
4 minute read
Mariana Camelo: “O rock me esco lheu”
Mariana Camelo: “O rock me escolheu”
Mesmo assim, admite ainda ser desafi ador o universo do rock para uma mulher
Advertisement
Cantora, compositora e instrumentista, Mariana Camelo iniciou sua carreira musical em meados de 2005, aos 14 anos de idade. Lançou seu primeiro disco autoral em 2013, intitulado “Contradição e outras estórias”, e virou mais uma referência do rock raiz que nasceu na capital federal na década de 80. Segundo ela, o rock a escolheu e a fez se encontrar como pessoa. Embora esteja hoje realizada como artista, Mariana ainda sente o preconceito cultural que toda mulher enfrenta quando se destaca. Até concorda que, às vezes, acaba se expondo muito, nem por isso pensa em mudar seu estilo de ser.
Como você vê sua educação na infância, a partir da mulher que é hoje?
Vamos lá, como que a educação na infância influenciou na pessoa que eu sou hoje? Uma das coisas que me influenciaram foi o incentivo a criatividade. Então meus pais, desde quando eu era criança, sempre me incentivaram a criar, a desenhar, a fazer trabalhos manuais, a ler, a escrever, sempre me incentivaram muito a leitura e a escrita, então eu sempre gostei, de ler gibis, de ver filmes.
Como surgiu o interesse pela música?
Brincar de ‘Faz de Conta’. Então hoje eu trabalho com arte, né? Sou cantora, compositora, arte educadora e esse incentivo foi fundamental pra minha escolha profissional.
Quais foram as maiores influências na carreira?
Meu irmão mais velho, e também meu pai. Eu sempre estive cercada de instrumentos musicai, então foi muito natural também. Eu gostava de passar o tempo arranhando músicas no teclado, tirando músicas de ouvido, brincando mesmo. E hoje o ‘Faz de Conta’, faz parte do meu ofício, faz parte da minha personalidade também. Como vê a violência? É motivada por algum tipo de preconceito?
Eu vejo que a violência, quando ela parte de um preconceito, ela vem também de uma herança histórica. Então, a gente vem desconstruindo por várias gerações a questão do machismo, da homofobia, da LGBTfobia e do racismo. E ainda assim, muitas pessoas que que fazem parte desses grupos de minorias ainda sofrem algum tipo de violência, seja ela psicológica ou física. Eu acho que a gente para conseguir combater isso de uma vez por todas, a gente precisa de uma reparação histórica.
Na sua carreira, já passou por uma situação dessas? Até hoje é bastante desafiador atuar no rock. Ser uma mulher que atua no rock, que é o meio majoritariamente masculino. Ainda tem a questão das pessoas que não conhecem o meu trabalho e ainda duvidam da qualidade dele. Tenho que estar provando o tempo todo, que eu tenho experiência, que
o meu trabalho tem valor. E ainda tem a questão da objetificação também, do assédio, porque ser uma figura pública e isso acaba nos expondo a esse tipo de situação. Então já aconteceu de homens irem ao meu show ou consumirem a minha música não apenas pela música, mas sim pela questão da imagem ou com o intuito de conseguir alguma coisa né?
Porque eu acho que também vem desse lugar, da questão histórica como eu falei, né? Da mulher na arte ser vista como uma mulher fácil, como uma mulher que está disponível o tempo todo, como a mulher que está ali, enfim, para tirar alguma vantagem ou para abrir algum espaço que às vezes ela não quer abrir para quem ela não conhece. Então é bem desafiador isso daí.
As eleições desse ano corresponderam ao que esperava?
Esse furor ideológico que a gente teve lá nos anos 80 e na época da ditadura também está voltando, porque a gente passou perto do que os nossos pais e os nossos avós enfrentaram nesses tempos sombrios do passado.
É uma conquista para nós, porque o Lula representa aquilo que realmente importa. Enquanto artista, enquanto mulher, enquanto membro da comunidade LGBT, a gente tem muito a ganhar, no entanto, temos muitos desafios, precisamos arregaçar as mangas, porque não vai ser fácil reparar tudo o que foi feito em nosso país nos últimos anos e governar com um Congresso, que ainda, sim, é majoritariamente tomado por líderes de extrema direita, que vão contra realmente aquilo do que é importante pra gente. Mesmo assim, eu estou muito otimista, porém tenho consciência de que a gente terá um desafio muito grande.

Acredita que vai melhorar a cultura no DF e no Brasil?
Na parte da cultura com certeza a gente vai, não só na cultura, mas na educação. Eu acredito que a gente vai ter melhorias, mas como eu falei, vai ser desafiador. Então a gente precisa realmente unir as nossas forças para que isso seja possível. Mas eu acredito que com o governo Lula as coisas tendem a melhorar. Uma coisa que tem me deixado bastante inquieta é este cenário pós-pandemia. Na questão mesmo pessoal eu passei por muitas, a minha vida passou por muitas mudanças. Perdi familiares na pandemia e eu enfrento esse processo de luto até hoje.
Você é uma cronista musical. O que tem lhe inquietado ultimamente?
É uma coisa que tem me dado, assim, muitas ideias para escrever, para falar sobre? Eu sinto uma necessidade muito grande de falar sobre a questão da saúde mental, da questão política, de todos esses desdobramentos que vem acontecendo aí. É neste momento em que a gente está tendo a retomada da vida normal, pós isolamento, pós vacina, e com tudo mais.
A gente sempre teve motivos para falar sobre questões ideológicas na arte. Acontece que a gente fechou os olhos para essa realidade porque há 20 anos atrás muitas pautas não tinham espaço, não tinham visibilidade. Então a gente precisou passar por um choque de realidade, como o que