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2.3. A escrita na rua, dentro da construção do visual da cidade Se a visualidade e a materialidade dos espaços comunicam, como afirmam os autores, o texto se soma à essa experiência com novas cargas de informação e produção de sentido. Ele não deixa de ser imagem – quando impresso, pintado ou grafitado – mas também tem um léxico próprio para além de sua leitura como imagem. Em uma sociedade letrada, as duas formas de produção de sentido se entrecruzam. É natural produzir textos (enunciações discursivas) a partir da leitura ou resgate mnemônico das imagens – como vimos dos autores anteriores —, como também é esperada a geração de imagens (imaginário) a partir da leitura de um texto. A escrita surgiu como uma ferramenta fundamental para o registro do conhecimento e dos acontecimentos históricos, em prol do avanço da sociedade. Sua ligação com o sentimento de pertencimento a um lugar é relacionada por diferentes meios, como a alfabetização na escola, as anotações realizadas ao longo da vida e também as possibilidades de que outros se comuniquem conosco. Vivemos no meio de uma diversidade enorme de textos que encontramos em cadernos e publicações, mas também temos ao redor os que estão expostos em espaços públicos e privados, ao alcance do nosso olhar. A escrita, em sua diversidade de aplicações, é mais um elemento que participa como imagem que afeta o visual do nosso espaço, e, de alguma maneira, mexe com a percepção que temos dos espaços em que transitamos. A escrita comunica pelo significado das palavras que contém e também pelo visual das palavras como imagem em si. Ao falar sobre o texto e sua influência no nosso entorno, Walter Benjamin define a escrita como um elemento que faz parte dos ambientes e que, portanto, se torna preponderante dentro dos arquivos da memória. Em Rua Blumeshof, 12, Benjamin (1993) relata a sensação de entrar na casa da avó materna. Especifica desde o som da campainha até a escrita daquela mulher marcante na vida dele, descrevendo a personalidade dela (um dos elementos que é considerado fator determinante nos traços da escrita manuscrita): Alguém que visitasse aquela velha dama em sua sacada atapetada, ornada com uma pequena balaustrada e debruçada sobre a Blumeshof, dificilmente poderia imaginar que ela fizera longas viagens marítimas ou mesmo excursões ao deserto...Madonna di Campiglio e Brindisi, Westerland e Atenas, donde quer que enviasse postais – em todos pairava o ar da Blumeshof. E a caligrafia grande e airosa, que remoinhava na


































