Revista Plano B Brasília n.º 02

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7 O caminho político de um diplomata e ex-BBB

10 ‘Quero ser governadora eleita’

14 O que as mulheres podem esperar de 2023?

16 Tesão no ar

18 Presidente da Adasa comemora as chuvas em Brasília

20 8 de janeiro de 2023: o dia que não acabou

22 “Pernambuco sempre foi um estado de vanguarda”

26 A mobilidade que nos espera

28 Ricardo Vale planeja priorizar a redução da pobreza no DF

32 Falando em Saúde Dieta sem glúten: um hábito saudável?

34 Maíra Carvalho: “No cinema, eu me sinto em casa”

36 Os perigos do cartão de crédito

38 “Liderança feminina”

40 A história original de Pinóquio, conto clássico italiano popularizado por Walt Disney

46 Bobby Fischer: O xadrez é a vida

48 A troca de governo influenciará na posição do Brasil frente ao conflito Russia X Ucrânia

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SUMÁRIO

EXPEDIENTE EDITORIAL

Diretor Executivo

Diretor Administrativo

Chefe de Redação: Paulo Henrique Paiva

Colaboradores: Adriana Vasconcelos, Ana Beatriz Barreto, Romulo Neves, Luciana Lima, Renata Dourado, Paulo César, Wilson Coelho

Design Grafico: Alissom Lázaro

Redação: Adriana Vasconcelos

Fotografia: Ronaldo Barroso

Tiragem: 10.000 exemplares

Redação: Comentários sobre o conteúdo editorial, sugestões e criticas às matérias: planob@gmail.com

Aviso ao leitor: acesse o site da Revista Plano B e tenha acesso a todo o conteúdo na íntegra, inclusive a Revista Digital.

www.revistaplanob.com.br

Janeiro/2023

Ano 01 – Edição 02 – R$ 14,90

Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores.

A Revista Plano B não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

Celina Leão na linha de frente

A pandemia já havia colocado milhares de mulheres na linha de frente do combate a uma crise sanitária sem precedentes na história recente, tanto nos hospitais, onde representam 70% dos profissionais da área, como dentro de casa, trabalhando remotamente, cuidando de crianças sem aulas e dos idosos.

Agora coube mais uma vez a uma mulher contornar parte dos efeitos de uma tentativa de golpe de Estado, ocorrido no último dia 8 de janeiro, que culminou na invasão e depredação das sedes dos três Poderes da República, levando o Judiciário a afastar do cargo, por 90 dias, o governador reeleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

Como vice-governadora, Celina Leão (PP) assumiu seu papel constitucional de substituir o titular sem pestanejar e vem se destacando por sua atuação firme. Está contribuindo de todas as formas possíveis com a investigação sobre as possíveis falhas do GDF na repressão aos atos golpistas, mas tem feito um contraponto para que o governo federal reconheça que o apagão das forças de segurança pública aconteceu na esfera local e, também, na federal.

Com personalidade forte e a experiência acumulada na vida pública- dois mandatos na Câmara Distrital, que chegou a presidir no biênio 2015/2016, e um na Câmara Federal, onde foi nomeada coordenadora da bancada feminina -, Celina Leão não esconde suas ambições políticas de assumir definitivamente o comando do GDF, só que como governadora eleita.

Assim, ela não só mostra confiança em seu próprio potencial eleitoral, como tranquiliza o governador afastado rebatendo qualquer intriga de que poderia estar articulando nos bastidores, a derrubada definitiva do titular do cargo.

A interinidade no cargo de governadora não limita os planos de Celina Leão como gestora da terceira cidade mais populosa do Brasil. Uma de suas prioridades será retomar a ocupação do Centro Administrativo de Taguatinga.

Um bom começo!

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O caminho político de um diplomata e ex-BBB

Rômulo Neves admite que surpreendeu os colegas de Itamaraty ao aceitar participar de um programa popular. Mas sua volta gerou uma curiosidade contida de muitos deles.

Diplomata e ex-BBB, Rômulo Neves não esconde de ninguém que a política está na sua essência. Aliás, foi ela que o fez aceitar o inusitado convite que recebeu para participar do BBB 2017, quando estava a caminho de um jogo de futebol, depois de pensar que era um trote. Topou após concluir que isso poderia ajudar projetar sua imagem e alavancar o objetivo de ser candidato a deputado federal em 2018. Acabou abrindo mão da disputa por motivos pessoais, mas revelou à revista Plano B sua disposição de disputar uma vaga à Câmara dos Deputados no futuro. Por ora, segue na carreira diplomática e escrevendo. Publicou nos últimos anos um livro sobre Política Internacional e, neste ano, seu segundo de poesia. Confira!

Você já declarou que não assiste o Big Brother Brasil, nem mesmo o que participou em 2017. Como foi parar lá?

Fui abordado na rua, quando estava a caminho de um jogo de futebol. No início achei que fosse alguma brincadeira. Não acreditei nos produtores do programa que me abordaram. Pediram que eu desse o meu telefone, pois o diretor do programa me ligaria alguns dias depois para me convidar para conversar. Ainda pensei em dar meu número errado, mas acabei dando o correto e realmente me telefonaram depois.

Quando cheguei em casa, contei para minha esposa, mas ela também não acreditou. Fui pesquisar sobre os índices de audiência do programa e, como estava preparando minha candidatura a deputado federal às eleições de 2018, decidimos que, se fosse real o convite, eu toparia participar, já que seria uma ótima oportunidade para divulgar meu nome, com efeitos para a campanha.

Nesse aspecto, minha participação foi muito exitosa. Nas primeiras pesquisas para deputado federal no DF, ainda na metade de 2017, cheguei a figurar na terceira colocação – de

8 vagas. As primeiras colocadas naquelas pesquisas realmente foram eleitas: Flávia Arruda e Erika Kokay. Desisti, posteriormente, de concorrer, por razões pessoais e familiares.

Como o Itamaraty e seus colegas de trabalho reagiram quando voltou ao trabalho, depois da eliminação do BBB?

Sei que foi uma grande surpresa para todos. Na grande maioria dos casos de colegas que vieram conversar comigo, com curiosidade, mas de maneira contida. Pois se trata de um programa popular, com muita polêmica.

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Houve também muitas críticas, mas nunca fui abordado de maneira crítica abertamente. Os críticos se mantiveram distantes. Voltei, entretanto, para o mesmo setor e para as mesmas funções que tinha antes. Assim, do ponto de vista estritamente profissional, nada foi alterado.

Uma conversa com uma colega me marcou bastante. Ela me disse que minha “coragem” em aceitar participar de um programa popular deixou-a mais à vontade e inspirada para seguir uma via que sempre havia ensaiado, mas nunca havia se aprofundado na vida artística. Hoje está bastante ativa

Que lições o diplomata Rômulo Neves levou dessa inusitada experiência?

Acho que duas específicas, mas de natureza e intensidade diferentes. A primeira, de natureza mais geral, é a de que a indústria de entretenimento é ao mesmo tempo produto e causa de algumas das nossas fragilidades sociais atuais.

O processo de edição, pelo qual passam as imagens e a narrativa do programa, é muito parecido com o processo de edição e divulgação parcial dos discursos e objetivos políticos dos candidatos. A falta de avaliação crítica frente a esses discursos e, com isso, a facilidade com que parte da população cai nessas narrativas ainda me impressiona.

Em segundo lugar, de natureza mais individual, é o conhecimento da estabilidade emocional e mental que consegui atingir. A pressão a que somos submetidos, com a súbita popularidade e visibilidade é descomunal.

Assim, ter tido a tranquilidade de manter o meu passo e os meus planos de longo prazo na mesma toada foi uma conquista, e o reconhecimento dessa minha característica foi um aprendizado.

Como foram suas incursões pela política no DF? Foi chefe de gabinete do ex-governador Rodrigo Rollemberg e candidato a deputado distrital. Pretende participar de outras campanhas?

Me preparei por muitos anos para assumir responsabilidades públicas. A política está na minha essência. Mas não a qualquer preço. Isso me leva a traçar limites aos quais não ultrapasso. Além disso, não tenho parentes políticos, não tenho uma profissão que me coloque junto ao público. Tenho de construir meu caminho devagar.

Sigo atuando nos bastidores, mas certamente devo retornar em algum momento à disputa política no DF. Daqui a alguns anos. Avalio que o Congresso é

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o local onde as disputas políticas devem ser conduzidas, por isso desde a minha primeira candidatura, ainda a distrital, minha avaliação é a de que o meu caminho é a disputa de uma cadeira na Câmara dos Deputados. Quando? Ainda não sei. Por enquanto, cuido da minha família e exerço minha profissão com esmero. Quando chegar a hora, saberei.

Desde 2021 mudou-se para Berlim, onde atua como chefe do Setor de Promoção Comercial na Embaixada Brasileira na Alemanha, qual a imagem que os alemães têm do Brasil e a avaliação deles sobre os acontecimentos ocorridos em Brasília no último dia 8 de janeiro?

Trata-se de uma relação complexa. Ao mesmo tempo em que há muito interesse, especialmente na Amazônia, houve nos últimos anos um distanciamento importante, devido ao discurso que se vinha adotando no país. A eleição do presidente Lula alterou esse quadro, com um interesse crescente do país no Brasil. Para se ter uma ideia, nos primeiros três meses do ano, terá ocorrido mais visitas de alto nível de autoridades alemãs – incluindo o Chanceler (equivalente ao primeiro ministro), o Presidente e o ministro da Economia – do que no total dos dez anos anteriores. Os eventos de 08 de janeiro geraram bastante preocupação, mas a condução da crise pelo Governo Lula gerou, posteriormente, bastante alívio.

Em março, parece que teremos o encontro Brasil/ Alemanha em Belo Horizonte. O que podemos esperar desse encontro após a saída de Jair Bolsonaro e a volta de Lula pela terceira vez?

Como disse, há um movimento muito forte de reaproximação. O próprio ministro da Economia vem para o encontro. Certamente isso vai se traduzir na retomada dos investimentos e do comércio – que caiu bastante nos últimos anos. Não sabemos, entretanto, se essa recuperação conseguirá retomar os números de 2011 a 2013, o pico de nossa relação comercial bilateral, pois o mundo mudou. China, Oriente Médio, África, todos esses lugares aumentaram sua participação no comércio global e a tradicional parceria com países europeus já não ostenta a posição que teve no passado.

Quais são suas expectativas para 2023 para o Brasil e também para Brasília, sua cidade?

Para o Brasil, de modo, geral, imagino que vai ser um ano de reconstrução. O governo começou muito bem, com a formatação de uma frente ampla, com muita gente interessada em retomar as bases da República e da democracia. O

problema é que o estrago foi enorme. Alguns amigos que assumiram posições de comando em vários setores afirmam que o termo “terra arrasada” não dá conta de descrever a situação que encontraram depois de 4 anos de desmando. Então, a tarefa não é simples e tomará muito tempo e energia. Em relação ao DF, avalio que seguirá na eterna crise em que se meteu, com equívocos de gestão, há pelo menos 20 anos, inclusive do governo de que eu participei – ainda que tenha havido um esforço descomunal de muitos daquele governo de aprumar as contas públicas. Mas a política local é uma armadilha. Consertar os erros do passado envolve mexer em muitos privilégios e fatos consumados do presente. Muitos interesses cristalizados estão em jogo. Aprumar o estado é contrariar, em muitos aspectos esses interesses. Não é à toa que Rollemberg – com todas as críticas que eu possa ter – não se reelegeu. Muitos interesses foram prejudicados naquele período.

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‘Quero ser governadora eleita’

Assim,

Como vice-governadora do Distrito Federal, coube a Celina Leão (PP) assumir o comando da capital federal após a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, de afastar o titular do cargo, Ibaneis Rocha, por 90 dias. Sua expectativa é que ao final desse prazo, o titular volte. Tão pouco acredita que tem chances de prosperar qualquer processo de impeachment.

Segunda mulher a comandar o GDF, Celina assumiu o posto em meio à crise deflagrada pela invasão das sedes dos três Poderes da República no dia 8 de janeiro e às suspeitas de negligência do governador e do então secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, atualmente preso. Uma tarefa, no mínimo, espinhosa para quem percorreu o país durante o segundo turno da eleição presidencial ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e da senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

Nada que intimide essa goiana de olhos claros, cabelos loiros e muita personalidade, que fez sua estreia na política em 2011, como, deputada distrital. Antes de chegar ao Palácio do Buriti, exerceu mandato de deputada federal e ganhou destaque como coordenadora da Secretaria da Mulher na Câmara dos Deputados.

