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Falando em Saúde Dieta sem glúten: um hábito saudável?

Temos observado um fenômeno mundial em termos de práticas alimentares: a adesão a dietas com restrição de glúten. Aqui no Brasil, essa onda chegou com força, talvez influenciada por uma maciça promoção através da imprensa e das redes sociais, muitas vezes mostrando celebridades que propagandeiam os benefícios obtidos com essa alimentação. Os objetivos dessa prática são variados e vão do desejo de emagrecer à tentativa de diminuir sintomas gastrointestinais como gases e distensão abdominal. É fácil observar como esse fenômeno tem promovido alterações nos cardápios de cafés e restaurantes da nossa cidade, que agora têm se preocupado em oferecer opções adequadas ao público que adere às restrições. Certamente isso é benéfico, pois aumenta as opções de quem realmente tem problemas com esses alimentos. A retirada do glúten é obrigatória para quem tem doença celíaca, uma doença de origem imunológica em que o contato com o glúten promove uma reação inflamatória do organismo contra as células intestinais. Além dos celíacos, há pessoas que têm uma outra forma de intolerância, a intolerância não celíaca ao glúten. Esse é um diagnóstico mais difícil porque não há um exame específico que o defina, mas pode ser feito através de uma abordagem controlada de retirada e reexposição à proteína. Entretanto, me preocupa a adesão indiscriminada a esse tipo de dieta sem um diagnóstico adequado. Em 2022, realizei, juntamente com as acadêmicas de medicina do CEUB Maria Clara Ibrahim Saraiva e Juliana Azevedo de Vasconcelos, um trabalho científico em que descobrimos que 16% dos alunos da faculdade fazem dieta sem glúten. Essa taxa é muito elevada quando comparada à de outros países. No Reino Unido, por exemplo, é de 3,7%. Dos nossos pesquisados, 48 % realizam a dieta por conta própria ou por orientação de outras pessoas que não nutricionistas ou médicos. E qual é o problema disso? Embora se associe a dieta restritiva a um hábito saudável, muita gente não sabe que pessoas que fazem dieta sem glúten estão sujeitas a carências nutricionais. Sabe-se que os níveis de ferro, vitamina B6 e B12, vitamina

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D, cálcio, zinco e magnésio são mais baixos em quem come sem glúten. Corre-se também um risco maior de desenvolver problemas cardiovasculares, como hipertensão e colesterol alto, e de alteração da microbiota intestinal causando um aumento de bactérias intestinais prejudiciais ao organismo. Por último, mas na minha opinião, o mais importante, são os transtornos psicológicos provocados por essa prática mal orientada. Tenho visto muitas pessoas que fazem dietas restritivas chegarem à consulta médica emagrecidas, beirando a desnutrição, apresentando fraqueza e fadiga e com muito medo de se alimentar. Muitas delas retiraram cronicamente da alimentação a lactose e alimentos fermentativos, como as leguminosas. Demonstram um alto grau de ansiedade em relação à comida e têm suas vidas sociais e familiares muito afetadas. Quando chegam a esse ponto, é um trabalho muito grande convencer aquelas que não têm um diagnóstico específico de que podem ampliar seus cardápios e que têm como tratar alguns sintomas indesejados de outras formas que não a restrição alimentar. Portanto, fica o alerta. Tenhamos responsabilidade na hora de decidir banir fontes de nutrição da dieta. Não nos esqueçamos de que alimentação é combustível para o corpo e para a alma, e influencia fortemente nossa saúde física e mental.

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