campanha. O resultado das eleições todos viram.

Diante do resultado do segundo turno, que garantiu a Lula uma vitória apertada, podemos dizer que

grande maioria não votou por gostar de A ou de B, mas por rejeitar mais um candidato do que outro. Isso coloca a governabilidade do país em risco?

O segundo turno foi criado justamente para que o candidato eleito, tenha de fato o apoio maioria do eleitorado. Mas em uma eleição com tantos candidatos à Presidência, os votos tendem a se pulverizar. Por isso, houve a opção de se es-

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tabelecer um segundo turno para as eleições majoritárias em cidades com mais de 200 mil eleitores, caso nenhum dos candidatos obtenha 50% dos votos válidos no primeiro turno.

A diferença pequena de votos entre Lula e Bolsonaro no segundo turno da disputa presidencial pode sim ter reflexos do governo do PT, reduzindo a margem de manobra do Executivo em negociações com o Legislativo, sem dúvida, já que metade da população não votou Lula.

O governo que será empossado em janeiro na pode perder de vista a insatisfação demonstrada por uma parte significativa do eleitorado com a eleição de Lula, o que pode sim representar um perigo para a governabilidade do país.

Os grupos de pessoas que até hoje estão acampadas em frente ao QG do Exército e quarteis, seja em Brasília ou em outros estados, ainda acreditam que podem reverter o resultado das urnas e desafiam o Estado de Direito, bloqueando estradas, defendendo a intervenção militar, reforçando o clima de tensão e a divisão que permanece latente na sociedade brasileira. O presidente Lula costuma ser muito hábil diante de adversidades e vem tentando apaziguar os ânimos desde que a transição foi deflagrada, em conversas e negociações intensas com o Legislativo e Judiciário, o que deverá lhe garantir os instrumentos necessários para cumprir uma de suas principais promessas de campanha: a manutenção dos R$ 600 de Bolsa Família, com o pagamento adicional de R$ 150 por cada filho em idade escolar. Seja com a aprovação da PEC Social ou a partir da liminar do Supremo que tira os gastos com o Bolsa Família do Teto de Gastos.

A situação é preocupante, porém acredito que o presidente Lula vai conseguir assegurar a governabilidade. Aliás, desde sua eleição, vem trabalhando intensamente e deve conseguiu ampliar sua base parlamentar no Congresso Nacional.

Hoje parte do PT e do Centrão já articulam um acordo de convivência para 2023. É Centrão e Lula sendo pragmáticos mais uma vez?

No jargão da política, há quem diga que o Centrão não se compra, apenas se aluga, o que por si só já mostra como funciona o seu pragmatismo.

O presidente Lula, ao longo de sua trajetória, mostrou o quanto também pode ser pragmático. Ele sabe tirar proveito de sua facilidade para conversar com qualquer tipo de pessoa, em qualquer ambiente, de forma direta e simples, que permite a qualquer interlocutor o entender perfeitamente. Tem uma habilidade incrível de estabelecer um canal de diálogo com diferentes setores da sociedade. E não perdeu tempo, já está entrou em campo e abriu as conversas com governadores, inclusive com os que não o apoiaram. Lula vai usar

do seu pragmatismo e do seu poder de oratória, de voz, de discurso e convencimento para que essas pessoas o apoiem.

Já Centrão gosta de estar ao lado de quem tem as chaves do cofre.

Quais os maiores desafios que o presidente Lula enfrentará?

As limitações orçamentárias despontam como um dos maiores problemas que o presidente Lula terá no seu mandato, ainda mais diante da lista extensa de promessas feitas ao longo de sua campanha eleitoral, o que exigirá em muitos momentos o aval do Congresso Nacional, e consequentemente do Centrão, para executar seus planos de governo. As eleições de 2022 deram a vitória ao presidente Lula, mas Bolsonaro conseguiu eleger muitos apoiadores fiéis que poderão dar trabalho ao novo governo do PT.

Um desafio grande será convencer parte desses parlamentares a apoiar seus projetos e aprová-los. Ele já teve uma prévia das dificuldades que poderá enfrentar a partir das primeiras negociações para a aprovação da PEC da Transição. Por isso, terá de usar toda sua habilidade para lidar com a parcela do eleitorado que segue fiel a Bolsonaro.

@rociobarretoDF
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Política ao Quadrado

Que estado, grupo ou cidade garantiu a eleição de Lula? Há muitas suposições, especialmente porque a diferença em relação a Bolsonaro no 2.o turno foi muito pequena, menos de 2% dos votos válidos, pouco mais de 2 milhões de votos. Apesar de Lula ter ganhado mais de 3 milhões de votos no 2.o turno, Bolsonaro cresceu em 7,1 milhões de votos.

Alguns dizem que a Bahia, com 3,75 milhões de votos de vantagem para Lula no 2.o turno, teria sido a responsável por sua eleição. O Ceará, com 2,17 milhões; Pernambuco, com 1,84 milhão e o Maranhão, com mais 1,6 milhão de vantagem para Lula foram, também, cruciais. Mas vale lembrar que mesmo nesses estados, Bolsonaro ganhou mais votos adicionais no 2.o turno do que Lula.

Para outros, o DF teria sido crucial, porque foi onde Lula mais cresceu percentualmente entre o 1.o e o 2.o turnos –12,3% - 80 mil votos a mais. Vale lembrar, porém, que, no DF, do 1.o para o 2.o turno, Bolsonaro cresceu mais: 14,4%. Além disso, em São Paulo, onde Lula cresceu apenas 9,8%, isso significou 1 milhão de votos a mais para Lula. Metade da vantagem final, diriam alguns.

Outros afirmam que o Piauí, onde Lula obteve o maior percentual de votos válidos tanto no 1.o (74,2%) como no 2.o turno (76,9%), é que foi o responsável pela vitória do petista. O estado, porém, tem apenas 2,6 milhões de eleitores, e essa vantagem significou “somente” 1 milhão votos de vantagem. A outra metade. Simone Tebet foi crucial para muitos, incluindo o presidente. Mas devemos lembrar que ela teve 4,9 milhões de votos. Muito mais, portanto, do que o crescimento de votos de Lula. Ou seja, nem todos os eleitores de Tebet seguiram sua candidata. Em seu discurso, Lula credita a entrada de Tebet na campanha à aliança com Alckmin. Ele, portanto, também, teria sido crucial. Outra análise aponta a diferença – calculada sobre estimativa de votos segregados por religião na última pesquisa Datafolha – de votos que Lula teria obtido entre os católicos – 10 milhões a mais de votos do que Bolsonaro – e entre aqueles sem religião – 5,9 milhões de votos a mais do que o atual presidente. Essas diferenças teriam neutralizado a vantagem de 14,7 milhões de votos que Bolsonaro teria tido entre os evangélicos. É um ângulo promissor de explicação, mas se trata de estimativa.

Seriam definidores os eleitores de algumas grandes capitais? Há Salvador, onde Lula abriu uma diferença de 630 mil votos; São Paulo, onde a vantagem foi de 450 mil votos;

Fortaleza, onde Lula ganhou com diferença de quase 250 mil votos; Recife, onde a margem foi de 125 mil votos; São Luís, também com 125 mil votos de margem; e Porto Alegre, onde Lula obteve 57 mil votos de vantagem. O problema dessa explicação é que, em todas elas, a margem de Lula foi menor no 2.o turno do que no 1.o, isto é, mesmo nessas cidades, ganhou menos votos adicionais do que o atual presidente.

Talvez a vitória se devesse à tradição de a população urbana votar mais à esquerda. Tampouco parece ser essa a explicação. A grande vantagem de Lula, segundo o TSE, foi nas cidades com menos de 50 mil habitantes, onde obteve vantagem de 6,2 milhões de votos. Lula também ganhou no somatório das cidades com mais de 1 milhão de habitantes –mas a diferença foi de apenas 0,6%, pouco mais de 100 mil votos. Foram as pequenas cidades que neutralizaram a vantagem de Bolsonaro nas cidades médias – de 50 mil a 1 milhão de habitantes - de 4,1 milhão de votos. Esse fenômeno ainda precisaria de uma análise mais aprofundada.

É valido afirmar que o Nordeste elegeu Lula. Foi a única região em que ele venceu no resultado agregado e com uma diferença tão grande que neutralizou as derrotas nas outras regiões. No Sul e no Centro-Oeste, por exemplo, teve menos de 40% dos votos. Lula venceu em todos os nove estados da região. Além deles, venceu em apenas mais quatro: Amazonas, Pará, Tocantins e Minas Gerais – este por margem mínima. Mas não se pode negligenciar o peso da clivagem por religião e também a votação de Lula nas pequenas cidades - que em parte coincidente com a divisão por regiões.

É possível afirmar também que quem garantiu a eleição de Lula foi a militância de seu partido, que desde o início, a despeito da imensa rejeição do candidato – demonstrada pela evolução da votação no 2.o turno – manteve a campanha intensiva mesmo em estados onde a situação era pouco promissora, casos de Santa Catarina e do DF, por exemplo. É certo que sem as imensas vantagens obtidas no Nordeste, teria sido difícil a vitória de Lula, mas, igualmente, sem os votos cativos da militância do PT em regiões amplamente apoiadoras de Bolsonaro, a conta não fecharia. Claro que o PT foi auxiliado pela ainda maior rejeição do atual presidente, mas isso já é assunto para outra coluna.

Rômulo Neves*
* Rômulo Neves é Professor de Ciência Política e Diplomata
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Valdir

Oliveira:

um

cearense

com disposição para retribuir tudo que recebeu de Brasília

Atual superintendente do Sebrae-DF, Valdir Oliveira se prepara para deixar o cargo no fim de dezembro, mas ainda como muita disposição para retribuir tudo que recebeu e conquistou na capital federal. Ele chegou a Brasília em julho de 1982, no auge da sua adolescência, o que lhe proporcionou acompanhar o boom do rock na cidade. Iniciou sua jornada em defesa das micro e pequenas empresas no antigo CEAG, que antecedeu o Sebrae, e sempre acreditou no grande potencial empreendedor da cidade.

Conte-nos, quem é o Valdir Oliveira? Fale um pouco sobre sua experiência como superintendente do Sebrae.

Sou cearense, torcedor do Fortaleza Esporte Clube, time que aprendi a gostar desde criança. Cheguei em Brasília às 10:30 da manhã do dia 27 de julho de 1982. Com 15 anos, vivi minha adolescência na Brasília dos anos 80, onde o rock e a liberdade eram as pautas da cidade. Como baterista e filho de um democrata assumido, apaixonei-me por Brasília no primeiro instante, quando vivi a derrocada da ditadura e as baladas que encantaram a minha geração, com inspiração da mais bela arte que já vi na vida: o nosso céu, o céu de Brasília.

Sou formado em Administração de Empresas e fiz duas pós-graduações em Economia na Fundação Getúlio Vargas. Iniciei minha jornada em defesa das micro e pequenas empresas quando ainda estava na universidade, momento em que fui selecionado para um estágio no antigo CEAG, que antecedeu o Sebrae, em 1986, quando o Plano Cruzado fracassou, deixando as pequenas empresas endividadas e (quando) precisávamos encontrar soluções fora do crédito para as micro e pequenas empresas de Brasília. Em março de 2011, 25 anos depois da minha experiência no CEAG, assumi a Superintendência do Sebrae no DF, de onde saí para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico em 2017, voltando ao comando do Sebrae no DF em 2019.

Em dezembro, encerrarei meu ciclo no Sebrae no DF. Com o sentimento de missão cumprida, como diz a poesia de Fernando Brant “Encontros e Despedidas”, eternizada na voz de Milton Nascimento: “o trem que chega é o mesmo trem da partida”. Paro na estação final do Sebrae no DF e sigo para a próxima estação, com a certeza de que fiz o melhor. Tive

muitas conquistas pessoais e profissionais e agora vou seguir para a próxima jornada.

Brasília sempre foi uma cidade de servidores públicos, comércio fraco e sem indústrias. Como é esse cenário hoje?