Como definiria Celina Leão para quem ainda não a conhece?

Celina Leão é uma mulher que foi forjada pela força da resistência, muita luta, muito trabalho, mas na sua vida pessoal é uma pessoa muito simples, atleta que gosta de coisas simples, de esporte. Goiana, fui criada no interior de Goiás, mexendo com cavalos. Então eu tive uma infância muito simples, com pessoas do meio do rural. Montei cavalos muitos anos para fazer competição de provas. Aprendi que a verdadeira felicidade somos nós que construímos, não é a busca incessante por coisas. A felicidade são momentos que você precisa estar em paz. Eu acho que isso foi uma coisa muito importante para todos esses processos políticos que eu venci e para ser

a mulher que eu sou hoje, desde dormir em qualquer lugar, comer qualquer comida e estar feliz com aquilo. Simplicidade é uma coisa que fez parte da minha infância, que eu carrego toda vida, ajudou muito na minha campanha política. Estar ouvindo você perguntar, qual é o melhor dia do seu gabinete? É o dia que eu estou na rua. Sou mulher forte que tem a bandeira da mulher também como uma bandeira de vida.

Na Câmara dos Deputados, a senhora destacou-se como coordenadora da Bancada Feminina e, em algumas ocasiões, foi obrigada a reagir de forma dura para que fosse respeitada por alguns colegas homens. O que mais afasta a mulher da política atualmente?

Acho que é o próprio ambiente, que deixa ainda a mulher muito temerosa de participar da vida pública. A própria estrutura partidária é muito machista. Nós temos poucas mulheres que participam por esse temor de perder algo. Tivemos uma vitória tímida (em 2022), saímos de 79 para 91 deputadas (federais) eleitas, um crescimento de apenas 18%, mas aumentamos.

Nós tínhamos feito uma perspectiva de crescermos 30%, trabalhamos para isso, desde que pactuamos junto ao TSE re-

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a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), reitera sua lealdade ao titular da vaga, Ibaneis Rocha, por ordem do STF

soluções que beneficiaram as mulheres nas inserções dos programas eleitorais em horários com mais visibilidade, porque não existia uma grade específica para mulheres. A própria estrutura ainda é muito machista, mas eu acho que as mulheres se percebem em outras mulheres e vão vencendo.

Hoje estava recebendo uma deputada, a primeira deputada negra da história do DF, delegada que venceu na vida através dos estudos, trabalho, força de vontade. Então, são mulheres como eu, como a delegada Jane, como tantas outras que tiveram coragem de buscar um mandato. Eu sempre falo, se você acredita no que você faz, se você tem uma bandeira no seu coração, vá à luta, não tenha medo.

Durante a campanha eleitoral de 2022, a senhora manifestou seu apoio à candidatura de Jair Bolsonaro, assim como Ibaneis. A senhora acredita que isso possa limitar ou atrapalhar a relação do GDF com o governo Lula?

Não, sou uma democrata, acredito que os Estados e o Governo Federal têm que governar para todos os brasileiros. Nós somos 58 milhões de brasileiros que votaram no presidente Bolsonaro, aqui no DF, a maioria optou pelo presidente Bolsonaro, mas nós teremos como presidente da República Lula. Eu também preciso respeitá-lo, porque ele foi eleito também de uma forma democrática.

No dia da nossa diplomação, eu fiz um discurso que iríamos ter um governo para todos, que a oposição seria respeitada, as divergências seriam respeitadas e que nós iríamos governar para todos, essa unidade, sem saber que iríamos passar um problema tão grave como nós estamos passando. É preciso ter a capacidade de entender o que são as instituições e a democracia nesse momento. O presidente Lula vai ter

que governar para todos. Eu, aqui, para todos e todos os demais governadores.

A senhora é a segunda mulher a assumir o GDF? Como recebeu a notícia de que assumiria o lugar de Ibaneis Rocha por 90 dias?

Com muito pesar e muita tristeza. É um momento de muita dificuldade, onde nós éramos notícias em veículos internacionais e eu sabia o tamanho da responsabilidade, sempre entendi assim que o governador sempre foi muito diligente nessa parte de relacionamento com os Poderes.

Foi uma decisão muito dura para nós e precisávamos mostrar para população do DF, que eles elegeram um projeto que tinha um governador e uma vice, e a gente espera que seja de forma temporária mesmo, e que poderiam contar com aquela chapa completa. Tenho certeza que eu agreguei votos para o Governador Ibaneis, fiz parte do projeto político dele e, hoje, estou numa condição de extrema lealdade aqui na minha posição.

Desde o afastamento, eu nunca despachei da sala do Ibaneis, não quero a cadeira do governador Ibaneis. Tenho trazido para a cidade a normalidade,

para que a gente tenha as condições políticas e o governador possa pleitear o retorno dele ao Governo do DF.

Como a senhora avalia o afastamento por 90 dias do governador Ibaneis do comando do GDF?

Não quero discutir decisões do Supremo, uma decisão judicial. Acho que foi uma medida que o Judiciário tomou por precaução. O afastamento do governador é judicial e vocês terão uma governadora por 90 dias, que é completamente fiel ao projeto do governador Ibaneis. Em reuniões disse que nesses 90 dias a equipe iria se reportar a mim, para não ter um duplo comando, para que a gente pudesse ter uma cidade organizada, para dar tranquilidade sobre a decisão judicial, que não teria nenhum tipo de interferência no Governo Federal.

Qual sua avaliação sobre a invasão da sede dos 3 Poderes da República no último dia 8 de janeiro?

Eu fui deputada federal, produzi 200 legislações naquela Casa, não tem como você não se impactar. Eu, que acompanhei de dentro do Ministério

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da Justiça, ao lado do ministro Flávio Dino, ao lado do ministro Alexandre Padilha, todo aquele momento e depois visitei a Câmara, é muito triste, porque você parte um país que sai do campo de ideias e vai para o campo da violência.

Todos os países que começam a apoiar esse tipo de ato e fica validando atos de extremistas, corre o risco de ter um país que vive sobre estado de exceção. E aí você fragiliza algo que é o mais importante que o brasileiro tem hoje, que é a democracia. Então, foi algo muito chocante para mim.

A senhora acha que houve negligência das forças policiais do DF? Como está vendo a intervenção federal sobre a segurança pública do DF?

Houve um apagão na parte da segurança pública, porque todo uma equipe foi trocada. Eu não quero fazer pré-julgamento de ninguém, de nenhuma das pessoas que estavam lá, nem do secretário Anderson Torres. Agora que houve um apagão houve, que as ordens não foram dadas, isso já foi detectado por várias pessoas, pelo próprio Ricardo Capelli (interventor do DF), pelo próprio governador, que havia recebido as informações de que estava tudo sob controle no momento anterior à invasão dos Poderes.

Houve erros, acho que o inquérito vai conseguir apurar onde e porque, quando, quem, quem fez, se foi doloso, culposo, se foi omissão, negligência, tudo isso. Quem tem as condições de fazer todo um diagnóstico é o Poder Judiciário, que está cuidando dos inquéritos.

A intervenção foi necessária, porque nos dá uma garantia. Toda a área que estava sob suspeição foi afastada do GDF, o que nos deu condição de governarmos para que a população tivesse tranquilidade. Então, foi necessário no primeiro momento, inclusive nos dá uma certa tranquilidade, porque todos os dados foram coletados pelo Interventor Ricardo Capelli, trabalhou com as forças de segurança, tem informa-

ções, está elaborando relatórios para entregar. O espírito de colaboração nosso foi grande aqui, sabendo da gravidade do momento

De que forma a senhora e o próprio GDF têm contribuído em busca dos responsáveis pelos atos de 12 de dezembro e 08 de janeiro?

Primeiro dando todo o suporte para que a intervenção dê certo e eles colham todos os dados necessários. Isso inclusive já aconteceu, porque há uma negociação deles para nos devolverem a segurança pública. Nós também criamos aqui um gabinete de restabelecimento da ordem, pedimos apuração para Controladoria sobre o envolvimento de possíveis servidores do GDF e fazer as apurações de qual foi a gravidade dos atos praticados por cada um deles. Você não pode ter também uma posição injusta aqui por parte do GDF, mas já mandei que fossem aberto os procedimentos administrativos. Então todas as providências foram tomadas, essa relação de respeito que hoje o governo federal tem conosco e nós temos com ele, conseguimos no meio de uma crise.

Quais serão suas prioridades como governadora interina do DF? Pretende tocar as promessas de Ibaneis na campanha eleitoral?

Nós já fizemos uma reunião da previsão da ocupação do Centrad (Centro Administrativo de Taguatinga), uma prioridade nossa, inclusive já determinei que fosse feito, um laudo para ver quais são as reformas e fazer a licitação. Determinei a licitação, pois vamos ter que fazer para uma obra viária. Temos dois órgãos, que é o Na Hora e o BRB, para que poderão começar o processo de ocupação imediata.

Fizemos uma reunião também com a área de Saúde para que a gente pudesse ter protocolos únicos entre Secretaria de Saúde e IGES, um canal de atendimento ao usuário, onde ele entra, e sabe para onde vai, pois o usuário não tem obrigação de saber o que é IGES e o que é Secretaria de Saúde.

Hoje nós temos 7 sistemas na Secretaria de Saúde que que não conversam entre si, por isso precisamos de uma padronização de atendimento, de cuidar de insumos, do cidadão. E esse contato direto com o cidadão, desde a tele consulta, que tipo de dor você está sentindo, para qual hospital vai ser encaminhado, para o cidadão não entrar no carro e ir de hospital em hospital, sem saber ao certo. Nós fizemos essa reunião já para assinar o decreto do grupo de trabalho, fazer toda a logística.

Também fizemos uma reunião com a secretaria de Educação para o retorno das aulas. Então, o GDF não parou. Tomamos várias medidas, criamos grupo de trabalho com metas, olha, vocês têm tanto tempo para organizar. Acredito que o

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Governador Ibaneis gostaria que eu cuidasse da cidade, entregasse a cidade no mesmo ritmo de trabalho que ele tem.

Carregar o piano do Governador e da Vice, está sendo mais trabalhoso, desafiador ou prazeroso do ponto de vista político?

Muito trabalhoso, muita responsabilidade, é um momento que é muito difícil para mim, entende? As pessoas às vezes pensam: a Celina virou a governadora. Eu quero ser governadora eleita, eu sou uma democrata. Estou cumprindo missão porque eu tenho certeza que a vontade do governador era que eu fizesse um trabalho sério pela cidade e cuidasse das pessoas com o mesmo carinho que ele sempre cuidou, então estou aguardando ansiosa o retorno dele.

Passados alguns dias, vão surgindo imagens inéditas do ocorrido dentro do Palácio do Planalto, STF e Congresso. Seria possível avaliar que a PMDF, de alguma forma, foi envolvida, foi complacente com militares do Exército, fez corpo mole em relação aos golpistas?

O que falham são os humanos, as instituições não. Na Polícia Militar estamos com 43 homens feridos. A instituição Polícia Militar sempre deu conta de todas as manifestações que aconteceram aqui. A PM recebe ordens, entendendo então assim, qual foi a ordem que a instituição recebeu? Existia um corpo de inteligência que foi desmontado, então assim, nesse momento que se procuram culpados, culpar a Polícia militar como instituição é um erro gigante e aí tem que individualizar cada conduta, de cada imagem que vem surgindo. E o Ministério Público do DF tem uma competência residual para apurar e acompanhar o caso dos militares, já estão atuando nesse sentido junto com a promotoria militar, mas as instituições não falham. O que falha são homens e mulheres, que muitas vezes erram, e aí precisam ser punidos na medida de sua responsabilidade.

Acredita que poderá haver um impeachment do Governador Ibaneis ou da chapa?

Acho que a democracia prevalecerá e respeitará uma chapa que foi reeleita em primeiro turno, de forma inédita. Acredito que esse processo não tem a possibilidade de prosperar, porque os próprios deputados entendem que o que aconteceu está sendo apurado.

E o novo secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar?

É uma pessoa que tem capacidade técnica, trânsito político. Passou por vários governos: Agnelo, Temer, Bolsonaro,

em vários cargos estratégicos pela competência. Agora, novamente é requisitado em um momento de crise. Foi o secretário da época das manifestações grandes de 2013 e sempre deu conta do recado e conhece o DF.

Qual seu Plano B?

Não tenho plano B nenhum, eu tenho um plano A que já arquitetei, para os 90 dias desse afastamento, dar o meu melhor, cuidar das pessoas, entendeu? Então isso não está em cogitação na minha cabeça, nenhum plano B.

