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O crescimento do grafite tem gerado diversos posicionamentos em relação à autorização da prática, e a forma em que a sociedade e as entidades governamentais lidam com essas questões. Enquanto o grafite se propõe como uma forma de linguagem, uma forma de expressão e de opinião livre e autónoma, o governo tenta definir as regras para seu uso, para a defesa e o cuidado da propriedade privada e do patrimônio público. Encontrar a maneira de determinar os limites para exercer a prática é um dos desafios mais difíceis, que divide a opinião da sociedade, até hoje.
3.2. O papel social e a legitimação da prática do grafite Os objetos carregam uma linguagem material que interpretamos em grande parte influenciados pela cultura à qual pertencemos. Do mesmo jeito, o significado, que nos transmitem as coisas materiais e as imagens, depende em grande parte da maneira em que a comunidade ou grupo do qual fazemos parte, percebe, sente e pensa a respeito. A forma em que as diversas práticas do grafite são positivas ou negativas para um lugar, depende especialmente de quem faz essa leitura. Quem, então, é a pessoa que tem o poder de definir se uma intervenção urbana como o grafite é boa ou ruim? Lyotard fala sobre o problema da legitimação, trazendo em consideração a necessidade de determinar quem é o indivíduo que tem o poder de decidir, o chamado legislador: A questão da legitimação encontra-se, desde Platão, indissoluvelmente associada à da legitimação do legislador. Nesta perspectiva, o direito de decidir sobre o que é verdadeiro não é independente do direito de decidir sobre o que é justo, mesmo se os enunciados submetidos respectivamente a esta e àquela autoridade forem de natureza diferente. (LYOTARD, p.13).
“Duas fases de uma mesma questão: quem decide o que é saber, e quem sabe o que convém decidir?” (LYOTARD, p.14). No caso do grafite, a decisão parece uma faca de dois gumes. O grafite surgiu como uma forma de expressão subversiva, rebelde, cuja finalidade é fazer presença no espaço urbano. O mais relevante é ver a forma como grafiteiros e pichadores têm se apropriado da paisagem urbana, tela perfeita para ganhar a atenção de transeuntes e atingir o maior número de espectadores. Um caminho curto e sem burocracia, para comunicar uma mensagem da forma mais eficiente possível.


