Brasília tem comércio forte e boas indústrias. Nosso maior problema é o desconhecimento dos próprios brasilienses sobre a verdadeira Brasília, a que abre e fecha seus negócios todos os dias em nossas Regiões Administrativas, que segura o sustento de muitas famílias e que, muitas vezes, tem o sacrifício do empreendedor na manutenção de quem produz e abastece o Distrito Federal - mesmo não sendo a principal pauta dessa cidade, muito menos sendo reconhecido pelos brasilienses como protagonistas da construção da nossa cidade.

Brasília foi construída para ser a capital do país e, como tal, tem no serviço público o seu principal empregador e consumidor. As compras governamentais movimentam bilhões de reais e os salários dos servidores públicos garantem a maior renda per capita do Brasil, garantindo-nos o consumo privilegiado, que deixa nosso comércio e serviço muito fortes, tornando-os grandes indutores da nossa economia.

Brasília terá sempre o serviço público como protagonista importante de nossa economia, mas isso nunca deixará nos-

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Créditos: Bruno Spada/Arquivo Sebrae
EMPREENDEDORISMO

so setor privado fraco. Ao contrário, esse é o nosso diferencial para impulsionar a nossa economia e nos fazer grande com potencial para que muitos realizem o sonho de ter seu próprio negócio.

Com aumento significativo da população, criação de novas cidades, ampliação do Entorno (Região Metropolitana do DF), a cidade de servidores públicos - e apenas poucos serviços - deixou de existir? O que houve?

O crescimento de Brasília tem se pautado na ampliação do setor privado, porque o setor público tem diminuído a sua capacidade de ser o provedor de empregos no Distrito Federal, como foi a realidade no início da nossa capital. A dinâmica do cotidiano de Brasília gera oportunidades diárias que são aproveitadas e tornam-se realidade em negócios espalhados pelas Regiões Administrativas do DF, ampliando as soluções privadas, como alternativa das próximas gerações. Nossos jovens precisam compreender que o setor privado é uma alternativa viável e uma oportunidade real para quem quer construir sua vida e buscar o sustento de sua família.

Há mercado empreendedor no DF hoje? Quais?

Sim. O segmento dos serviços é o de maior potencial no nosso mercado. A nossa renda per capita privilegiada garante um consumo que, em muitos lugares, é supérfluo, mas que, aqui, se torna uma grande opção, garantindo faturamento para nossos empreendedores.

Nosso mercado tem grande potencial no comércio e serviço, mas a realidade econômica do Distrito Federal facilita iniciativas no campo da indústria e do agronegócio que aqui se desenvolvem, porque nossa distribuição geográfica facilita a aproximação entre consumidor e produtor de Brasília.

Hoje, um dos maiores problemas do Brasil - e não diferente no DF - é a falta de emprego, seja por falta de oportunidades e/ou qualificação. O Sebrae no DF tem projeto para isso?

A essência do trabalho do Sebrae é a geração de emprego. O fomento ao empreendedorismo, aos pequenos negócios, é o estímulo à geração de emprego e distribuição de renda. Os pequenos negócios foram responsáveis pela geração de 70% dos empregos no último ano e representam aproxima-

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Créditos: Bruno Spada/Arquivo Sebrae
EMPREENDEDORISMO

EMPREENDEDORISMO

damente 30% do PIB. Não há o que se falar em desenvolvimento com geração de emprego e distribuição de renda, sem a pauta principal ser o fomento aos pequenos negócios.

Qual o maior desafio, hoje, do Sebrae no DF?

Ampliar a sua base de atendimento através dos canais/ soluções digitais. Fazer a atuação do meio digital alcançar os pequenos negócios nas regiões administrativas.

Hoje, o estilo de consumo é diferente de 20 ou 30 anos atrás. Os empreendedores têm acompanhado essa mudança?

A decisão de consumo hoje é influenciada pela comodidade e agilidade. Quem não incorporar isso em seus modelos de negócios estará perdendo mercado. Nossos negócios têm evoluído nisso, mas ainda há muito a ser construído.

O Estado tem acompanhado essas mudanças e qualificado os empreendedores, de modo que eles possam atender esse novo estilo?

A grande máquina de qualificação de empreendedores no Brasil é o Sistema Sebrae. O papel do Estado é sinérgico ao Sistema Sebrae, complementando com a desburocratização do ambiente empreendedor e a oportunidade do crédito de fomento.

O que sugere aos jovens que estão à procura de oportunidades de trabalho e/ou de algo para empreender hoje?

Nossos jovens precisam se qualificar para realizar o seu sonho. Se o empreendedorismo é o sonho, que busquem as oportunidades de capacitação e se preparem de forma adequada para enfrentar o mercado. Mas o principal é acreditar nos próprios sonhos. Quem acredita, realiza e tem uma vida muito mais feliz.

Na sua visão, qual a maior dificuldade do Governo Bolsonaro em relação à geração de novos empregos no Brasil?

(O governo) Não soube enfrentar as crises que cruzaram o caminho da sua gestão. Mais importante que o conhecimento intelectual é a capacidade de lidar com as adversidades. O governo Bolsonaro fracassou no enfrentamento dessas crises porque não teve a inteligência emocional para vencer obstáculos. O segredo de uma boa gestão pública é a empatia. Sentir a dor do outro. Quem sente a dor, resolve os problemas de quem precisa de atendimento. Governo que não atende as pessoas não serve para ser governo. Faltou empatia aos mais pobres no governo Bolsonaro. O preço foi a

derrota nas eleições. Nenhuma solução econômica ou política pode ser tomada sem que os mais pobres sejam atendidos. O liberalismo não combina com o militarismo. O militar é nacionalista por formação, não vai permitir que o mercado seja o condutor das soluções. O casamento entre os militares e o liberalismo criou um país em que tivemos a desconstrução do modelo vigente, mas não foi colocado nada no lugar. Criamos no Brasil um liberalismo de bravata, em que desconstruímos o Estado, desqualificamos o Estado, mas não construímos nada para substituir o que foi desmontado. Nossos liberais mostraram uma característica autofágica. Querem acabar com o Estado, mas não sobrevivem sem ele, porque querem um Estado Provedor. O maior erro do Governo Bolsonaro foi a formação do próprio Governo e o despreparo para atender os que mais precisam dele.

Qual o Plano B do Valdir?

Quem não vive para servir, não serve para viver. Está na hora de retribuir para Brasília um pouco do que essa cidade me deu. Fechamos um ciclo, vamos iniciar outro. O trem vai continuar para a próxima estação e eu estarei pronto para seguir a minha viagem.

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Créditos: Bruno Spada/Arquivo Sebrae

Falando em Saúde

Seja bem-vindo, leitor! Iniciaremos nesta edição uma série de artigos sobre saúde, sob o ponto de vista de uma médica alopata, de formação tradicional, mas com muito interesse e algum estudo em psicologia, psicossomática, filosofia e outras humanidades. Quando fui convidada a escrever esta coluna, refleti bastante sobre o direcionamento do conteúdo que abordaria aqui. Decidi que, ao invés de elaborar textos técnicos sobre doenças, meu foco seria sobre promoção de saúde. Essa é uma tendência da medicina contemporânea. Recentemente passamos a tomar contato, através dos meios de comunicação, com novos termos como Medicina Integrativa e Medicina do Estilo de Vida, que transcendem as divisões tradicionais das especialidades médicas.

A Medicina do Estilo de Vida é a tradução literal de “Lifestyle Medicine”, um termo cunhado pela Universidade de Harvard ao criar um curso de especialização que aborda a prevenção e tratamento das doenças mais prevalentes da atualidade como diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, neurológicas e alguns cânceres. São propostas reflexões sobre dieta, exercício físico, cessação de tabagismo e etilismo, higiene do sono, melhora nas interações sociais, manejo do stress e promoção de hábitos saudáveis, tudo com fundamentação científica e com muito conteúdo emprestado da Psicologia Positiva. Esse curso, muito bem pensado, responde a uma demanda da nossa sociedade em plena transformação. Explico: com a melhoria das condições de saúde da população, maior acesso aos serviços de saúde, aos exames diagnósticos e ao tratamento, assim como maior acesso à informação, as doenças são diagnosticadas muito mais precocemente.

“Essa é a medicina do futuro, na qual temos que mirar. Discutir, fundamentar em evidências científicas e divulgar as novas ações de saúde é essencial, pois sua implementação depende de mudanças mais profundas da sociedade, como alteração das relações de trabalho, dos meios de produção, da mentalidade e dos hábitos individuais”

Exemplificando: é muito raro encontrar um indivíduo com um quadro de hanseníase ou sífilis avançada em nosso meio, como se via no passado. O quadro clínico exuberante, próprio da fase avançada dessas doenças, agora só é visto em livros de medicina. Portanto, deixamos de diagnosticar doenças avançadas para detectá-las em fase precoce. Uma grande parte da demanda dos serviços de saúde, hoje, é relacionada ao rastreamento de doenças. Pratica-se, até mesmo no SUS, o rastreamento do câncer de mama, de colo de útero, o controle da hepatite B e C e do câncer de intestino, da próstata e do fígado. Na medicina privada, já é comum o “dia do check-up”, em que o usuário chega a um hospital de manhã cedo e sai à noite tendo realizado exames preventivos dos pés à cabeça.

Uma grande questão se coloca acerca do aumento exponencial de custo que essa estratégia gera para as fontes mantenedoras, mas ela acaba resultando, indubitavelmente, na melhoria da saúde individual e coletiva. A próxima etapa, em termos de promoção de saúde, é a mudança do estilo de vida. Essa é a medicina do futuro, na qual temos que mirar. Discutir, fundamentar em evidências científicas e divulgar as novas ações de saúde é essencial, pois sua implementação depende de mudanças mais profundas da sociedade, como alteração das relações de trabalho, dos meios de produção, da mentalidade e dos hábitos individuais. Faço o convite para que o leitor participe comigo desse movimento. Até breve!

* Luciana Campos é mestre em Ciências Médicas pela USP, gastroenterologista atuante na esfera pública e privada e professora do curso de Medicina do CEUB.

Luciana Campos *
18 SAÚDE

Afinal, liberdade de expressão ou de agressão?

Entre os diversos benefícios trazidos pela internet, estão as redes sociais, uma nova plataforma para troca de informações e, principalmente, opiniões, que impactaram profundamente nas formas de comunicação até então utilizadas.

Devido ao seu potencial de alcance e ao baixíssimo custo, essas redes são capazes de aproximar pessoas, grupos e de disseminar informações a um número grande de usuários em diversos locais, sendo utilizadas, assim, para a divulgação de trabalhos de diversas personalidades. De artistas famosos a influencers e youtubers.

Da mesma forma, ocorrem a disseminações inconsequentes, como o boato que levou à morte por linchamento de Fabiane de Jesus, em 2014, acusada de utilizar crianças em rituais de magia negra.

Outro segmento que vem fazendo amplo uso das redes sociais é o político. Nem sempre da forma mais adequada, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos, em 2016 e no Brasil, nas eleições de 2018 e 2022, em que as redes sociais serviram de plataforma para a disseminação de fake news, visando criar um ambiente de medo, atentar contra a honra, difamar e caluniar oponentes antes e durante as corridas eleitorais.

Ainda se utilizando de notícias inverídicas, temos visto o impulsionamento de manifestações por todo o país bloqueando estradas, pedindo intervenção no sistema eleitoral, destituição de ministros e a anulação dos resultados das eleições.

Essas falsas notícias são espalhadas tanto por pessoas físicas, que as enxergam como as verdades que querem ouvir, como por sites que se dizem jornalismo independente, buscando se identificar como não participantes do “sistema”, e que divulgam a “verdade” sem interesses escusos, angariando credibilidade junto àqueles que buscam por opiniões que corroborem seus pensamentos.