Perspectivas para 2026?

Claro, um projeto político meu e do governador Ibaneis estava em curso, era a vice, sucessora natural dele. Então, com certeza, perspectiva 2026, um trabalho sério e correto para que a gente tenha aí a possibilidade de ter aprovação da população do Distrito Federal.

Celina por Celina.

Acho que sempre me sai bem nos momentos que eu sou desafiada, dou o melhor de mim. A Celina por Celina é isso, uma mulher como qualquer outra que está aí na nossa sociedade, que teve coragem de se candidatar, de lutar pelo que acredita e que hoje está diante de uma crise institucional, mas que também tem a coragem e força para enfrentar.

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O que as mulheres podem esperar de 2023?

No último dia 8 de janeiro, a realidade nos bateu à porta sem dó e nem piedade, mostrando a cara mais perversa da radicalização política, que culminou na invasão e no quebra-quebra nas sedes dos três Poderes da República.

Sob os olhares aparentemente apáticos das forças de segurança pública, local e nacional, assim como também de inúmeras autoridades de plantão, os brasileiros foram surpreendidos com cenas que a maioria de nós duvidava que poderiam se concretizar, por mais raivoso e radical que seguisse o debate nas redes sociais e nas portas dos quarteis sobre o resultado eleitoral.

Neste clima de tensão que terminamos o primeiro mês de 2023. Um sinal de que o desafio feminino, de seguir ampliando seus espaços de Poder, poderá ser ainda mais difícil. Por mais que sigamos batendo recordes seguidos, como na ocupação de postos de comando na Esplanada dos Ministérios. Nada menos do que 11 mulheres foram nomeadas como ministras do 3o Governo Lula, mesmo assim elas não chegam a ocupar 30% dos cargos da Esplanada.

Algumas delas, por pouco não ficaram de fora. Como as importantes aliadas no segundo turno da disputa presidencial do ano passado: Marina Silva e Simone Tebet, confirmadas nas pastas do Meio Ambiente e Planejamento no apagar das luzes do governo de transição.

Mal presságio?

Não creio. Esse tipo de obstáculo para quem habita uma pele feminina é quase sempre a regra. O que leva muitas das mulheres que chegam a postos de comando a incorporar vícios da política tradicional comandada pelos homens. Até entendo quando isso acontece. Muitas cansam de remar contra a correnteza e jogam conforme as regras, contentando-se a papéis, na maioria das vezes, de coadjuvantes na cena política nacional.

Uma pena que, com isso, deixem de tirar proveito dos principais ativos de uma liderança feminina, como a empatia e a facilidade para encontrar soluções alternativas em momentos de crise, como o enfrentado pelo Brasil e o mundo nos últimos anos.

‘Quem sabe faz a hora, não espera acontecer’

Como nos ensina a canção de Geraldo Vandré, a hora é de aproveitar o momento desafiador e fazer do limão uma limonada, mostrando do que somos capazes. Em qualquer que seja o lugar que estejamos: a frente de um ministério, na presidência da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, nas inúmeras secretarias executivas da Esplanada hoje ocupadas por mulheres, no Legislativo ou Judiciário.

Alguns desses postos, aliás, ocupados pela primeira vez por uma mulher. Esse é o caso, por exemplo, da embaixadora Maria Laura Rocha, a primeira diplomata mulher a assumir a Secretaria Geral do Itamaraty.

A preparação para batalhas futuras é sempre importante _ como as eleições municipais de 2024, por mais que pareçam ainda distantes _ para que não haja retrocesso nas conquistas asseguradas no pleito do ano passado, quando 91 mulheres foram eleitas deputadas federais, superando o recorde de 77 conquistado em 2018.

Os segmentos femininos dos partidos precisam estar atentos a isso. Alguns deles já começam a se movimentar, procurando cursos de capacitação de futuras candidatas. O maior desafio deles tem sido assegurar que as eleitas não desistam de inovar na hora de fazer política. Se conseguirem manter a essência feminina em suas atuações políticas.

É hora de aproveitar o momento desafiador que o Brasil enfrenta para mostrarmos nossas qualidades e competências na cena política quem sabe essas futuras lideranças possam colher resultados tão inovadores quanto a de as empresas que decidiram abrir espaço para um número maior de mulheres em cargos de comando. O resultado foi um lucro maior entre 5% e 20% de acordo com levantamentos da OIT e FMI.

Um paralelo disso na política tem boas chances de representar um sopro de esperança para 2023.

*Jornalista e consultora em Comunicação Estrategica

Adriana Vasconcelos*
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É hora de aproveitar o momento desafiador que o Brasil enfrenta para mostrarmos nossas qualidades e competências na cena política

CONTOS EM CONTA-GOTAS

Tesão no ar

Agora, sentada aqui, olhando Paris despertar, rio baixinho me recordando que pensei naquele dia que estávamos embarcando para destinos diferentes...nesse momento diria que naquela noite estávamos apenas embarcando para países diferentes, mas o destino, bem, o destino estava apenas aguardando o momento de ser ele nosso.

Voltando ao nosso esbarrão posso dizer que senti uma corrente eletromagnética me percorrendo dos pés até a cabeça, que me senti totalmente desconectada do chão e vi estrelas sob o teto do aeroporto. Só me lembro de ter tido a certeza de que ele também estava sentindo essa bagunça toda dentro dele como eu.

Estávamos sendo chamados para nossos embarques, e só deu tempo dele pedir o meu número de telefone. Ouvi a voz mais sexy do mundo inteiro e me senti derreter todinha.

Cheguei a Nova Iorque, e antes mesmo de estar com a mala desfeita, recebi o telefonema que mudou as nossas vidas. Nuno, português de Coimbra estava em Seattle para tratar de negócios da sua empresa e queria vir me encontrar na Big Apple assim que tivesse resolvido as questões que o levaram até a cidade que fica no estado de Washington. Dependendo da minha disponibilidade ele seguiria até onde eu estava para podermos nos conhecer.

Passei uma semana trabalhando intensamente, mais concentrada do que sempre fui, focada inteiramente nos eventos de moda para os artigos que estava escrevendo para um jornal no Brasil.

Chegou enfim a data marcada, hoje ele viria me encontrar no Equinox, onde me hospedei e estava bastante satisfeita pela escolha. O hotel é novo, descolado e atende muito bem

as expectativas para quem descansa e para quem se diverte enquanto trabalha..

Nuno insistiu para eu ficar hospedada no apartamento que ele tem no Soho, e quanto mais ele pedia mais eu teimava em continuar no hotel em que eu estava. Depois de continuar no hotel por mais dois dias, finalmente me hospedei no apartamento do Nuno.

Ficamos literalmente ilhados em Manhattan, mas foram os dias e as noites mais incríveis que eu estava vivendo em toda a minha vida.

Ei, vou parando por aqui, porque essa é apenas a primeira página, ou seria prefácio, da mais perfeita história de amor e sexo?

Acho melhor ir relatando aos poucos esse encontro de corpos e almas, e quem sabe assim servir de estímulo a muitas e muitos que já não acreditam mais na felicidade em par.

Até breve!

Por Ângela
*
Beatriz Sabbag
“Passei uma semana trabalhando intensamente, mais concentrada do que sempre fui, focada inteiramente nos eventos de moda para os artigos que estava escrevendo para um jornal no Brasil.”
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Demos um encontrão no saguão do aeroporto. Ambos embarcaríamos em poucos minutos para o exterior, mas cada um para um destino.

Presidente da Adasa comemora as chuvas em Brasília

Ogrande volume de chuva que atormentou o verão dos brasilienses tem sido comemorado, e muito, pelo presidente da Agência Regulador de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa), o ex-deputado distrital Raimundo Ribeiro, nascido no Piauí, mas que adotou a capital federal ainda menino. Em sua gestão, Ribeiro tem investido na educação, no estímulo ao reuso da água e em projetos que visam um maior aproveitamento do que clássica como “presente divino”: a água da chuva.

Entre sua chegada na direção da Adasa e os dias atuais, o que pode ser comemorado? Não vale falar da chuva!

Como não falar da chuva, sendo eu um nordestino, um piauiense? Claramente a chuva foi um presente no final do ano passado, momento em que vivemos uma estiagem um pouco mais intensa do que o previsto. De todo modo, é claro que a gestão dos recursos hídricos e da estrutura física com os devidos aportes e reparos também contribuíram. É o caso da inauguração de Corumbá IV no início do ano passado. E, também, de todo o trabalho realizado para conscientizar a população sobre o uso racional da água por meio de campanhas socioeducativas e do projeto Adasa na Escola. Enfim, todo trabalho realizado, que contribua para passarmos uma estiagem sem apertos é importante e merece ser comemorado.

Como é manter a proteção das nascentes hídricas com o crescimento desordenado da cidade, e por vezes confrontar com assentamentos irregulares, que crescem exponencialmente?

A proteção das nascentes é resultado do trabalho conjunto de órgãos competentes, envolvidos na proteção ambiental e na garantia do ordenamento territorial. Neste sentido, destacam-se o Instituto Brasília Ambiental, responsável pela gestão das Áreas de Preservação Permanente das nascentes, e o DF Legal, com a missão de promover o crescimento ordenado da cidade dentro da legalidade. Já a Adasa atua na regulação dos usos de recursos hídricos, por meio da

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concessão de outorgas de direito de uso, e sempre que necessário, acompanha ou atua conjuntamente com os demais órgãos envolvidos.

O abastecimento de água em Brasília tem números privilegiados em relação ao restante das cidades brasileiras. Quanto ao esgoto e tratamento do mesmo, falta muito para termos números de primeiro mundo?

Atualmente, o DF conta com coleta de esgoto de aproximadamente 90% da população urbana, sendo que 100% do esgoto coletado é tratado, ou seja, não há esgoto coletado pela empresa de saneamento que não seja tratado no DF. Cabe destacar que são previstos investimentos em expansão e melhoria no serviço de esgotamento sanitário no DF em 2023, que podem chegar até cerca de 200 milhões.

A entrada de Corumbá em funcionamento deu um alívio ao sistema Descoberto, Santa Maria e Pipiripau, esse alívio é seguro por quantos anos a mais? Depois desse tempo, digamos com folga hidro, o que pode e está sendo feito?

A partir de 2022, o sistema de abastecimento de água do Distrito Federal ficou ainda mais robusto com o aporte adicional por meio da interligação de Corumbá IV à rede de abastecimento do DF. O Sistema Corumbá passou a operar com uma vazão reduzida, durante os primeiros meses após a sua inauguração, e sua possibilidade de contribuição de abastecimento vem sendo ampliada gradativamente até o atingimento da capacidade máxima prevista para a primeira fase do projeto. Essa medida – somada a outras ações de ampliação e melhorias das estruturas de pequenos e médios mananciais de abastecimento, de redução de perdas

na rede, e de interligação de sistemas isolados – propicia uma maior segurança hídrica para o DF.

Mais recentemente a Adasa publicou a Resolução no 13, de 19 de dezembro de 2022, que aprova o Plano de Exploração dos Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Distrito Federal. De acordo com esse Plano, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) define as ações futuras para a

exploração dos serviços, em harmonia com os planos de saneamento básico do DF, estabelecendo as estratégias de operação, previsão de expansão e os recursos previstos para investimento.

Qual seu Plano B?

Não tem plano B, meu plano é único. Continuar ajudando na construção de uma sociedade onde impere a fé, a fraternidade e a paz, independentemente de divergências conceituais.

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SAÚDE

8 de janeiro de 2023: o dia que não acabou

Estava no primeiro dia das minhas tão esperadas férias.

Havia decidido que não iria viajar. Depois de muitos anos, finalmente, tiraria esses dias para ficar com meus pais, que passam por problemas sérios de saúde, e descansar bastante.... Brincava com meus amigos que estava tão cansada que corria o risco de dormir e “ entrar em coma”.

No sábado, passei a madrugada maratonando séries, com meu filho. Acordei por volta das três e meia da tarde do fatídico domingo. Dei uma sondada no Whatsapp, sem entrar em nenhuma conversa. Um grupo, em particular, chamou-me a atenção: um do trabalho. Estranhei a grande quantidade de mensagens. O espírito de jornalista curiosa não resistiu. Abri as mensagens, começando pelas primeiras do dia. Fui entendendo aos poucos o que estava acontecendo. Liguei a TV. Não acreditei no que via. Parecia um cenário de guerra. Alias, era um cenário de guerra. Minha cidade estava sendo destruída e eu não conseguia entender o motivo de tanto ódio. Meu filho acordou. Atônito, também ficou olhando as cenas de terror ao vivo na televisão. E me perguntou: “ - Pelo amor de Deus, o que está acontecendo?”

e mostravam suas caras, como se estivessem em um surto coletivo.

