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Doenças Inflamatórias Intestinais
Doenças Infl amatórias Intestinais
Nunca se falou tanto em intestino como nos últimos tempos. Esse órgão deixou de ser visto como um mero processador de alimentos com a descoberta gradativa de suas importantes funções imunológicas e nervosas. Na parede do intestino existe uma rede de tecido neural constituída por milhões de neurônios, produtores de mais de 30 tipos de neurotransmissores, que têm comunicação direta com o cérebro, além de grande quantidade de células envolvidas na resposta imunológica. Um bom funcionamento intestinal é essencial para a manutenção de uma boa saúde, influenciando no controle de infecções e até mesmo nas emoções. Entretanto, disfunções desse órgão são bastante comuns no nosso meio, manifestando-se na forma de produção aumentada de gases, distensão e dor abdominal, diarreia e constipação. Várias doenças podem originar esses sintomas: desde as mais comuns, como infecções bacterianas e virais, até outras mais raras, como as doenças inflamatórias intestinais (DII). Muita gente nunca ouviu falar das DII, a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, doenças de causa autoimune que têm baixa prevalência na população, mas que estão se tornado cada vez mais frequentes em países em desenvolvimento como o Brasil. No intuito de torna-las mais conhecidas, favorecendo seu diagnóstico mais precoce, Plano B convidou a gastroenterologista Luciana Campos para falar o essencial sobre o tema.
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Plano B: O que são as doenças inflamatórias intestinais e como se manifestam? LC: São doenças crônicas de natureza inflamatória que afetam o intestino delgado e o grosso, de causa multifatorial, mas que passam por uma resposta imunológica desregulada desses órgãos a estímulos externos, como alimentos e a microbiota intestinal. Elas provocam sintomas variados, na maior parte das vezes causando muita diarreia, com ou sem sangue, dor na barriga, emagrecimento, sensação de urgência para evacuar, incontinência fecal e às vezes fístulas perto do ânus. Como esses sintomas tendem a se repetir, causam muito desconforto aos seus portadores, afetando negativamente sua qualidade de vida. Plano B: É difícil fazer o diagnóstico das doenças inflamatórias intestinais? LC: Há muitas doenças que podem confundir e retardar o diagnóstico das DII. É frequente seus portadores contarem que foram ao médico por diversas vezes antes do diagnóstico correto, recebendo tratamento para infecção intestinal ou para intolerâncias alimentares. Para se chegar ao diagnóstico, normalmente são necessários exames laboratoriais, exames de imagem como a colonoscopia com biópsia e frequentemente outros mais complexos, como a tomografia computadorizada ou ressonância magnética específicas para intestino. Portanto, é necessária uma somatória de evidências para se chegar à conclusão final.
Luciana Campos

Plano B: Como é feito o tratamento das doenças inflamatórias intestinais? Existe acesso às medicações pelo SUS e pelos planos de saúde? LC: As medicações utilizadas vão de anti-inflamatórios específicos para o intestino, como a mesalazina, até imunossupressores, que são as principais drogas utilizadas. Nos últimos vinte anos têm se desenvolvido medicações especiais, de alto custo e alta tecnologia, denominadas biológicos, que visam bloquear pontos específicos da cascata inflamatória sem afetar todo o sistema imunológico do usuário. Várias dessas drogas já foram aprovadas no país e estão disponíveis tanto na esfera de saúde privada como na pública. A ANS regulamentou o direito a essas medicações especiais através da cobertura obrigatória pelos planos de saúde e o Ministério da Saúde promove o acesso a algumas delas pelo SUS. Estão disponíveis no Brasil o Infliximabe, Adalimumabe, Vedolizumabe, Certolizumabe, Golimumabe e Ustequinumabe, além do Tofacitinibe, uma medicação especial de outra classe - as pequenas moléculas.
Plano B: A resposta ao tratamento é boa? Como evolui um paciente portador de DII? LC: Sim, é muito boa em relação ao cenário de 20 anos atrás. A maior parte dos portadores consegue atingir a remissão clínica com o uso regular dos medicamentos, eliminando os sintomas mais incômodos e voltando a ter uma vida normal. Alguns pacientes, principalmente na doença de Crohn, vão necessitar de cirurgia ao longo de sua convivência com a doença para corrigir complicações decorrentes de um intestino cronicamente inflamado. Há ainda uma parcela bem menor de pacientes que não responde aos tratamentos disponíveis, motivando muita pesquisa nessa área. Em Brasília já existem alguns centros de pesquisa que participam de estudos internacionais para o desenvolvimento de novos medicamentos para DII, oferecendo uma alternativa àqueles casos que não conseguiram melhora com os tratamentos já aprovados.
Plano B: O que fazer se houver sintomas que levem a suspeitar do diagnóstico de alguma doença inflamatória intestinal? LC: Deve-se procurar atendimento médico com um gastroenterologista ou proctologista, ou com um clínico geral de uma Unidade Básica de Saúde se o atendimento for realizado no SUS, para posterior encaminhamento ao especialista.