Tudo isso sob o manto da liberdade de expressão garantida pela constituição federal sem, no entanto, mencionarem, intencionalmente, que há um limite para essa liberdade. Que ela permite muito, mas não permite tudo.

Pela nossa constituição, em seu Artigo 5 , podemos destacar os incisos abaixo:

“IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”

“IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”

Ou seja, ao passo que deve ser garantida a liberdade de expressão em suas diversas formas de manifestação, também deverá ser evitado o subterfúgio do uso dessa liberdade para disseminar informações deturpadas ou falsas para atingir interesses pessoais, políticos e econômicos.

Surge aí, então, o papel da regulação que, segundo o dicionário Aurélio, tem a função de “[...] regular, de estabelecer normas [...]”, que visem pacificar a utilização das redes sociais, sendo muito diferente do que apregoam como censura que, segundo o mesmo dicionário, significa “[...] ação de controlar qualquer tipo de informação, geralmente através de repressão à imprensa”.

Caberá ao legislativo e ao judiciário, com ampla participação popular, atuarem para estabelecer e assegurar, o que é danoso, o limite entre liberdade e agressão, bem como preservar o limite entre o interesse coletivo e individual nas redes sociais, assim como é garantido no mundo físico.

* Wilson Coelho é especialista em Políticas públicas de Saúde pela UNB, e Informática em Saúde pelo IEP-HSL e professor-tutor na Faculdade Unyleya

Wilson Coelho*
19 POLÍTICA
“[...] ação de controlar qualquer tipo de informação, geralmente através de repressão à imprensa”

Uma profissional disposta a compartilhar conhecimento

A jornalista e consultora Adriana Vasconcelos espera assim ajudar a ampliar a presença feminina em espaços de Poder

São 34 anos acompanhando o Poder de perto, sendo 24 deles como jornalista especialista em Política nas redações do Correio Braziliense , Gazeta Mercantil e O Globo. Nos últimos 10 anos, a jornalista formada pela Universidade de Brasília (UnB), Adriana Vasconcelos mergulhou de cabeça no mundo da Consultoria em Comunicação Estratégica, quando decidiu abrir a própria empresa em março de 2012: a AV Comunicação Estratégica .

Entre dezembro de 2021 e julho deste ano, essa experiente jornalista e consultora __ nascida e criada em Brasília, uma autêntica “Calanga do Cerrado”, como ela mesmo gosta de se apresentar __ prestou consultoria para nada menos do que 3 pré-candidatos à Presidência da República , que abortaram a missão ao longo do caminho por razões diferentes, mas acabaram eleitos para outros cargos: Eduardo Leite , (r)eleito governador do Rio Grande do Sul; Sergio Moro, senador eleito pelo Paraná; e Luciano Bivar, reeleito deputado federal por Pernambuco.

Para sua frustração, Adriana Vasconcelos acompanhou de longe o desfecho da campanha presidencial deste ano,

com os olhos voltados especialmente para o desempenho da senadora Simone Tebet , para quem já havia prestado consultoria durante sua campanha à Presidência do Senado, em janeiro de 2021 , em plena pandemia.

Como uma testemunha privilegiada da história política brasileira das últimas 3 décadas, Adriana Vasconcelos co-

20 ENTREVISTA
Encontro de lideranças femininas durante a campanha de Tebet à presidência do Senado com Luiza Trajano Preparando pré-candidatas do Cidadania

meçou a se incomodar com a forma que as mulheres eram tratadas dentro da política, especialmente durante os quase 7 anos que coordenou a Comunicação Nacional do PSDB, de 2012 a 2018.

Foi quando essa inquieta sagitariana se aproximou do segmento feminino tucano, então presidido pela ex-prefeita da Chapada dos Guimarães e ex-deputada federal Thelma de Oliveira .

Logo depois de Solange Jurema , a ex-ministra da Mulher do Governo FHC , substituir Thelma na presidência do Secretariado Nacional do PSDB-Mulher, Adriana Vasconcelos foi contratada para coordenar também a Comunicação do segmento feminino tucano.

Permaneceu no posto até julho de 2020, assessorando também Yeda Crusius, ex-governadora do Rio Grande do Sul, ex-deputada federal e ex-ministra . Ajudou a organizar cursos de capacitação patrocinados pela Fundação Konrad Adenauer (KAS) e, em 2018, comemorou com as tucanas a eleição da maior bancada feminina da Câmara dos Deputados com 8 deputadas eleitas.

Confira a entrevista que fizemos com Adriana Vasconcelos!

Plano B - Qual sua avaliação sobre o desempenho das mulheres nas eleições de 2022?

Adriana - “Acho que as mulheres saem desta eleição em um novo patamar. Isso ficou claro quando 2 das 4 mulheres que disputaram a Presidência da República este ano __ aliás, um número recorde no país __ conseguiram virar protagonistas nos debates entre os presidenciáveis e incluíram as demandas femininas na pauta nacional. Terceira colocada na corrida presidencial, Simone Tebet seguiu como protagonista também no segundo turno, após anunciar apoio ao ex-presidente Lula . Por fim, assistimos o fortalecimento das lideranças femininas que chegam ao Congresso Nacional. Ela chega batendo um novo recorde, pois pela primeria vez terá 91 deputadas federais, sendo que 9 delas foram as mais votadas em seus respectivos estados”.

Plano B - De qualquer forma, essa nova bancada feminina ocupará apenas 18% das cadeiras da Câmara, bem abaixo da cota de 30% de incentivo às candidaturas femininas para as eleições proporcionais...

Adriana - “Sem dúvida, ainda é baixo. Mas seguimos avançando, o que não pode deixar de ser comemorado. Ainda mais em um país onde a conquista do direito de uma mulher votar e ser votada se deu há apenas 90 anos. Um país patriarcal e com um machismo arraigado, muitas vezes, à nossa pró-

pria criação. Dobramos, o número de governadoras eleitas. Serão 2 a partir de 1o de janeiro: Fátima Bezerra (RN) e Raquel Lyra (PE). Teremos outras 6 vice-governadoras no: Acre, Ceará, DF, Pernambuco, Pará e Santa Catarina”.

Plano B - Nesta campanha, você acabou prestando consultoria para 3 candidatos à Presidência que acabaram morrendo na praia. Você ficou frustrada?

Adriana - “Eu diria que os 3 (Eduardo Leite , Sergio Moro e Luciano Bivar) acabaram atropelados pelos interesses de seus próprios partidos. Nos 3 casos, minha principal tarefa foi apagar incêndios. Depois de acompanhar de perto todas as disputas presidenciais de 1994 até 2018, assistir de longe o desfecho de 2022, eu diria que foi frustrante sim. Mas me permitiu, de qualquer forma, prestar consultoria para duas candidatas no DF para o Senado e outra para Câmara dos Deputados”.

Plano B - Qual será o seu Plano B? Adriana - “Minha ideia é compartilhar com nossos leitores a avaliação do cenário político sob o ponto de vista feminino. Meu próximo projeto é organizar o primeiro encontro da atual bancada feminina da Câmara com as novas deputadas eleitas que assumirão no ano que vem. Muitas são novatas e precisarão de ajuda, orientação, para sobreviverem ao ainda masculino mundo do poder. Foi por isso que aceitei ser consultora da startup Quero Você Eleita , criada em 2020 pela advogada Gabriela Rollemberg e que tem como meta contribuir para que mais mulheres sejam eleitas e consigam exercer bem seus mandatos”.

21 ENTREVISTA
Com as ex-ministras Wanda Engel, Yeda Crusius. Aspasia Camargo e Solange Jurema, durante o período que coordenou a Comunicação do PSDB Mulher Nacional

RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

Os projetos sociais de Laura Mbeng

A solidariedade e empatia da embaixatriz de Camarões no Brasil diante dos desafios enfrentados pelos brasilienses durante a pandemia

Com uma alegria contagiante e grande carisma, a embaixatriz de Camarões no Brasil, Laura Mbeng, compartilha com nossos leitores parte da experiência que vem tendo no país e dos projetos sociais que toca ao lado de outras esposas de Chefes de Missões Diplomáticas que moram em Brasília. Ela ajudou a coordenar um trabalho de apoio às vítimas da Covid durante a pandemia em parceira com o Governo do Distrito Federal.

Nos fale um pouco da experiência da embaixatriz de Camarões no Brasil.

Posso dizer que estamos aqui para ajudar as pessoas, incluindo aquelas que eu não conheço. Trabalho para ajudar também os que precisam. Brasília é uma cidade onde tem muitas coisas para fazer.

A senhora não exerce somente o papel de embaixatriz, mas assumiu também um trabalho social, com atividades extras.

Vim para o Brasil como embaixatriz para apoiar meu marido e projetos que ele faz aqui, para mostrar para as pessoas do Brasil a cultura do meu país, mostrar mais sobre Camarões em todos os aspectos. Com outras esposas dos chefes de missões diplomáticas, cumprimos uma missão social, porém, eu também tenho uma formação profissional de dentista. Portanto, eu tento igualmente ajudar as pessoas a partir da minha experiência.

Quais os projetos sociais que mais estão em destaque?

Nossos projetos sociais são vastos, em diferentes níveis e esferas. Por que projetos sociais? Esses projetos (que estão em escolas, hospitais, lares, instituições) ajudam o dia a dia das pessoas e isso é um aspecto muito importante.

Sou membro de dois grupos diferentes aqui no Brasil: o das esposas de chefes de Missões Africanas em Brasília e o

das esposas de todos os chefes de Missões Diplomáticas no Brasil. Os dois grupos têm projetos diferentes, porém a maioria dos projetos está vinculada a áreas sociais.

A Embaixada de Camarões concedeu algum material contra a Covid para o GDF. Como foi feito esse trabalho?

A ideia foi de juntarmos iniciativas comuns para combater a pandemia COVID-19. Assim, decidimos sensibilizar as diferentes embaixadas africanas em Brasília para que podermos confeccionar as cestas básicas e oferecê-las, com o apoio do GDF, às pessoas que necessitavam.

Conte-nos um pouco sobre Camarões.

Camarões é conhecido como um conjunto de toda a África num país. Camarões é a África em miniatura, existe muitas etnias, tem 250 dialetos. Temos processos históricos

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muito parecidos com os do Brasil, devido ao descobrimento do país por Portugal, a ocupação estrangeira da França e da Inglaterra. É por isso que a maioria da população fala inglês ou francês.

Como vocês divulgam Camarões hoje? Como é o turismo lá?

Do ponto de vista turístico, Camarões é um destino excepcional. Tudo o que você pretende encontrar na África existe lá. Temos diferentes biomas como Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica. A vegetação é excepcional, a fauna é única, com diferentes categorias de animais. Além disso, o povo camaronense é muito caloroso e receptivo.

Quantos países usam a mesma moeda de Camarões?

Quatorze países da África Central e da África de Oeste usam essa moeda. Apesar da flutuação para cima e pra baixo, o franco CFA permanece sendo um vigor.

Nos conte um pouco sobre o evento que senhora organizou em Brasília.

O evento organizado chama-se BTFW (Brasilia Trends Fashion Week). Na minha opinião, moda e cultura andam juntas. Uma das minhas atribuições, das minhas funções como embaixatriz, é divulgar a cultura camaronesa aos brasileiros. A BTFW deu a Camarões, em particular, e à África, em geral, a oportunidade de mostrar um pouco da diversidade Camaronesa/ Africana.

RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

Abriu portas aos talentos coletivos, às competências, às sementes daquilo que consideramos o produto final, a moda. Foi uma grande oportunidade. Brasil e Camarões têm algumas singularidades comuns no setor da moda, devido ao fato do Brasil ser muito extenso, sendo um país tropical. Na Bahia, por exemplo, tem muita coisa semelhante: comida, roupa, dança, etc.

E os projetos futuros da senhora como embaixatriz, como chefe desse grupo de mulheres que conjugam o mesmo objetivo?

O futuro é sempre seguir em frente. Para continuar alcançando e apoiando a gente onde pudermos.