Tive vontade de sair correndo e ajudar meus colegas a noticiar o que estava acontecendo, ainda que em cima dos prédios, para não serem agredidos, mais uma vez.

Mas, não podia, por fatores burocráticos( estava em férias) e fatores psicológicos.

Estava cansada. Os últimos anos, foram difíceis para todos os habitantes do planeta e, em especial, para alguns profissionais, entre eles, os jornalistas.

Tivemos equipamentos quebrados, fomos desrespeitados, impedidos de trabalhar, agredidos verbalmente, moralmente, fisicamente... Colegas foram assassinados.

Palácio do Planalto.

Tivemos uma cobertura eleitoral difícil e quando tudo parecia finalmente se acalmar, surge um dia que parece não ter fim. E para o bem da democracia é importante que o fim só venha quando todos, absolutamente todos os responsáveis sejam punidos. Já para a história, o 8 de Janeiro de 2023, fica marcado, como uma mancha impregnada, que nem o tempo é capaz de apagar.

Eu não sabia explicar. Não conseguia entender como as autoridades competentes deixaram aquelas pessoas chegarem até aqueles santuários sagrados para a democracia: o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e por fim o Palácio do Planalto. Locais onde tantas vezes estive fazendo reportagens e me orgulhava pelas suas belezas imponentes. Símbolos reais dos três poderes de uma nação. Agora, em cacos. Nem nos meus piores pesadelos poderia imaginar tamanha brutalidade. E mais, as criminosas e os criminosos riam

Atualmente, apresenta o Band Cidade Segunda Edição, jornal local, que vai ao ar, ao vivo, de Segunda à Sexta, às 18h50. Também apresenta o Band Entrevista, que vai ao ar, aos sábados, às 18h50.

Formada em Psicanálise e Mestranda Especial da UNB em psicologia clínica.

Renata Dourado*
* Renata Dourado é formada em Jornalismo pelo Uniceub e trabalha na TV Bandeirantes há mais de 13 anos.
Eu não sabia explicar. Não conseguia entender como as autoridades competentes deixaram aquelas pessoas chegarem até aqueles santuários sagrados para a democracia: o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e por fim o
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ELEIÇÕES 2022

“Pernambuco sempre foi um estado de vanguarda”

Iza Arruda estreou na política com vitória. Com mais de 103 mil votos, foi eleita deputada federal por Pernambuco em um momento histórico para as mulheres no estado, o único no ano passado que assistiu uma disputa 100% feminina no segundo turno da eleição para governador.

Numa das primeiras visitas à capital federal antes de sua posse, assistiu da janela do hotel no qual estava hospedada os primeiros tumultos promovidos por radicais inconformados com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes mesmo do fatídico 8 de janeiro.

Filha do prefeito de Vitória de Santo Antão e presidente do MDB Mulher de Pernambuco, essa fisioterapeuta estreante na política aposta que a bancada feminina na Câmara terá protagonismo neste novo momento do Brasil

Confira a entrevista concedida à Revista Plano B!

As mulheres dominaram as eleições de Pernambuco em 2022. O único estado da federação em que os

cargos majoritários ficaram 100% em mãos femininas, além de Três deputadas federais. A que atribui esse resultado?

Pernambuco sempre foi um estado de vanguarda em se tratando de movimentos sociais e políticos.

Em Pernambuco ocorreu o primeiro movimento pela reforma agrária da América Latina. Foi em Pernambuco que teve início a campanha pelas ‘Diretas Já, que viria a se tornar num dos maiores movimentos em defesa da Democracia brasileira. Foi também em Pernambuco que teve a primeira governante das Américas, através de Brites Albuquerque - só para citar alguns exemplos - e não poderia ser diferente no tocante à efetiva participação feminina no processo democrático neste início de milênio.

Enfim, este fato é consequência da maturidade política da mulher Pernambucana, conquistada com muita luta, escrevendo páginas heroicas na história do nosso Estado e do nosso país.

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É o que destaca a deputada federal Iza Arruda (MDB-PE) ao comentar o resultado das eleições de 2022 no estado

ELEIÇÕES 2022

De que forma pretende atuar na Câmara dos Deputados como representante da maior bancada feminina já eleita na história da Casa, com 91 representantes?

Com lealdade, coragem, dedicação e trabalho. Lealdade ao meu partido, o MDB, para defender as suas bandeiras históricas em favor da Democracia, do desenvolvimento do nosso país e do bem-estar da população. Coragem de assumir posições que coloquem os interesses da população acima de quaisquer conveniências ou interesses. E dedicação e trabalho para cumprir os compromissos assumidos em praça pública.

Devo acrescentar a minha convicção de que a bancada feminina terá importante protagonismo neste novo momento político brasileiro e eu me sinto pronta para enfrentar os desafios e feliz pela oportunidade de fazer parte dessa história como uma das mulheres representantes do povo de Pernambuco no mais alto parlamento do meu País.

Simone Tebet, candidata à Presidência pelo seu partido, teve um papel fundamental na vitória de Lula no 2o turno e acabou virando ministra do Planejamento. O que não condiz com o seu desempenho no 1 o turno, ainda que tenha sido a 3o mais votada.

Embora reconheça os méritos e capacidade de Simone Tebet para ocupar os mais elevados postos da gestão pública brasileira, não seria justo negar os esforços do Presidente Lula para contemplar todas as forças políticas que o ajudaram a vencer essas eleições.

Por outro lado, entendo, que o tamanho de cada Ministério pode ser proporcional ao tamanho do prestígio, do talento e da força de trabalho de quem o dirige. Nesse contexto, eu não tenho dúvida de que Simone Tebet seria gigante em qualquer Ministério, e assim será na pasta de Planejamento.

Janeiro chegou em clima de tensão diante dos ataques às sedes dos 3 Poderes da República. Você mesmo conta que assistiu da janela do seu hotel os primeiros conflitos registrados na capital quando houve a diplomação de Lula. Essa radicalização está sob controle ou será preciso atenção?

Como diz as próprias escrituras sagradas, ‘Depois da tempestade virá a bonança’. Acho, realmente, que a tempestade do dia 8 de janeiro já passou. A reação das instituições e de importantes segmentos da sociedade brasileira em defesa dos princípios democráticos foi uma resposta forte e adequada para o momento.

Estou certa de que, doravante, os poderes constituídos em todas as esferas, com o indispensável apoio da imprensa

brasileira, conseguirão pacificar o país e manter a normalidade institucional com oposição e governo convivendo com os respectivos antagonismos e respeitando a alternância de poder pelo voto direto, no pleno exercício da cidadania, conforme os princípios republicanos que regem o nosso querido Brasil.

Como avalia o primeiro mês de gestão da primeira governadora do estado de Pernambuco, Raquel Lyra?

É costumeiro se dizer que é difícil avaliar e mensurar uma gestão de 30 dias. Indo na contramão desse pensamento, eu diria que este não é o caso de Raquel Lyra. Sua comprovada experiência administrativa, honestidade de princípio e a vontade de acertar demonstrada nesse início de governo, somando-se tudo isso ao talento e competência de sua Vice-Governadora, Priscilla Krause, que faz com ela uma verdadeira parceria não apenas política, mas também administrativa, eu vejo o primeiro mês como prenúncio de uma gestão exitosa a serviço do povo de Pernambuco.

Quais são seus planos para o primeiro semestre de seu mandato? Suas prioridades?

Na verdade os meus planos para os primeiros seis meses

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ELEIÇÕES 2022

de mandato são os mesmos para o mandato inteiro, traduzidos em trabalhar incansavelmente para honrar a confiança do povo e cumprir os compromissos assumidos em praça pública: o combate à fome e à miséria; a defesa das pautas femininas; Educação de qualidade em todos os níveis de escolaridade, dando foco à erradicação do analfabetismo no Brasil; Intensificação de políticas públicas de geração de emprego e renda; acesso à plena assistência de saúde de qualidade para todos; defesa de práticas de sustentabilidade ambiental; Reformulação do pacto federativo visando o fortalecimento dos municípios.

Estou pronta para dar o melhor de mim em favor dos legítimos anseios do povo de Pernambuco e do povo brasileiro.

Como presidente do MDB Mulher de Pernambuco tem tido uma preocupação grande em capacitar lideranças femininas no estado. Já tem algum projeto voltado paras eleições municipais de 2024?

Em primeiro lugar quero dizer que me sinto honrada em ocupar a presidência feminina do partido num estado politicamente importante como Pernambuco. Assumi o cargo consciente da grande responsabilidade de ampliar o número de filiadas e de buscar e ajudar a construir novas lideranças femininas.

O fortalecimento do partido não é uma meta apenas para 2024, mas um projeto permanente. Estou certa de que com dedicação, disciplina e trabalho chegaremos 2024 bem maior e mais forte para dar continuidade à obra fascinante de edificar um Pernambuco mais pujante e um país melhor através da política, exercendo as minhas atribuições partidárias com sentimento de responsabilidade histórica, procurando fazer jus às tradições do MDB.

Dizem que Brasília não é para amadores. O que já aprendeu sobre o funcionamento do Congresso Nacional de sua eleição até agora?

Durante a minha infância fui orientada para buscar o conhecimento no dia-a-dia aonde quer que eu esteja. Dando cumprimento a esse princípio, buscarei o aprendizado durante todo o meu mandato. Mesmo porque, concordo com o adagio popular que diz que quanto mais se aprende, mais se tem a aprender.

Sobre o funcionamento do Congresso Nacional, não estou encontrando nenhuma dificuldade de transitar e colher informações. Mesmo porque, estou apenas pondo em prática outro ensinamento que recebi dos meus pais: que a humildade abre portas, cria laços afetivos, soma esforços e constrói parcerias para a realização dos objetivos almejados.

Mesmo com cotas, as mulheres ainda estão longe de ocupar 30% das cadeiras do Legislativo nacional e estaduais. É chegado a hora de o Brasil começar a praticar a paridade de gênero, já que a população feminina representa hoje 53% dos brasileiros?

Sim. O caminho para atingir esse objetivo não é fácil, mas estamos avançando nesse processo em todas as esferas de poder. Inclusive como fruto do aperfeiçoamento político da própria população. Isso é uma conquista anunciada. É uma questão de tempo.

Sua mensagem para os brasileiros que estão assustados com o cenário político nacional...

Em primeiro lugar quero agradecer a toda a equipe da Revista Plano B, enfatizando que me sinto muito honrada pela oportunidade de conceder esta entrevista.

No tocante à minha mensagem para o povo brasileiro neste momento, apesar das tribulações políticas que marcaram o início deste mês de janeiro, a minha mensagem é de esperança, de fé no futuro.

O Brasil é um grande país republicano, que superou enormes desafios para conquistar e manter a sua soberania. Os últimos acontecimentos forneceram um claro atestado de que as nossas instituições estão sólidas como nunca. O nosso povo tem tradição pacifica, deseja apenas a oportunidade de ter uma vida digna no livre exercício da cidadania.

Compete a todos os que compõem os três Poderes, propiciar as políticas públicas necessárias para garantir a paz social. E eu não tenho dúvida que, doravante, tudo caminhará na normalidade e os Poderes constituídos seguem nessa direção. Até porque, pela sua dimensão territorial, pela sua formação geográfica, pelas suas riquezas naturais e, principalmente, pela força do seu povo, o Brasil é um país vocacionado para a paz e a prosperidade, e o povo brasileiro tem vocação para ser feliz.

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A mobilidade que nos espera

Já vivemos tantos sobressaltos desde o primeiro dia deste ano que talvez não tenhamos dado a devida importância ao significativo fato de que temos um novo governo com seu próprio programa. É verdade que a última transição não se caracterizou pelo usualmente singelo rito que marca a transmissão de cargo de um antigo para um novo mandatário, e não só porque o antigo recusou-se a estar lá para passar a faixa. Desta vez estamos experimentando um processo que nos deixa a sensação de estarem em curso profundas revisões de práticas e valores, quiçá com impactos duradouros em nossas vidas.

Ao tempo em que nossa atenção foi capturada pelo circo de horrores que teve seu clímax – assim esperamos – no domingo 8 de janeiro, porém, enredos secundários podem ter passado despercebidos. Acontece que a marca que ficará deste governo na história pode estar mais nos palcos secundários do que na arena principal. Vamos dar uma olhadela em um deles, o da mobilidade.

