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Figura 60 - Muro com grafites de Taki 183 e outros writers

que publicou o artigo TAKI 183 Spawns Pen Pals, em 21 de julho de 197159. Logo depois apareceram também outros como Joe 136, Barbara 62, Eel 159, Yank 135, Leo 136, Frank 207, Chew 127, entre outros. Jovens da comunidade, que viam essas assinaturas, eram influenciados e se sentiam estimulados a deixar sua marca. Os bairros foram ficando cheios de rabiscos e traços, chamados de tags, denominação que é usada até hoje para definir esse tipo de inscrição, sem uma intenção de significado, com a pretensão de demarcar um lugar para aparecer, ter visibilidade e destaque num território específico.

Figura 60 - Muro com grafites de Taki 183 e outros writers. Fonte: https://www.taki183.net/

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Na medida em que os bairros de Nova Iorque, como Brooklyn e o Bronx, eram preenchidos com tags, alguns jovens criaram seus próprios estilos para se destacar na multidão. Assim, os escritos deixaram de fazer só marcas legíveis, e as formas se diversificaram usando cores, texturas e detalhes que davam uma composição mais elaborada às letras. Desta forma, surgiram novos estilos, que foram ficando cada vez mais elaborados conforme houve avanços na elaboração de canetas e tinta spray. Logo depois, os grafites ultrapassaram os limites dos bairros, começaram a aparecer nos vagões do metrô e em pouco tempo o grafite explodiu e não parou de crescer, tornando-se a mais forte manifestação de intervenção urbana, a ponto de existir como forma de vandalismo e também como forma de arte realizada nas mais diversas superfícies e escalas.

59 Encontrado em https://www.taki183.net/

Desde sua afirmação como expressão contemporânea, o grafite atrai adeptos fiéis que constroem uma rede social muito forte, uma forma de seguir o trabalho de outros e se juntarem para realizar trabalhos de forma individual ou conjunta. Depois de ser elaborado majoritariamente por letras, surgiram também os desenhos de personagens e a criação de artes complexas, uma área que alavancou ainda mais seguidores e criativos do grafite. Pode-se definir então que existe o grafite de personagens, o grafite de letra e o que compartilha um pouco de ambos. Alguns grafiteiros realizam só um ou outro ou podem incursionar também nos dois. Hoje em dia, graças ao fácil registro e à divulgação de imagens e informação na mídia, grafiteiros e pichadores criam portfólios incríveis a partir dos trabalhos nas ruas.

5.2.2. Materiais

Escrever nas paredes pode ser considerado um ato de rebeldia, mas muito além disso é uma denúncia, é uma forma de manifestação pública de opiniões e acontecimentos. Os muros passam a ser superfícies transmissoras de informação, que demonstram o desejo de se comunicar de alguém e a materialização física dos seus pensamentos. Ao utilizar o muro como suporte, uma mensagem pode ser duradoura ou não, mas uma coisa é indiscutível: a mensagem colocada no espaço público é capaz de atingir muitos mais espectadores, potencializando, assim, seu objetivo de comunicar.

Em 1949, foi criada a lata de tinta spray, quando Ed Seymour, proprietário da empresa de tintas Sycamore em Illinois, Estados Unidos, buscava uma forma fácil de usar uma pintura de alumínio que ele havia criado para pintar radiadores a vapor. A esposa dele sugeriu uma pistola de pulverização improvisada, foi inspirada nas latas de inseticida em spray que já existiam60 , então ele misturou tinta e aerossol numa lata com cabeça de spray. A tinta em aerossol se tornou tão popular que ele precisou de personalizar seus próprios equipamentos de fabricação e acabou se expandindo para novos negócios, incluindo os mercados de automóveis e máquinas

60 A lata de aerossol em spray foi patenteada em 1927 pelo engenheiro norueguês Erik Rotheim, que desenvolveu a tecnologia de inseticida em spray, para proteger as tropas de malária no Oceano Pacifico, durante a segunda guerra mundial. Fonte: https://www.ft.com/content/6fa3b94e-b05a11dd-a795-0000779fd18c

industriais, logo depois surgiram outras marcas61. Mas no final da década de 60, a tinta, que até agora tinha uma finalidade prática, acabou por transcender suas raízes utilitárias e se converteu na principal ferramenta para a execução de intervenções urbanas. Jovens de Nova Iorque se apropriaram da tecnologia para escrever mensagens nas ruas, aproveitando a versatilidade da tinta, que secava rapidamente e vinha em latas pequenas, fáceis de esconder e fáceis de roubar; era a forma perfeita de se ter tinta e pincel num só artefato. Ela funcionava bem para a aplicação de forma rápida sobre qualquer superfície e tinha um rastro singular com bordas irregulares, que dava personalidade à prática que nascia.

O grafiteiro Lino Rocha conta que no Brasil os primeiros grafites eram pintados com pincel, rodo e tinta látex. A primeira razão foi a dificuldade para encontrar a tinta spray, que fazia sucesso no mundo afora, mas que no comércio local era limitada à oferta de marcas e opções de tinta spray. O outro motivo é econômico, considerando que quando a tinta spray era encontrada possuía custo alto, então quem quisesse fazer grafite não poderia ter acesso ao uso desse material. Fora do Brasil essa técnica foi vista como uma novidade interessante e influenciou trabalhos de grafiteiros no exterior62 .

Com o crescimento do grafite, o mercado de marcas de tinta spray foi entrando no comércio brasileiro, o que fez com que o produto fosse mais facilmente encontrado, apesar dos preços não acessíveis e das restrições legais, das quais falaremos no capítulo 5.3. Mesmo assim, o spray é o material mais usado para a realização de grafites, fazendo desse mercado sua principal fonte de renda, que atrai seus usuários com uma ampla paleta de cores, alta qualidade para uso em ambientes externos e bicos ou caps para obter diferentes traços (Figuras 61 e 62).

61 https://www.nytimes.com/2011/11/06/magazine/who-made-spray-paint.html http://www.seymourpaint.com/history/ 62 Em entrevista realizada no dia 01/10/2018

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