Gostamos de trabalhar com projetos em Brasília e na periferia. Isso nos ajuda a trabalhar em muitos projetos ao mesmo tempo.

Laura não faz nada para deixar sua marca, deixar nome, faço porque gosto e para ajudar quem precisa. Sempre chamo outras esposas dos embaixadores para trabalharmos juntas, para ajudar e mostrar que podemos fazer mais, além exercer um trabalho social.

Como é morar no Brasil, em Brasília?

Ah muito bom. Tudo aqui é bom. Gosto do futebol maravilhoso. Gosto muito do clima de Brasília, das pessoas, da comida...De todos os lugares onde eu já morei como esposa de diplomata, o Brasil é o favorito.

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ENTREVISTA POLÍTICA

Uma nova geração da política

Após fazer história como o senador mais jovem da história do Brasil, Irajá Silvestre foi eleito este o melhor parlamentar de Tocantins no Congresso

Apopulação de Tocantins elegeu Irajá Silvestre como o senador mais jovem da história do Brasil em 2018. Antes disso, exerceu por dois mandatos na Câmara dos Deputados, onde exerceu o posto de presidente da Comissão de Agricultura. Este ano, ele disputou, sem sucesso, o cargo de governador do estado, mesmo assim, encerra a atual legislatura como o melhor parlamentar do Tocantins no Congresso Nacional, de acordo com o Ranking dos Políticos, uma iniciativa da sociedade civil que avalia senadores e deputados federais em exercício. Ele segue os passos da mãe, a também da ex-presidente da CNA e ex-ministra da Agricultura no governo de Dilma Rousseff, a senadora Kátia Abreu, que conclui seu mandato no fim deste ano. Suas prioridades no Legislativo sempre foram a juventude e a melhoria dos serviços de Saúde. Defensor do municipalismo, considera que esse é o caminho para alavancar a qualidade de vida dos brasileiros nas cidades, assegurando a modernização da economia e estimulando a produção de alimentos.

O senhor concorreu ao governo do Tocantins, porém só anunciou sua pré-candidatura a poucos dias da campanha. Esse pode ter sido esse um dos fatores para não ter tido êxito?

Nossa trajetória foi muito bonita. Fizemos uma campanha limpa, respeitando a Legislação Eleitoral e apresentando propostas para o Tocantins retomar o caminho do crescimento. Nosso estado merece um governo novo, decente e preocupado com as pessoas em primeiro lugar, por isso, aceitei esse desafio, por querer o melhor para a nossa gente e por acreditar que é possível construir uma nova história.

O Tocantins é um dos Estados onde muitos Governadores foram cassados, a que o senhor atribui esse ‘fenômeno’?

À falta de respeito aos tocantinenses e do cumprimento da legislação.

O governador de Tocantins, que assumiu o governo esse ano, ganhou as eleições. Acredita que ele termina o mandato?

Espero que o candidato eleito preste contas à Justiça Eleitoral das investigações das quais é alvo por abuso de poder político e econômico. Espero também que demonstre respeito pelos tocantinenses, pois esta é a postura que se espera de um governador.

Na qualidade de agente político e de cidadão, me manterei vigilante às ações da gestão estadual, liderando uma oposição propositiva e responsável, servindo aos interesses do povo do Tocantins.

Na campanha o senhor o acusou de contratar pessoas sem amparo na legislação, inclusive acionou a Justiça, acredita que isso possa ser um fato impeditivo de não terminar o mandato?

Torço e trabalharei muito para que o nosso Tocantins dê certo e farei tudo o que for possível para isso acontecer! Os tocantinenses merecem um governo trabalhador com começo, meio e fim, que não envergonhe nossa população, como tem acontecido nos últimos 16 anos. Sobre as investigações em curso, caberá à Justiça Eleitoral dar a palavra final aos fatos apurados.

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O seu partido e o senhor, particularmente, apoiam o presidente Lula. O senhor até faz parte da transição. Qual sua avaliação? Haverá governabilidade suficiente para manter os projetos e propostas anunciados na campanha, haja vista o Congresso elegeu muitos parlamentares da extrema direita?

O presidente Lula já disse que não pode errar e nós vamos apoiar as boas ações do novo governo para ajudar o Brasil a superar esse momento difícil na economia e voltar a gerar empregos. Assim, nosso País voltará a ser respeitado pela comunidade internacional.

Nessa semana o senhor levou ao presidente eleito Lula um projeto de sua autoria, que dá incentivos as empresas que abrirem espaço para jovens no primeiro emprego. Isso ajudará a reduzir o percentual dos jovens que nem estudam, nem trabalham?

Infelizmente, o Brasil tem atualmente mais de 17 milhões de jovens que não trabalham nem estudam.

Levei ao presidente eleito minha preocupação com o desemprego entre os jovens e ressaltei que já temos aprovado no Senado um projeto de minha autoria que cria a Nova Lei do 1 Emprego (PL 5.228/2019).

Esse projeto, batizado de Lei Bruno Covas, em homenagem ao ex-prefeito de São Paulo, cria incentivos para empresas que abrirem as portas do mercado de trabalho para jovens sem experiência profissional.

Mas precisamos não apenas de empregos. Precisamos retomar os programas de ensino técnico e profissionalizante, fazer parcerias com empresas de tecnologia para levar oficinas para comunidades carentes, oferecer bolsas de estudo em universidades, criar eventos culturais, enfim, precisamos colocar a juventude no centro das políticas públicas do novo governo.

Algum projeto na sua vida parlamentar (Câmara e Senado) que lhe enche os olhos e o faz acreditar na vida pública?

Eu sempre acredito e acreditarei na vida pública como instrumento de transformação. O que me enche os olhos é

poder ajudar os tocantinenses levando obras e serviços para melhorar a vida nas cidades.

Aceitaria um cargo no primeiro escalão do Governo Lula?

O meu objetivo é cumprir o mandato e honrar os tocantinenses com muito trabalho no Senado Federal.

Quais projetos futuros? Cargos eletivos? Qual esfera?

Quero ajudar o novo governo no Senado na aprovação de projetos para destravar nossa economia, fazer o Tocantins e o Brasil voltarem a crescer e a gerar empregos.

Pretende ser candidato ao Governo do TO em 2026?

Minha prioridade neste momento é seguir ajudando o Tocantins em Brasília. Falar em eleição neste momento não faz sentido. A população quer resultados. Quer ser atendida nos postos de saúde. Quer ter trabalho para viver dignamente. Quer escola e creches funcionando. Quer mais segurança. A eleição ficou para trás e agora precisamos trabalhar muito para ajudar o Brasil. E tenho esperança de que vamos virar essa página e voltaremos a ter dias melhores para todos.

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Como anda sua Saúde Mental?

Apandemia nos trouxe inúmeros aprendizados. Em geral, são nos momentos mais difícieis da nossa existência e da humanidade que conseguimos enxergar o que até então vivia nas sombras de nós mesmo.

Pudemos ver, com uma lupa e um murro no estômago, o que já sabíamos: as diferenças sociais do nosso país são gritantes. Berram em baixo das pontes, em frente aos mercados, em barracas mal montadas, nos sinais, nas ruas....

Por outro lado, enxergamos o lado bom do ser-humano, que ainda consegue se compadecer com a dor do outro.

Várias pessoas se uniram para arrecadar e distribuir alimentos, roupas, abraços, palavras de acalanto...

Aos poucos, fomos abandonando as máscaras, a falta de ar, os medos do toque, de perdermos nossos entes queridos, de morrer de um dia para outro...

A psicologia e a psicanálise nos ajudam e percorrer essa trajetória.

Costumo dizer que fazer análise ou terapia é para os fortes, para os que tem coragem de mergulhar em si mesmo, coragem para ver as próprias feridas, sentir a dor sem anestesia, cuidar delas e se curar.

Conhece-te a ti me smo e ganharás o teu mundo.

Para os que estão iniciando nesse processo, diria que um dos primeiros passos para autoconhecimento é fazer uma pequena lista do que você realmente gosta de fazer.

“Aos poucos, fomos abandonando as máscaras, a falta de ar, os medos do toque, de perdermos nossos entes queridos, de morrer de um dia para outro...”

Mas, ficou uma lição extremamente importante: precisamos cuidar da nossa saúde mental.

Os números de depressão, de ansiedade e de várias outras síndromes e transtornos explodiram, em todo o mundo.

Cuidar da nossa mente não é luxo ou frecura: é uma necessidade.

As doenças que atingem nossa alma dão sinais, muitas vezes sutis, mas que precisam ser ouvidos.

A famosa frase : “Conhece-te a ti mesmo”, escrita na porta de entrada do Templo de Delfos, na Grécia Antiga, nunca se fez tão atual.

Mas, como fazer esse percurso interno, solitário, tantas vezes doloroso?

Retirando “literalmente” nossas máscaras, reconhecendo as personas necessárias que criamos para sobreviver na sociedade, conhecendo nossas melhores qualidades e nossos piores defeitos.

Separe o que você faz para seu companheiro ou companheira, filhos, irmãos, familiares ou amigos. A pergunta é: o quê você gosta de fazer?

Respondida essa pergunta, tente se priorizar mais, faça as coisas que realmente lhe dão prazer.

Se você ainda não sabe, se redescubra: Quem sabe iniciar um curso de pintura, de massagem, se matricular em uma aula de dança, aprender a tocar um instrumento, uma nova língua.... as possibilidades são inúmeras.

Só não perca a esperança em você e na vida.

Cada dia é um recomeço.

Aprender a renascer, mesmo com as feridas da alma, não é fácil, mas é possível. E às vezes, esse renascimento vem de uma maneira inesperada, afinal, quem pode prever as surpresas da vida?

* Renata Dourado é formada em Jornalismo pelo Uniceub e trabalha na TV Bandeirantes há mais de 13 anos. Atualmente, apresenta o Band Cidade Segunda Edição, jornal local, que vai ao ar, ao vivo, de Segunda à Sexta, às 18h50. Também apresenta o Band Entrevista, que vai ao ar, aos sábados, às 18h50.

Formada em Psicanálise e Mestranda Especial da UNB em psicologia clínica.

Renata Dourado*
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Mariana Camelo: “O rock me escolheu”

Mesmo assim, admite ainda ser desafiador o universo do rock para uma mulher

Cantora, compositora e instrumentista, Mariana Camelo iniciou sua carreira musical em meados de 2005, aos 14 anos de idade. Lançou seu primeiro disco autoral em 2013, intitulado “Contradição e outras estórias”, e virou mais uma referência do rock raiz que nasceu na capital federal na década de 80. Segundo ela, o rock a escolheu e a fez se encontrar como pessoa. Embora esteja hoje realizada como artista, Mariana ainda sente o preconceito cultural que toda mulher enfrenta quando se destaca. Até concorda que, às vezes, acaba se expondo muito, nem por isso pensa em mudar seu estilo de ser.

Como você vê sua educação na infância, a partir da mulher que é hoje?

Vamos lá, como que a educação na infância influenciou na pessoa que eu sou hoje? Uma das coisas que me influenciaram foi o incentivo a criatividade. Então meus pais, desde quando eu era criança, sempre me incentivaram a criar, a desenhar, a fazer trabalhos manuais, a ler, a escrever, sempre me incentivaram muito a leitura e a escrita, então eu sempre gostei, de ler gibis, de ver filmes.

Como surgiu o interesse pela música?

Brincar de ‘Faz de Conta’. Então hoje eu trabalho com arte, né? Sou cantora, compositora, arte educadora e esse incentivo foi fundamental pra minha escolha profissional.

Quais foram as maiores influências na carreira?

Meu irmão mais velho, e também meu pai. Eu sempre estive cercada de instrumentos musicai, então foi muito natural também. Eu gostava de passar o tempo arranhando músicas no teclado, tirando músicas de ouvido, brincando mesmo. E hoje o ‘Faz de Conta’, faz parte do meu ofício, faz parte da minha personalidade também.

Como vê a violência? É motivada por algum tipo de preconceito?