No primeiro ano do primeiro governo petista, a esmagadora maioria de nós comemorou a criação do Ministério das Cidades, com a missão de integrar políticas e ações em áreas como habitação, saneamento, mobilidade e afins. Ainda que com o passar dos anos a realpolitik tenha detido muito do ímpeto inicial, o saldo do período nos legou políticas e programas fundamentais para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. No caso específico da mobilidade ficaram, entre outras, uma Lei de Diretrizes que estabelece os marcos da mobilidade sustentável, uma Política Nacional de Trânsito e a articulação em uma mesma secretaria (a Semob) dos órgãos e entidades que compõem o Sistema Nacional de Trânsito – o SNT, que até então estava no Ministério da Justiça (?!).

A era pós-golpe de 2016 deu passos significativos rumo a um triste desmantelamento que se radicalizou nos inclassifi-

cáveis anos do governo (sic) Bolsonaro. Foi nesse último quadriênio que a política de mobilidade foi atribuída de forma quase invisível ao Ministério de Desenvolvimento Regional enquanto o SNT ficou no Ministério da Infraestrutura. E se não vimos a Política Nacional de Trânsito ser completamente abandonada por uma agenda unicamente de obras foi graças ao compromisso do valoroso quadro de técnicos e dirigentes do Denatran, que ainda arrancaram a enorme conquista de elevar o órgão ao status de Secretaria Nacional de Trânsito, a atual Senatran.

Creio que não estava sozinho quando nutri a expectativa de retomada da trilha iniciada em 2003, mas confesso que fiquei decepcionado com o seccionamento da área entre os Ministérios dos Transportes e das Cidades. Depois, passei da decepção à preocupação quando ouvi o ministro dos Transportes, a quem ficou vinculada a Senatran, sinalizar que nosso vergonhoso problema de segurança viária se resolve com a mera duplicação de rodovias. Até o momento em que escrevo estas linhas ainda não haviam sido divulgados os nomes dos escalões inferiores. Espero sinceramente que as equipes das secretarias desfaçam a impressão que deixaram as primeiras palavras do ministro, que lembraram as do lampedusiano Tancredi, príncipe de Falconeri: é preciso que tudo mude para que tudo fique como está.

* Paulo Cesar Marques da Silva é professor da área de Transportes da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University of London (University College London) (2001).

Paulo Cesar Marques da Silva *
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Depois, passei da decepção à preocupação quando ouvi o ministro dos Transportes, a quem ficou vinculada a Senatran, sinalizar que nosso vergonhoso problema de segurança viária se resolve com a mera duplicação de rodovias.
MOBILIDADE

POLÍTICA

Ricardo Vale planeja priorizar a redução da pobreza no DF

Eleito para seu segundo mandato de deputado distrital, Vale demonstra sintonia fina com a pauta do terceiro governo de Lula

Ao assumir seu segundo mandato como deputado distrital pelo PT, Ricardo Vale adiantou sua prioridade número um: trabalhar para a redução da pobreza na capital federal. A despeito do conturbado início de ano e da tentativa de golpe deflagrada no último dia 8 de janeiro, com ataques simultâneos às sedes dos 3 Poderes da República, Vale ressalta seu otimismo e esperança em dias melhores para Brasília e para o país.

Você foi eleito deputado distrital pela primeira vez em 2014. O que destacaria desse mandato e que até hoje faz seus olhos brilharem?

Tenho muito orgulho do mandato que eu fiz aqui na Câmara. Foi um período muito conturbado para nós do PT. Logo que eu me elegi, primeiro, Agnelo (Queiroz, ex-governador do DF) não foi reeleito, foi muito mal votado. Em seguida, houve o impeachment da Dilma (Rousseff), a prisão do Lula. Depois começamos o ‘Lula Livre’. Naquela conjuntura, na qual se começou todo um processo para destruir o PT e a imagem dos petistas. Enfim, não foi fácil aquele mandado. Nós passamos praticamente o ano tentando impedir o impeachment da Dilma.

Mesmo assim, tivemos 26 projetos aprovados. Muito disso foi fruto de audiências públicas aqui com vários segmentos da sociedade. Leis importantes como a Lei de Combate ao Machismo nas Escolas, que tem a ver com a pauta da mulher, além da questão dos assentos preferenciais no metrô para idosas, para mulheres gravidas, mulheres com criança de colo, deficientes físicos e por aí vai. Tivemos projetos na área de cultura, esporte e educação.

Nós mudamos a lei do Programa de Descentralização Financeira e Orçamentária (PDAF), que hoje permite a um parlamentar botar dinheiro direto nas escolas públicas do DF. Das lutas que nós travamos, al-

gumas coisas a gente não conseguiu aprovar, mas foram lutas importantes. A Lei do silêncio, que foi uma luta que eu travei aqui, e hoje em dia impede de ter música em muitos locais.

Eu tenho muito orgulho daquele mandato e esse novo mandato não será diferente. Nós vamos fazer um mandato muito ligado aos movimentos sociais, daremos uma atenção especial para os mais pobres mesmo. A gente tem visto muita gente pobre e desempregada. A gente quer de alguma forma dar uma atenção especial para essa população carente do DF. O que me enche os olhos, nesse mandato, é ajudar os pobres do DF.

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Em 2018, você não foi eleito, mesmo tendo obtido quase 8000 votos. A que você atribui essa derrota?

Uma delas foi a conjuntura política mesmo. Todos nós do PT fomos muito mal votados naquela eleição. Chico Vigilante viu sua votação cair. A própria Arlete (Sampaio), que já tinha sido vice-governadora, deputada, enfim, não foi bem votada. Eu não fui bem votado. (Geraldo) Magela, um cara que já foi secretário, deputado federal, também. O PT foi massacrado. Esse foi um fator. A gente também errou muito a nossa comunicação. Fizemos muita coisa boa, mas não conseguimos nos comunicar.

Nós estamos, agora, organizando tudo. Vai ser tudo maravilhoso. Eu diria que o grande culpado mesmo de a gente ter ficado com o primeiro suplente _ com mais 2 mil votos, eu teria ficado na Câmara _ foi a conjuntura política. Mas eu não abri mão de defender o que eu acreditava. Eu era presidente da Comissão de Direitos Humanos, que defendi negro, LGBTQI, mulheres e minorias, foi muito atacada pelo (Jair) Bolsonaro. Acho que nós perdemos em 2018 por conta disso, de sermos vivas bandeiras daquilo em que a gente acredita. E agora voltamos por conta disso também.

O que traz você de volta à Câmara Distrital depois de 4 anos?

Primeiro, um desejo coletivo de um grupo político. Sozinho não voltaria. Muitas pessoas acreditaram que era possível a gente voltar. Muita gente se dedicou, muita gente me incentivou, vamos lá que pode dar certo. Isso pesou muito e acho que isso foi o grande motivo que fez eu colocar meu nome de novo, foi a quantidade de pessoas que falavam e acreditavam que era possível. Que era possível a gente ganhar.

Segundo, foi que a gente se organizou, começou um trabalho com tempo, organização e aproveitamos essa pauta, né? A pauta da volta da democracia, o Lula como presidente, a gente colou muito na imagem e nas bandeiras do PT.

Encontramos uma sociedade muita iludida, muita gente sem esperança no Bolsonaro, em meio a uma cultura de intolerância, de ódio. Enfim, a gente foi em uma linha contrária a isso e deu certo. Estamos aqui. Estou muito feliz e confiante que vamos fazer um bom mandato.

E o que você pretende fazer nesse mandato? Algo específico? Algum projeto que você tem vontade de fazer, alguma continuidade do que você começou em 2015?

Eu assumi alguns compromissos importantes com segmentos da nossa cidade que acreditaram nesse projeto. E o primeiro deles que eu podia colocar, o que vai ser um projeto e que não vai ser fácil, mas eu assumi um compromisso com

os estudantes e vou trabalhar pela tarifa zero, para garantir que estudantes andem em ônibus e metrô de forma gratuita. Não só para escola, como faculdade e também nos deslocamentos para atividades esportivas, para um curso, a gente quer ampliar o passe livre. Eu devo estar protocolando nos próximos dias esse projeto aqui na Câmara.

Um outro projeto prioritário é a volta do debate da Lei de Silêncio. Muita gente de bares, restaurantes e comércio veio, que acreditou e pediu para que a gente voltasse para a Câmara, quer tentar solucionar esse problema, que é grave aqui no DF, pois desemprega muita gente, não só músico, como garçons e cozinheiros, que já deixou muitos empresários pequenos e médios a ver navios. Então a gente vai trabalhar nessa questão.

Uma outra prioridade será a agricultura familiar. Parece que não, mas o DF tem uma produção agrícola grande. Quando eu fui deputado pela primeira vez, propus uma lei que obrigava o Governo de comprar 30% da produção da agricultura familiar local e destinar para a alimentação escolar do DF. Eu quero aumentar isso para 50%, que o governo compre mais, já que é uma alimentação saudável, de qualidade, sem agrotóxico, Com isso você incentiva o emprego no campo, né? Já que na cidade a gente tem visto muito desempregado.

Já a Lei do Machismo, aprovada em 2017 não teve a atenção que merecia pelo Governo Ibaneis. A gente tem visto muitas mulheres sendo vítima de violência, muito feminicídio, muita violência contra a mulher. E eu quero que esse projeto, que essa lei, ela realmente vigore, que a gente possa realmente discutir isso nas escolas públicas, para que daqui

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POLÍTICA

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a 8 a 10 anos, mais ou menos, a gente tenha uma sociedade menos machista.

A gente tem que fazer um processo de educação. Isso leva um tempo. Só com as escolas, através da educação, que a gente vai transformar essa realidade.

Por último, também assumi um compromisso com os profissionais da educação, os professores, diretores da escola. A ideia é aproximar as escolas da comunidade, levar a cultura para dentro das escolas, esportes através de projetos. Escola tem que estar perto da sociedade.

Neste início de ano, a gente viu acontecer coisas a gente jamais imaginaria que poderia acontecer novamente. O Brasil sofreu uma tentativa de golpe, as sedes dos 3 Poderes da República foram atacadas e destruídas. Muita coisa se atribui a responsabilidade disso à inoperância das forças policiais do DF. Houve negligência do GDF?

Acho, primeiro, que tem um grande culpado para que as coisas tenham chegado a esse ponto: o ex-presidente Bolsonaro. Ele tencionou demais as instituições, foi um cara que dividiu a sociedade, o tempo todo falando de urna eletrônica, falando que se perdesse a eleição, não aceitaria o resultado. E assim foi inflando muita gente. A consequência foi essa quantidade de gente intolerante, gente que é pautada pelas ‘fake news’ e ainda utiliza o nome de Deus. E foi justamente essa massa que tentou... Gente que foi manipulada, gente do Exército, do governo bolsonarista, do agronegócio, gente poderosa, muitos dos quais ficaram acampados em frente aos quarteis.

E aí veio o problema da tentativa de golpe. Houve falhas grotescas, não só do Governo DF, da Secretaria de Segurança, mas também do Governo Federal. Foi um fato triste, lamentável da nossa história, mas isso não está resolvido, né? Não resolveu. A gente tem que destruir o bolsonarismo e temos que fortalecer a nossa democracia. Esse pessoal que está aí, esse pessoal que não acredita e nem respeita as instituições, ainda está aí fora, e tem gente que financia, gente poderosa que não gosta de democracia, só quer saber de ganhar dinheiro.

Qual sua opinião sobre o afastamento do governador Ibaneis? Achou necessária ou foi um exagero?

Eu acho muito ruim o que aconteceu, afastar o governador. Eu acho tudo isso muito ruim, assim como o impeachment de presidente, de gente que foi eleita pelo povo. Agora o afastamento (de Ibaneis) foi correto diante de tudo que aconteceu, já que ele era responsável pela segurança do DF, mas tem que ter um prazo e fazer investigação séria, procu-

rar identificar os culpados de tudo isso. O governador falhou. Confiou em gente que não deveria. Tem de fazer a CPI e punir os responsáveis.

Despois desse começo de ano conturbado, quais são suas expectativas?

Apesar de tudo o que aconteceu recentemente, toda essa crise, tentativa de golpe, estou com muita esperança no país. Muito esperança no governo Lula. Acho que a sociedade brasileira experimentou dois modelos de governo. Teve muita confusão, muita mentira na cabeça das pessoas, mas agora ter um governo democrático de volta, muita gente que está aí, especialmente os mais jovens, não lembram o que foi o governo Lula, das transformações que foram feitas, a inclusão social assegurada. Estou cheio de esperança de que isso voltará.

