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5.2. A escrita dentro do grafite

puramente a semântica do texto. A escrita como imagem transmite significado pelas características da sua composição visual, ultrapassando o sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados; um material flexível que se adapta ao serviço de diferentes formas de expressão.

5.2. A escrita dentro do grafite

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Denomina-se linguagem verbal o código usado para estabelecer comunicação por meio da palavra, tanto de forma oral quanto de escrita. A palavra falada tem sido um dos instrumentos mais valiosos para nos comunicarmos; o surgimento da palavra escrita foi uma das formas mais engenhosas de fazer com que esta transcenda e persista ao longo do tempo.

De onde vem a urgência de fazer marcas, marcações e registrar a presença, de dizer “aqui estou eu” ou “eu passei por aqui” ou “isto é o que eu penso”? Vem dos mais antigos ancestrais humanos, da época das cavernas, quando ainda não existia a linguagem escrita. Desde os primórdios da humanidade, o homem buscou formas de registrar seus pensamentos e conhecimentos e isto se realizou muitas vezes por meio de marcas e traços nas superfícies dispostas ao seu redor. Existem registros antigos de aspectos do modo de vida de certas épocas, assim como acontecimentos marcantes que sinalizaram momentos-chave na história, que podem ser lidos e interpretados graças a frases e escritos que se mantiveram ao longo do tempo nos muros. Esse tipo de escritos realizados de forma espontânea, aparentemente sem objetivos estéticos e sim com objetivos expressivos e informativos, são consideradas as formas mais antigas do grafite.

Tanto na obra de arte quanto no grafite, a escrita é acolhida para seu uso como componente da composição artística, aportando na construção da imagem, seja por meio de texto legível – associado a alguma língua - ou seja ilegível – quando as formas das letras se fusionam e não permitem ter plena definição e compreensão da leitura. No grafite, a escrita foi o recurso que deu começo à apropriação do espaço público como uma forma de marcação territorial que logo depois foi se expandindo para mensagens, personagens, formas e cores variadas e expressivas, que continuam evoluindo e se afirmando nas ruas, feito à mão e em contraposição aos avanços do mercado de impressão e outros meios de reprodução. Independente das ferramentas,

seja com spray ou outras tintas, o grafite continua crescendo e ocupando lugares cada vez mais reconhecidos dentro da própria comunidade com aceitação considerável dentro da sociedade, dependendo da forma como se apropria e se apresenta no espaço urbano. Veremos uma diversidade de possibilidades de escrita no grafite, criando uma identidade vinculada à rua, através de pinturas, estênceis, estampas, murais, pinturas em grande escala, instalações de rua e projetos de colaboração artística, mensagens e nomes nas paredes, que incentivam conexões e opiniões entre obra e espectador.

5.2.1. A escrita na rua: Inícios do grafite contemporâneo

Pode-se afirmar que boa parte do início do grafite foi a partir da escrita. Esta forma de linguagem foi também a base para a constituição desta forma de intervenção urbana como hoje a conhecemos. Com o surgimento do spray, principal forma de aplicação, grupos chamados glam,57 começaram a fazer intervenções na rua, no final da década de 60, em Nova Iorque. Surgia o chamado writting, que não era mais do que escrever nomes e símbolos nos muros das ruas, feitos por “writers” – escritores —, com o objetivo de delimitar seu território e ganhar visibilidade nos seus respectivos bairros58 . Dessa época, o primeiro que teve reconhecimento foi Taki 183, cujo nome verdadeiro é Demétrio, que é conhecido como o pai do grafite contemporâneo. Tudo começou quando um amigo dele falou que tinha visto paredes rabiscadas a 20 quadras da casa dele, com um nome e o número da rua: JULIO 204, eles acharam legal e começaram a fazer o mesmo. Demetrius escolheu 'TAKI' por ser um diminutivo de vários nomes gregos e adicionou seu número de rua (Figura 60). Ele depois trabalhou como mensageiro, percorria frequentemente as diferentes ruas do seu bairro e assim facilitava a colocação de sua assinatura em diversos lugares, atingindo uma grande área com sua marca. Foi provavelmente uma dessas etiquetas que chamou a atenção de um repórter do New York Times,

57 Movimento que irrompeu na década de 1970 promovendo vaidade, abundância, surrealismo, narcisismo e arrogância, cujo nome vem da palavra glamorous (glamoroso). https://www.urbandictionary.com/define.php?term=glam 58 http://www.valladolidwebmusical.org/graffiti/historia/03antecedentes.html

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