Eu vejo que a violência, quando ela parte de um preconceito, ela vem também de uma herança histórica. Então, a gente vem desconstruindo por várias gerações a questão do machismo, da homofobia, da LGBTfobia e do racismo. E ainda assim, muitas pessoas que que fazem parte desses grupos de minorias ainda sofrem algum tipo de violência, seja ela psicológica ou física. Eu acho que a gente para conseguir combater isso de uma vez por todas, a gente precisa de uma reparação histórica.

Na sua carreira, já passou por uma situação dessas?

Até hoje é bastante desafiador atuar no rock. Ser uma mulher que atua no rock, que é o meio majoritariamente masculino. Ainda tem a questão das pessoas que não conhecem o meu trabalho e ainda duvidam da qualidade dele. Tenho que estar provando o tempo todo, que eu tenho experiência, que

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o meu trabalho tem valor. E ainda tem a questão da objetificação também, do assédio, porque ser uma figura pública e isso acaba nos expondo a esse tipo de situação. Então já aconteceu de homens irem ao meu show ou consumirem a minha música não apenas pela música, mas sim pela questão da imagem ou com o intuito de conseguir alguma coisa né?

Porque eu acho que também vem desse lugar, da questão histórica como eu falei, né? Da mulher na arte ser vista como uma mulher fácil, como uma mulher que está disponível o tempo todo, como a mulher que está ali, enfim, para tirar alguma vantagem ou para abrir algum espaço que às vezes ela não quer abrir para quem ela não conhece. Então é bem desafiador isso daí.

As eleições desse ano corresponderam ao que esperava?

Esse furor ideológico que a gente teve lá nos anos 80 e na época da ditadura também está voltando, porque a gente passou perto do que os nossos pais e os nossos avós enfrentaram nesses tempos sombrios do passado.

É uma conquista para nós, porque o Lula representa aquilo que realmente importa. Enquanto artista, enquanto mulher, enquanto membro da comunidade LGBT, a gente tem muito a ganhar, no entanto, temos muitos desafios, precisamos arregaçar as mangas, porque não vai ser fácil reparar tudo o que foi feito em nosso país nos últimos anos e governar com um Congresso, que ainda, sim, é majoritariamente tomado por líderes de extrema direita, que vão contra realmente aquilo do que é importante pra gente. Mesmo assim, eu estou muito otimista, porém tenho consciência de que a gente terá um desafio muito grande.

Acredita que vai melhorar a cultura no DF e no Brasil?

Na parte da cultura com certeza a gente vai, não só na cultura, mas na educação. Eu acredito que a gente vai ter melhorias, mas como eu falei, vai ser desafiador. Então a gente precisa realmente unir as nossas forças para que isso seja possível. Mas eu acredito que com o governo Lula as coisas tendem a melhorar. Uma coisa que tem me deixado bastante inquieta é este cenário pós-pandemia. Na questão mesmo pessoal eu passei por muitas, a minha vida passou por muitas mudanças. Perdi familiares na pandemia e eu enfrento esse processo de luto até hoje.

Você é uma cronista musical. O que tem lhe inquietado ultimamente?

É uma coisa que tem me dado, assim, muitas ideias para escrever, para falar sobre? Eu sinto uma

necessidade muito grande de falar sobre a questão da saúde mental, da questão política, de todos esses desdobramentos que vem acontecendo aí. É neste momento em que a gente está tendo a retomada da vida normal, pós isolamento, pós vacina, e com tudo mais.

A gente sempre teve motivos para falar sobre questões ideológicas na arte. Acontece que a gente fechou os olhos para essa realidade porque há 20 anos atrás muitas pautas não tinham espaço, não tinham visibilidade. Então a gente precisou passar por um choque de realidade, como o que

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American Prime Steakhouse Surpreende os Paladares mais sofisticados Unidade Terraço Shopping Cortes nobres de carnes certificadas, drinks exclusivos e sobremesas irresistíveis. 30 GASTRONOMIA EM BRASÍLIA

GASTRONOMIA EM BRASÍLIA

Restaurante sofisticado, no modelo formal dinner americano desenvolvido para os amantes da alta gastronomia. A franqueadora sediada em Brasília aposta no forte potencial da marca.

Reconhecido como um dos melhores restaurantes em cortes nobres, carnes certificadas Black Angus ( Associação Brasileira de Angus Angus Gold | Brazil Beef Classificado 4 Stars Premium Quality), o American Prime Steakhouse traz cardápio diferenciado que reuni a alta qualidade da gastronomia norte americana, atendimento prime e excelentes opções de vinhos, drinks além do irresistível chopp servido em caneca congelada a -18oC (Chopp Colorado Appia | Chopp Black | Chopp Brahma ). Nossa carta de vinhos é composta por rótulos consagrados e os drinks foram exclusivamente desenvolvidos pelo renomado barman Júlio Romário. Como sugestão, para um delicioso encerramento, além de uma requintada seleção de cafés gourmet, o restaurante oferece sobremesas diferenciadas que dão um toque especial a qualquer ocasião.

Nosso ambiente apresenta decoração elegante e formal, estrategicamente desenvolvida para agradar a família, jovens e também aos executivos que buscam um local agradável e sofisticado para encontros de negócios e happy hour. Um bar imponente e uma varanda despojada também compõem o ambiente de mais de 500 metros quadrados que, ainda conta com uma brinquedoteca para que as crianças possam se divertir enquanto os pais desfrutam de nossos pratos e serviços.

No cardápio será possível encontrar pratos preparados com cortes nobres de carnes certificadas tais como, RibeyePrimeSteak,T-boneSpecial, New York Strip, Picanha Black Angus, Baby Beef , não podemos de forma alguma esquecer do clássico Baby Back Ribs (Serve até duas Pessoas) no exclusivo estilo American Prime.

Para aqueles que não dispensam as saborosas massas, o cardápio traz combinações exclusivas de massas e deliciosas carnes, aves e peixes.

Para as crianças, o American Prime Steakhouse criou um cardápio kids, no qual a garotada poderá se deliciar com nossa gastronomia e um toque de diversão.

O cardápio conta também, com deliciosos sanduíches, como o American Double Cheese Buger , preparado com dois hambúrgueres de Picanha Angus Certificado, pão ligeiramente tostado, queijo cheddar, bacon, alface, tomate e cebola roxa , Australian Burger , Brioche Burger , American Pork Sandwich, Buffalo Chicken Sandwich.

O menu de sobremesas promete tirar o fôlego dos amantes de doces. A casa criou o famoso MessyBrownie – Sundae, brownie quente, servido em uma exclusiva taça banhada com chocolate quente e duas bolas de sorvete e Chantilly, Torta Banoffee e Pavê e várias outras novidades.

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Confira a conversa que tivemos com Paulo César, sócio proprietário do América Prime SteakHouse no Terraço Shopping. Ele dividiu conosco sua experiência como empreendedor e sua trajetória de sucesso.

Como nasceu o American Prime SteakHouse?

É um grande prazer receber vocês! O American Prime SteakHouse é um projeto que se iniciou em 2011. Eu trabalho na área operacional, sou sócio proprietário do American Prime, e tenho mais dois sócios (Ricardo Morhy e Fernando Morhy), que agregam todo um conjunto de expertise do negócio.

Como é a formatação do negócio?

Temos o domínio da marca a nível Brasil, e um projeto de expansão também a nível Brasil. Atualmente atendemos no Terraço Shopping DF (Matriz), com uma loja de 500 metros quadrados. Atendemos uma linha de clientes e temos como foco a família. Trabalhamos com uma linha especial, no modelo formal ‘dinner’ americano.

Nosso parceiro VPJ Alimentos traz em seu DNA mais de 20 anos de trabalho em genética focada em carnes de alta qualidade no mercado brasileiro. Toda nossa carne é cer-

tificada pela Associação Brasileira Angus, carnes e cortes selecionados e marmorizados, todos os cortes feitos à mão. E logo logo uma novidade aqui no American Prime, vamos trazer a nossa boutique com todos os cortes ofertados em nosso cardápio,ou seja, o nosso cliente vai poder levar para casa e fazer o seu churrasco.

Como funcionará isso?

Se hoje, por exemplo, eu estiver a fim de comer um BEEF ANCHO, mas não quero ir ao restaurante, vou poder ligar no restaurante e vamos entregar em casa ou mesmo retirar na própria loja.

Fala sobre a expertise que vocês trabalham. Essa expertise é adquirida onde e como?

Eu tenho certificado I nternacional na área e no segmento STEAKHOUSE. Passando pela Flórida, Texas, Kansas, abertura de loja nos Estados Unidos, Venezuela e Brasil com grupos americanos.

Com os meus sócios na parte de expertise financeira, expertise de marketing, agregamos todo esse conjunto de expertises.

Gostaríamos que você falasse sobre um prato que você que é exclusivo aqui do American Prime?

Temos hoje vários itens de assinatura, pratos que foram formatados aqui no American Prime exclusivamente para os nossos clientes. Na parte de entradas, temos como exclusividade o FAMILY SAMPLER. Esse é um conjunto de entradas num prato só. Trabalhamos com tortilhas importadas diretamente do México, quanto a tortilha de trigo como a tortilha de milho. No centro dessa entrada eu tenho um molho especial, onde a base dele é de alcachofras francesas.

E um corte de carne que sai bastante que vocês destacam aqui?

Trabalhamos 100% com a linha Black Angus, temos o Black Angus e o Black Angus reserva.

O Black Angus reserva é um boi que tem o maior nível de marmorização, são cortes de alto padrão, selecionados e certificados desde a origem por um rigoroso processo de classificação de carcaças da Brazil Beef Quality, garantindo credibilidade à melhor carne do mercado. Uma reserva selecionada para este produto.

Nós trabalhamos hoje com PRIME HOUR no horário das 17h às 22h.Toda bebida alcoólica, exceto garrafas de vinhos, está com 50% de desconto. Gostaria de convidar vocês a conhecerem o restaurante e se deliciarem.

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César – American Prime
GASTRONOMIA EM BRASÍLIA
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Paco Britto continua no governo Ibaneis

Primeiro secretário a ser anunciado pelo governador Ibaneis Rocha para o segundo mandato, o vice-governador Paco Britto assumirá a Secretaria de Relações Internacionais a partir do próximo ano

Paco, que já foi considerado o vice mais atuante da história do Distrito Federal, continua ao lado do chefe do Executivo local com a missão de continuar sendo o forte interlocutor entre governo e empresários com o foco de atrair negócios importantes para a Capital.

Desde que assumiu como vice-governador, em 2019, Paco Britto teve papel importante no Governo Ibaneis. Tanto nas articulações, quanto em relação à confiança do “zero um”. Tanto que, ao longo de quatro anos, assumiu mais de 15 vezes a cadeira de governador do DF. Além disso, garantiu conquistas importantes para a Capital como a construção de dois hospitais acoplados – um em Ceilândia e outro em Samambaia -, totalmente financiados pela iniciativa privada, sem recurso algum dos cofres públicos. Hoje, esses hospitais somam quase 200 leitos a mais aos outros já existentes na rede pública de Saúde.

Também foi Paco Britto que, em exercício do cargo de governador, sancionou e regulamentou leis importantes existentes hoje no DF como a que barateou mais de 80 medicamentos usados no tratamento contra o câncer; a lei do

“X” vermelho para o combate à violência contra as mulheres; a lei que isentou feirantes, quiosqueiros, food trucks e traillers do pagamento da taxa pública, além do perdão de taxas atrasadas; a lei que acabou com a validade no atestado para autistas; além de ter coordenado o Comitê Todos Contra o Covid, que distribuiu cerca de 3 milhões de máscaras e álcool em gel para a população durante a pandemia.

“Sempre soube bem o papel de um vice-governador e assim, durante a primeira gestão do governo, o governador Ibaneis sabia que poderia contar comigo e que eu jamais seria um vice que quisesse ocupar a sua cadeira. Somos amigos, parceiros, e sempre tivemos o mesmo objetivo: uma cidade melhor para todos”, explica Paco Britto.