Dá para manter todo esse otimismo também no DF? Acho que a partir do momento que você tem uma mudança nacional, você tem uma onda positiva vindo aí, de um governo sério e democrático. Isso chega aqui também. As políticas públicas irão chegar aqui também. As políticas públicas do governo Lula vão chegar ao DF. A área social do governo Ibaneis, por exemplo, deixou muito a desejar. Ele mesmo reconheceu isso. E a partir do momento que o governo Lula retomar suas políticas sociais, isso vai ter reflexos no DF, seja Ibaneis ou Celina, a gente vai navegar nessas ondas boas, onde espero que esse país entre e não saia nunca mais.

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Falando em Saúde Dieta sem glúten: um hábito saudável?

Temos observado um fenômeno mundial em termos de práticas alimentares: a adesão a dietas com restrição de glúten. Aqui no Brasil, essa onda chegou com força, talvez influenciada por uma maciça promoção através da imprensa e das redes sociais, muitas vezes mostrando celebridades que propagandeiam os benefícios obtidos com essa alimentação. Os objetivos dessa prática são variados e vão do desejo de emagrecer à tentativa de diminuir sintomas gastrointestinais como gases e distensão abdominal. É fácil observar como esse fenômeno tem promovido alterações nos cardápios de cafés e restaurantes da nossa cidade, que agora têm se preocupado em oferecer opções adequadas ao público que adere às restrições. Certamente isso é benéfico, pois aumenta as opções de quem realmente tem problemas com esses alimentos. A retirada do glúten é obrigatória para quem tem doença celíaca, uma doença de origem imunológica em que o contato com o glúten promove uma reação inflamatória do organismo contra as células intestinais. Além dos celíacos, há pessoas que têm uma outra forma de intolerância, a intolerância não celíaca ao glúten. Esse é um diagnóstico mais difícil porque não há um exame específico que o defina, mas pode ser feito através de uma abordagem controlada de retirada e reexposição à proteína. Entretanto, me preocupa a adesão indiscriminada a esse tipo de dieta sem um diagnóstico adequado. Em 2022, realizei, juntamente com as acadêmicas de medicina do CEUB Maria Clara Ibrahim Saraiva e Juliana Azevedo de Vasconcelos, um trabalho científico em que descobrimos que 16% dos alunos da faculdade fazem dieta sem glúten. Essa taxa é muito elevada quando comparada à de outros países. No Reino Unido, por exemplo, é de 3,7%. Dos nossos pesquisados, 48 % realizam a dieta por conta própria ou por orientação de outras pessoas que não nutricionistas ou médicos. E qual é o problema disso? Embora se associe a dieta restritiva a um hábito saudável, muita gente não sabe que pessoas que fazem dieta sem glúten estão sujeitas a carências nutricionais. Sabe-se que os níveis de ferro,

vitamina B6 e B12, vitamina

D, cálcio, zinco e magnésio são mais baixos em quem come sem glúten. Corre-se também um risco maior de desenvolver problemas cardiovasculares, como hipertensão e colesterol alto, e de alteração da microbiota intestinal causando um aumento de bactérias intestinais prejudiciais ao organismo. Por último, mas na minha opinião, o mais importante, são os transtornos psicológicos provocados por essa prática mal orientada. Tenho visto muitas pessoas que fazem dietas restritivas chegarem à consulta médica emagrecidas, beirando a desnutrição, apresentando fraqueza e fadiga e com muito medo de se alimentar. Muitas delas retiraram cronicamente da alimentação a lactose e alimentos fermentativos, como as leguminosas. Demonstram um alto grau de ansiedade em relação à comida e têm suas vidas sociais e familiares muito afetadas. Quando chegam a esse ponto, é um trabalho muito grande convencer aquelas que não têm um diagnóstico específico de que podem ampliar seus cardápios e que têm como tratar alguns sintomas indesejados de outras formas que não a restrição alimentar. Portanto, fica o alerta. Tenhamos responsabilidade na hora de decidir banir fontes de nutrição da dieta. Não nos esqueçamos de que alimentação é combustível para o corpo e para a alma, e influencia fortemente nossa saúde física e mental.

Luciana Campos *
* Luciana Campos é mestre em Ciências Médicas pela USP, gastroenterologista atuante na esfera pública e privada e professora do curso de Medicina do CEUB.
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Maíra Carvalho: “No cinema, eu me sinto em casa”

É

exatamente assim que a diretora de Arte, pesquisadora e produtora Maíra Carvalho diz que se sente quando está em uma sala de cinema.

Com mais de 40 produções cinematográficas em seu currículo – o que inclui o filme ‘O último cine Drive-In’, de seu irmão Iberê Carvalho, e com o qual ganhou os prêmios de Melhor Direção de Arte no Festival de Gramado e no Guarnicê, ambos em 2015 – de mais 2 filmes: “O Homem Cordial” e “Maria”, ambos de seu irmão. Neste bate papo com a revista Plano B, ela fala da grande expectativa de melhora do setor audiovisual com o fim do governo Bolsonaro e a retomada dos incentivos à cultura brasileira, um dos compromissos assumidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste seu terceiro mandato.

O que te levou a trabalhar com Cinema?

Foi uma vontade muito grande de criar desde cedo, desde criança. E a partir do momento em que eu descobri que era possível se viver de cinema... ali no final dos anos 90, início dos anos 2000, quando a gente teve a retomada do cinema brasileiro, comecei a pensar nisso de uma forma mais pragmática e pensar em o que eu teria que fazer para viver de cinema.

Então, foi o amor à arte que me levou a trabalhar com o cinema. E as pessoas a minha volta que sempre me apoiaram, minha parceria com o meu irmão Iberê Carvalho, um apoio muito grande dos meus pais e da família, tem uma parceria grande também com minha outra irmã, Jana Ferreira.

Acho que foi isso. Já a área que me atraiu desde sempre foi a direção de arte.

Está produzindo algum trabalho novo? Pode falar um pouco?

No momento acabei a filmagem de um longa-metragem, o Cartório das Almas do diretor Leonardo Belo. Um filme fantástico, muito interessante, que fala sobre a relação vida e morte.

Esse filme terminou no meio de dezembro de 2022 e agora, no início de ano, estou no período de organização do que vai ser produzido durante o ano, mas tem 2 filmes para serem

lançados em 2023: ‘O Homem Cordial’ de Iberê Carvalho e ‘Maria’, também de Iberê Carvalho.

Talvez tenha outros filmes para serem lançados e alguns filmes a serem rodados, ainda a serem confirmados. Assim, estou sempre fazendo alguma coisa em fases diferentes.

O Governo (local e Federal) tem dado incentivos ao setor cultural? Ao cinema especificamente?

A gente vive um momento complicado ainda, apesar de já ter tido a mudança de governo. Mas o novo governo, que tem um empenho muito grande em apoiar e financiar a cultura, as artes em geral e o cinema especificamente, eles precisam de um tempo para agir e para essas ações chegarem até nós realizadores.

Então, a gente ainda vive um momento de ressaca dos 4 anos de Governo Bolsonaro, que foram bem difíceis para gente, junto com a pandemia, que agravou toda a crise. De

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qualquer forma, vivemos um momento de muita esperança nacionalmente.

No governo local, a gente adoraria que houvesse mais incentivo e mais motivação de apoio a cultura, mas o que a gente vê do Governo Ibaneis, não é exatamente isso. Há uma morosidade e uma lentidão. Diferentes dos Governos anteriores. A gente esperava que houvesse mais incentivo, mas quem sabe o Governo Federal sendo mais ativo, isso também influencia o local.

Brasília está na rota de grandes cineastas? Produções? Comparado ao eixo Rio-SP?

Essas produções, comparada ao eixo Rio-São Paulo, não. Brasília não chega nem perto. Lá que se concentra maior parte das produções e as grandes produções, lá onde se concentra dinheiro, lá onde se concentra a maior parte dos profissionais do cinema brasileiro. Brasília não tem estrutura para ser equiparar a esses dois estados e não tem financiamento. Então acaba que muitas pessoas saem daqui para esses estados, para esse eixo.

Embora Brasília tenha um potencial muito grande, até por suas características climáticas, de ter um período muito grande de seca, essa previsibilidade do clima é ótima para se organizar produções e filmagens, e várias outras questões que facilitam as produções no DF, mas infelizmente não está na rota das grandes produções do Brasil.

Após a crise da Covid, o setor da produção de filmes já voltou ao mesmo ritmo antes da Covid?

Não voltou como era antes, porque também teve a questão política que agravou muito a situação, mas o mercado no eixo Rio-São Paulo está muito aquecido pelos streamings, a produção mais comercial, com financiamento privado e estrangeiro está muito aquecida. Mas a produção independente, que é o formato que se produz mais no DF, por exemplo, não voltou como era antes, mas não só por conta da pandemia, mas principalmente pela questão política.

Considerando o preço das entradas dos cinemas, para cobrir os altos investimentos. O cinema consegue cumprir um papel social de inclusão para quem não pode pagar entrada?

Não, o setor exibidor do cinema, ele em geral não tem esse caráter social, o que faz esse caráter mais social de pulverização e de acesso ao cinema, são mais os cineclubs, as ongs, as faculdades, as escolas. O setor exibidor comercial não supre essa função de forma alguma. E não só as entradas são caras, mas os locais são distantes em geral, que dificulta o acesso, né?

Hoje os cinemas estão concentrados em shoppings, o que já exclui grande parte das pessoas que são convidadas a entrarem nos shoppings, né?

A pandemia prejudicou muito as salas de exibição, estima-se que somente 40% do público de sala de cinema tenha voltado às salas depois da pandemia. Quando a gente ficou isolado e não existia sala de cinema aberta, a não ser os drive-ins.

Já o drive-in de Brasília segue de vento em popa. Durante a pandemia esteve sempre lotado e segue com o público muito bom, mas por ter uma característica muito específica, né? Então as pessoas vão pelos eventos também, não somente pelo cinema, mas é isso o setor está com um déficit, em relação ao período antes da pandemia, de 60% de público, que se perdeu e que se acostumou a ver filmes em casa, no sofá. Com essa facilidade do acesso, promovida pelo streaming.

Apesar dos percalços, qual sua expectativa para o cinema feito no DF

Estamos otimistas e esperamos que aumente as produções para o DF e também que aumente o número de público para salas de exibição. Pois assistir um filme em uma sala de exibição é sempre uma experiência única. E bem diferente de ver filmes em casa. Por isso, eu queria agradecer a oportunidade de a gente falar sobre o cinema, o que é sempre bom, e dizer que estou disponível para outras trocas. Obrigada e seguimos em frente

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CINEMA

Os perigos do cartão de crédito

Imagine a seguinte situação: um indivíduo que ama assistir filmes em casa vai almoçar num Shopping Center. Lá, resolve entrar numa loja de eletrodomésticos e se depara com uma TV de última geração que custa R$ 4,8 mil. Ele lembra então que tem R$ 8 mil na conta corrente do banco e nenhuma reserva financeira. Ou seja, comprar a TV à vista e ficar com R$ 3,2 mil está fora de cogitação. Quando já está indo embora um vendedor lhe pergunta: Gostou? Você pode levar por R$ 399 em 12x no cartão/sem juros. Bingo! O estrago está feito.

Hoje é bastante comum ouvir “educadores financeiros” nas redes sociais incentivando o uso do cartão de crédito como principal modalidade de pagamento. A justificativa estaria nas “milhas” ou até mesmo um “cashback”. O problema é que nas redes sociais quem tem voz geralmente não estudou profundamente sobre o que fala, e provavelmente nunca ouviu falar de Hebert Simon, racionalidade limitada ou economia comportamental.

Os programas de milhas de cartões de crédito no Brasil são os “benefícios” mais comuns e costumam compensar os clientes por suas compras, normalmente por meio de pontos que podem ser resgatados por passagens aéreas, produtos, serviços e outros incentivos oferecidos pelos programas. Enquanto pelo cashback os usuários podem receber um percentual de suas compras de volta na fatura do cartão ou diretamente numa conta bancária.

No entanto, como diz o ditado: “Não existe almoço grátis!” O que não te contaram é que 99% dos seres humanos irão mudar o padrão de consumo com esses tipos de “benefícios”, e o destino é apenas um cedo ou tarde: o endividamento. E é aí que cartão de crédito irá gerar dinheiro. Obviamente não para você, mas para o sistema financeiro. Eles não estão preocupados se você conseguirá pagar sua fatura do cartão em dia, aliás é o contrário.

