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Falando em Saúde
Seja bem-vindo, leitor! Iniciaremos nesta edição uma série de artigos sobre saúde, sob o ponto de vista de uma médica alopata, de formação tradicional, mas com muito interesse e algum estudo em psicologia, psicossomática, filosofia e outras humanidades. Quando fui convidada a escrever esta coluna, refleti bastante sobre o direcionamento do conteúdo que abordaria aqui. Decidi que, ao invés de elaborar textos técnicos sobre doenças, meu foco seria sobre promoção de saúde. Essa é uma tendência da medicina contemporânea. Recentemente passamos a tomar contato, através dos meios de comunicação, com novos termos como Medicina Integrativa e Medicina do Estilo de Vida, que transcendem as divisões tradicionais das especialidades médicas.
A Medicina do Estilo de Vida é a tradução literal de “Lifestyle Medicine”, um termo cunhado pela Universidade de Harvard ao criar um curso de especialização que aborda a prevenção e tratamento das doenças mais prevalentes da atualidade como diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, neurológicas e alguns cânceres. São propostas reflexões sobre dieta, exercício físico, cessação de tabagismo e etilismo, higiene do sono, melhora nas interações sociais, manejo do stress e promoção de hábitos saudáveis, tudo com fundamentação científica e com muito conteúdo emprestado da Psicologia Positiva. Esse curso, muito bem pensado, responde a uma demanda da nossa sociedade em plena transformação. Explico: com a melhoria das condições de saúde da população, maior acesso aos serviços de saúde, aos exames diagnósticos e ao tratamento, assim como maior acesso à informação, as doenças são diagnosticadas muito mais precocemente.
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Exemplificando: é muito raro encontrar um indivíduo com um quadro de hanseníase ou sífilis avançada em nosso meio, como se via no passado. O quadro clínico exuberante, próprio da fase avançada dessas doenças, agora só é visto em livros de medicina. Portanto, deixamos de diagnosticar doenças avançadas para detectá-las em fase precoce. Uma grande parte da demanda dos serviços de saúde, hoje, é relacionada ao rastreamento de doenças. Pratica-se, até mesmo no SUS, o rastreamento do câncer de mama, de colo de útero, o controle da hepatite B e C e do câncer de intestino, da próstata e do fígado. Na medicina privada, já “Essa é a medicina do futuro, é comum o “dia do check-up”, em que o usuário chega a um hospital na qual temos que mirar. de manhã cedo e sai à noite tendo
Discutir, fundamentar em realizado exames preventivos dos pés à cabeça. evidências científicas e divul- Uma grande questão se coloca gar as novas ações de saúde é acerca do aumento exponencial de essencial, pois sua implemen- custo que essa estratégia gera para as fontes mantenedoras, mas ela tação depende de mudanças acaba resultando, indubitavelmenmais profundas da sociedade, te, na melhoria da saúde individual como alteração das relações e coletiva. A próxima etapa, em de trabalho, dos meios de termos de promoção de saúde, é a mudança do estilo de vida. Essa é a produção, da mentalidade e medicina do futuro, na qual temos dos hábitos individuais” que mirar. Discutir, fundamentar em evidências científicas e divulgar as novas ações de saúde é essencial, pois sua implementação depende de mudanças mais profundas da sociedade, como alteração das relações de trabalho, dos meios de produção, da mentalidade e dos hábitos individuais. Faço o convite para que o leitor participe comigo desse movimento. Até breve! * Luciana Campos é mestre em Ciências Médicas pela USP, gastroenterologista atuante na esfera pública e privada e professora do curso de Medicina do CEUB.