Novo desafio

Como secretário de Relações Internacionais, Paco Britto terá, entre suas funções, o incentivo ao transporte de mercadorias do DF. De acordo com o próprio governador Ibaneis Rocha, Paco foi escolhido por ter feito muitas ações como vice, no intercâmbio entre o DF e outros países. “Foi ele quem trouxe empresários do Japão à capital e organizou negócios importantes de informática com Portugal”.

No dia do anúncio de seu nome, Paco ressaltou a importância da pasta que irá comandar. “Nós vamos levar a capital do país para o mundo e trazer recursos para cá”, disse. “Esse trabalho já foi iniciado e vamos buscar recursos e fundos soberanos para desenvolver o DF, trazer mais riquezas para a nossa cidade e agradar mais a população”, completou o atual vice-governador.

O nome de Paco no comando na secretaria que será recriada pelo governador Ibaneis a partir de 2023 foi anunciado oficialmente no dia em que Ibaneis anunciou, também, a volta dos voos internacionais diários diretamente para Lima, capital do Peru, a partir de março de 2023, fato que foi comemorado por Paco. “É muito importante tanto para passageiros como para a carga”, enfatizou.

Vice-governador foi responsável por grandes conquistas pra o DF. Entre elas, os hospitais acoplados de Ceilândia e Samambaia
34 POLÍTICA EM BRASÍLIA

“Brasília tem um diferencial maravilhoso, a cidade planejada facilita a vinda de empresas, nosso polo tecnológico está pronto para gerar ainda mais empregos e consequentemente, girar nossa economia. O Distrito Federal está no centro da América do Sul, vamos investir para que sejamos um hub de transporte de cargas e passageiros. Enfim, as possibilidades são infinitas e estou preparado para executá-las junto com minha equipe e assim, colocarmos o DF na rota de prosperidade e desenvolvimento mundial”, concluiu Paco Britto.

Um olhar social

Além do olhar para a economia, Paco sempre atuou bastante no social. Fora do GDF, um dos seus projetos preferidos é o Moto Paco Social. Motociclista esportivo, o vice-governador realizou, neste ano, a quarta edição do evento que reúne motociclistas de diversos motocluebes da capital, além de amigos, em dia com o intuito de arrecadar brinquedos que são doados para crianças carentes do DF, tanto na área urbana, quanto da área rural.

A edição de 2022 arrecadou mais de 1 mil brinquedos somente no dia do evento e reuniu uma centena de pessoas na Praça das Motos, no Sudoeste, no último sábado. Embora não tenha havido o passeio motociclístico devido ao tempo chuvoso, a festa contou com o sorteio de brindes – doados por empresas apoiadoras do evento – e com shows de bandas de rock da cidade, entre elas, a Duplo Rocks.

Paco lembra que, embora o evento seja de confraternização entre motociclistas, o mais importante é o intuito social do Moto Paco. “Tudo começou quando amigos meus, também motociclistas, resolveram criar esse encontro e, ao longo desses quatro anos, conseguimos fazer a diferença no Natal de muitas crianças em todo o Distrito Federal”, destacou o vice-governador.

Mais de 10 mil brinquedos já foram arrecadados nas edições anteriores do Moto Paco Social. “Tenho certeza que esses brinquedos fazem a diferença no Natal de muitas crianças que não teriam a chance de ganhar presente algum na data. É muito emocionante quando saímos para a distribuição e vemos o sorriso e os olhos brilhando no rosto de nossas crianças”, finalizou Paco.

Moto Paco Social: Arrecadação de brinquedos para crianças carentes do Distrito Federal
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Nome de Paco Britto foi conformado como secretário de Relações Internacionais a partir do próximo ano

O poder sob a ótica feminina

Enquanto lulistas e bolsonaristas dividem o espólio de suas conquistas e derrotas nas eleições de 2022, a atual bancada feminina e as novas parlamentares eleitas para a Câmara dos Deputados saíram na frente e tiveram seu primeiro encontro oficial no último dia 14 de dezembro.

A iniciativa partiu da Secretaria e da Procuradoria da Mulher da Câmara dos Deputados , que reuniu diversas instituições e entidades da sociedade civil e governamentais em uma cerimônia para assinatura do Pacto Nacional pelos Direitos da Mulher em novembro passado.

O pacto é um instrumento público que busca conquistar avanços nos direitos de mulheres e meninas brasileiras, por meio de um esforço conjunto entre Legislativo, Executivo, Judiciário, sociedade civil organizada e outros parceiros.

O instrumento público vai se valer de ações articuladas e integradas para difundir, promover e fortalecer os direitos humanos das mulheres em 10 áreas temáticas:

. Igualdade no mundo do trabalho e autonomia econômica

. Economia do cuidado

. Acesso ao bem-estar e à saúde

. Enfrentamento a todas as formas de violência

. Participação igualitária nos espaços de poder e decisão

. Acesso democrático à cultura, ao esporte, ao lazer e à comunicação

. Planejamento urbano (mobilidade e outros)

. Inclusão e segurança digital

. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável, e

. Educação para a igualdade.

O evento chamou a atenção de algumas novatas que tomarão posse na Câmara dos Deputados em fevereiro do próximo ano, como Iza Arruda (MDB-PE) e Rosângela Moro (União Brasil-SP)

A então coordenadora da bancada feminina, deputada Celina Leão (PP-DF), lembrou que recente pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública , apontou que 1 em cada 4 mulheres acima de 16 anos sofreu algum tipo de violência no último ano no Brasil, durante a pandemia de Covid-19.

Novo patamar das mulheres na política

Mais uma vez a bancada feminina cresceu: pulou de 77 para 91 deputadas federais, mesmo assim só ocuparão 18% das cadeiras da Casa. É preciso enxergar que o crescimento do número de mulheres eleitas para a Câmara dos Deputados foi qualificado, se levarmos em conta que 10% delas foram as mais votadas em 9 dos 27 estados da federação. De qualquer forma, esse crescimento não faz jus ao novo patamar conquistado pelas mulheres nas eleições deste ano, após termos registrado um número recorde de candidatas à Presidência da República: 4 ao todo. Um número bastante significativo se levarmos em conta que apenas 8 mulheres haviam disputado até então o cargo, desde a redemocratização do país. Com destaque para atuação da dupla de senadoras do Mato Grosso do Sul: Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União

Brasil)

Embora nenhuma das duas tenha conseguido ameaçar a polarização mantida ao longo de toda a campanha presidencial entre o presidente Jair Bolsonaro e o agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, elas conseguiram incluir a pauta feminina nos debates e sabatinas eleitorais.

E mesmo fora do segundo turno, Tebet conseguiu capitalizar o seu desempenho na primeira etapa da disputa, da qual saiu em 3o lugar, ao anunciar seu apoio à candidatura de Lula.

Dentro de uma das máximas da política, de que você pode sair vitorioso de algumas derrotas, Simone Tebet não só conquistou um novo patamar na política nacional, como isso lhe garantiu um assento na Esplanada dos Ministérios a partir de 2023, quando encerra seu mandato de senadora da República.

Tebet aceitou o convite de Lula para assumir o comando do Ministério do Planejamento, depois de ser vetada pelo PT para ficar com o Ministério do Desenvolvimento Social, que administrará o Bolsa Família. Mas certamente não deverá se resignar ao papel de codjuvante.

Esse espaço, a partir de agora, estará sempre aberto para analisar com nossos leitores e leitoras o quadro político nacional, só que sob o ponto de vista feminino. Venha conosco mergulhar neste universo!

*Jornalista e consultora em Comunicação Estrategica

Adriana Vasconcelos*
37 POLÍTICA

Doenças

Inflamatórias Intestinais

Nunca se falou tanto em intestino como nos últimos tempos. Esse órgão deixou de ser visto como um mero processador de alimentos com a descoberta gradativa de suas importantes funções imunológicas e nervosas. Na parede do intestino existe uma rede de tecido neural constituída por milhões de neurônios, produtores de mais de 30 tipos de neurotransmissores, que têm comunicação direta com o cérebro, além de grande quantidade de células envolvidas na resposta imunológica. Um bom funcionamento intestinal é essencial para a manutenção de uma boa saúde, influenciando no controle de infecções e até mesmo nas emoções. Entretanto, disfunções desse órgão são bastante comuns no nosso meio, manifestando-se na forma de produção aumentada de gases, distensão e dor abdominal, diarreia e constipação. Várias doenças podem originar esses sintomas: desde as mais comuns, como infecções bacterianas e virais, até outras mais raras, como as doenças inflamatórias intestinais (DII). Muita gente nunca ouviu falar das DII, a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa , doenças de causa autoimune que têm baixa prevalência na população, mas que estão se tornado cada vez mais frequentes em países em desenvolvimento como o Brasil. No intuito de torna-las mais conhecidas, favorecendo seu diagnóstico mais precoce, Plano B convidou a gastroenterologista Luciana Campos para falar o essencial sobre o tema.

Plano B: O que são as doenças inflamatórias intestinais e como se manifestam?

LC: São doenças crônicas de natureza inflamatória que afetam o intestino delgado e o grosso, de causa multifatorial, mas que passam por uma resposta imunológica desregulada desses órgãos a estímulos externos, como alimentos e a microbiota intestinal. Elas provocam sintomas variados, na maior parte das vezes causando muita diarreia, com ou sem sangue, dor na barriga, emagrecimento, sensação de urgência para evacuar, incontinência fecal e às vezes fístulas perto do ânus. Como esses sintomas tendem a se repetir, causam muito desconforto aos seus portadores, afetando negativamente sua qualidade de vida.

Plano B: É difícil fazer o diagnóstico das doenças inflamatórias intestinais?

LC: Há muitas doenças que podem confundir e retardar o diagnóstico das DII. É frequente seus portadores contarem que foram ao médico por diversas vezes antes do diagnóstico correto, recebendo tratamento para infecção intestinal ou para intolerâncias alimentares. Para se chegar ao diagnóstico, normalmente são necessários exames laboratoriais, exames de imagem como a colonoscopia com biópsia e frequentemente outros mais complexos, como a tomografia computadorizada ou ressonância magnética específicas para intestino. Portanto, é necessária uma somatória de evidências para se chegar à conclusão final.

38 ENTREVISTA – SAÚDE
Luciana Campos

Plano B: Como é feito o tratamento das doenças inflamatórias intestinais? Existe acesso às medicações pelo SUS e pelos planos de saúde?

LC: As medicações utilizadas vão de anti-inflamatórios específicos para o intestino, como a mesalazina, até imunossupressores, que são as principais drogas utilizadas. Nos últimos vinte anos têm se desenvolvido medicações especiais, de alto custo e alta tecnologia, denominadas biológicos, que visam bloquear pontos específicos da cascata inflamatória sem afetar todo o sistema imunológico do usuário. Várias dessas drogas já foram aprovadas no país e estão disponíveis tanto na esfera de saúde privada como na pública. A ANS regulamentou o direito a essas medicações especiais através da cobertura obrigatória pelos planos de saúde e o Ministério da Saúde promove o acesso a algumas delas pelo SUS. Estão disponíveis no Brasil o Infliximabe, Adalimumabe, Vedolizumabe, Certolizumabe, Golimumabe e Ustequinumabe, além do Tofacitinibe, uma medicação especial de outra classe - as pequenas moléculas.

Plano B: A resposta ao tratamento é boa? Como evolui um paciente portador de DII?

LC: Sim, é muito boa em relação ao cenário de 20 anos atrás. A maior parte dos portadores consegue atingir a remissão clínica com o uso regular dos medicamentos, eliminando os sintomas mais incômodos e voltando a ter uma vida normal. Alguns pacientes, principalmente na doença de Crohn, vão necessitar de cirurgia ao longo de sua convivência com a doença para corrigir complicações decorrentes de um intestino cronicamente inflamado. Há ainda uma parcela bem menor de pacientes que não responde aos tratamentos disponíveis, motivando muita pesquisa nessa área. Em Brasília já existem alguns centros de pesquisa que participam de estudos internacionais para o desenvolvimento de novos medicamentos para DII, oferecendo uma alternativa àqueles casos que não conseguiram melhora com os tratamentos já aprovados.