Como geralmente o sistema financeiro ganha com os cartões de crédito:

1) Taxas de juros: Quando os usuários não pagam a totalidade da sua fatura do cartão de crédito no prazo de pagamento, eles são cobrados por juros sobre o saldo devido.

2) Taxas de manutenção: Alguns bancos cobram uma taxa mensal ou anual.

3) Taxas de pagamento atrasado: Alguns bancos cobram uma taxa extra se o pagamento da fatura do cartão de crédito estiver atrasado.

4) Taxas de saque: Alguns bancos cobram uma taxa extra pelo uso do cartão de crédito para fazer saques em dinheiro.

5) Receita com compras: Os sistemas financeiros também ganham uma pequena porcentagem das compras feitas com o cartão de crédito.

E como funciona sua mente?

Um dos ramos de estudo que mais cresceu nas últimas décadas foi a economia comportamental, que mistura o que sabemos sobre psicologia e economia. E as conclusões são que nós humanos não somos tão racionais como imaginávamos. É por isso que somos facilmente seduzidos por palavras como “liquidação”, “desconto”, “oportunidade” etc.

Em janeiro de 2021, o Banco Central informou que o endividamento das famílias havia alcançado 49,1% da renda disponível, o maior patamar desde julho de 2016. Isso significa que as famílias estão gastando quase metade de sua renda para pagar dívidas. O crédito pessoal e o rotativo do cartão de crédito são as principais fontes de endividamento das famílias brasileiras.

Se você quer ser o mais próximo do racional em suas decisões de consumo, você precisa ter a “dor” de trocar o dinheiro por mercadorias no ato da compra. E não num futuro abstrato. Do contrário você terá o prazer do consumo sem nenhum ônus imediato de ter menos dinheiro na conta. Além disso, é muito importante você saber exatamente quanto você ganha por hora de trabalho. E quando você estiver comprando qualquer coisa tente sempre comparar e se perguntar, isso vale x horas ou x dias de trabalho? Obviamente, ao pagar à vista sobram bons argumentos para negociar descontos.

* Humberto Nunes Alencar, servidor público, Analista de Orçamento do Ministério do Planejamento, mestre em economia e doutorando em Direito pelo IDP.

Humberto Alencar*
36 ECONOMIA

EDUCAÇÃO

“Liderança feminina”

Na última semana de dezembro de 2022 o Brasil assistiu ao anúncio das 11 mulheres que desempenharão papel de Ministras de Estado no terceiro mandato do presidente Lula. Nunca na história deste país a mulher teve tanta oportunidade de protagonismo no âmbito do governo. E pelo que tudo indica, a participação de mulheres na tomada de decisões importantes é uma tendência que deve se consolidar num futuro próximo. Para uma reflexão sobre liderança feminina, Luciana Campos convidou a educadora Natália Leite para esta entrevista. Jornalista de formação, Natália lançou, em 2014, junto com a comunicadora Ana Paula Padrão, o projeto Escola de Você, um portal de educação à distância voltado ao incentivo do empreendedorismo e da autoestima feminina. Em 2015, associou-se à educadora e administradora Soraia Schutel para fundar a Sonata Brasil, empresa gaúcha voltada para o desenvolvimento de líderes entre mulheres.

LC: Natália, existe diferença entre o estilo de liderança feminino e o masculino? Com que peculiaridades a mulher pode contribuir, estando no exercício de um cargo de liderança?

Natália Leite: Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que, quando falamos do estilo de liderança masculino ou feminino, não nos referimos necessariamente ao homem ou à mulher.

Estamos falando de princípios vitais, polaridades complementares presentes em todo ser humano. Essa premissa é necessária para não se interpretar erroneamente o que eu vou falar. Não obstante, quando trazemos mais mulheres para cargos de liderança numa empresa, aumentamos algumas características que estão mais presentes no sexo feminino, como conexão com o interior, com o sensorial, escuta, empatia, interesse genuíno em chegar a soluções diplomáticas para a geração e preservação da vida. No mundo dos negócios, temos um excesso de características masculinas, que precisam ser equilibradas: dureza, assertividade, foco, produtividade. Esse mundo ainda está muito permeado pela lógica industrial, cartesiana, pela compartimentalização sem integração. Entretanto, como foi evidenciado pela própria pandemia, o mundo está precisando desse olhar de maior atenção ao indivíduo, à saúde física e mental. As pessoas estão questionando o modelo antigo de produção e querendo promover mudanças em suas vidas que contemplem suas necessidades pessoais.

LC: É possível formar líderes? O que é necessário estar no currículo desse tipo de capacitação?

Natália Leite: Sim! É claro que existem pessoas que têm uma capacidade de liderança natural, mas mesmo quem não nasceu com essa facilidade tem como

A educadora Natália Leite explica porque isso é importante para o Brasil e para o mundo.
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se desenvolver para caminhar nessa direção. Acredito que a maior parte das pessoas tem um bom potencial para, dentro da sua própria realidade, se desenvolverem e se tornarem referências. Ao contrário do que ocorria no passado, as lideranças do nosso tempo, que é um tempo de transformações muito rápidas, precisam ter outras competências além do conhecimento técnico. Essas competências não fazem parte do currículo da escola tradicional, não são óbvias e podem ser ensinadas: humildade, para nos relacionarmos com todos os tipos de pessoas, pois todos podem trazer contribuições importantes; antifragilidade e a capacidade de melhorarmos a partir do erro; engajamento, para nos comprometermos com o projeto; intuição, que é a capacidade para ver além do que os olhos enxergam, com base no conhecimento acumulado e na própria sensibilidade.

LC: Segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e do relatório Women in Businesss da Grant Thornton, de 2002, ainda temos proporcionalmente poucas mulheres em cargos de liderança, tanto na esfera pública quanto na privada. Faltam mulheres capacitadas para exercer esses cargos?

Natália Leite: Definitivamente não faltam mulheres capacitadas para isso. Nós já somos maioria nas escolas e universidades. No entanto, há duas grandes barreiras: as externas, que têm a ver com cultura e com a estrutura da sociedade, e as internas, que têm a ver com autoestima. Externamente, existem várias barreiras invisíveis impostas pela cultura, verdadeiros acordos tácitos sociais, como, por exemplo, a mulher ter que cuidar dos filhos e dos idosos, ter que assumir a maior parte das tarefas domésticas. Internamente, mesmo quando a mulher é muito preparada e capacitada, é frequente que mesmo assim ela não se ache pronta, sempre precisando de mais um curso ou mais um título. Para vencer as barreiras internas, é necessário trabalho individual. Para vencer as externas, é preciso nos organizarmos para trabalhar com outras estratégias. Daí a importância do trabalho das guerreiras sociais, que combatem e fazem barulho denunciando o que não está bom, e do papel das construtoras sociais, que focam em ajudar cada mulher a se trabalhar internamente para construir autoestima e segurança e a enxergar o valor que têm.

LC: Por que é importante a ampliação da participação de mulheres nas diretorias de empresas privadas e órgãos públicos?

Natália Leite: A sustentabilidade dos negócios e das relações depende disso. O jeito antigo de gerenciar, focado

EDUCAÇÃO

apenas em números e resultados, já não se sustenta mais. O feminino acrescenta um olhar mais amplo, um cuidado com o todo e com o outro, pois somos culturalmente treinadas a ser assim. Existem habilidades inerentes ao jeito feminino que estão faltando nas organizações e precisamos que essas novas competências cheguem logo lá, pois o modelo antigo está saturado. Vou listar aqui algumas delas: empatia, gentileza, inclusão, nutrição, abertura, criatividade, vulnerabilidade.

LC: Qual é a sua dica para mulheres que desejam ocupar papéis de liderança na sociedade?

Natália Leite: Lembremos que estamos acostumadas há milênios a abrir mão de nós mesmas e nos colocarmos em segundo plano. A dica principal é começar a perceber o que realmente se quer, fazer o que se pensa e deixar de agradar a todo mundo. Usar a própria voz e treinar o protagonismo. Eu realmente acredito que o melhor ponto de partida é o autoconhecimento, pois não se chega lá modelando o estilo de liderança de outras pessoas, mas sim tomando consciência de seus tesouros interiores. Autoconhecimento se adquire estudando filosofia, fazendo terapia e por outras mil maneiras que promovem o desenvolvimento pessoal. Autoconhecimento, autogestão e construção de autoestima: para mim, a transformação é sempre de dentro para fora.

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A história original de Pinóquio, conto clássico italiano popularizado por Walt Disney

Pinóquio compartilha a mesma situação de personagens como Drácula, Mary Poppins e James Bond, que são conhecidos graças às famosas adaptações cinematográficas, mas poucos leram suas histórias.

Almudena de Cabo

BBC News Mundo

Para a maioria das pessoas, Pinóquio é sinônimo do filme de animação da Disney sobre uma marionete de madeira, cujo nariz pontudo cresce sempre que o boneco diz uma mentira.

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Mas a mentira não é o ponto principal da história original. Sim, Pinóquio mente, mas é apenas parte do seu mau comportamento.

Duas novas versões de Pinóquio — uma da Disney, dirigida por Robert Zemeckis, com Tom Hanks no papel de Gepeto, e outra do cineasta mexicano Guillermo del Toro para a Netflix — voltam a aproximar o público do clássico italiano.

A história da marionete mais famosa do mundo é justa-

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Imagens:

mente o contrário da versão água com açúcar apresentada por Walt Disney em 1940. Longe de ser ingênuo e distraído, Pinóquio é um personagem cheio de contradições.

Suas aventuras, criadas pelo escritor italiano Carlo Collodi, oscilam entre o moralismo e o humor negro. Ele não cai no sentimentalismo, mas reflete os problemas da Itália do século 19.

“A história original tem um certo tom sombrio”, explica Roberto Vezzani, da Fundação Nacional Carlo Collodi, na Itália, à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

“A história foi escrita 20 anos depois da reunificação italiana. O país lutava para encontrar a reunificação real. Havia muita pobreza e muitos problemas sociais. Por isso, a história, normalmente considerada uma história infantil, na verdade reflete os problemas da Itália daquela época”, explica Vezzani.

“As versões da Disney sempre são um pouco mais doces e atenuam as versões originais dos livros infantis escritos entre os séculos 17 e 19, que sempre são contos mais obscuros, tristes e desoladores que as versões da Disney”, afirma Fredy Ordóñez, tradutor de uma versão colombiana de Pinóquio.

“Isso porque o conceito de criança que temos agora não existia naquela época. Não havia diferença entre a psicologia infantil e a adulta. São contos muito sombrios e reais”, ele acrescenta.

Por isso, o livro inclui diversas cenas e aventuras que ficaram de fora das versões cinematográficas.

“Fiquei muito impressionada pela brutalidade, pela violência de algumas cenas, como, por exemplo, quando Pinóquio apoia os pés em um braseiro e eles são queimados enquanto ele dorme. É uma cena terrível”, comenta Francesca Barbera, tradutora da versão publicada recentemente pela editora chilena La Pollera.

As origens do livro

Carlo Collodi (1826-1890), cujo nome verdadeiro era Carlo Lorenzini, nasceu em Florença, na Itália, onde seu pai trabalhava como cozinheiro de uma família aristocrática.

Depois de servir como voluntário do exército toscano durante as guerras da independência da Itália em 1848 e 1860, Collodi criou um semanário satírico intitulado Il Lampione, cujo objetivo era “iluminar a quem permanece nas trevas”.

No dia 7 de julho de 1881, Collodi publicou no Giornale per i Bambini (“Jornal para as Crianças”, em tradução livre) os primeiros capítulos da série História de uma Marionete. Dois anos mais tarde, a série foi compilada em um livro intitulado As Aventuras de Pinóquio

CONTOS CLÁSSICOS

“Collodi era uma pessoa desiludida. O texto é recheado de fé e desesperança ao mesmo tempo. Existe uma sátira, uma crítica à classe social, à justiça e ao desejo de enriquecer”, analisa Barbera.

Mas, em um primeiro momento, Collodi não queria estender muito as aventuras da marionete. Seu final estava previsto para o capítulo 15, quando a Raposa e o Gato enforcam Pinóquio em um grande carvalho para roubar suas moedas de ouro.

“Não teve fôlego para dizer mais nada. Fechou os olhos, abriu a boca, esticou as pernas e, depois de uma boa sacudida, ficou desacordado.”