Plano B: O que fazer se houver sintomas que levem a suspeitar do diagnóstico de alguma doença inflamatória intestinal?

LC: Deve-se procurar atendimento médico com um gastroenterologista ou proctologista, ou com um clínico geral de uma Unidade Básica de Saúde se o atendimento for realizado no SUS, para posterior encaminhamento ao especialista.

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O alambique mágico pertinho de Brasília que se chama Cambéba

O alambique mágico pertinho de Brasília que se chama Cambéba

Em apenas uma hora de carro da capital, numa estrada bonita, um programa poético (e imperdível) é visitar o Alambique Cambéba, às margens da BR-060, km 21, na fazenda Brioso, em Alexânia, no Goiás. Respirar outros ares, degustar seis tipos sofisticados de cachaça orgânica artesanal num passeio guiado e almoçar como um francês, no bistrô, preenche as lacunas do coração, permite que a alma respire e que a mente se abra com as histórias de Galeno Cambéba, outra grande atração do lugar. Tudo isso de frente a Serra do Ouro, numa vista de perder o fôlego.

Se não fossem os piratas franceses, talvez o Alambique Cambéba, em Alexânia (GO), localizado a 70 km de Brasília (DF), nem existisse. A indústria de cachaça sofisticada, orgânica e artesanal, trabalho do cearense de Caucaia, Galeno

Cambéba Furtado Monte, existe há 30 anos. E faz parte da sétima geração, na árvore genealógica da família, na arte de fazer a bebida -, uma história que começou há 211 anos, em 1808 quando seu hexavô, Jozé Félix de Azevedo Sá, cumpriu a missão de entregar 11 corsários prisioneiros franceses, a pé, do Ceará até Pernambuco, e por feliz coincidência conheceu o processo da cachaça. E o colocou em prática, no sítio Cambéba, na Serra do Juá Caucaia, no Ceará.

O passeio guiado é uma verdadeira aula de conhecimento, de história, de sensações e de aromas. Aos amantes da cachaça será um programa e tanto. Aos que não tem a menor identidade com a bebida, também. Todos irão amar a ideia de caminhar numa adega em meio a 1500 barris de carvalho com cachaça Cambéba, cada um com 200 litros, um total de

CIDADES 40

300 mil litros de bebida -, a 5 metros abaixo do solo, em temperatura baixa, o ideal para a boa armazenagem do produto. É como estar numa cena de filme. Aliás, ensaios fotográficos e pedidos de casamento ali já foram feitos. Não se assuste se sair levemente “borracho” (bêbado) apenas ao sentir o aroma. A sensação é interessante -, isso quer dizer que o organismo está em pleno e bom funcionamento.

Conhecer todo o processo de fabricação da cachaça, desde a colheita, passando pela moagem, padronização, destilação e fermentação é estimulante. E curioso! A degustação dos seis tipos de cachaças da Cambéba faz parte da experiência. Cada uma tem uma particularidade, assim como tempo de envelhecimento no barril de carvalho e preço. Na loja do Alambique, elas podem ser adquiridas por um preço que varia de R$ 60 a R$ 260.

Para que o passeio fique completo, sugiro uma pausa para apreciar a palavra beleza ao contemplar a vista para o vale, no bistrô do Cambéba, que tem apenas três anos.

Aproveite para tomar um drink ou uma caipirinha (a melhor do mundo), tudo preparado com a própria cachaça, e depois, almoçar um dos pratos especialíssimos, todos assinados pelo Chef La Croix, formado por uma das escolas mais famosas da França, o Le Cordon Bleu. Algumas das criações levam a cachaça no preparo. No cardápio tem entradas, saladas e opções para as crianças.

Os pratos são incrivelmente bem servidos e com preços acessíveis que variam de R$ 28,90 a R$ 49,90. A nossa equipe almoçou a picanha suína com redução cítrica (com uma linda rodela e deliciosa laranja) e arroz biro biro (ovos mexidos, bacon e batata palha) e um risoto de pato, flambado na cachaça orgânica envelhecida extra premium ao molho de champignon e bacon. As sobremesas são variadas a cada dia, por isso pedem para perguntar ao garçom. Sei que existe uma mousse de cachaça que impressiona a ponto de perder os sentidos brincadeira à parte!

A cachaça que os gringos amam De toda a cachaça produzida, 95% saem do país. O projeto de exportação é visionário. Galeno Cambéba Furtado Monte colocou como ideia desde os primeiros momentos de Alambique Cambéba. Cada garrafa contém 700 ml e teor alcoolico de 39% -, isso quer dizer que mais de três mil litros por mês saem do país a cada 30 dias. No total, são 3840 garrafas para a Espanha e 4480 para os Estados Unidos.

“Os EUA consomem e vendem também. Em Tampa, na Flórida, tem um ponto de vendas. E sei que já encontraram Cambéba no Japão. Não se tem controle mais. As cachaças ganharam o mundo”, disse Galeno.

A marca já está registrada em vários outros países, como o Chile, a China, o Peru e a Venezuela.

Os rótulos de cachaça são premiados desde a mais simples que não passa pelo barril de carvalho, fica apenas em tanque de inox, até as mais elaboradas. A cachaça que fica armazenada por dez anos coleciona 14 prêmios, todos internacionais, como África, Bélgica, Estados Unidos (vários para a Califórnia), China e Austrália.

A ordem dos fatores altera o produto Não só isso, a qualidade, a forma do “bolo” e a temperatura são os ingredientes essenciais para uma boa cachaça. “Fazer cachaça é fácil. É como fazer bolo. Mas se não tiver um equipamento de sensibilidade, o processo desanda”, disse Galeno.

Após a colheita da cana, a moagem deve ser feita em até 24 horas. A partir daí, o caldo vai para a sala de recepção, onde existe um decantador em aço inoxidável. É chegado o momento da padronização e logo em seguida, corrige-se

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Galeno Monte, o proprietário, apresenta a sala de destilação de cachaça.

CIDADES

o teor de açúcar da cana por meio de água bem pura. É na fermentação que o açúcar é transformado em álcool. E num lindo alambique de cobre, vem a última fase da fabricação, a destilação da cachaça.

“Nossa cachaça é artesanal, pois é produzida no alambique de cobre no sistema de batelada, ou seja, destina-se o vinho fermentado no alambique, descarta o vinhoto que sobrou no alambique, iniciando uma nova destilação”, explica Galeno.

O clima e o solo da região são propícios para o plantio de cana. Na época, em 1989, Galeno optou por montar a indústria em Alexânia em virtude da localização estratégica que o eixo Brasília – Anápolis – Goiânia oferecia -, além da oportunidade de poder contribuir economicamente com a geração de empregos numa região com potencial crescente.

A cachaça Cambéba é orgânica, ou seja, a cana plantada não recebe agrotóxico. E todo o processo de fabricação atende perfeitamente aos padrões de higiene, qualidade do produto, assim como o armazenamento. Uma prova disso são os certificados internacionais como a IBD Certificado Orgânico, a BR-BIO-122 Brazil Agriculture, a Produto Orgânico Brasil e a USDA Organic. “Nosso produto passou por um teste de

certificação na Espanha. O Ministério de Indústria, Comércio e Turismo, deste país, não encontrou nenhum dos 114 produtos químicos que podem estar presentes em bebidas e alimentos. Tudo estava perfeito”, declara Galeno.

A retranca em preto e branco da vida do Alambique

A placa “Vende-se” nos galhos de um pé de pequi foi o ponto inicial para que um projeto com visão futurista começasse a criar raízes. Não tinha número de telefone -, apenas o anúncio de próprio punho. Pernas a favor e disposição para uma pesquisa de campo -, só assim se chegaria ao vendedor que não parecia ter lá tanto interesse em vender a propriedade. A casa mais próxima do “anúncio” foi a primeira porta que Galeno se dirigiu. E surpresa, nada de vendedor. Mas como ainda existem pessoas generosas no mundo, o caminho das pedras foi indicado e, numa fazenda próxima, o sonho de comprar aquela propriedade estava perto. Negócio fechado.

– toc toc – Galeno.

Abre a porta (nem tão antiga assim, da década de 80).

– Quem está vendendo? – pergunta Galeno.

– É o fazendeiro lá do fundo. Vou lhe explicar – disse o Sr. Madaleno, homem rude meio ermitão, que morava perto do pé de pequi.

Galeno, o proprietário, é a atração do lugar.

Se você for inteligente aproveitará o tempo que tiver ao lado de Galeno Cambéba Furtado Monte, empresário e economista, nascido em 16 de novembro de 1956, em Caucaia, no Ceará. Casado, três filhos, dois netos, ele diz que tudo valeu a pena, mas agora o que ele quer é embarcar numa grande aventura de moto. Preparou o filho Thiago, 33 anos, para que levasse com maestria o negócio à sétima geração. As filhas também são o orgulho do pai, Márcia, 39 anos, e Marcela, 36 anos. E, a esposa, Rosaly Brasil Furtado, é uma grande aliada na administração do Alambique.

Acredito que se cachaça fosse remédio, Galeno saberia recomendar o rótulo perfeito para cada tipo de sentimento ou doença. E assim conduziria o caminho da cura ao mesmo tempo. Para dar uma forcinha à dor de cotovelo ou acabar com a raça da enxaqueca, talvez a cachaça envelhecida por 10 anos. Para preencher uma lacuna ou sanar a sinusite, a cachaça que fica armazenada no inox por um ano. E para confortar as saudades, o novo rótulo, ainda inédito, o envelhecido por 15 anos. Afinal, saudades é algo grande.

Fui embora com o coração partido. Nada que um rótulo de 10 anos para me levar de volta, tomar uma dose, escutar

Visita da jornalista à adega com seus barris.
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Entre as cachaças premiadas, as antiguidades e a lojinha que parece vender sonhos.

um rock do Creedence Clearwater Revival (banda de rock dos anos 60) e conversar sobre livros, pessoas e cultura com Galeno. Afinal, grandes histórias têm o poder de influenciar para o bem.

Serviço: Alambique Cambéba Brasil Fazenda Brioso, BR-060, Km 21, Serra do Ouro. Alexânia, GO. Para agendamento das visitas gratuitas ou reserva do Bistrô: 62 99700-1961 cachacacambeba@gmail.com

Pontos de Venda no Brasil: Loja do Alambique Cambéba, Alexânia, GO. Aeroporto de Brasília, DF: Eu Amo Cachaça. Aeroporto de Goiânia, GO: Vive Brasil. Goiânia, GO: Abasteria / Flor de Pedra. Abadiânia, GO: Route 60.

Alexânia, GO: Supermercado Sombra / Máximo Grau. Fortaleza, CE: Embaixada da Cachaça / FS Rocha.

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Uma lição da eleição

Passaram-se muito poucos dias desde que fomos às urnas para tomar parte naquela que muitos têm classificado como a mais importante eleição de nossas vidas. Embora compartilhe da sensação, não me considero qualificado para discutir essa classificação, mas também não desejo que a atual ou futuras gerações precisem vivenciar os riscos e as tensões por que ainda estamos passando. Seja como for, creio que algum distanciamento será necessário até que se possa produzir uma boa análise de tudo isso que está aí. Há aspectos de natureza menos conjuntural, no entanto, que por isso mesmo já podem ensejar algumas reflexões quiçá úteis para o exercício de direitos em outras dimensões de nossas vidas.

A eleição, como costumamos ouvir, é o momento mais sagrado das democracias representativas modernas. No Brasil, além de um direito, é uma obrigação do cidadão, durante a maior parte da vida de quase todos nós, comparecer periodicamente às seções eleitorais. O que obviamente implica em deslocamentos que para a imensa maioria dos eleitores não podem ser facilmente feitos a pé. Surgem aí os serviços de transporte público com um papel de imenso destaque, certamente acentuado neste ano por razões que podem estar associados a alguns daqueles fatores excepcionais a que me referi há pouco lá no início.