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O Grilo Falante acompanha Pinóquio nas suas aventuras na versão da Disney

CONTOS CLÁSSICOS

Mas os jovens leitores não concordaram com este final e enviaram inúmeras cartas para o jornal, pedindo mais capítulos de Pinóquio.

Mas por que Collodi pretendia terminar a história de Pinóquio desta forma? Vezzani acredita que ele “queria terminar a história com uma espécie de lição de moral, ou seja, se você não for um bom menino, pode acontecer algo ruim”.

Por fim, Collodi foi convencido a continuar a história, que acabou se tornando um imenso sucesso em todo o mundo — mas só depois da morte do autor.

Reflexo de uma época

Com as aventuras de Pinóquio, Collodi nos apresenta os problemas do seu tempo.

“O que caracteriza o romance original é que ele mostra a imagem da Itália daquela época, mas, ao mesmo tempo, é um romance universal. Seu protagonista, Pinóquio, comete erros com frequência, mas logo os reconhece devido ao seu caráter bondoso”, diz Vezzani.

“Ele vive diversas aventuras que o fazem amadurecer e permitem que ele compreenda que as pessoas devem equilibrar a parte divertida da vida com a necessidade de trabalhar e cumprir com suas obrigações”, acrescenta.

“Estes são os temas universais do romance, que fazem com que todos reconheçam alguma parte do livro nas suas vidas e explicam por que é um dos livros mais traduzidos do mundo”, conclui Vezzani.

A história de Pinóquio mostra os danos causados pela pobreza e as dificuldades para seguir adiante:

“- Como se chama o seu pai?

- Gepeto.

- E o que ele faz para ganhar a vida?

- É pobre.

- E ganha muito?

- Ganha o suficiente para nunca ter um centavo no bolso.”

A imagem de Gepeto criada por Walt Disney, de um relojoeiro bonachão sem grandes dificuldades financeiras, está longe do personagem original.

No livro de Collodi, Gepeto não só é muito pobre, como também não conserta relógios — ele é carpinteiro. E, embora seja apresentado como um velhinho carinhoso, seus vizinhos o consideram “um verdadeiro tirano com as crianças”. E este tipo de contradição é comum ao longo do livro.

“Podemos ver uma sátira da corrupção e críticas das classes sociais”, afirma Vezzani.

“Mas, ao mesmo tempo, também podemos ver os problemas que a Itália estava sofrendo naquele momento, como a pobreza, por exemplo. Gepeto tem dificuldade para conseguir comida. E Pinóquio também. A população italiana também enfrentava essas dificuldades. Isso se perde nas versões cinematográficas, como a da Disney.”

“Collodi conseguiu criar uma história para crianças, que também expressa algo profundo sobre a sociedade, sobre a dificuldade de tornar-se adulto. Ele criou Pinóquio, cuja humanidade é excepcional”, acrescenta.

Grandes diferenças

Junto com Pinóquio, o Grilo Falante também aparece como um dos personagens mais queridos do público infantil, conhecido como a voz da consciência na versão da Disney. Mas, logo no começo do livro original, Pinóquio mata o grilo quando ele está dando conselhos.

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O italiano Carlo Collodi (1826-1890) ficou conhecido como jornalista escrevendo artigos — mas também foi autor de comédias e livros humorísticos

“Ao ouvir estas últimas palavras, Pinóquio saltou enfurecido, pegou no banco um martelo de madeira e o atirou contra o Grilo Falante. Talvez ele não acreditasse que fosse acertá-lo, mas por azar atingiu-o na cabeça, tanto que o pobre Grilo apenas teve fôlego para fazer ‘cri-cri-cri’ antes de ficar grudado na parede.”

A partir deste momento, o Grilo Falante ainda se aproxima em algumas ocasiões, mas em espírito.

“É algo que a Disney nunca faria porque poderia ser considerado muito sombrio”, avalia Vezzani.

E a Fada Azul é boa, mas tortura Pinóquio, fazendo o boneco acreditar que ela morreu por culpa dele.

“Aqui jaz a menina de cabelo azul que morreu de dor após ter sido abandonada por seu irmãozinho Pinóquio.”

Percebe-se que, no livro, a figura da fada-madrinha tem um caráter mais lúgubre em algumas ocasiões.

CONTOS CLÁSSICOS

“Fiquei muito impressionada com a mistura da presença da morte sempre seguida de risadas, da comédia, o que me pareceu algo muito adulto”, afirma Barbera.

“É uma história de aventura na qual Pinóquio vive diversas peripécias, algumas das quais ficaram muito famosas com as adaptações para o cinema, como na versão da Disney. Mas, no romance original, existem diversos personagens e aventuras que nunca foram incluídos nas adaptações cinematográficas. Podemos observar que o romance original inclui muitos episódios que as pessoas não conhecem porque só estão no romance”, explica Vezzani.

Para quem ainda não leu o livro, Barbera afirma que os leitores vão descobrir “um texto que pode nos dizer algo sobre o que é ser humano, o que é transformar-se em um ser humano e o que é crescer”.

Este texto foi originalmente publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/curiosidades-62900692
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No desenho de Walt Disney, o gato Fígaro mora na casa de Gepeto e vive aventuras com Pinóquio e seu criador — mas Fígaro é bem diferente do gato do livro original

Bobby Fischer: O xadrez é a vida

Afrase dita por Bobby Fischer, enxadrista norte-americano, talvez não seja aceita por todos, e pode mesmo parecer exagerada, mas é impossível desassociar o xadrez da vida de Fischer. Roberto James Fischer nasceu em 9 de março de 1943, criado no brooklyn, (Todo Mundo Odeia o Chris/Bobby Fischer Contra o Mundo), teve o xadrez como sua única paixão na vida, desde o primeiro momento em que teve contato com as 64 casas desse jogo de tabuleiro, que até hoje tem sua origem incerta. Aos 6 anos aprendeu a jogar com sua irmã Joan. A carreira de Bobby foi avassaladora, e chega ao topo tornando-se Campeão Mundial, em 1972 aos 29 anos. Sendo o primeiro e único americano campeão mundial de xadrez.

Personagem controverso, com um elevado nível de QI, avaliado em 180-190. Desafia e vence a então imbatível escola soviética, num confronto histórico contra Boris Spassky, que era o atual campeão mundial russo. No auge da guerra fria o confronto Fischer versus Spassky representava a disparidade ideológica dos dois lados: o american way of life e a cortina de ferro. Se os russos acreditavam que o xadrez era uma marca de sua superioridade intelectual sobre o ocidente, Fischer colocaria isto por terra. Sem dúvida ele foi o maior expoente do xadrez, com seu imenso talento e suas extravagantes reclamações de barulho, de câmeras e de caches em suas participações em torneios e campeonatos. O gênio indomável acabou levando o xadrez para frente dos holofotes causando um boom mundial. Se o xadrez é o que é hoje, é graças a Fischer. Como todo grande gênio transitava entre a iluminação e a insanidade. Após se tornar campeão mundial não aceita a disputa pela defesa do título, e desaparece do cenário do xadrez. Fischer disse que o xadrez é a busca pela verdade, se a encontrou não sabemos, mas a beleza de suas partidas estão registradas para a eternidade. Vivendo em várias partes do mundo anonimamente, Fischer falece em 17 de janeiro de 2008, aos 64 anos, em Reykjavik/Islândia. País onde se tornou campeão mundial e que lhe deu cidadania em 2005, pois Fischer era considerado foragido da justiça pelos EUA por ter violado sanções econômicas contra a então Iugoslávia, em 1992, ao jogar uma série de partidas. O mesmo número de casas do tabuleiro foi o mesmo número de anos de vida de Fischer. O xadrez foi a sua vida.

O xadrez não está separado da vida de quem o conhece, e bobby o conhecia muito bem. Para cada movimento há uma

consequência: favorável, desfavorável ou neutra, como na vida. Às vezes temos que sacrificar algo (uma peça) de maior valor para obtermos uma vantagem a longo prazo ou até mesmo para virarmos o jogo imediatamente a nosso favor, como na vida. Às vezes um peão audacioso pode ser promovido a uma peça de grande valor (à rainha), como na vida. Às vezes se pode sofrer ataques devastadores e mesmo assim não se encontrar perdido, como na vida. Temos que ter as peças em harmonia, uma apoiando as outras, pois não se vence uma partida com uma peça sozinha, como na vida. Às vezes para vencer o rei tem que sair de sua fortaleza, e ir lutar no campo inimigo, como na vida. Às vezes a derrota vem de forma repentina, como na vida. E às vezes temos que ter um outro olhar sobre a nossa posição e mudar a estratégia, como na vida.

Hoje uma criança em frente a um tabuleiro está aprendendo a tomar as decisões comuns da vida: a hora de ir adiante, de ser comedida, de ter paciência. De aprender a ganhar e perder. O deslumbramento que o xadrez provoca é tão fascinante quanto um pôr do sol ou um céu estrelado. Com suas inúmeras possibilidades de jogadas tão vastas quanto o número de átomos no universo, o xadrez é belo como a vida.

Por trás de algo bonito existe alguma dor, diz Bob Dylan em Not Dark Yet, canção do álbum Time Out of Mind, de 1997. Não foi diferente com Fischer, por trás do criativo brilhantismo refletido em suas partidas estava um homem que absorveu toda a contradição de seu tempo.

Fischer sabia perfeitamente o que estava dizendo: ¨o xadrez é a vida¨.

* Itamar Ramos – graduado em letras UNEB

Itamar Ramos*
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ESPORTES

Aquarela sobre papel 100% algodão

Flávia Mota Herenio

ARTES PLÁSTICAS

@mota aviafm 47

A guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe ao mundo a importância das comodities Russa na economia global, e o porque não dizer, no comportamento das políticas e políticos no mundo.

Éfato que a guerra entre Rússia X Ucrânia afetou a economia Mundial, para uns países mais, para outros menos.

Inclusive com grande peso na Europa, em função dos ataques com embargos comerciais, feitos aos russos e o contra-ataques desses com restrição e cortes no fornecimento de Petróleo e Gás natural, mexendo com a matriz enérgica de grande parte dos países do bloco Europeu, afetando amplamente o custo de vida, alimentação e até mesmo na ideologia politica de membros de países membros do bloco europeu.

Voltando olhar sobre os impactos da guerra para o Brasil, agora com o novo presidente da República, mudanças também estão sujeitas a acontecer, e dada a condição de maior habilidade diplomática do presidente Lula, a tendência é de que, estas mudanças sejam para melhor, e tragam num curto e médio prazo ao Brasil um certo equilíbrio político e econômico.

No imediatismo, a guerra entre Rússia e Ucrânia não deverá trazer mudanças bruscas ao Brasil, pois o governo anterior manteve uma política de neutralidade frente ao conflito, mesmo sendo crítico ferrenho a governos de esquerda, teve

que se dobrar frente a necessidade e dependência do Agro Brasileiro aos fertilizantes russos. O atual presidente e sua equipe econômica, acredito estar optando também pela neutralidade nas relações comerciais, por entender ser o melhor caminho para o Brasil.

Haja vista que Rússia e Brasil, possuem um elo, o BRICS, onde o Brasil (sob o gestão dos Petistas) e Rússia, são membros fundadores.

Há de se admitir também que, a guerra têm influência direta e indireta na alta do preço do Petróleo, e isso pode corroborar com a aceleração de uma intervenção ainda mais rápida na política de internacionalização de preço do Petróleo na Petrobrás, implementada por Michel Temer e mantida por Jair Bolsonaro, o que trouxe grandes dores de cabeça para o ex. Presidente, onde a precificação é resultado da oferta e demanda da commodity no mercado internacional e não na capacidade de produção.

48 OPINIÃO
A troca de governo influenciará na posição do Brasil frente ao conflito Russia X Ucrânia

A revista Plano B Brasília tem uma tiragem de 10.000 exemplares e será entregue:

. Para todos os parlamentares federais;

. Na Presidência e Vice-Presidência República

. A todos os Ministros do STF;

. A todo o primeiro escalão executivo do Governo Federal e do DF, com entrega de 70 (setenta) exemplares ao Ministério das Relações Internacionais;

. Em todas Embaixadas em Brasília;

. Para todos os Parlamentares do DF;

. Na Governadoria e Vice-Governadoria do DF;

. Em todas as Administrações Regionais do DF;

. Em todas TVs abertas com sede em Brasília;

. Em todas Rádios Comerciais com Sede em Brasília;

. No comércio e em diversos pontos de encontro de formadores de opinião do DF.

. E terá envio na versão digital para mais de 500.000 (quinhentas mil) pessoas através de whatsApp, telegram e e-mails.

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