A essencialidade do transporte público nas eleições já é reconhecida em cidades que aprovaram dispositivos assegurando sua gratuidade nos dias de votação. Mas as peculiaridades de 2022 levaram a um questionamento quanto à legalidade desses dispositivos. Fugindo também das motivações de quem questionou, vou direto para o fato de o Supremo Tribunal Federal ter decidido pela legalidade de tais leis e decretos. A corte chegou ao detalhe de indicar a responsabilidade dos governos e concessionárias dos serviços de transporte, deixando claro que se trata de assegurar o interesse público, não de beneficiar segmentos específicos — no caso, partidos ou candidatos.

A decisão, por sua vez, abriu caminho para que a demanda fosse apresentada de forma generalizada em todo o país e governantes estaduais e municipais adotassem a gratuidade em alguma medida, ainda que instados por decisões judi-

ciais locais. Houve alguns preciosismos, para não chamar de bizarrices, como a exigência de comprovação do motivo da viagem com a apresentação título de eleitor (que não é obrigatória nem para votar) ou a gratuidade apenas na viagem de volta, contra a apresentação do comprovante de votação. Mas a regra geral foi a gratuidade.

Não está completamente claro o efeito real da gratuidade na redução da abstenção, que também pode ter sido afetada por outras medidas, tais como a quantidade inusual de blitze alegadamente de trânsito em rodovias e ruas urbanas. Mas também não é esse meu objetivo aqui.

Estou mais interessado em olhar para o que foi dito durante o debate sobre a legalidade da medida. De todos os argumentos usados tão fartamente nas justificativas de leis e decretos, nas manifestações de colunistas e jornalistas, nas petições e decisões judiciais, conclui-se que a tarifa que a população paga para usar o transporte coletivo urbano seria uma barreira ao exercício do voto.

A pergunta que já pode ser feita agora a todos os gestores municipais é: se isso vale para assegurar o direito de votar, por que não estender para os demais direitos? Para manter a coerência revelada no debate e a lucidez alcançada pelas decisões que valeram para o momento eleitoral, é preciso admitir que as tarifas pagas pelo usuário do transporte público são uma barreira para a mobilidade. Consequentemente, um elemento supressor de direitos e um obstáculo à própria economia das cidades, que precisa do deslocamento não só da força de trabalho, mas do próprio público consumidor.

Se é assim, senhores governantes e parlamentares, está mais do que na hora de colocar a Tarifa Zero na ordem do dia.

* Paulo Cesar Marques da Silva é professor da área de Transportes da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University of London (University College London) (2001).

Paulo Cesar Marques da Silva *
44 MOBILIDADE

O Primeiro Golpe Militar: 15 de Novembro de 1889

Comemoração da Proclamação da República.

Início com o refrão do hino da proclamação:

. “Liberdade! Liberdade!

. Abre as asas sobre nós!

. Das lutas na tempestade

. Dá que ouçamos tua voz!”

Ao longo da história fomos ensinados que este ato “democrático” foi para a libertação do Brasil, porém se observamos a mesma história notamos que foi fruto de uma conspiração militar.

A monarquia foi destituída por meio de um golpe militar republicano. Assim, foi dado início ao novo ciclo de República, do latim “coisa pública”, e a família real foi exilada do País. Os militares tomaram o poder sem que o povo soubesse. A monarquia já estava fora, assume então Marechal Deodoro da Fonseca que uniu vários lados, os revolucionários, positivistas, militares e liberais radicais. Dois anos após a proclamação da República o Congresso foi fechado e o autoritarismo de Fonseca colocado em prática.

A origem da República trouxe também seus ônus em alguns de seus aspectos históricos, social, cultural e principalmente político, a partir de então, de tempos em tempos, a cultura e as práticas autoritárias são promovidas no decorrer de nossa história. O regime de “ordem” e tutela da sociedade e da política ficaria com os militares, mas a promessa não foi cumprida. Desde o primeiro golpe, o sistema político tem

ficado cada vez mais desordenado, o estado mais intervencionista, a sociedade mais vulnerável e o indivíduo menos livre.

Segundo o cientista político Garschagen (2022):

“a partir do golpe em 1889, tivemos seis constituições federais, nove moedas, cinco golpes de estado, 13 presidentes não concluíram os seus mandatos, 31 presidentes foram eleitos indiretamente, 10 vice-presidentes assumiram o cargo. A história do presidencialismo republicano no Brasil é

uma sucessão de golpes, de instabilidade social, política, econômica”.

Precisamos aprender com o passado se de fato é necessário vivermos de golpe em golpe, em busca da liberdade que tanto queremos? Existe outra maneira de sermos livres? O passado sempre nos traz uma lição para refletirmos sobre os acontecimentos sem romantizá-los, a proclamação foi feita para atender não a sociedade num todo, e sim uma minoria insatisfeita elitizada, levando um nome e um suposto efeito populista.

Débora Cruz*
45 POLÍTICA

Conselhos Regulamentadores ou Sindicatos Patronais?

Lamentável que o PL 2504/2019, que dizia tratar do PISO SALARIAL NACIONAL das categorias ASBs e TSBs, era tão somente mais uma manobra falaciosa do Senador Acir Gurgacz. O PL em seu texto original, se aprovado, iria corroborar com os interesses familiares do autor e também de alguns na alta cúpula do CFO e CRODF, mitigando, ferindo e desrespeitando direitos trabalhistas.

Para os que acharam um tanto quanto estranho o relatório do Senador Acir Gurgacz ( PDT-RO ), para conseguir aprovar o PL 1459/2022, conhecido como “Pacote do Veneno”, que desconsidera qualquer tipo de risco ao meio ambiente e a saúde humana, uma vez que, o PL trás facilidades na compra, utilização e quantidade de agrotóxicos no País, colocando em risco a população. Se acharam estranho e um pouco suspeito, pois ignora totalmente às demandas e bem estar de um povo, preparem se para ler sobre às declarações dadas em entrevista com um dos Diretores do Sindicato dos Trabalhadores Técnicos e Auxiliares em Saúde Bucal do Distrito-SINTTASB/DF, José Adriano de Carvalho Alves.

Jornal: Que relação vocês fazem do “ PL do Veneno” com seus representados?

José Adriano: O Sindicato vêm enfrentando diversas perseguições antissindicais, em especial após questionar profissionais TSBs estarem laborando 44 horas semanais em Clínicas de Radiologia Odontológica. Em Outubro de 2020, quando

o sindicato passou a ser possuidor do registro sindical ( Carta Sindical), começaram a vir os grandes enfrentamentos.

Jornal: Mas que tipo de perseguições e porque?

José Adriano: A que nos trás mais dificuldade é os conselhos CFO e CRO/DF ser 100% composto por uma direção APENAS de Cirurgiões Dentistas, os profissionais ASBs e TSBs, embora sejam obrigados a estarem inscritos e pagarem anuidades, não votam, não podem ser votados, tão pouco fiscalizar prestação de contas! O que dificulta e faz toda a categoria refém em direitos diversos, inclusive trabalhistas, uma vez que, a maioria dos dentista são os patrões aos quais o sindicato precisa cobrar quando existir descumprimento das leis trabalhistas em nome de seus representados.

Jornal: Mas onde entra o Senador

José Adriano: A luta do sindicato vêm sendo árdua, inclusive com alguns patrões da radiologia sendo levados aos tribunais, após denúncias dos trabalhadores. Porém, o que sem-

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POLÍTICA

pre nos causou estranheza é o anonimato desta condição de trabalho, a qual pode ser considerada desrespeito a vida, pois estes profissionais lidam no manuseio diário e constante com aparelhos que emitem radiação Ionizante, o CFO e CRODF que têm conhecimento da problemática. O Sindicato após longa jornada de luta, depara se com um PL 2504/2019, que vinha sendo apresentado aos profissionais ASBs e TSBs de todo o Brasil, por uma Associação Nacional. A frente estava a presidente, uma TSB aposentada pelo Senado, e o vice presidente, TSB e advogado da Associação.

Jornal: E esse PL seria de autoria do senador?

José Adriano: Sim, de autoria do senador Acir Gurgacz. Se os dois colegas que estavam articulando sabiam ou não da manobra, não podemos dizer, embora os diretores do sindicato em Brasília, inclusive nossa presidente e eu, por inúmeras vezes os tivesse alertado, mas a insistência era grande, o PL teria que ser aprovado a toque de caixa. Porém, depois que os valores salariais e principalmente a carga horária foram alterados, há menos de 15 dias de sua apresentação, o Senador parece ter perdido o interesse. Nele os colegas da Radiologia Odontológica estariam laborando 44 horas por semana. O PL trazia inclusive explicação para tal manobra. Algo sem responsabilidade nenhuma com leis ou estudos, considerando que, se a radiação ser nociva ou não para o trabalhador, esse entendimento deve partir de estudos realizados por peritos especialistas, a pedido de um Juiz, e após esse estudo, o Juiz trabalhista estaria julgando sobre direitos e deveres, como esta acontecendo nas ações movidas pelo sindicato aqui no DF.

Jornal: Mas o PL seria exatamente voltado a que?

José Adriano: Os colegas que insistiam na aprovação, fazendo a articulação como sendo “ O PL 2504/2019, irá estabelecer o piso salarial Nacional, alterando a lei 11.889/2008, também para ajustes de atribuições.

Jornal: E estas atribuições?

José Adriano: Então, elas já são atribuições reconhecidas para estes trabalhadores, tanto pela lei de regulação, como por resoluções CFO, porém, o patronal quer o bonus de uma área de atuação, mas não quer admitir que para estes profissionais existem particularidades em leis trabalhistas.

Jornal: Seria então uma manobra para tornar a irregularidade como sendo algo legal?

José Adriano: Entendemos que sim, como já suspeitávamos o PL 2504/2019, que estava na pauta para ser votado no dia 20/12/2022, foi retirado da pauta no dia 19/12/2022, após

às 17:00 horas. Se não bastasse, o Senador também arquivou o PL. Aí veio a pergunta. Porque o Senador Acir Gurgacz perdeu o interesse pelo PL após a retirada da carga horária excessiva na radiologia odontológica e os baixíssimos salários?

Jornal: Também queremos saber senhor José Adriano. Porque?

José Adriano: Não sabemos mas o fato é o autor do PL 2504/2019, Senador Acir Gurgacz. Irmão de Assis Marcos Gurgacz, que é sócio da esposa Mychelle Schmit Gurgacz, ela é Cirurgiã Dentista, com especialidade na área de Radiologia Odontológica, junto com o marido, Assis Gurgacz, são proprietários de Clínicas de Radiologia Odontológica, ela inclusive é ex. Presidente da Associação Brasileira de Radiologia Odontológica-ABRO.

Jornal: Agora sim, entendemos a relação. E o que o senhor nos diria a esse respeito?

José Adriano: Solange Bezerra, eu, e nossos diretores, entendemos que, alguém estava legislando em causa própria. Ressaltamos ainda que, meio a tantas supostas irregularidades, sabe se que, o CRODF, conta hoje com apenas 4 dos 10 conselheiros, pelo menos 5 destes, ao que se sabe, pediram renúncia por não concordar com a gestão do presidente. O que estaria de fato acontecendo dentro do CRODF, e porque, apesar de postarem o PL 2504/2019, em páginas oficial, inclusive do CFO, não alertou a categoria sobre aquela condição, haja vista , tratar se de uma mudança que ocorreria dentro da lei de regulação.

Jornal: O que o senhor acrescentaria a essa nossa entrevista?

José Adriano: Somos profissionais da saúde, e nossas vidas são garantidas pela constituição Federal, portanto, exigimos que nos respeite e respeitem nosso direito à vida, pois a manobra, colocava trabalhadores em área insalubre por radiação.

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